sábado, 31 de agosto de 2013

Como manipular mentes e virar um líder religioso


 
BONUS TRACK – No embalo, uma palestra do TED explica porque as abordagens políticas realizadas até hoje apenas servem para reforçar a apatia dos cidadãos (ou "porque o gigante acordou e voltou a dormir tão rápido"):


domingo, 25 de agosto de 2013

A Herança de Hegel à Lennon: A Religião no Fim dos Tempos

A Herança de Hegel à Lennon: A Religião no Fim dos Tempos.


Ubiracy de Souza Braga*


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* Sociólogo (UFF), cientista político (UFRJ), doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado do Departamento de Filosofia da Universidade Estadual do Ceará.



Imagine all the people/Living life in peace/You may say/I`m a dreamer/But I`m not the only one”… John Lennon



            Escólio: O ponto de partida para a constituição do sujeito – diz Alexandre kojève (1972; 1973), nascido Aleksandr VladimirovičKoževnikov, leitor de Hegel – é o desejo, “mas não um desejo dirigido a uma coisa qualquer no mundo”. O homem se torna humano “quando deseja outro desejo”. Abre-se assim, ao homem, um novo espaço de liberdade, que se manifesta antes de tudo como um desejo de reconhecimento e produz uma luta de morte por puro prestígio – o ato fundante da história, o ato antropogênico por excelência. Mas para que haja história, é preciso que haja relação social entre homens vivos. A luta não pode terminar com a aniquilação de um dos lados. Um deles deve abdicar do combate, ou seja, “colocar a sua liberdade acima de sua vida”. Estabelece-se uma relação de tipo “senhor-escravo”. Porém, nela se desenvolve concentrada neste segundo polo, outra atividade essencial ao projeto do homem: o trabalho. A descrição da dialética que assim se estabelece é um dos pontos culminantes do pensamento humano em todas as épocas, e sua conclusão é surpreendente: “o homem integral, livre, satisfeito com o que é, o homem que se aperfeiçoa, não é o senhor nem o escravo, mas sim o escravo que consegue suprimir sua sujeição”. Isto é Hegel, um homem admirável.
A célebre metáfora do senhor e do escravo, tão popularizada em nossa tradição ocidental, foi criada por Hegel, e utilizada por muitos pensadores no século XX. Ela aparece, em seu primeiro momento, na obra Fenomenologia do espírito(cf. Hegel, 1983; 1986; Braga, 2007). Desse modo, qualquer aproximação da metáfora em si ou do seu sentido, necessita de uma análise da obra e do contexto onde a mesma se insere. Diferentemente das muitas lições e cursos que Hegel deu e que, posteriormente, foram transformados em aulas, sua escrita aqui é bastante diferente. O pensador alemão se depara com uma antiga questão filosófica que separa sujeito e objeto.Ipso facto,a Fenomenologia possui três significações fundamentais. A primeira é filosófica, isto é, ela questiona o que significa para a consciência “experimentar-se a si mesma” e “caminharrumo à ciência”. Podemos notar aqui a clara oposição de Hegel ao posicionamento kantiano. A segunda significação é cultural, isto é, a “consciência vive num determinado contexto e época”. Já a terceira significação é histórica, ou seja, “a consciência do indivíduo e da cultura caminha para uma ciência na história”. Desse modo, somente a partir de tais cruzamentos é que podemos compreender a dialética do senhor e do escravo em Hegel.
Porque a dialética do “Senhor e do Escravo”, (a figura) é necessária para a compreensão da ideia de liberdade? A figura é necessária representativamente como sujeito e objeto da disputa de reconhecimento reciproco, para servir de instrumentos para autoconhecimento, são componentes primordiais na constituição da metáfora, são elementos que lutarão entre si até a conquista do reconhecimento e da liberdade. São representações instrumentais de um dialogo racional entre duas consciências que por sua vez foram imaginadas por Hegel que brilhantemente utilizou o dialogo entre as duas consciências para chegar ao reconhecimento de si e para si, permitindo chegar a ideia de liberdade, uma liberdade pautada pelo respeito mutuo, e a exata importância e posição que ocupam as duas consciências, que inicialmente em guerra e posteriormente pelo amadurecimento que as leva a ideia de liberdade pautada em limitadores essenciais para a convivência harmoniosa. Reconhecer a si mesmo e ao outro é uma forma de ver nossos limites e dos outros, respeitando e sendo respeitado são elementos necessários para a paz e a liberdade. Hegel se utiliza habilmente desta metáfora. A dialética do senhor e do escravo é um processo de constituição de liberdade, são estabelecidas as relações de reconhecimento, que é a preservação de um e de outro, politicamente o estado de direito é um estado livre. Neste sentido a figura humana de John Lennon é representativa da ideia filosófica de liberdade.

                       

O fabuloso John Lennon, na canção “Imagine”, faz alusão à vidafenomenologicamente falando da seguinte forma:
Imagine there`s no heaven/It`s easy if you try/No hell below us/Above us only sky/Imagine all the people/Living for today/Imagine there`s no countries/It isn`t hard to do/Nothing to kill or die for/And no religion too/Imagine all the people/Living life in peace/You may say/I`m a dreamer/But I`m not the only one/I hope some day/You`ll join us/And the world will be as one/Imagine no possessions/I wonder if you can/No need for greed or hunger/A brotherhood of man/Imagine all the people/Sharing all the world/You may say,/I`m a dreamer/But I`m not the only one/I hope some day/You`ll join us/And the world will live as one”.
            John Winston Lennon ganhou notoriedade mundial como um dos fundadores do grupo de rock britânico The Beatles. Na época da existência dos Beatles, John Lennon formou com Paul McCartney o que seria uma das melhores e mais famosas duplas de compositores de todos os tempos, a dupla Lennon/McCartney. John Lennon foi casado com Cynthia Powell, e com ela teve o filho Julian. Em 1966, conheceu a artista plástica japonesa Yoko Ono. Em 1968, Lennon e Yoko produziram um álbum experimental, “Unfinished Music No.1: TwoVirgins”, que causou controvérsia por apresentar o casal nu, de frente e de costas, na capa e contracapa. A partir deste momento, John e Yoko iniciariam uma parceria artística e amorosa. Cynthia Powell pediu o divórcio no mesmo ano, alegando adultério. Em 1969, o casal se casou numa cerimônia privada no rochedo de Gibraltar. Usaram a repercussão de seu casamento para divulgar um evento pela paz, chamado de “Bed in”, ou “John e Yoko na cama pela paz” (foto), como um resultado prático de sua lua-de-mel, realizada no Hotel Hilton, em Amsterdã. No final do mesmo ano, Lennon comunicou aos seus parceiros de banda que estava deixando os Beatles. Ainda no mesmo período, Lennon devolveu sua medalha de Membro do Império Britânico à Rainha Elizabeth, como uma forma de protesto contra o apoio do Reino Unido à guerra do Vietnã, o envolvimento do Reino Unido no conflito de Biafra e “o fraco desenvolvimento de ColdTurkey nas paradas de sucesso”.                                              

                        Foto: John e Yoko na cama pela paz.
Este aspecto aproxima-nos da ideia nevrálgica da questão temporal na novela. As origens da novela enquanto gênero literário remonta aos primórdios do Renascimento, designadamente a Giovanni Boccaccio (1313-1375) e a sua grande obra, o Decameron, ou Decamerão, que rompe com a tradição literária medieval, nomeadamente pelo seu cariz realista. Trata-se de uma compilação de cem novelas contadas por dez pessoas, refugiadas numa casa de campo para escaparem aos horrores da Peste Negra, a qual é objeto de uma vívida descrição no preâmbulo da obra. Ao longo de dez dias, de onde “decameron”, do grego deca, dez, as sete moças e os três jovens, para ocuparem as longas horas de ócio do seu auto-imposto isolamento, combinam que todos os dias cada um contam uma história, subordinada a um tema designado por um deles. Refira-se ainda outra obra, escrita em francês, com o mesmo tipo de estruturação: o Heptameron, da autoria de Margarida de Navarra (1492-1549), rainha consorte de Henrique II de Navarra. Não há novela sem o uso do poder.
 Aqui, são dez viajantes que se abrigam de uma violenta tempestade numa abadia. Impossibilitados de comunicarem com o exterior, todos os dias cada um conta uma história, real ou inventada. Em jeito de epílogo, cada uma é concluída com comentários dos participantes, em ameno diálogo. Era intenção da autora que, à semelhança do Decameron, a obra compreendesse cem histórias, porém a morte impediu-a de realizar o seu intento, não indo além da segunda história do oitavo dia, num total de 72 relatos. Será também a morte prematura que poderá explicar certa pobreza de estilo, contrabalançada, porém por uma grande perspicácia psicológica. Mas será apenas nos séculos XVIII e XIX que os escritores fundam a novela enquanto estilo literário, regido por normas e preceitos. Os alemães foram então os mais prolíficos criadores de novelas, em alemão: Novelle e Novellen. Para estes, a novela é uma narrativa de dimensões indeterminadas - desde algumas páginas até às centenas - que se desenrola em torno de um único evento ou situação, conduzindo a um inesperado “momento de transição” (Wendepunkt) que tem como corolário um desfecho simultaneamente lógico e surpreendente como na política.
O primeiro tipo de conhecimento elucidado aqui é a certeza sensível que, posteriormente, caminha para algo denominado como suprassensível. Por certeza sensível podemos entender aqui o conhecimento primeiro que a consciência faz do mundo, isto é, o conhecimento empírico. Tal conhecimento caminha para um conhecimento suprassensível na medida em que tenta superar a física. Aparece aqui, sem dúvida alguma, uma ligação da filosofia hegeliana com a filosofia platônica. Contudo, Hegel mantém a verdade no plano da imanência e não procede como Platão, que a coloca na transcendência. O segundo tipo de conhecimento do sujeito é denominado por Hegel de consciência de si. Por consciência de si podemos compreender a consciência que ultrapassou a esfera do senso comum e do empírico e se descobre enquanto tal. Há aqui um movimento dialético, uma espécie de caminho que será mais bem elucidado.
            A consciência de si imediata equivale a um eu simples. Segundo Hegel, tal coisa não se sustenta mais aqui. O senhor aparece aqui como a vida e o escravo como um ser para o outro, isto é, como coisa.O senhor é para si. O escravo é um elo entre

