quinta-feira, 28 de julho de 2011

EDITAL DE SELEÇÃO DE BOLSISTA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA


Seleção para 2 bolsas do prof. César Barreira‏

O Laboratório de Estudos da Violência – LEV abre seleção para duas bolsas
de Iniciação Científica CNPq para o projeto Valores, violência e segurança
pública: lei, ordem e segurança pública. Coordenação: prof. César Barreira
Critérios de Avaliação: Bom rendimento acadêmico, interesse pelo tema e
boa capacidade de escrita.
1- Seleção:
Do dia 01/08/2011, às 14h00min
2- Do número de vagas:
Serão selecionados (02) bolsistas.
3- Dos requisitos de seleção:
A) Estar regularmente matriculado em cursos de graduação da Universidade
Federal do Ceará – UFC, cursando a partir do 3º semestre;
B) Não ter sido reprovado em nenhuma disciplina;
C) Não ser bolsista de qualquer outro programa;
D) Não possuir vínculo empregatício;
E) Não estar participando de convênio ou estágio remunerado;
F) Ter disponibilidade para dedicar vinte horas semanais às atividades do
Laboratório;
G) Possuir Currículo Lattes.

4 – Dos documentos necessários:
A) Cópia do Histórico Escolar
B) Cópia do Currículo Lattes
C) Cópia do documento de identidade e CPF

5– Do Local da seleção:
Laboratório de Estudos da Violência
Av. da Universidade, 2995 – Benfica
Departamento de Ciências Sociais –CH3

Para mais informações:
3366.7425 lev@ufc.br

Seleção para 2 bolsas Pibic da profa Jania Perla‏


O Laboratório de Estudos da Violência – LEV recebe inscrições para a
seleção de uma bolsa de Iniciação Científica para o projeto Campo de
Risco: Uma Análise dos Estudos Realizados por Cientistas Sociais
Brasileiros junto a Praticantes de Violência das Ilegalidades.
Critérios de Avaliação: Bom rendimento acadêmico, interesse pelo tema e
boa capacidade de escrita.
1- Seleção:
Do dia 01/08/2011, às 14h00min
2- Do número de vagas:
Serão selecionados (02) bolsistas.
3- Dos requisitos de seleção:
A) Estar regularmente matriculado em cursos de graduação da Universidade
Federal do Ceará – UFC, cursando a partir do 3º semestre;
B) Não ter sido reprovado em nenhuma disciplina;
C) Não ser bolsista de qualquer outro programa;
D) Não possuir vínculo empregatício;
E) Não ser servidor público concursado;
F) Não estar participando de convênio ou estágio remunerado;
G) Ter disponibilidade para dedicar vinte horas semanais às atividades do
Laboratório;
H) Possuir Currículo Lattes.

4 – Dos documentos necessários:
A) Cópia do Histórico Escolar
B) Cópia do Currículo Lattes
C) Cópia do documento de identidade e CPF

5– Do Local da seleção:
Laboratório de Estudos da Violência
Av. da Universidade, 2995 – Benfica
Departamento de Ciências Sociais –CH3

Para mais informações:
3366.7425 lev@ufc.br

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Jacques Derrida: Notas sobre a “metafísica da presença”


                            
                                                               Ubiracy de Souza Braga*
___________________
*Sociólogo (UFF), cientista político (UFRJ), doutor em ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).





                                                            “Não existem fatos, apenas interpretações” (Jacque Derrida).






Jacques Derrida, nascido em El Biar, Argélia, 15 de julho de 1930 e falecido em Paris, em 8 de outubro de 2004, foi um filósofo francês, que iniciou durante a década de  1960 a categoria desconstrução em filosofia. Esta “desconstrução”, termo que cunhou, deverá aqui ser compreendida, metodologicamente, por um lado, à luz do que é conhecido como “intuicionismo” e “construcionismo” no campo da meta-matemática, na esteira da obra de Brouwer e depois Heyting, ao qual Derrida irá adicionar as devidas consequências dos teoremas da “indecidibilidade” de Kurt Gödel e, por outro, a um aprofundamento critico da obra de Husserl, Heidegger e Levinas na ultrapassagem da metafisica tradicional que ele vai apresentar como sendo uma “metafisica da presença”, objeto dessas notas leitura.
Fortemente influenciado por Sigmund Freud e Martin Heidegger, Jacques Derrida foi um dos mais importantes filósofos do pós-estruturalismo e pós-modernismo. Fã de esportes chegou a cogitar seguir a carreira como jogador de futebol. Foi um dos pensadores franceses mais conhecidos internacionalmente, em particular nos Estados Unidos. Ali, a partir de 1956, lecionou nas universidades de Harvard, Yale e John Hopkins. Na França, ensinou na Sorbonne e na Escola Normal Superior. Derrida foi precursor de uma reflexão crítica sobre a filosofia e seu ensino. Isso o levou a criar, em 1983, o Colégio Internacional de Filosofia, presidido por ele até 1985. A psicanálise teve uma importância central em sua obra. Para Derrida, a ideia freudiana do inconsciente revolucionaria a filosofia e costumava citar o conceito freudiano de “posterioridade” em alemão: Nachträglichkeit ou aprés-coup. Segundo Freud, há a possibilidade de transformação do passado ao se dar um novo significado às recordações. Ao questionar os conceitos de verdade e de memória, J. Derrida entendia que Freud propunha um problema filosófico de magnitude inédita.

