sexta-feira, 11 de maio de 2012

A luta de Classes no "Domingo Legal"

A luta de Classes no "Domingo Legal" 

Pouco depois, ainda no canal do homem do Baú, começou o já tradicional (e maldito) “domingo legal”. Os quadros do programa do Gugu sempre seguiram a mesma estética mequetrefe de sempre, que é a de provocar ou estimular emoções baratas no espectador (geralmente das classes C, D, E... até Z :-P). Assim sendo, geralmente o programa se sustenta encima de quadros melodramáticos ou apelativos (não é só o Gugu que faz isso: Luciano Huck, por exemplo, faz a mesma merda. Mas por parecer menos brega e ter um cenário melhor, são poucos os que consideram Lucianeta “apelativo”). 
Um dos quadros mais “imprensa marrom” do programa do Gugu é um chamado “Aconteceu Comigo”, onde geralmente é contada uma história bregodramatica de “superação”, como o caso do menino que foi atropelado duas vezes
Refém das circunstancias (não existe nada mais aterrorizante do que outra pessoa com o controle remoto :-P), me vi obrigado a assistir o programa. O que eu definitivamente não esperava era que veria um exemplo perfeito de luta de classes ali... 

Luta de Classes é um conceito marxista. Basicamente, se refere a um conflito entre duas classes sociais opostas (Dominantes X Dominados). Apesar de eu não ser Marxista, e da minha interpretação da “Luta de Classes” ser ligeiramente diferente da Marxista (um dia ainda falarei melhor disso), esse é um dos conceitos em Ciências Sociais que eu mais respeito. 
Mas mudemos de assunto por hora... vamos falar de literatura!! 
Na opinião de muita gente (a minha inclusive), a melhor metáfora sobre esse embate foi mostrado na obra “A maquina do Tempo”, do escritor H.G. Wells. No referido livro, ao viajar para o futuro, o personagem central se depara com uma “sociedade” dividida entre dois seres distintos: os Eloi (frágeis, felizes e bobinhos) e os Morlocks (seres monstruosos e repulsivos do subterrâneo).Na trama, os Elois vivem numa condição de “mordomia aparente”, enquanto os Morlocks são condenados a viver em condições precárias... em compensação, os Morlocks capturam vez ou outra um Eloi babão para comer (no sentido gastronômico mesmo :-P). Se você não for retardado já deve ter entendido que os Elois simbolizam a elite, enquanto os Morlocks, o povão.

Agora, voltemos nossa atenção novamente para o quadro do “Domingo Lerdal”. A história exibida nessa edição era sobre um menino na faixa de 13 anos que praticava corrida de Kart (aparentemente, era semi-profissional) e fora ferido na área do peito por uma linha de pipa contendo cerol (o estrago foi feio. Cortou ligações musculares, veias e até osso). Como é de praxe, apesar das dificuldades passadas pelo garoto, ele foi atendido no Hospital Albert Einstein e tudo correu bem - e eles foram felizes para sempre :-P. 

Ai você se pergunta: “Mas o que essa porra tem a ver com luta de classes??” Tudo, eu lhe respondo. 

Se um garoto tem como Hobby andar de Kart (coisa bem cara), provavelmente é rico. E qual é a diversão principal de garotos pobres e remelentos? Pipas!! 
Apesar de eu ficar devendo dados estatísticos*, a Pipa é obviamente a principal diversão de garotos na periferia: é barata de se construir e só precisa de um pouco de vento pra funcionar. O uso de Cerol também é lugar comum na vida desses garotos (já que propicia um pouco de competição e emoção em algo que, a principio, é bem maçante). O uso de cerol provoca muitos acidentes, mas a maioria das crianças que o usam ignoram tal fato ou fazem vista grossa a ele (é praticamente a única diversão que eles tem, e não vai ser fácil convence-los a abandona-la). 
Há uma ironia cruel em um garoto de classe alta (Eloi) sendo ferido pelo principal meio de diversão das crianças pobres (morlocks)... 

Ao contrario de alguns colegas marxistas (não todos), não sinto prazer nenhum com o derramamento de sangue de “crianças burguesas” (não acho que o garoto que se feriu com cerol “mereceu” sua sina). Também não tenho a ilusão de um futuro onde não haja classes sociais. Mas, ainda assim, Tenho esperança em um mundo mais justo – onde existam sim diferenças sociais entre as pessoas, mas estas não sejam tão gritantes quanto as que ocorrem “hoje”. 
Enquanto isso, vivemos em um mundo onde criança nenhuma esta efetivamente segura... com a diferença que as “crianças morlock”, quando vitimadas pelo destino, geralmente morrem antes mesmo de serem atendidas - e que suas histórias (sem final feliz) não costumam cair tão bem na grade dominical. 


* por falta de estatística, tenho conhecimento empírico de sobra: minha namorada mora na periferia de Ibirá (não é a mesma coisa que uma periferia mesmo, mas dá pra tirar uma base) e ano passado dei aula na periferia de catanduva (nota morbida adicional: o irmão de um dos alunos morreu atropelado ao correr atrás de uma pipa). 

PS1: Uma outra boa obra sobre luta de classes é o filme brasileiro “O invasor”.

Mais uma do Cientista Social Nerd



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Um comentário:

  1. como diria Lenin sobre os idiotas úteis, vc não precisa ser marxista para ajudar na causa comunista, basta rezar pelo credo, acreditar nessa conversa de mundo mais justo via igualitarismo, concentração do poder nas mãos do Estado para tal coisa acontecer e pronto, depois que ocorrer a revolução, pegam-se os idealistas, os colocam na cadeia e passam fogo

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