sábado, 17 de agosto de 2013

Origem, Memória e Significado das Humanidades no Ceará

Origem, Memória e Significado das Humanidades no Ceará.
Ubiracy de Souza Braga*


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Sociólogo (UFF), cientista político (UFRJ), doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE). 









Hamlet Meu pai... Como que o vejo aqui, meu pai. – Horácio: Onde, senhor? - Hamlet:“Nos olhos da memória”. William Shakespeare, Hamlet. Ato I, Cena II (2011).




Centro de Humanidades, Universidade Estadual do Ceará, Av. Luciano Carneiro, 335, bairro de Fátima, Fortaleza.
            Em torno do governador Manoel Inácio de Sampaio, por volta de 1813 a 1817, reuniam-se poetas que formavam os “Oiteiros”. A estética desse tempo era o Neoclassicismo, ou Arcadismo, e entre esses versejadores estavam Pacheco Espinosa, Costa Barros, Castro e Silva, e outros. Pelo fato de se terem guardado apenas textos de louvor ao governante, afinal, eram manuscritos que estavam no Palácio de governo, Silvio Júlio, em Terra e povo do Ceará (1936), disse horrores desses poetas. Mas Dolor Barreira, principalmente em sua História da literatura cearense (1948), compreendeu que, bem ou mal, os versos dos Oiteiros “representavam o alvorecer das letras em nossa Província”. Depois de um período um tanto incaracterístico, no que toca a estilos literários, veio Juvenal Galeno, em 1856, comPréludios poéticos, já românticos e com motivos do povo, o que viria com mais força em seu livro principal, Lendas e canções populares (1865), aparecido no mesmo ano em que, no Rio de Janeiro, José de Alencar publicava Iracemaque simbolizaria as terras alencarinas. Do ponto de vista da memória, objeto de nossa reflexão, a“Padaria espiritual” (1892 - 1898) foi tida por seus integrantes como uma Agremiação de Rapazes e Letras, e foi fundado em 30 de maio de 1892 em Fortaleza, nascida em um famoso quiosque da Praça do Ferreira, de 1892 em Fortaleza, o Café Java. Antônio Sales, idealizador e o responsável principal pela originalidade da agremiação, junto a Lopes Filho, Ulisses Bezerra, Sabino Batista, Álvaro Martins Temístocles Machado e Tibúrcio de Freitas compunham o grupo dos que frequentavam o Café Java e dos Fundadores da Agremiação. Tinham por influência grandes nomes da literatura nacional e mundial. A cada domingo, um jornalzinho de oito páginas chamado “O Pão” era “amassado” e fez circular 36 números, até que em dezembro de 1898, depois de 6 anos de atividades, a Padaria fecha. Os títulos dos membros desta Academia “seguiam o padrão usado nas padarias reais”, do ponto de vista do processo de trabalho (Marx). Vejamos o que nos diz a pena do cantor, compositor e instrumentista Beto Guedes, membro do Clube de Esquina mineiro: “Sim, todo amor é sagrado/E o fruto do trabalho/É mais que sagrado/Meu amor/A massa que faz o pão/Vale a luz do teu suor/Lembra que o sono é sagrado/E alimenta de horizontes/O tempo acordado de viver” (cf. Beto Guedes, “Amor de Índio”, 1978).
Escólio: A Universidade Estadual do Ceará(UECE) é uma universidade pública mantida pela FUNECE - Fundação Universidade Estadual do Ceará, atualmente com mais de 23 mil alunos em todo o estado. É uma das maiores universidades do Ceará.É considerada a oitava melhor instituição estadual de ensino superior do Brasil e a primeira entre suas similares do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, de acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha,em 2012.Também é a única universidade brasileira citada no “Bright Green Book” (Livro Verde do Século XXI), uma parceria entre o EUBRA – Conselho Euro-Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável e a ONU-Habitat, o programa de assentamentos urbanos da Organização das Nações Unidas. Em 2012 a universidade ofereceu 2.205 vagas para 67 cursos de graduação para o período 2013.Criada com o objetivo de atender às necessidades de formação de professores da rede de ensino do Estado do Ceará, a Universidade Estadual do Ceará estruturou uma rede “multi-campi” em vários municípios do estado com Faculdades nos Municípios de Crato, Juazeiro do Norte, Iguatu, Quixadá, Limoeiro do Norte, Crateús, Ipu, Ubajara, Redenção e Cedro. 

Foto: O cotidiano de professores, funcionários e alunos no Centro de Humanidades da UECE (2013).
A vida cotidiana (cf. Heller, 1972; 1975; 1982a; 1982b) é a vida de todo homem, pois não há quem esteja fora dela, seja o culto e o inculto e do homem todo, na medida em que, nela, são postos em funcionamento todos os seus sentidos, as capacidades intelectuais e manipulativas, sentimentos e paixões, ideiase ideologias. Em outras palavras, é a vida do indivíduo e o indivíduo é sempre ser particular e ser genérico, por exemplo, as pessoas trabalham - uma atividade do gênero humano -, mas com motivações particulares; têm sentimentos e paixões -manifestações humanas egenéricas -, mas os manifestam de modo particular, referido ao eu e a serviço da satisfação de necessidades e da teleologia individuais; a individualidade contém, portanto, a particularidade e a genericidade ou o humano-genérico. Abstraída de seus determinantes sociais, toda vida cotidiana é heterogênea e hierárquica tanto quanto ao conteúdo e à importância atribuída às atividades, espontânea, no sentido de que, nela, as ações se dão automática e irrefletidamente, econômica, uma vez que, nela, pensamento e ação manifestam-se e funcionam somente na medida em que são indispensáveis à continuação da cotidianidade; portanto, as ideias necessárias à cotidianidade jamais se elevam ao nível da teoria, assim como a ação cotidiana não é práxis, baseia-se em juízos provisórios, é probabilística e recorre à ultra generalização e à imitação. É nesse marco que Heller teoriza sobre o pensamento e o trabalho, a ciência e a arte, os contatos interpessoais e a personalidade.
Todas essastendências são consideradas por Agnes Heller formas necessárias do pensamento e da ação na vida cotidiana; sem elas, seria impossível até mesmo a sobrevivência. No entanto, quando se cristalizam em absolutos, não deixando ao indivíduo margem de movimento e de possibilidade de explicitação, estamos diante da alienação da vida cotidiana. Pela coexistência e sucessão de atividades heterogêneas, a vida cotidiana é, de todas as esferas da realidade, a que mais se presta à alienação. Embora terreno propício à alienação, ela não é necessariamente alienada. Ou é em determinadas circunstâncias histórico-sociais, como é o caso da estruturação das sociedades industriais capitalistas. Nessas sociedades, o indivíduo da vida cotidiana é o indivíduo que realiza o trabalho que lhe cabe na divisão social do trabalho, produz e reproduz esta parte e perde de vista a dimensão humano-genérica. Assim sendo, perde de vista as condições de sua objetividade; ao alienar-se, torna-se particularidade, parcialidade, indivíduo preso a um fragmento do real, à tendência espontânea de orientar-se para seu eu particular.
                        