Para sermos breve, foi o criador do método chamado de desconstrução. Segundo esse sistema, não se trata de destruir e sim de “decompor os elementos da escrita para descobrir partes do texto que estão dissimuladas”. Essa metodologia de análise centra-se apenas nos textos. Em seguida, Derrida criou outros dois conceitos: a “indecidibilidade”, que mostra a impossibilidade de determinar aquilo que é forma no texto ou fundo ideológico; e o conceito de “diferença”, que parte da análise semântica dos dois sentidos do infinito latino differre (diferir): o primeiro remete para o futuro (tempo), o segundo para a distinção de algo criado pelo confronto.
Filho de família judia, mas não religioso, Derrida ingressou na Escola Normal Superior de Paris, em 1950. Durante a infância, na Argélia, sofreu com a repressão antissemita. Foi expulso do colégio por causa da redução das cotas para judeus (de 14 para 7%). Essa discriminação o marcou profundamente e sua lembrança é recorrente em suas obras.
A família mudou-se para a França em 1949. Fundou a associação Jan Hus, em 1981, para auxiliar “intelectuais dissidentes da Tchecoslováquia”. Chegou a ser preso em Praga, após um Seminário clandestino, mas foi libertado graças à intervenção de François Mitterrand. Do ponto de vista da simplificação podemos dizer que a lógica da desconstrução é mais ou menos essa: Suponha um filósofo que leve por volta de dez anos estudando, formulando teoremas, pesquisando, pensando teorias, lendo outros filósofos para adquirir embasamento, e depois de todo esse tempo lance um clássico da literatura filosófica. E então vem, algum infeliz da Desciclopédia, portanto livre de conteúdo, e escreve em 15 minutos um artigo xingando e fazendo pouco da obra desse filósofo. Pronto! Isso é desconstrução?, mais do que isso como veremos a seguir.

Com uma obra imensa, em torno dos 100 títulos, ao qual se junta a edição em curso dos seus Seminários, é o filósofo mais traduzido no mundo, conquanto pouco lido entre nós, tendo exercido um profundo impacto nas mais diversas áreas das humanidades e ciências humanas, em especial nos campos da estética, teoria da literatura e filosofia do direito, e gerado debates decisivos com os pensadores mais importantes de sua época tais como: Claude Lévi-Strauss, Michel Foucault, John Searle, Paul Ricoeur, Jürgen Habermas, entre outros. Como todo pensador singular, a sua figura é diversas vezes alvo de ataques polémicos, sobretudo por autores que se reclamam da tradição “analítica” (cf. Braga, 2003), pelas suas opções de escrita filosófica, em geral retomando opiniões expressas por John Searle na mídia , quando da sua polémica durante os anos 1980. Referem-se várias vezes também nestas polémicas os nomes de Alan Sokal e Jean Bricmont, embora estes autores talvez não o tenham tratado especificamente, tendo-o apenas referido em entrevistas na mídia, como parte do que identifica de forma difusa como “pensamento francês”, o que não evitou que diversos jornalistas o tenham associado à polémica. Depois de ter lecionado na Sorbonne (1960-1964) e na École Normale Supérieure de Paris (1964-1984), J. Derrida foi Diretor de Estudos da École des Hautes Études em Sciences Sociales de Paris no período (1984-2003).
                                             Foto: Na Sorbonne em 1979

Derrida tornou-se desde finais dos anos 1960, professor convidado das mais prestigiadas universidades europeias e norte-americanas, tais como: Berlim, San Sebastian, John Hopkins, Yale, Irvine, New School for Social Research, Cardozo Law School, Cornell, New York University, entre outras. Foi-lhe igualmente outorgado o doutoramento Honoris Causa por diversas universidades como a Universidade de Cambridge, Universidade de Columbia, The New School for Social Research, Universidade de Essex, Universidade de Leuven, Williams College, Universidade de Silesia, Universidade de Coimbra entre mais de outra dezena delas. Em 2002 foi nomeado para a Cátedra - Gadamer na Universidade de Heidelberg por designação expressa do próprio filósofo alemão. Foi membro estrangeiro honorário, desde 1985, da American Academy of Arts and Sciences e da Modern Language Association of America, assim como Presidente honorário do Parlement International de Écrivains. Foi ainda membro fundador do Collége International de Philosophie de Paris, sendo o seu primeiro diretor eleito.
            A noção de “desconstrução” surge pela primeira vez na introdução à tradução de 1962 da “Origem da Geometria” de E. Husserl. A desconstrução não significa destruição, mas sim desmontagem, decomposição dos elementos da escrita. A desconstrução serve nomeadamente para descobrir partes do texto que estão dissimuladas e que interditam certas condutas. Esta metodologia de análise centra-se apenas nos textos. Falar de desconstrução dentro da teoria do conhecimento é falar de Jacques Derrida. A imagem abaixo que tem o mesmo nome desta doutrina, expressa uma divisão do corpo humano um tanto anacrônica, ou seja, as partes cortadas não seguem um padrão formal, embora não se possa dizer que não houve divisão.