Dizer que a vida cotidiana é propícia ao preconceito, que a base antropológica dele é a particularidade e seu componente afetivo é a fé não significa afirmar que os sistemas de preconceitos sociais decorrem dos preconceitos do homem tomado isoladamente. A maioria de nossos preconceitos tem, na verdade, um caráter mediata ou imediatamente social: os assimilamos e os aplicamos, através de mediações, a casos concretos. A particularidade do homem está vinculada a sistemas de preconceitos pelo fato de que na sociedade predominam “sistemas de preconceitos sociais estereotipados e estereótipos de comportamentos carregados de preconceitos”. Em outras palavras, embora a vida cotidiana seja propícia à emergência de preconceitos, ela não os determina; sua origem deve ser procurada em outro lugar. Segundo Heller, os preconceitos têm a função de consolidar e manter a estabilidade e a coesão de integrações sociais, principalmente das classes sociais. Essa função de mantenedor da estabilidade e da coesão só é desempenhada quando estas estão internamente ameaçadas. Por isso, a maior parte dos preconceitos é produto das frações das classes dominantes, pois é a elas que interessa manter a coesão de uma estrutura social, conseguida em parte graças à mobilização, através de preconceitos, dos que representam interesses diversos ou até mesmo heterogêneos e antagônicos. Apoiadas no conservadorismo, no comodismo, no conformismo ou nos interesses imediatos dos integrantes das classes ou camadas sociais que lhes são antagônicas, as classes dominantes conseguem mobilizá-las contra os interesses de sua própria classe e contra a práxis, mas que não poderemos tratar agora.
Defendemos a tese segundo a qual o curso de Ciências Sociais pertence ao Centro de Humanidades desde a sua criação (cf. Jaeger, 1962; 1994).Seu deslocamento recente para o prédio do Centro de Estudos Sociais Aplicados, já estava sendo premeditado acerca de 2 anos no campus do bairro Itaperi, e se explica em função do egoísmo autoritário, se já não é um truísmo, de alguns professores oportunistas que tendo as suas atividades ligadas a Laboratórios,muitas vezes em detrimento das salas de aula, afinal de contas ensinar é um dom, forçaram em nome do coletivo de professores a ida onde se aloja o centro de poder da universidade – a Reitoria. Para concordarmos com o velho e bom antropólogoLucienLévy-Bruhl em 1922: “avant toutechose, soulignonsunparadoxequitraversetoutel’oeuvreetpeut-êtreladépasselargement. L’expression ´mentalitéprimitive`dont, onvient de leconstater, il ne revendiqueabsolumentpaslapaternité, est cependantirrémédiablementassociée à sonnom”.
O curso de Ciências Sociais, do Centro de Humanidades (CH), passa a funcionar, a partir deste semestre, no Campus do Itaperi, com base no Bloco R. Neste bloco situa-se o Centro de Estudos Sociais Aplicados o que já configura a dinâmica epigramática positivista de corte comteano constringindo a liberdade de expressão.Atualmente o CH tem como Diretora a professora Dra. Letícia Adriana Pires dos Santos (foto), oriunda do Departamento de Letras e o Vice-Diretor, professor Dr. Eduardo Jorge Oliveira Triandópolis (foto), oriundo do Departamento de Filosofia. A Coordenadora do curso de Ciências Sociais professora Dra. Maria Raquel de Carvalho Azevedo e a Vice Coordenadora, professora Dra.Rosangela Maria Costa Fernandes, encaminharam-se para o campus do Itaperi com bonomia e prestimosidade.
Caminham os homens, na época presente, de maneira bastante duvidosa, porque a maioria deles pretende somente aparentar, subir, galgar posições para depois abusarem dessas posições, abusarem dos direitos que possuem, e descem, moralmente, descem na sua honestidade, tornar-se-ão, enfim, criaturas indesejáveis. Não adianta subir assim. É preferível nunca ter subido, é preferível manter-se na sua posição de trabalhador social honesto, do que subir, galgar postos para deles fazer mau uso. É uma obsessão que vem dominando os seres: “a do mando”, ou do luxo, da riqueza, do quererem aquilo que os outros possuem. Invejar as posições altas, a riqueza dos outros é estar o ser a prejudicar-se, e nada mais. Em vez de invejarem, em vez de quererem usufruir fortuna, em vez de quererem posições para gozarem delas, saibam aumentar o seu quinhão, honestamente, por meio do trabalho, por meio do seu labor, do seu braço forte, rijo, mas sempre honesto e bom.
No Campus de Fátima, localizado na Avenida Luciano Carneiro, em Fortaleza, funciona o Centro de Humanidades, constituído com a implantação da UECE em 1975. Este Centro originou-se da antiga Faculdade de Filosofia do Ceará - FAFICE, que contava com os cursos de Filosofia e Letras em funcionamento desde 1947, ano de sua criação. Em 1966 a FAFICE foi encampada pelo Governo do Estado do Ceará e, em 1967 transformou-se em autarquia por meio da Lei nº 8.737, de 25 de janeiro de 1967. O primeiro diretor do CH, nomeado quando da criação da UECE foi o Professor Luiz Moreira.Atualmente o CH que possui sete cursos de graduação, sendo na modalidade presencial: Filosofia, Letras, Música e Psicologia e um de Artes Plásticas, na modalidade à distância.O curso de Ciências Sociais escafedeu-se.
O Secretário Geral do CH, Sérgio Augusto Lima Leitão,Prefeito: Ivan Leite Braga, Secretaria Executiva,Deborah Barbosa, permanecem no Centro de Humanidades, assim como a eficiente secretária Suzana. A Universidade Estadual do Ceará (UECE) festeja neste ano de 2013, os 25 anos de instalação do curso de Ciências Sociais “in partibus infidelium”, ou, “entierra de infieles”. Por intermédio dos professores do colegiado de Ciências Sociais prepararamuma vasta programação entre os dias 10 e 13 de junho, constando de minicursos, mesas redondas e o lançamento do livro:“Ciências Sociais da UECE: histórias e memórias”, organizadas pelos professores Dr. João Bosco Feitosa dos Santos e Dr. João Tadeu de Andrade. Segundo a coordenadora geral do Encontro, professora Dr. AdelitaNeto Carleial, as discussões giram em torno do tema: “Política Cultura e Sociedade: diálogos sobre a realidade social”. Toda a programação ocorreu no Auditório do Centro de Humanidades, campus de Fátima. O curso forma profissionais aptos a atuarem na sociedade, tradicionalmente nas áreas de Planejamento e Pesquisa, também prepara profissionais com formação básica que os capacita ao conhecimento da realidade social, mediante o uso dos métodos científicos compatíveis com a evolução tecnológica atual.

            Em primeiro lugar a palavra memória origina-se do Grego “mnemis” ou do latim, “memoria”. Em ambos os casos a palavra denota significado de conservação de uma lembrança. Trata-se de um termo presente e utilizado por várias ciências, sobretudo nas humanidades, sendo absorvida pelas novas correntes historiográficas. Para os gregos a memória estava recoberta de um halo de divindade, pois se referia à “deusa Mnemosyne”, mãe das Musas, que protegem as artes e a história. Mnemosine ou Mnemósine, em grego: Mνημοσύνη, era uma das Titânides, filha de Urano e Gaia e a deusa que personificava a Memória. Era aquela que preserva do esquecimento. Seria a divindade da enumeração vivificadora frente aos perigos da infinitude, frente aos perigos do esquecimento que na cosmogonia grega aparece como um rio, o Lete, um rio a cruzar a morada dos mortos, o de letal esquecimento, o Tártaro, e de onde “as almas bebiam sua água quando estavam prestes a reencarnarem-se, e por isso esqueciam sua existência anterior”.

Novos diretores, Letícia & Eduardo, seu staff e a concessão do uso de faixa de terreno para o Centro de Humanidades, que abrigará um estacionamento e permitirá ampliação do refeitório do campus de Fátima.
            Em segundo lugar, os antigos gregos autodenominavam-se helenos, e a seu país chamavam Hélade, nunca tendo chamado “a si mesmos” de gregos nem à sua civilização Grécia, pois ambas as palavras são latinas, sendo-lhes atribuídas pelos romanos. Os gregos originaram-se de povos que migraram para a península balcânica em diversas ondas migratórias, como o início do milênio II a. C.: aqueus, jônicos, eólicos e dóricos. As populações invasoras são em geral conhecidas como “helênicas”, pois sua organização de clãs fundamentava-se, na crença de que descendia do herói Heleno, filho de Deucalião e Pirra. São inúmeras as diferenças entre a Grécia moderna e a Grécia Antiga. O mundo grego antigo estendia-se por uma área muito maior do que o território grego atual.
            No livro Paidéia (1962), uma análise da formação do homem grego que se tornou um clássico, o intelectual alemão Werner Jaeger (1888-1961) afirma: “No esposibledescribiren pocas palabraslaposición revolucionaria de Greciaenla historia de laeducación humana”.  O próprio termo “paidéia”, de difícil tradução, dá uma ideia aproximada da abrangência da influência grega em nossa vida: engloba ao mesmo tempo civilização, cultura, educação e tradição de um povo. Muitas das ideias que ainda se discutem em vários domínios - política, ciência e filosofia, por exemplo - são ecos do que já pensavam os gregos mais de vinte séculos atrás. Na tradição grega mais antiga, uma aplicação possível da proto-ideia de alegoria é o ensino dos pitagóricos, cujo sistema filosófico, apoiado em relações numéricas simbólicas, contém associações de natureza alegórica. Presente desde Demócrito (cf. Marx, 1974) na Grécia Clássica, a ideia de átomo é, por excelência, uma “pré-ideia” ou “proto-ideia” que, de tempos em tempos reaparece em novos contextos e em novos “estilos de pensamentos”, com novas formas de interpretação da cultura. Tal acontece, por exemplo, na doutrina do dualismo essencial entre limite e ilimitado, que se funda na composição de dez pares de opostos, alguns alegóricos como Luz/Trevas e Bom/Mau.
                        

            Em segundo lugar, uma das funções mais importantes da memória é ser fonte de respostas às questões que intrigam o ser humano - a sua origem, identidade e a sua posição e papel no mundo - por isso é muito significativo que “Mnemosyne” esteja ligada à faculdade da orientação e da desorientação no tempo e no espaço. Outra função importante da Deusa Memória era a seleção das informações que seriam transmitidas, por isso existe uma relação entre “Mnemosyne” e “Lemosyne” (esquecimento). A sacralização da memória e sua representação como uma deusa demonstram a sua importância social, além da sua vinculação com as Artes, a História, a Filosofia, a Sociologiae a Ciência de modo geral, representadas pelas Musas que não só são suas filhas mitológicas, mas que por ela são nutridas com informação, memória e discernimento. A Memória ainda foi considerada parte da virtude da Prudência, juntamente com a Inteligência e a Providência, por São Tomás de Aquino, símbolo e fundamento, com a criação do curso de Filosofia da Universidade Estadual do Ceará na década de 1950, como consta sua imagem na sala de professores.
            A palavra na cosmogonia recua ao que não pôde ser esquecido: o primeiro sonho, a primeira visão, a primeira imagem, “o paradigma de todo ato humano significativo”. A palavra guarda a primeira forma de sabedoria que uma realidade verbal pôde conter, pois que, pela palavra é possível retornar “à sabedoria primeira e eterna” nas cosmogonias. A Poética de Aristóteles já cogitava, por exemplo, o termo “mito” como o princípio: “o mito é o princípio e [é] como que a alma da tragédia; só depois vêm os caracteres.”: e adiante, confirma “os mitos devem ter uma extensão bem apreensível pela memória”. Memória para se narrar o que é extensível e para a experiência do passado não ser esquecida, e para o tempo futuro fazer parte da própria realidade do tempo. A memória, na tradição oral, seria “o livro” em que se guarda o que não pode ser esquecido, e memória tem a ver com os segredos do tempo.
            Guardar os conhecimentos, os conselhos profissionais, as normas morais, como o tesouro da verdade repostados na sempre imprevisível palavra. A palavra é tecida nas narrativas em uma teia nem sempre linear. Linear é o curso. Narrar é o discurso. É assim que o detentor desse discurso conhece os segredos e os destinos da palavra. Ele aprende a errar o curso, a criar entre as brechas da memória. E assim, no exercício da memória, tem a fórmula da obra duradoura. Desse modo, é até bom saber que memória e tem algo em comum com a invenção. A memória, de acordo com a tradição grega, carrega algo de amplo “metáforas de infinitude”, assim entendido [...] “no panteão grego, a Memória, ‘Mnemosyne’, é uma deusa, filha de Urano e de Gaia, irmã de Chronos e de Okeanos - a memória filha do céu e da terra, irmã do tempo e do oceano: todas, metáforas de infinitude”. Memória e invenção, portanto, ao serem personificadas como mulheres, carregariam, na cosmogonia grega, os poderes da conservação identificados ao comportamento feminino. “Mnemosyne” é mãe das musas, deusas da literatura e das artes e Calíope, segundo a tradição, é mãe de Orfeu, um dos primeiros poetas pré-homéricos. Ao todo eram nove musas, sendo que na numerologia, o número nove, por ser triplo de três, o número do princípio totalizador, seria o número da perfeição. Assim, na Antiguidade, acreditava-se que a totalidade das artes e das ciências humanas estivessepersonificada nas nove musas. As musas, filhas de Memória e de Zeus.
            Dialética, vem do grego,“é um método de diálogo cujo foco é a contraposição e contradição de ideias” que, por assim dizer leva a outras ideias e que tem sido um tema central na filosofia ocidental e oriental desde os tempos antigos. A tradução literal de dialética significa “caminho entre as ideias” (cf. Foulquié, 1966). Aos poucos, passou a ser a arte de, no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação capaz de definir e distinguir claramente os conceitos envolvidos na discussão. Aristóteles considerava Zenão de Eleia (aprox. 490-430 a.C.) o fundador da dialética. Outros consideraram Sócrates (469-399 a. C.). Um dos métodos dialéticos mais conhecidos é o desenvolvido pelo filósofo alemão Hegel (1770-1831). Além disso, o termo discurso pode também ser definido do ponto de vista lógico.
Ou seja, a Fenomenologia (cf. Hegel, 1973) vem a ser uma história concreta da consciência, sua saída da caverna e sua ascensão à Ciência.  Daí a analogia que em Hegel “existe de forma coincidente entre a história da filosofia e a história do desenvolvimento do pensamento”, mas este vir-a-ser é necessário, como força irresistível que se manifesta lentamente através dos filósofos, que são “instrumentos de sua manifestação”. Ipso facto quando Hegel afirma sobre a filosofia em geral, que “a coruja de Minerva só levanta voo ao anoitecer” (“die Eule der Minerva beginnterstmit der einbrechendenDämmerungihrenFlug”), vale somente para uma filosofia da história, ou seja, é verdadeiro para a história e corresponde à weltanschauung dos historiadores.Quando pretendemos significar algo a outro é porque temos a intenção de lhe transmitir um conjunto de informações coerentes - essa coerência é uma condição essencial para que o discurso seja entendido. São as mesmas regras gramaticais utilizadas para dar uma estrutura compreensível ao discurso que simultaneamente funcionam com regras lógicas para estruturar o pensamento. Um discurso político, por exemplo, tem uma estrutura e finalidade muito diferente do discurso econômico, mas politicamente pode operar a dimensão econômica produzindo efeitos sociais específicos em termos de persuasão.Aqui está nosso ponto de ligamento, do lat. ligamentu, da filosofia com a história.
Encorajado por Hegel que percebeu depois de Kant que a filosofia só havia começado na Grécia com Platão e Aristóteles, tal como Nietzsche mais tarde a concebera como ponto de partida dionisíaco, posto que ambos admitissem que a polis e a glória da história grega chegava ao seu fim ou, para Nietzsche, “a sua decadência”. O que é primus inter pares, porém, é que Platão e Aristóteles vieram a ser ou realizar o início da tradição filosófica ocidental e que esse início do pensamento filosófico grego ocorreu quando a vida política já se aproximava realmente de seu fim. Não devemos perder de vista o que Platão chamou de dialegesthai, Sócrates chamava de maiêutica, a “arte do parto”: ele queria ajudar as pessoas a dar à luz os seus próprios pensamentos, a encontrar a verdade em sua doxa.
Hoje, a Grécia constitui um país, cujo nome oficial é República Helênica. Já a Grécia Antiga nunca foi um estado unificado com governo único. Era um conjunto de cidades-estados independentes entre si, com características próprias embora a maioria das cidades-estados tivessem seus sistemas econômicos parecidos, excluindo-se de Esparta. Os gregos tinham conflitos e diferenças entre si, mas muitos elementos culturais em comum. Falavam a mesma língua (apesar dos diferentes dialetos e sotaques) e tinham religião comum, que se manifestava na crença nos mesmos deuses. Em função disso, reconheciam-se como helenos (gregos) e chamavam de bárbaros os estrangeiros que não falavam sua língua e não tinham seus costumes, ou seja, os povos que não pertenciam ao mundo grego (Hélade).
            