            Além de valorizar a escritura, o próprio texto derridiano joga com a linguagem, dá esse novo corpo, num exercício literário. Seus textos se filiam, de certa forma, ao poético, ao intraduzível, ao excedente do significante. Sua escritura costuma trabalhar em torno de uma palavra ou um verso a partir do qual ele constrói todo um pensamento. Ao se indagar, por exemplo, sobre a tradução da palavra pharmakon no diálogo Fedro, de Platão, elabora o ensaio A Farmácia de Platão, em que desconstrói justamente a relação entre escrita e fala. Em entrevista a Helène Cixous, escritora francesa a quem se liga como “irmã”, afirma: “O que me guia, é sempre a intraduzibilidade: que a frase não deva nada ao idioma. O corpo da palavra deve estar a tal ponto inseparável do sentido que a tradução só possa perdê-lo”. Derrida mina o sistema não só pelo seu pensamento, como também pelo seu tratar a linguagem.
            Jacques Derrida escreveu sobre Ghost Dance. El cine y sus fantasmas: 

Bajo la mirada espectral de Marx, de todos sus espectros y de los que anunció, a la escucha de su palabra («Un espectro asedia Europa, el espectro del comunismo», dice el comienzo del Manifiesto), he intentado proseguir de otro modo una larga trayectoria cuya cartografía han habitado los espectros. Estos están por doquier en lo que escribo desde hace treinta años. Coincidencia: he actuado incluso en Ghost Dance, una película de Ken McMullen, el cineasta inglés. Fue en 1982, y Marx ya era un personaje, la principal referencia de la película. Algunas escenas se rodaron cerca de su tumba en el cementerio de Highgate, bajo su mirada, por así decirlo, ante su busto teatralizado. Entre Londres y París, la Comuna no estaba lejos. Yo interpretaba a un profesor a quien una joven estudiante (Pascale Ogier) viene a preguntarle si cree en los fantasmas. La pregunta estaba prescrita en el escenario, pero improvisé la respuesta. McMullen la conservó. Esta improvisación filmada convocaba, en el teatro de los fantasmas, toda la modernidad de las imágenes y de lo «virtual», el cine, la televisión, la fotografía... El fantasma no es extraño a la técnica y, aunque pertenece al pasado, es también una promesa, está prometido al porvenir que él promete” (1982).

TRADUÇÃO LIVRE:
"Sob a vigilante Marx espectral, de todos os espectros e anunciou, ouvindo a sua palavra ("Um espectro assombra a Europa, o espectro do comunismo", diz o início doManifesto), tentei buscar uma outra forma longa história da cartografia que habitam os espectros. Estes estão em toda parte na minha escrita de 30 anos. Jogo: eu tenhoagido até mesmo em Ghost Dance, um filme de Ken McMullen, o cineasta Inglês. Foi em 1982, Marx já era um personagem, a principal referência do filme. Algumas cenas foram filmadas perto de seu túmulo no cemitério de Highgate, sob seu olhar, por assim dizer,antes de seu busto teatral. Entre Londres e Paris, a Comuna não era longe. Joguei umprofessor a quem um jovem estudante (Pascale Ogier) é para perguntar se você acredita em fantasmas. A questão foi prescrito pelo palco, mas a resposta improvisada.McMullen manteve. Esta improvisação convocados filmado no teatro de fantasmas, toda a modernidade das imagens e "virtual", o filme, televisão, fotografia ... O fantasma não é estranho à arte e, embora ele pertence ao passado, também é uma promessa, é prometido para o futuro promete"
Historicamente por ser judeu e sofrer com o antissemitismo (cf. Arendt, 1980; 1999; 2008), Derrida cria que as formações culturais e intelectuais humanas deveriam sofrer uma reinterpretação como elemento fundante de um novo conhecimento: “Não existem fatos, apenas interpretações”. Para Derrida, a desconstrução não quer dizer a destruição, repetimos, mas sim desmontagem, decomposição dos elementos da escrita conforme indica o texto abaixo: O 'método' da 'desconstrução' suscitou amigos e admiradores nos departamentos das Letras, mas revolta e polêmica no mundo da filosofia canônica, visto como uma ameaça à Metafísica clássica. A aplicação da Desconstrução a um texto filosófico ameaça a leitura verdadeira da verdade da filosofia, tornando-a uma das leituras possíveis, mas não a leitura correta. A famosa frase “A linguagem se cria e cria mundos”, aponta perigosamente para a contingência dogmática do “Ser” e do “Significado”. Isso quer dizer que os textos corrompem seus significados tradicionais, criam novos contextos e permitem novas leituras, em um processo contínuo e vertiginoso.

Os conceitos segundo Derrida estão sofrendo profundas transformações, e isso é tanto inevitável quanto necessário. Quando vemos heróis como Batman ou o Super-Homem, por exemplo, podemos dizer: “não são ambos heróis”. Embora a resposta correta seja sim, “um tem superpoderes que nenhum humano tem como voar e emitir raios laser dos olhos” e o outro é a antítese desse tipo de conceito de herói, ou seja, sua desconstrução; uma vez que Batmam tem como superpoderes, apenas alguns elementos tecnológicos, além de um desejo de evitar que o mal se instale em sua sociedade londrina (Gothan City fica em USA; contudo aqui, Batman representa a velha e órfã Europa). Talvez por isso, Batman expresse uma Europa que tem uma história sangrenta, mas que perdeu a chance econômica frente aos superpoderes da modernidade dos norte-americanos.
O próprio Derrida, acusado de ser obscuro escreve em 1983: “A desconstrução não é um método e não pode ser transformada num método (...) é verdade que em certos círculos a ‘metáfora’ (...) foi capaz de seduzir ou desencaminhar”. Para Derrida as palavras não têm a capacidade de expressar tudo o que se quer por elas exprimir, de modo que palavras e conceitos não comunicam o que prometem. Para ele as lacunas na escrita e na fala são inevitáveis; é a capacidade de serem modificados no pensamento, na expressão e na escrita que torna os conceitos incompletos. Assim, aquilo que dizemos e ouvimos só será de fato verdade, quando o vemos como algo “incompleto e aceitarmos desconstruí-lo”, aqui talvez com uma aproximação com Friedrich Nietzsche, ao firmar que, “algo pode ser irrefutável: por isso ainda não é verdadeiro” (2005:205) e se não o fizermos, a evolução sócio-tecnológico-produtiva o fará por nós, como já o fez como os dogmáticos conceitos de família, território, afeto, direito e etc.
A aplicação da Desconstrução a um texto filosófico ameaça a “leitura verdadeira da verdade da filosofia”, tornando-a uma das leituras possíveis, mas não a leitura correta. A famosa frase “A linguagem se cria e cria mundos”, aponta perigosamente para a contingência dogmática do “Ser” e do “Significado”. Isso quer dizer que os textos corrompem seus significados tradicionais, criam novos contextos e permitem novas leituras, em um processo contínuo e vertiginoso. Em A Gramatologia, Derrida apresenta outra tese inovadora e provocante afirmando que a linguagem escrita precede a linguagem oral no ser humano, alicerçada no princípio anti-idealista que “a existência precede a essência”. Para o nosso filósofo o que está “fora dos livros” é “marginal”, está à “margem da tradição” e situa-se no “limite do discurso”.
Desnecessário dizer que a Gramatologia não deve ser uma das ciências humanas nem uma ciência regional dentre elas, porque coloca em questão o nome do homem. Liberar a unidade do conceito do homem é renunciar à velha ideia dos povos ditos “sem escritura”, “sem história”. Em vez de recorrer aos conceitos que servem habitualmente para distinguir o homem dos outros viventes, apela-se à noção de “programa”, no sentido, por exemplo, da cibernética, que é inteligível a partir de uma história das possibilidades do rastro como unidade de um movimento que faz aparecer o grama como tal e possibilita o surgimento dos sistemas de escritura no sentido estrito. Da “inscrição genética” e das “curtas cadeias” programáticas que regulam o comportamento da ameba ou do anelídeo até a passagem para além da escritura alfabética às ordens do logos e de certo homo sapiens – a possibilidade do grama estrutura o movimento de sua história segundo níveis e ritmos rigorosamente originais. A história da escritura se erige sobre o fundo da história do grama “como aventura das relações entre a face e a mão”.
Foi em 1967 que Jacques Derrida lançou duas importantes obras, abalando as bases do estruturalismo predominante nas ciências humanas francesas. A primeira era uma coletânea de artigos e palestras, reunidas sob o título Escritura e Diferença (1971). A segunda, uma reflexão sistemática acerca de uma possível nova ciência do escrito, a Gramatologia (1973), que coloca a letra (gramma em grego) em sua concretude no centro da investigação. Em ambas, uma crítica radical da metafísica que perpassava o pensamento ocidental e científico, ao menos, desde Platão. Ora, se a metafísica deveria ser “superada”, era porque, dentre outros motivos, ela não podia dar conta da vida sócio histórica, da vida humana captada em sua dinamicidade. Em Escritura e Diferença ipso facto já inicia projetando “uma história imaginada da imaginação estruturalista”. Quanto à Gramatologia, Derrida afirmou alguns anos depois da publicação que era “um livro de história, completamente” (cf. Derrida, Acts of literature, 1992). A historicidade está, portanto, no veio do pensamento derridadiano, ou seja, o que é característica do homem enquanto Ser, mergulhado no tempo universal. Mas ele igualmente teceu, diversas vezes, críticas ao conceito de História pela enorme carga metafísica que possuía. No ocidente, o termo incorporou uma espécie de “significado transcendental”, adequou-se plenamente ao idealismo, melhor dizendo, “à vontade de verdade abstrata e de natureza onto-teológica”.

Bibliografia geral consultada

BRAGA, Ubiracy de Souza, “O Modelo Wittgenstein de Verdade Apodítica. Linguagem Ideal ‘versus’ Linguagem Ordinária”. In: Revista Políticas Públicas e Sociedade. Fortaleza. Ano I. n˚ 1, março de 2003;

DERRIDA, Jacques. A escritura e a diferença. São Paulo: Perspectiva, 1971

Idem, Positions. Paris: Éditions de Minuit, 1972a; Idem, Dissémination. Paris: Éditions du Seuil, 1972b

Idem, Gramatologia. Trad. Miriam Schnaiderman e Renato J. Ribeiro. São Paulo: Perspectiva, 1973; 

Idem, L’Ecriture et la différence. Paris: Éditions du Seuil, 1979;

Idem, Acts of literature (ed. Derek Attridge). New York: Routledge, 1992;