Um exemplo de atividade cultural comum entre os gregos foram os Jogos Olímpicos. A partir de 776 a. C., de quatro em quatro anos, os gregos das mais diversas cidades reuniam-se em Olímpia “para a realização de um festival de competições”. Esse festival ficou conhecido como Jogos Olímpicos. Os jogos olímpicos eram realizados em honra a Zeus (o mais importante deus grego) e incluíam provas de diversas modalidades esportivas: corrida, saltos, arremessa de disco, lutas corporais. Além do esporte havia também competições musicais e poéticas. Os gregos atribuíam tamanha importância a essas competições que chegavam a interromper guerras entre cidades (trégua sagrada) para não prejudicar a realização dos jogos. Pessoas dos lugares mais distantes iam a Olímpia a fim de assistir aos jogos. Havia, entretanto, proibição à participação das mulheres, seja como esportista, seja como espectadoras.
Apesar da autonomia política das cidades-estados, os gregos estavam unificados em termos religiosos. Entre as divindades cultuadas estavam: Zeus (senhor dos deuses), Hades (deus do mundo inferior), Deméter (deusa da agricultura), Posídon (deus do mar), Afrodite (deusa do amor), Apolo (deus do sol e das artes), Dionísio (deus do vinho), Atena (deusa da sabedoria), Artêmis (deusa da caça e da lua), Hermes (deus das comunicações), Hera (protetora das mulheres) e muitas outras. Além dos grandes santuários como os de Delfos, Olímpia e Epidauro, havia os oráculos que também recebiam grandes multidões, pois lá se acreditava receber mensagens diretamente dos deuses. Um exemplo claro estava no Oráculo de Delfos, onde uma pitonisa (sacerdotisa do templo de Apolo) entrava em transe e pronunciava palavras sem nexo que eram interpretadas pelos sacerdotes, revelando o futuro dos peregrinos. Outro fato muito interessante era a existência dos homogloditas, um pequeno povo que vivia nas áreas litorâneas do rio mediterrâneo, eles utilizavam a argila para a construção de estatuetas como uma oferenda aos deuses gregos, geralmente ao Dionísio, deus da humildade e da realeza.
A cultura da Grécia Antiga é considerada a base da cultura da civilização ocidental. A cultura grega exerceu poderosa influência sobre os romanos, que se encarregaram de repassá-la a diversas partes da Europa. A civilização grega antiga teve influência na linguagem, na política, no sistema educacional, na filosofia, na ciência, na tecnologia, na arte e na arquitetura moderna, particularmente durante a renascença da Europa ocidental e de resto durante os diversos reviverem neoclássicos dos séculos XVIII e XIX, na Europa e nas Américas, embora a América Latina tenha as suas especificidades oriundas das civilizações quíchuas, mas que não trataremos agora. Conceitos como cidadania e democracia são gregos, ou pelo menos de pleno desenvolvimento nas mãos dos gregos. Qualquer história da Grécia Antiga requer cautela na consulta a fontes. Os historiadores e escritores políticos cujos trabalhos sobreviveram ao tempo eram, em sua maioria, atenienses ou pró-atenienses, e todos os conservadores. Por isso se conhece melhor a história de Atenas do que a história das outras cidades; além disso, esses homens concentraram seus trabalhos mais em aspectos políticos (e militares e diplomáticos, desdobramentos daqueles), ignorando o que veio a se conhecer modernamente por história econômica e social.
            Todo movimento, transformação ou desenvolvimento opera-se por meio das contradições ou mediante a negação de uma coisa - essa negação se refere à transformação das coisas. A dialética é a negação da negação. A negação da afirmação implica negação, mas a negação da negação implica afirmação. “Quando se nega algo, diz-se não. Ora, a negação, por sua vez, é negada. Por isso se diz que a mudança dialética é a negação da negação”. O processo da dupla negação engendra novas coisas ou propriedades: uma nova forma que suprime e contém, ao mesmo tempo, as primitivas propriedades. O ponto de partida é a tese, proposição positiva: essa proposição se nega ou se transforma em sua contrária - a proposição que nega a primeira é a antítese e constitui a segunda fase do processo; quando a segunda proposição, antítese, é negada, obtém-se a terceira proposição ou síntese, que é a negação da tese e antítese, mas por intermédio de uma proposição positiva superior - a obtida por meio da dupla negação. A união dialética não representa uma simples adição de propriedades de duas coisas opostas, simples mistura de contrários, por isso seria um obstáculo ao desenvolvimento. A característica do desenvolvimento dialético é que ele prossegue através de negações.
Para sermos breve, teremos uma única vida a qual está oculta. Mas depois entra na existência e separadamente, na multiplicidade das determinações, e que com graus distintos, são necessárias. E juntas de novo, constituem um sistema. Essa representação é uma imagem da história da filosofia. O primeiro momento era o “em si” da realização, e em si do gérmen etc. O segundo é a existência, aquilo que resulta. Assim, o terceiro é a identidade de ambos, mais precisamente agora o fruto da evolução, o resultado de todo este movimento. E a isto Hegel chama abstratamente “o ser por si”. É o “por si” do homem, do espírito mesmo. Somente o espírito chega a ser verdadeiro por si, idêntico consigo. O que o espírito produz seu objeto, é ele mesmo. Ele é um desembocar em seu outro. O desenvolvimento do espírito é um desprendimento, um desdobrar-se, e por isso, ao mesmo tempo, um desafogo.
Desta forma em seu processo de evolução não somente faz aparecer o interior originário, exterioriza o concreto contido já no “em si”, e este concreto chega a ser por si através dela, impulsiona-se a si mesmo a este “ser por si”. O concreto é em si diferente, mas logo só em si, pela aptidão, pela potência, pela possibilidade. O diferente está posto ainda em unidade, ainda não como diferente. É em si distinto e, contudo, simples. É em si mesmo contraditório. Posto que é através desta contradição impulsionado da aptidão, deste este interior à qualidade, à diversidade; logo cancela a unidade e com isto faz justiça às diferenças. Também a unidade das diferenças ainda não postas como diferentes é impulsionada para a dissolução de si mesma. O distinto (ou diferente) vem assim a ser atualmente, na existência. Só assim é possível definitivamente pensar a diversidade em toda e qualquer dimensão das sociedades.
Porém do mesmo modo que se faz justiça à unidade, pois o diferente que é posto como tal é anulado novamente. Tem que regressar à unidade; porque a unidade do diferente consiste em que o diferente seja um. E somente por este movimento é a unidade verdadeiramente concreta.Enfim, ao colocar a questão da ciência nesses termos, Heller opõe-se ao mito de sua neutralidade; para ela, a ciência é sempre interessada, havendo interesses que dificultam e interesses que facilitam sua tarefa de desvelar a realidade social. Uma relação consciente do pesquisador com a genericidade, uma escolha de valores positivos, é condição necessária (embora não suficiente) para o cumprimento, pelas ciências sociais, de sua tarefa de “desfetichização”, um dos principais critérios, a seu ver, para avaliar o significado de qualquer compromisso no âmbito destas ciências, após o advento da sociedade de classes amplificado no âmbito da mundialização das esferas das sociedades.
Ora, entendemos que à fala pertence aquilo sobre o que se fala. A fala dá indicações sobre algo e isso numa determinada perspectiva. A fala retira o que ela diz como essa fala daquilo sobre que fala como tal. Na fala, enquanto processo social de comunicação, isso é o que se torna acessível à co-presença dos outros, na maior parte das vezes, através da verbalização da língua.  O que no “apelo da consciência” (Heidegger) constitui o referido da fala, ou seja, o interpelado? Manifestamente a própria presença. Essa resposta é tão indiscutível quanto indeterminada. Mesmo que o apelo tivesse uma meta tão vaga, ele ainda seria para a presença um motivo de prestar atenção a si mesma. Pertence à presença, no entanto, de modo essencial, que, com a abertura de seu mundo, ela está aberta para si mesma, de tal modo que ela sempre já se compreende. O apelo alcança a presença nesse movimento de sempre já se ter compreendido na cotidianidade mediana das ocupações. O impessoalmente si mesmo do ser-com com os outros é também alcançado pelo apelo.
A interpretação existencial da consciência deve expor um testemunho de seu poder-ser mais próprio que está sendo na própria presença. O testemunho da consciência não é um anúncio indiferente, mas uma “apelação apeladora” do ser e estar em dívida. O que se testemunha é, pois “apreendido” no ouvir que compreende o apelo sem deturpações, no sentido por ele mesmo intencionado. Apenas a compreensão do interpelar, enquanto modo de ser da presença propicia o teor fenomenal do que é testemunhado no apelo da consciência. Caracterizamos a compreensão própria do apelo como querer-ter-consciência. Esse deixar o si-mesmo mais próprio agir em si por si mesmo, em seu ser e estar em dívida, representa do ponto de vista fenomenal, “o poder-ser próprio, testemunhado na presença”. A sua estrutura existencial deve ser agora liberada numa exposição. Somente assim penetraremos na constituição fundamental da propriedade da existência que se abre na própria presença. Enfim, enquanto compreender-se no poder-ser mais próprio, “o querer-ter-consciência é um modo de abertura da presença”. Além do compreender, esta se constitui de disposição e fala. O compreender existenciário significa: projetar-se para a possibilidade fática cada vez mais própria do poder-ser-no-mundo. Poder-ser, porém, só pode ser compreendido em existindo nessa possibilidade.
Bibliografia geral consultada:
LÉVY-BRUHL, Lucien, La Mentalitéprimitive. Paris: Alcan, 1922;BRAGA, Ubiracy de Souza, “Praga de urubu, burro não pega: a banda podre da universidade”. Disponível em: http://www.oreconcavo.com.br/2010/10/27; Idem, “Razão & Sensibilidade: o porão da universidade?”. In: https://espacoacademico.wordpress.com/2011/01/22/; Idem, “O significado da universidade brasileira. Ensaio de história política”. Disponível em: http://espacoacademico.wordpress.com/2011/08/13/; Idem,“Prolegômenos Sobre a História Social da Padaria Espiritual (Ceará)”. Disponível no sitehttp://httpestudosviquianosblogspotcom/2012/09/29/;FROMM, Erich, El miedo a lalibertad. 3ª edição. Buenos Aires: Paidós, 1957; JAEGER, Werner Wilhelm, Paidéia: losIdeales de la Cultura Griega. México: Fondo de Cultura Económica, 1962; Idem,Paidéia: a formação do homem grego. 3ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 1994; BOURDIEU, Pierre “et alii”, El Ofício de Sociólogo. Buenos Aires: SigloVeintiuno Editores, 1975; BOSI, Ecléa,A opinião e o estereótipo. Contexto, n. 2, p. 97-104, 1976; Idem, Memória e Sociedade. Lembrança de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994; HELLER, Agnes, O quotidiano e a história. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972; Idem, Sociologia dellavita quotidiana. Roma: Riuniti, 1975; Idem, Ohomem do Renascimento. Lisboa: Presença, 1982; Idem, Para mudar a vida. São Paulo: Brasiliense, 1982; HEGEL, G. W. F., Fenomenologia delloSpirito. Florença: La Nuova Itália, 1973, 2 volumes; REICH, Wilhelm, O combate sexual da juventude. 2ª ed. Lisboa: Antídoto, 1978;BRANDÃO, Carlos Rodrigues,Lutar com a palavra. Rio de Janeiro: Graal, 1982; WEBER, Max, Economia y Sociedad. Esbozo de sociologíacomprensiva. México: Fondo de Cultura Económica, 1992; “Dialética”. Enciclopédia Einaudi. Volume 20. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1988; BRANDÃO, Junito de S, Teatro grego: tragédia e comédia. Petrópolis (RJ): Editora Vozes, 1984; Idem, Teatro grego: origem eevolução. São Paulo: Ars Poética, 1992;HESÍODO,Teogonia: A origem dos deuses. São Paulo: Iluminuras, 1991; MORIN, Edgar, La connaissance de laconnaissance. Tomo III. Paris: ÉditionsduSeuil, 1986; Idem, La complexitéhumaine. Paris: Flammarion, 1994; entre outros. 
           