 Idem, A farmácia de Platão. São Paulo: Iluminuras, 1997; Idem, Papel-máquina. São Paulo: Estação liberdade, 2004;

DERRIDA, Jacques e FOUCAULT, Michel, Três Tempos sobre a História da Loucura. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001;

DOSSE, François. História do estruturalismo 2: O canto do cisne. São Paulo: Editora Ensaio, 1994

ARENDT, Hannah, L` Impérialisme. Les origines du totalitarisme. Paris: Seuil, 1980;

Idem, Origens do Totalitarismo. Anti-semitismo, imperialismo, totalitarismo. São Paulo: Cia das Letras, 1989;

Idem, Eichmann em Jerusalém. São Paulo: Cia das Letras, 1999;

Idem, A Condição Humana. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 2001;

Idem, Homens em Tempos Sombrios. São Paulo: Companhia de Bolso, 2008;

BARTHES, Roland, O grau zero da escritura. São Paulo, Cultrix, 1971;

NIETZSCHE, Friedrich, Sabedoria para depois de amanhã. São Paulo: Martins Fontes, 2005; 

FREUD, Sigmund, Obras Completas. Madrid: Editorial Biblioteca Neuva, 1972, 3 Volumes; 

FOUCAULT, Michel, Arqueologia do Saber. Petrópolis (RJ): Vozes, 1971;

Idem, El Orden del Discurso. Barcelona: Tusquets, 1973; Idem, “Genealogia e Poder”. In: Microfísica do Poder. 4ª edição. Rio de Janeiro: Graal, 1984,

 entre outros. 















segunda-feira, 25 de julho de 2011

“Guerra de Sangue” em Oslo contra imigrantes e marxistas.



                                                                           Ubiracy de Souza Braga*

___________________
*Sociólogo (UFF), cientista político (UFRJ), doutor em ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).


O irônico, ao contrário, é uma profecia ou uma abreviatura de uma personalidade”. In: Om Begrebet Ironi med Stadigt Hensyn til Socrates, af S. A. Kierkegaard, Kjobenhavn, 1841, SV (1), XIII 95.

             O filósofo, professor e cientista político e social norueguês, Jon Elster é autor de mais de uma dezena de livros. Seus estudos têm se direcionado ao processo de construção da constituição norte-americana e à retração da justiça em países que recentemente saíram de um processo de governo autoritário ou totalitário. Em sua conferência no Fronteiras, Jon Elster expôs sua opinião sobre os sistemas eleitorais e os desafios do processo democrático, argumentando que a boa democracia reúne três características: “governança estável, alta taxa de comparecimento nas eleições e autoridades públicas competentes”. Uma das principais fronteiras, para Elster, é o processo eleitoral.
Para ele, a eleição deveria representar a “vontade popular”, mas, não raramente, o vencedor não reflete a preferência da população. O que a Constituição deve fazer é minimizar essa possibilidade. Em sua obra de filosofia e metodologia das ciências sociais do teórico social e político norueguês Jon Elster é o inventor do “marxismo analítico”. Ele acredita que o objetivo das ciências sociais - sociologia, antropologia, economia, política - é o estudo do comportamento humano em sociedade, que seria a causa de todos os fatos e acontecimentos históricos que podem ser observados em uma determinada sociedade. Elster define essa visão como o pressuposto de que todos os fenômenos sociais podem ser explicados pela ação de indivíduos entre si, e que, por isso, além do estudo do próprio comportamento, é preciso saber quais foram as motivações do indivíduo para agir daquele modo, para fazer aquela escolha dita racional.
J. Elster chama esse método de “individualismo metodológico”, que não pode ser confundido com o individualismo moral e político, que Elster, como socialista, critica de um ponto de vista ético. Essas motivações representariam os “mecanismos” que, ativados no sujeito quando ele estivesse diante de um número de escolhas possíveis sobre aquilo que ele poderia fazer, e, deste modo, à análise das motivações (preferências). Elster  analisa das possibilidades de escolha (oportunidades) e a  crença daquele que escolhe em relação às suas “possibilidades de escolha”. Talvez haja aí um eco da filosofia de Jean-Paul Sartre, mas Elster alega que chegou às suas conclusões por meio da crítica a outro paradigma de análise de comportamento, a chamada “escolha racional”, que reduz “o homem a uma máquina instrumental de perseguição do auto interesse calculando friamente tudo”.
            Pode-se dizer que a linha central da crítica realizada pelos partidários dessas duas metodologias, seja Elster, seja Adam Przeworski direcionasse no sentido de apontar os limites do holismo metodológico: a preponderância do todo ou da coletividade (as macroestruturas), sobre a parte ou a individualidade e substituí-lo por uma visão que se volta sobre os micro-fundamentos sociais ou, o que dá no mesmo, sobre os pequenos grupos, ou mesmo o indivíduo como origem e fundamento da existência social. Aparece então, em primeiro plano, a necessidade da explicação se basear na pesquisa e compreensão da racionalidade ou do sentido que os indivíduos dão as relações e a ação social com relação aos fins.
Concordamos com Adam Przeworski que entende que todas as teorias que explicam o funcionamento da sociedade sejam elas oriundas de Marx, Durkheim ou Parsons, sendo que este buscou combinar atividade humana e estrutura em uma teoria e não se limitou ao “funcionalismo”, necessitam ser submetidas ao mesmo desafio: “fornecer os micro fundamentos para fenômenos sociais e especificamente, basear toda a teoria da sociedade nas ações dos indivíduos concebidas como orientadas para a realização de objetivos racionais”. Mesmo que a ação racional seja um elemento fundamental, o individualismo metodológico não é em principio, segundo Jon Elster, redutível ao primeiro. Em tese, e isto é importante, pode-se imaginar a construção de micro fundamentos tendo como referencial de análise a ação individual, mas não necessariamente, a ação racional. Elster dá um exemplo: “na frase, “os Estados Unidos temem a União Soviética”, o primeiro substantivo coletivo é objeto de redução, mas não o segundo, porque aquilo que os norte-americanos individualmente considerados temem pode muito bem ser uma nebulosa entidade coletiva (escrito em 1986)”. Segundo Elster, a função do individualismo metodológico é a de ajudar a “abrir a caixa preta” e mostrar como funcionam as suas “engrenagens internas”. Isto é, a dedução a partir das macro-estruturas não é válida, pois os mecanismos causais da ação social ficam ocultos e o nível de explicação do(s) motivo(s) da ocorrência de determinado(s) evento(s) fica bastante reduzido.
Além disso, argumenta que “a racionalidade instrumental, a escolha de meios adequados aos interesses egoístas, é mais um mecanismo que explica as razões da escolha e da ação do homem”. Elster estuda um amplo conjunto de mecanismos, que ele divide entre aqueles que explicam as ações individuais e aqueles que explicam a interação social entre os indivíduos; evidentemente, os segundos são mais complexos que os primeiros e os pressupõem. Entre os mecanismos da ação, chama a atenção para dois, em especial: a) as emoções e paixões que nos impelem impulsivamente, e, b) as normas sociais, leis que nós obedecemos (e queremos que os outros obedeçam) voluntariamente, sem uso de coerção, e, portanto, formas de conduta compulsória.

Entre as “interações sociais”, chama a atenção ainda, em especial, para as consequências “não intencionais” de um comportamento, desde a sua progênie quer em Max Weber e ipso facto em Charles Wright Mills, enquanto que explicam muito bem os mecanismos de “ação coletiva”, uma forma de interação cooperativa entre todos os indivíduos de um grupo (como partidos políticos), e as instituições, mecanismos de imposição de regras compulsórias, utilizando inventivos positivos ou coerções para regular o comportamento do indivíduo, como por exemplo: Estado, empresas, exército, judiciário, etc. Enfim, ele analisa a mudança social de várias esferas da vida social, da inovação tecnológica às revoluções políticas. É muito claro e conciso, igualmente ilustrando os mecanismos com exemplos hipotéticos, históricos e literários, demonstrando que sabe muito bem do que está falando, e estabelecendo bases sólidas para as ciências sociais, idade, barrando interesses e posições particulares.

No sentido etnobiográfico, para fazermos referência à questão da diversidade cultural, se já não é um truísmo, Jon Elster “sucedeu” Pierre Bourdieu no Collége de France (1982-2001), que por sua vez havia “sucedido” Claude Lévi-Strauss e a cadeira de Antropologia Social (1959-1982). Na instituição, não há a prática de “ocupar a vaga de”, como no Brasil, já que se permite que sejam criadas outras cadeiras conforme a orientação e as pesquisas do novo titular. De toda maneira, nada mais diferente do que os interesses desse filósofo social norueguês (que foi orientando de Raymond Aron e escreveu uma conhecida tese sobre Marx na Sorbonne, cf. edição 1989) em relação ao primeiro e ao segundo dessa linhagem que tem em Marcel Mauss e na cadeira de Sociologia (1931-1942) sua origem, por assim dizer.
Como é sabido, a história sem solução de continuidade do comunismo, enquanto movimento social moderno, tem início com a corrente de esquerda da Revolução Francesa. Uma linha direta descendente liga a “conspiração dos iguais” de Babeuf, através de Felipe Buonarotti, às associações revolucionárias de Blanqui dos anos 30; e essas, por sua vez, se ligam – através da Liga dos justos, formada pelos exilados alemães inspirada por eles, - e que depois se tornará Liga dos Comunistas, a Marx e Engels, que redigiram sob encomenda da Liga, o Manifesto do Partido Comunista. Portanto, é natural que a projetada “Biblioteca” de Marx e Engels, de 1845, devesse iniciar com dois ramos da literatura “socialista”: Babeuf e Buonarotti, seguidos por Morely e Mably, que representavam a ala abertamente comunista, seguidos pelos críticos de esquerda da igualdade da Revolução Francesa e pelos “raivosos”: o Cercle Social, Hébert, Jacques Roux, Leclerc, para ficarmos nestes exemplos.
Todavia, o interesse teórico do que Engels definiria como “um instrumento ascético que se inspirava em Esparta”, não era muito grande. E tão pouco os escritores de 1830 e 40, enquanto teóricos, parecem ter impressionado favoravelmente Marx e Engels. Aliás, Marx afirmou que – precisamente por causa do primitivismo e da unilateralidade de seus primeiros escritos teóricos – “não foi por acaso que o comunismo viu surgir diante de si outras doutrinas socialistas, como as de Fourier, Proudhon, etc.; foi por necessidade”. Mesmo tendo lido os seus escritos, inclusive os de figuras relativamente menores, como Lahautière (1813-1882) e Pillot (1808-1877), Marx devia pouco à análise social dos mesmos, que consistia, sobretudo, na formulação da luta de classe como luta entre os “proletários” e os seus exploradores capitalistas.
Para sermos breves, lembramos que o comunismo babouvista e neobabouvista foi importante por dois motivos. Em primeiro lugar, ao contrário da maior parte das teorias socialistas utópicas, estava empenhado a fundo na atividade política, e, portanto, não representava apenas uma teoria revolucionária, mas também uma doutrina (embora limitada) da práxis política, da organização, da estratégia e da tática. Seus principais representantes nos anos 1830 – Laponneraye (1808-1849), Lahautière, Dézamy, Pillot e, sobretudo, Blanqui – eram ativos revolucionários. Isso, juntamente com o nexo entre eles e a Revolução Francesa (que Marx estudou a fundo), tornava-os extremamente importantes para o desenvolvimento de seu pensamento político. Em segundo lugar, mesmo se os escritores comunistas eram em sua maioria intelectuais marginais, o movimento comunista dos anos 1830 exerceu uma evidente atração sobre os trabalhadores. Além disso, se Lorenz von Stein destacou esse fato, ele não deixou de impressionar também Marx e Engels; e Engels, mais tarde, recordou o caráter proletário do movimento comunista dos anos 1840, distinguindo-o do caráter burguês de quase todo o socialismo utópico. Ipso facto, “desse movimento francês, - que adotou o nome de ´comunista` por volta de 1840, - os comunistas alemães, inclusive Marx e Engels, adotaram o nome da própria doutrina” (cf. Hobsbawm, 1980: 41).
Fora de dúvida que não podemos perder de vista, Stuttgart como a última morada da Internacional Comunista, pois a moção sobre o militarismo e os conflitos internacionais votada no Congresso da Internacional em Stuttgart (16-24 de agosto de 1907), do ponto de vista da democracia socialista, será constantemente invocada pelos socialistas como testemunho de sua vontade coletiva de opor-se à guerra; depois, pelos bolcheviques e por seus aliados, como prova, ao contrário, da traição da Segunda Internacional. Portanto, é possível considerar o Congresso de Stuttgart, ponto culminante da vida da Segunda Internacional, como um observatório privilegiado para examinar o modo pelo qual esta organização respondeu, historicamente, entre 1905 e 1910, aos desafios do militarismo, do nacionalismo e do imperialismo, como vimos em termos de “vontade coletiva”, ou “escolha racional”, como vemos na pena dos autores contemporâneos sobre este tema. 