quinta-feira, 8 de agosto de 2013

“O Cocó é nosso”! Bradam os ativistas cearenses.


Ubiracy de Souza Braga*
___________________
Sociólogo (UFF), cientista político (UFRJ), doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará.



Se você expulsa a natureza pela porta, ela volta pela janela”.  V. I. Lênin, Opere. Roma: EditoriRiuniti, 1967, vol. 25, p. 144.

                        Foto: A exuberante vista do Rio Cocó, Fortaleza, Ceará.
Escólio: A espécie humana depende da biodiversidade para a sua sobrevivência. Se não há uma definição consensual de biodiversidade, entendemos que ela representa a diversidade da natureza viva. Desde 1986, o conceito tem adquirido largo uso entre biólogos, ambientalistas, líderes políticos e cidadãos informados no mundo todo. Este uso coincidiu com o aumento da preocupação com a extinção, observado nas últimas décadas do século XX.Ela pode ser entendida como uma associação de vários componentes hierárquicos: ecossistema, comunidade, espécies, populações e genes em uma área definida. A biodiversidade varia com as diferentes regiões ecológicas, sendo maior nas regiões tropicais do que nos climas temperados. Refere-se, portanto, à variedade de vida no planeta Terra, incluindo a variedade genética dentro das populações e espécies, a variedade de espécies da flora, da fauna, de fungos macroscópicos e de microrganismos, a variedade de funções ecológicas desempenhadas pelos organismos nos ecossistemas; assim como a variedade de comunidades, habitatse ecossistemas formados pelos organismos. O Brasil tem 1/5 da biodiversidade mundial, com 50 000 espécies de plantas, 5000 de vertebrados, 10-15 milhões de insetos, milhões de micro-organismos.
            Etimologicamente ecossistema vem do grego:oikos (οἶκος), “casa + sistema” (σύστημα): “sistema onde se vive”, designando o conjunto formado por todas as comunidades que vivem e interagem em determinada região e pelos fatores abióticos que atuam sobre essas comunidades. Em um determinado local, seja uma vegetação de cerrado, mata ciliar, caatinga,mata atlântica ou floresta amazônica, por exemplo, a todas as relações dos organismos entre si, e com seu meio ambiente chamamos ecossistema. Ou seja, “podemos definir ecossistema como sendo um conjunto de comunidades interagindo entre si e agindo sobre e/ou sofrendo a ação dos fatores abióticos”.A base de um ecossistema são os produtores que são os organismos capazes de fazer fotossíntese ou quimiossíntese. Produzem e acumulam energia através de processos bioquímicos utilizando como matéria prima a água, gás carbônico e luz.
            Para que se possa delimitar um “sistema ecológico” ou ecossistema é necessário que haja quatro componentes principais: fatores abióticos, que são os componentes básicos do ecossistema; os seres autótrofos, geralmente as plantas verdes, capazes de produzir seu próprio alimento através da síntese de substâncias inorgânicas simples; os consumidores, heterotróficos - que não são capazes de produzir seu próprio alimento, ou seja, os animais que se alimentam das plantas ou de outros animais; e os decompositores, também heterotróficos, mas que se alimentam de matéria morta. A totalidade destes organismos interagindo em um determinado local de forma a criar um ciclo de energia, formando uma “cadeia” do meio abiótico para os seres autótrofos, destes para os heterótrofos e destes para o meio abiótico novamente, caracterizando os níveis tróficos da cadeia alimentar constitui um sistema ecológico ou ecossistema, independentemente da dimensão do local onde ocorrem essas relações.
            Economicamente a globalização é um dos processos de aprofundamento da integração econômica, social, cultural, política, que teria sido impulsionado pelo barateamento dos meios de transporte e comunicação dos países do mundo no final do século XX e início do século XXI. É um agenciamento global gerado pela necessidade da dinâmica do capitalismo de formar a chamada “aldeia global” (McLuhan) que permita maiores mercados para os países de hegemonia políticas centrais (ditos desenvolvidos) cujos mercados internos já estão saturados. O processo de globalização diz respeito à forma como os países interagem e aproximam pessoas, ou seja, interliga o mundo, expandir seu negócio até então restrito ao seu mercado de atuação para mercados distantes e emergentes, sem necessariamente um investimento alto de capital financeiro, pois a comunicação no mundo globalizado permite tal expansão, porém, obtêm-se como consequência o aumento acirrado da concorrência.
Politicamente falando a globalização desafia os princípios do consenso e da legitimidade, do poder político, da base político-territorial do processo político, da responsabilidade das decisões políticas, a forma e o alcance da participação política e até o próprio papel do Estado que, para Michel Foucault “produz efeitos de poder político”, como garantia dos direitos e deveres dos cidadãos, como também desafia os princípios de Vestefália. A globalização é, como muitos autores hic et nunc admitem, responsável pelo declínio na qualidade e significação da cidadania devido à mudança do papel do Estado. A globalização econômica tem demandado do Estado Nacional mudanças que fomentam políticas que eliminem as fronteiras nacionais em prol do desenvolvimento do capital e, consequentemente, dão elementos para outra forma de cidadania, mais ampla, sem fronteiras, planetária. Sintetiza a filosofia existencialista, em que o homem é considerado na fragilidade da sua condição finita, a qual se manifesta exatamente na individualidade do homem presente em um tempo “nunc” e um espaço “hic”, finitos, o que constitui a causa da infelicidade humana.