O autor do duplo atentado na Noruega, Anders Behring Breivik, norueguês de 32 anos, preparou com muita antecedência a operação que resultou na morte de pelo menos 92 pessoas, fazendo 97 feridos e um número indeterminado de desaparecidos, segundo o mais recente e ainda provisório número divulgado pela polícia, onde ele afirma que qualificou seu ato de “cruel, mas necessário”, tinha colocado na rede mundial de computadores-internet, um manifesto de 1,5 mil páginas chamando à violência contra muçulmanos e comunistas. Detido após o ataque ao acampamento de férias da ilha de Utoya postou um largo documento intitulado: “2083 A European Declaration of Independence”, em inglês, em que entre outras coisas declarava a “guerra de sangue” contra imigrantes e marxistas, de acordo com a agência de notícias NTB, onde o assassino afirma: “Acho que é o último texto que vou escrever. Hoje é sexta-feira, 22 de julho, 12h51”, terminava o manifesto.
Duas horas e meia mais tarde, explodiu a bomba no complexo governamental de Oslo, em que morreram 7 pessoas, aos quais seguiu o massacre da ilha Utoya, com outras 85 vítimas fatais. Segundo explicou seu advogado, Geir Lippestad, conhecido por ter defendido famosos neonazistas, o assassino declarou à polícia que o massacre que perpetrou era “cruel, mas necessário”. O norueguês é ligado a grupos ultradireitistas, fundamentalistas cristãos e islamófobos e reconheceu perante as forças de segurança que esteve por trás da tragédia da ilha de Utoya, na qual morreram baleadas 85 pessoas, em sua maioria adolescente.
Assim o explicou seu advogado, Geir Lippestad, segundo informação do canal de televisão independente da Noruega, TV 2, na qual apontou que o assassino declarou perante a polícia durante horas: “Ele explicou a seriedade do assunto, a incrível amplitude de feridos e mortos. Sua reação foi assumir que era cruel executar esses assassinatos, mas na sua opinião “isto era necessário”, disse Lippestad, confirmando o nome do assassino, um extremo que até o momento só a imprensa local tinha feito. Acrescentou que Anders Behring Breivik não negou nada do que fez e se prestou a colaborar com a investigação, para “fornecer evidências”, assim como o motivo que o levou a perpetrar o massacre de Oslo.
Um ser humano sofre de algum tipo de falha, se lhe falta uma característica que é tida como “especificamente humana”. Supondo-se, por exemplo, que a espontaneidade é um objetivo que todo ser deve alcançar, então sofre de uma falha o ser que não consegue exteriorizar-se bem e é totalmente não espontâneo, falha esta que pode ser percebida como uma neurose. O termo neurose, do grego neuron (nervo) e osis (condição doente ou anormal), foi criado pelo médico escocês William Cullen em 1787 para indicar “desordens de sentidos e movimento” causadas por “efeitos gerais do sistema nervoso”. Na psicologia moderna, é sinônimo de psiconeurose ou distúrbio neurótico e se refere a qualquer transtorno mental que, embora cause tensão, “não interfere com o pensamento racional ou com a capacidade funcional da pessoa”. Essa é uma diferença importante em relação à psicose, desordem mais severa. Como é possível promover ou reprimir certas necessidades básicas humanas, é da mesma maneira possível que certas falhas sejam produzidas pela cultura. Agora, como a maioria dos indivíduos de uma sociedade sofre de certas imperfeições, essas são vistas como normalidade e o indivíduo as coloca inclusive como seus objetivos, para não ser um outsider, ou seja, um marginalizado.
Os atentados noruegueses são a “maior tragédia da história recente do país”, afirma Deisy Lima Ventura, professora de relações internacionais da Universidade de São Paulo: “Não há precedente para uma tragédia dessa magnitude na Noruega. Os países nórdicos não são imunes a atentados, como já houve em Estocolmo, na Suécia quando um homem detonou explosivos em um ato terrorista frustrado, em dezembro de 2010, mas nada foi tão grande como agora”. A especialista chama a atenção para diferenças entre os massacres realizados por indivíduos de forma isolada, em escolas ou locais públicos como em Realengo (RJ) e Virgínia Tech (EUA), e a chacina ocorrida na Noruega. Há características próximas, como a de serem atentados motivados por pessoas que aparentemente não se encaixam na vida em sociedade. Mas o massacre norueguês tem um fator político que não existiu na chacina de Realengo, por exemplo. O atentado teve a intenção de eliminar o primeiro-ministro da Noruega, Jens Stoltenberg, afirma Deisy Ventura. Ela recorda que Stoltenberg era aguardado pelos jovens do Partido Trabalhista um dia após o atentado.
Além da chacina causada por Andres Breivik - ele chegou disfarçado de policial ao acampamento da juventude e disparou contra as vítimas com um fuzil -, a explosão de um carro-bomba em Oslo, no mesmo dia, diante do edifício-sede do governo do país, deixou outras sete pessoas mortas. O primeiro-ministro estava no prédio no momento das explosões. Acredito que em breve saberemos se ele (o assassino) Andres Breivik, agiu sozinho ou com ajuda de alguém, mas seja como for, há um fator político claro nos atentados. Em um país que é tido como referência de democracia, com o maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do mundo, 0,983 em uma escala que vai de 0 a 1, e com tradição de pacifismo, o massacre faz soar o sinal de alerta com relação às atividades da extrema-direita, afirma a especialista.
Os partidos e grupos de centro-direita na Europa estão sendo “contaminados” com posições extremistas nos últimos anos, ressalta Deisy Ventura, que fez doutorado em Direito Internacional pela Université Panthéon-Sorbonne, em Paris. Existe uma irradiação destas ideias extremistas e xenófobas entre políticos e grupos que não são historicamente radicais. Políticos franceses de direita recentemente desqualificaram a candidata à presidência pelo Partido Verde, Eva Joly, por ela ser uma estrangeira naturalizada no país. Ela não teria a “cultura tradicional da França” e por isso está sofrendo preconceito, aponta a professora da Universidade de São Paulo - USP.

Bibliografia geral consultada:


BRAGA, Ubiracy de Souza, “Serial Killers brasileiros: origem e significado da traigoidia”. Disponível em: http://espacoacademico.wirdpress.com/2011/04/13;

Idem, “Massacre de Eldorado dos Carajás: 15 anos de impunidade”. Disponível em: http://alainet.org - ALAI - América Latina em Movimiento, 2011.05.01;

ELSTER, Jon, Marx, hoje. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989;

DERRIDA, Jacques. A escritura e a diferença. São Paulo: Perspectiva, 1971;

Idem, Positions. Paris: Editións de Minuit, 1972a;

Idem, Dissémination. Paris: Editións Du Seuil, 1972b; Idem, Gramatologia. São Paulo: Perspectiva, 1973;

Idem, Papel-máquina. São Paulo: Estação liberdade, 2004;

KIERKEGAARD, Soren Aabye, O conceito de ironia: constantemente referido a Sócrates. 3ª edição. Bragança Paulista: Editora Univeristária São Francisco, 2006;

ANDERSON, Perry, A Crise da Crise do Marxismo. Introdução a um debate contemporâneo. 2ª edição. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985;

DOSSE, François. História do estruturalismo 2: O canto do cisne. São Paulo: Editora Ensaio, 1994; 

FREUD, Sigmund, Obras Completas. Madrid: Editorial Biblioteca Neuva, 1972, 3 Volumes;

FOUCAULT, Michel, Arqueologia do Saber. Petrópolis (RJ): Vozes, 1971;

Idem, El Orden del Discurso. Barcelona: Tusquets, 1973; Idem, “Genealogia e Poder”. In: Microfísica do Poder. 4ª edição. Rio de Janeiro: Graal, 1984;

ARENDT, Hannah, Eichmann em Jerusalém. São Paulo: Companhia das Letras, 1999

 Idem, A Condição Humana. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 2001, 

entre outros.