Após cerca de 4 horas de conversa, as reivindicações giravam em torno da legalização do parque do Cocó e pautas de mobilidade social. Foto: Tuno Vieira.Cf. Diário do Nordeste, 6 de agosto de 2013.
Passava das 22h de ontem quando o governador Cid Gomes de forma reativa chegou ao Parque do Cocó, segundo ele, “para discutir a legalização do espaço”. No local, o gestor foi recebido de “forma pacífica”, a categoria ideológica do momento - embora depois os ânimos tenham ficado acirrados com a criação de tumulto ao fim do encontro - por mais de 50 defensores do Cocó, acampados há 25 dias, como forma protesto “contra a derrubada de árvores para a construção de viadutos”.Após cerca de 4 horas de conversa afiada, as reivindicações “giravam em torno da legalização do parque e pautas de mobilidade social”. Após propor a regulamentação do Parque, incorporando mais 2 hectares de mangue e mais 10 vezes o espaço retirado de área verde, na faixa entre a faixa do anel viário e o Rio Cocó, o governador ouviu dos manifestantes que uma reunião entre eles e o prefeito Roberto Cláudio fosse agendada. Lembramos que ocupação refere-se ao ato de apoderar-se de algo ou de invadir uma propriedade; portanto, vincula-se pragmaticamente à questão política da posse. A natureza da questão é de outra ordem.
O governador permaneceu no local até às 2h, e entre as pautas mais recorrentes, os manifestantes cobravam do governador: a) tanto a assinatura imediata do decreto que legaliza o Parque, b) como a garantia de haver represálias por parte da Polícia ao grupo que está acampando. Em relação à primeira, Cid tentou justificar a não assinatura do decreto justificado o alto valor das desapropriações. Porém, sua resposta foi recebida com vaias pelos que estavam ali. Sobre a garantia de não haver represálias, o governador foi direto: - “Não posso garantir que não haverá repressão”. Se o governador não pode garantir que não haja repressão militarizada, como chefe do executivo, para salvaguardar a biodiversidade do ecossistema, quem poderá então garanti-la?Depreende-se daí que o governo de Estado não compreende que a espécie humana depende da biodiversidade para a sua sobrevivência. A Lei da natureza é clara, para lembramos de Lenin: “Se si guida in natura attraversola porta, si ritornaallafinestra” (1967: 144).

O Parque Ecológico do Rio Cocó (foto) é uma área de conservação, um parque estadual da vida natural localizado na cidade de Fortaleza, Ceará. Tem esse nome devido ao rio que forma o bioma de mangue, o rio Cocó. Na Serra da Aratanha, município de Pacatuba nasce o riacho Pacatuba, que, mais adiante, passa a ser denominado de riacho Gavião. Somente após o 4º Anel Rodoviário, no bairro Ancuri, o riacho recebe a denominação de Rio Cocó, onde dá início ao Parque. O primeiro ponto do rio Cocó a ter sido protegido e aparelhado foi criado em 29 de março de 1977 declarado de utilidade pública para desapropriação. Em 11 de novembro de 1983 o decreto municipal número 5.754 deu a denominação de Parque Adhail Barreto. Em 5 de setembro de 1989 o decreto estadual número 20.253 cria o Parque Ecológico do Cocó e expandido em 8 de junho de 1993 atualmente abrange uma área de 1.155,2 hectares.

Por ter toda a sua área contida no município de Fortaleza em região de grande desenvolvimento urbano, seguido de grande especulação imobiliária, “os limites do parque estão constantemente sofrendo problemas de impacto ambiental e degradação do bioma”.Durante o ano de 2007 a Prefeitura entrou com “um pedido liminar na CâmaraMunicipal de Fortaleza de realização de um referendo popular perguntando ao povo sobre a autorização da construção do prédio em questão”. Depois desse fato político de preservação de área de proteção ambiental, o Ministério Público Federal entrou com uma Ação Civil Pública pedindo a demarcação da área do parque e a finalização das desapropriações, que desde a publicação da lei criando o parque não teve conclusão. Essa medida jurídica ainda suspende o licenciamento de novas construções numa área até 500 m ao redor do parque. A liminar foi expedida em abril de 2008. Atualmente existem várias ações na justiça relativas às desapropriações e “um dos casos mais curiosos tramita em Brasília uma ação de indenização contra o Estado do Ceará de uma desapropriação da área que supera os R$ 1,7 bilhão” (cf. Clastres, 1974).

Foto: Especulação imobiliária: Edifícios construídos em área controversa dentro do parque do Cocó.
            No entorno do parque várias áreas que seriam de proteção foram invadidas por pessoas de “baixa renda” que acabam gerando esgoto para o interior do rio. Esta situação também gera problemas de criminalidade onde em locais próximos dessas favelas o parque torna-se área de fuga após ações de criminosos. O problema não fica restrito a pobreza na medida em que algumas vizinhanças do parque estão sendo ocupadas por prédios de alto padrão (foto) gerando problemas de ordem ambiental como aumento do fluxo de trânsito nas vias adjacentes ao parque e de circulação do ar dentre outros. Alguns movimentos ambientalistas fazem manifestações contra os possíveis agressores tais como: SOS Cocó e o Instituto Terramar. A Polícia Militar do Estado do Ceará tem dentro da área do parque uma Companhia de Polícia Militar Ambiental - CPMA que fica na área do bairro Jardim das Oliveiras e um posto policial no bairro que leva o nome do rio e onde se encontra a principal estrutura do parque (foto). A PM utiliza um contingente de 30 policiais que garantem a segurança do parque.
O Parque Vivo surgiu teve suas atividades iniciadas em 1993 como consequência de um trabalho de educação ambiental marinha desenvolvido pela equipe da Universidade Federal do Ceará. A prefeitura de Fortaleza convidou o grupo para desenvolver trabalhos de educação ambiental no Parque Adahil Barreto. Ao longo dos anos, as atividades desenvolvidas foram expandidas por uma demanda cada vez maior da sociedade. Assim o Parque Vivo desenvolveu vários projetos, tornando-se um programa que busca promover a educação ambiental através de vários segmentos: cursos, elaboração de materiais pedagógicos, promoção de oficinas em áreas de risco, organização de biblioteca, Museu do Mangue, campanhas educativas e comemoração de datas representativas.O Parque Vivo trabalha em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMAM), Secretaria Executiva Regional II, EMLURB e FUNDEMA. É articulada com diversas entidades ambientalistas do Estado do Ceará, através da concepção e execução de projetos e diversas outras atividades de educação ambiental, principalmente em Fortaleza.

            Foto: Edifício sede do projeto Parque Vivo do Cocó.
O Parque possui três áreas estruturadas para atividades de lazer, esporte e cultura. O Parque Adhail Barreto foi a primeira área a propiciar o uso da área do rio Cocó. É administrada pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, com: a)Núcleo de Conscientização ambiental, b) playground, c) promoção de eventos culturais e artísticos, assim como d) educação ambiental, e) pista de Cooper, f) trenzinho e trilha ecológica.O Parque Ecológico do Cocó é a área urbanizada pelo Governo do estado sendo a segunda intervenção por volta do ano de 1993. Conta com anfiteatro, quadras esportivas, pista para caminhada, parques infantis, acontecendo shows e eventos, competições esportivas e educação ambiental e trilhas. A Área urbanizada do Tancredo Neves foi a ultima intervenção na área do parque. Após a remoção de famílias nas áreas do parque, o governo do Estado implantou noslocais duas quadras esportivas, campos de futebol, pistas para caminhada, ciclovias e áreas infantis.
O Parque Vivo surgiu teve suas atividades iniciadas em 1993 como consequência de um trabalho de educação ambiental marinha desenvolvido pela equipe da Universidade Federal do Ceará. A prefeitura de Fortaleza convidou o grupo para desenvolver trabalhos de educação ambiental no Parque Adahil Barreto. Ao longo dos anos, as atividades desenvolvidas foram expandidas por uma demanda cada vez maior da sociedade. Assim o Parque Vivo desenvolveu vários projetos, tornando-se um programa que busca promover a educação ambiental através de vários segmentos: cursos, elaboração de materiais pedagógicos, promoção de oficinas em áreas de risco, organização de biblioteca, Museu do Mangue, campanhas educativas e comemoração de datas representativas. O Parque Vivo trabalha em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMAM), Secretaria Executiva Regional II, EMLURB e FUNDEMA. É articulada com diversas entidades ambientalistas do Estado do Ceará, através da concepção e execução de projetos e diversas outras atividades de educação ambiental, principalmente em Fortaleza.
            Foto: Reserva ambiental do Cocó, Fortaleza, Ceará.
            A questão ambiental foi chamando a atenção, ao longo do tempo e da história das sociedades, de cidadãos de todo o mundo.  As discussões sobre a destruição do meio ambiente, a possibilidade do fim de recursos não renováveis do planeta e a estimativa de catástrofes mundiais em décadas não longínquas levaram as Nações Unidas a promover uma Conferência para o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, em 1972. Já aí, assinalava-se a necessidade da humanidade discutir seu futuro. Temos assim o parti pris de que a preocupação com o meio ambiente entrava na agenda internacional. Decorre aí um problema político decorrente da má utilização de políticas públicas voltadas para a defesa do ambiente decorrente da determinação sem freios do crescimento econômico tão justamente criticado na pena do filósofo comunista Karl Marx e outros.
Outra conferência sobre o meio ambiente se sucedeu em 1987, da qual resultou o Relatório de Brundtland, “Nosso Futuro Comum”. No entanto, após 1992, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio ambiente e Desenvolvimento - a Eco 92 -, o debate sobre os desafios para o planeta ganham maior ressonância e se proliferam. Além das questões sobre meio ambiente foram discutidos, nesse evento sediado na bela cidade Rio de Janeiro, outros temas tais como arsenal nuclear, desarmamento, guerra, poluição, fome, drogas, discriminação, racismo, entre outros. Dessa forma, a agenda planetária não se restringe a enfocar apenas o meio ambiente, mas os efeitos sociais específicos que envolvem as formas de trabalho na produção global das mercadorias. Paralelo à “Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento”, aconteceu o Fórum Global 92 cujo documento resultante, a Carta da Terra, contempla, entre outros, “o pensar global e local, a comunidade mundial, e a criação de uma cidadania planetária” (cf. Boff, 2000; 2007).
O reconhecimento de ações prejudiciais do homem ao meio ambiente foi um dos predicados para o amadurecimento do conceito de desenvolvimento sustentável adotado na conferência Eco 92, bem como os princípios de “responsabilidade econômico-financeira do contaminador” e o de “precaução”. A deterioração ecológica do planeta e outros problemas globais, “impõem a necessidade de maiores níveis de cooperação internacional, desenvolvimento e investimento mundial”. A Terra é a própria quintessência da condição humana e, ao que sabemos, sua natureza pode ser singular no universo, a única capaz de oferecer aos seres humanos um habitat no qual eles podem mover-se e respirar sem esforço nem artifício. O Fórum Social Mundial, realizado inicialmente no Brasil, em 2001, também vêm discutindo “outro mundo possível”, uma “globalização solidária”, se já não é um truísmo, como alternativa aos problemas da exclusão, desigualdade social e meio ambiente.
O evento articula entidades e movimentos da “sociedade civil global” (cf. Ianni, 1997) em todo o mundo, que “atuam do nível local ao global” em sua complexidade humana (cf. Morin, 1994). O fórum ainda estimula uma participação nas instâncias internacionais e o exercício de uma cidadania planetária. Estes debates se desdobraram em diferentes áreas do conhecimento, inclusive, na educação. Em 1994, é adotada no “I Congresso Mundial da Transdisciplinaridade”, em Portugal, a Carta da Transdisciplinaridade que aponta a necessidade de uma compreensão planetária para enfrentar os desafios contemporâneos. E é na Carta da transdisciplinaridade, produzida pela UNESCO no I Congresso Mundial de Transdisciplinaridade em 1994, realizado em Arrábida, Portugal, com fundamental colaboração do CIRET, em que temos uma definição do conceito transdisciplinar em seu Artigo 3: “(...) a transdisciplinaridade não procura o domínio sobre várias outras disciplinas, mas a abertura de todas elas àquilo que as atravessa e as ultrapassa (...)”, e principalmente, em seu Artigo 7: A transdisciplinaridade não constitui nem uma nova religião, nem uma nova filosofia, nem uma nova metafísica, nem uma ciência das ciências”.
No âmbito acadêmico, já no século XX, com o intuito de unir o mundo “não universitário” ao universitário, cuja separação se dá primordialmente pela “hiperespecialização profissional”, com grande número de disciplinas que não acompanham todo o desenvolvimento, principalmente na área tecnológica, temos um aprofundamento na utilização deste conceito, visando formar profissionais cada vez mais completos, compatíveis com as exigências do mercado de trabalho que este futuro profissional encontrará. Assim tão complexo quanto os problemas que tenta solucionar, tem-se a transdisciplinaridade, que por ser tão sutil, ser a linha tênue que une e serve de limite entre o comprometimento e o individualismo de cada disciplina, que não possui uma definição exata, e ao mesmo tempo é um dos mais necessários conceitos quando tratamos de formação e educação.
No discurso da presidente Dilma Rousseff, primus inter pares e primeira mulher a discursar na abertura da Assembleia Geral da ONU disse a brasileira: - “Repudiamos com veemência as repressões brutais que vitimam populações civis. Estamos convencidos de que, para a comunidade internacional, o recurso à força deve ser sempre a última alternativa. A busca da paz e da segurança no mundo não pode limitar-se a intervenções em situações extremas”. Nada mais correto. É de todo sabido que a economia americana sobrevive, principalmente, em razão de sua indústria bélica. O que nem todos sabem é que, num círculo vicioso perverso, aquele país cata guerras com lentes de aumento, exatamente para fomentar o desenvolvimento e a sustentação das fábricas de armas. Foi assim no Iraque, quando o infeliz George W. Bush, aquele idiota que quase morreu engasgado com biscoitos cream cracker, mas mentiu ao mundo, ao justificar a invasão militar com o pretexto de que ali haviam sido encontradas armas de extermínio em massa.
Privilegiada, por ter sido a primeira mulher do mundo a ocupar a tribuna naquelas condições, Dilma Rousseff apelou para a sensibilidade, quase poética e, logo no início, com ênfase, afirmou: “Divido esta emoção com mais da metade dos seres humanos deste planeta, que, como eu, nasceram mulher, e que, com tenacidade, estão ocupando o lugar que merecem no mundo. Tenho certeza, senhoras e senhores, de que este será o século das mulheres. Na língua portuguesa, palavras como vida, alma e esperança pertencem ao gênero feminino. E são também femininas duas outras palavras muito especiais para mim: coragem e sinceridade. Pois é com coragem e sinceridade que quero lhes falar no dia de hoje”. Belo, indiscutivelmente belo, e homenagem mais que merecida às mulheres do planeta inteiro, que ainda não viram realizados seus anseios de igualdade econômica, política, de gênero e social.
Bibliografia geral consultada:
Artigo: “Cid vai à ocupação no Parque do Cocó”. In: Diário do Nordeste, Fortaleza, 6 de agosto de 2013; BRAGA, Ubiracy de Souza, “Notas sobre Michel Foucault e os Anarco-Ecologistas”. Disponível no site: http://www.oreconcavo.com.br/2012/05/11/; Idem, “Verdes, mas Maduros: A Dialética Trágica do Rio+20”. Disponível no site: http://httpestudosviquianosblogspotcom/2012/06/19/; Idem, “Sabiaguaba: Uma ponte que (ainda) dá o que falar?”. In: http://httpestudosviquianosblogspotcom/2012/08/22/; Idem, “Que país é este? Notas sobre carros e a questão ambiental”. Disponível no site: http://cienciasocialceara.blogspot.com.br/2011/09/; Idem, “O Haiti Revisitado”. Disponível no site: http://www.oreconcavo.com.br/2010/05/28/; CERTEAU, Michel de, La prise de parole. Paris: Seuil, 1968; CLASTRES, Pierre, La Sociétecontrel`État. Paris:Édition de Minuit, 1974; MORIN, Edgar, La complexitéhumaine. Paris: Flammarion, 1994; IANNI, Octávio, “A Política Mudou de Lugar”. In: Desafios da Globalização/Orgs: Ladislau Dowbor e outros. Petrópolis (RJ): Vozes, 1997; BOFF, Leonardo, Depois dos 500 anos: que Brasil queremos. Petrópolis (RJ): Vozes, 2000; Idem, A Nova Era: A Consciência Planetária. Rio de Janeiro: Record, 2007; FOUCAULT, Michel, “É inútil revoltar-se?”. In: MOTTA, Manoel Barros da (Org.). Michel Foucault. Ética, sexualidade, política. Coleção: Ditos e Escritos V. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária, 2004, pp. 77-81; GRAEBER, David, FragmentsofanAnarchistAnthropology. Chicago: PricklyParadigm Press, 2004;SILVA, Marcia Soares, “Mídia e meio ambiente: uma análise da cobertura ambiental em três dos maiores jornais do Brasil”. Revista Digital Comunicação em Agrobusines& Meio Ambiente. Volume 2, n° 2, julho de 2005. In: http://www.agricoma.com.br/; entre outros.