domingo, 9 de março de 2014

MOVIMENTOS SOCIAIS E VIOLÊNCIA DO ESTADO

Autor: Antonio Paulo Benatte (Professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa/UEPG)



É difícil entender o que se passa no Brasil desde junho de 2013. Os acontecimentos políticos, grandes e miúdos, multiplicaram-se desde então; protestos e movimentos sociais de diversos tipos pipocam em todos os lugares, das classes médias urbanas aos segmentos mais pobres, excluídos ou minoritários da sociedade. A tensão social no ar é temperada com gás lacrimogêneo, spray de pimenta e coquetéis molotov.
A resposta do Estado tem sido uma repressão brutal e crescente, cerceando o direito democrático de livre associação, expressão e manifestação. Lembremos. No dia da comemoração dos 25 anos da “constituição cidadã” de 1988, cidadãos e professores em greve apanharam publicamente na cidade do Rio de Janeiro; logo a seguir, o leilão do petróleo do campo de Libra mobilizou contingentes do exército, da marinha, da Força Nacional e da Polícia Militar, evidenciando que a política de repressão aos protestos de rua partia não apenas de governos municipais e estaduais, como também do governo federal. Desde então, a maré de movimentos e a sua repressão tem sido constante e permanente, com fluxos e refluxos.
Quando começaram os cassetetes, as balas de borracha, o spray de pimenta e o gás lacrimogênio, foi como se ocorresse um curto circuito no tempo. Como se uma máquina do tempo nos levasse aos anos 1980, ou mesmo aos anos da ditadura midiática-civil-militar de 64, à ditadura varguista do Estado Novo, ou ainda aos começos da república, com seu positivismo da “Ordem e progresso” a qualquer custo, da governabilidade truculenta, tempo da Revolta da Vacina, do massacre de Canudos, Contestado, etc. A história se repete, a diferença é apenas de grau.
Greves e ocupações são reprimidas com violência em muitas partes. Ativistas e militantes são vigiados e perseguidos, enquadrados por atos de vandalismo e formação de quadrilha. Os casos de prisão, tortura e morte desenham a face mais hedionda de uma série de acontecimentos que desmascaram a falácia institucional do “Estado democrático de direito”. A violência, evidentemente, é mais crua sobre os anônimos das periferias. Quantos Amarildos são presos, torturados e assassinados nas periferias das cidades? No campo, líderes e sem terras são assassinados por lutarem pela reforma agrária, prevista na constituição. Comunidades indígenas veem-se ameaçadas em seus direitos de demarcação de terras, também um direito constitucional.
Enquanto isso, um novo tipo de espionagem estatal, sob os auspícios da ABIN (Agência Brasileira de Informação), instaura veladamente uma vigilância sob as redes sociais. Sob a alegação de espionagem internacional, o governo brasileiro deixará de utilizar softwares cujos fabricantes não permitam monitorar os acessos à rede mundial de computadores. E logo teremos um marco regulatório da internet, tão importante na maré das manifestações de junho.
O caso das leis da Copa faz lembrar o ano de 1968, com a promulgação do AI-5 e a dura repressão que se lhe seguiu. Mais longe ainda no tempo, os projetos de leis repressivas que tramitam no Senado evocam a famigerada Lei de Segurança Nacional. Nos meados dos anos 1930, durante o governo Vargas, a política de esquerda se fortaleceu; na contramão, o Congresso se tornou cada vez mais conservador, debatendo o caso dos “subversivos” e aprovando a Lei de Segurança Nacional que dava ao governo maior poder de ação sobre as ações consideradas “subversivas”, principalmente a ação dos comunistas. Com o medo da “ameaça vermelha”, o poderio do Executivo foi aumentando gradativamente; em 1936, o estado de sítio declarado pelo poder Executivo foi estendido; no mesmo ano, em novembro, foi aprovado o Tribunal de Segurança Nacional, dando a Vargas um novo instrumento de perseguição e repressão a qualquer movimento que fosse contrário às ideias e práticas de seu governo. Ora, essa mesma lei, durante os “anos de chumbo” que se seguiu ao golpe de Estado de 1964, foi empregada para caçar, torturar e assassinar milhares de militantes.
Na história do Brasil, o militarismo, o autoritarismo e o abuso de poder nunca deixaram de estar na ordem do dia. A Polícia Militar aprende na mesma cartilha que formava as forças armadas da ditadura. Quando enfrenta uma manifestação, eles entendem que o povo é inimigo. Daí a demanda pela desmilitarização da polícia e da política; enquanto isso, a polícia se torna cada vez mais uma polícia política, assim como na ditadura varguista e na ditadura midiática-civil-militar a partir de 64.
Como nas duas últimas ditaduras, mais uma vez o Estado tem a conivência e o apoio das grandes mídias, eficazes no processo de criminalização dos movimentos, protestos e manifestações. Como dizem Michael Hardt e Antonio Negri, as grandes mídias buscam nos conduzir “pelos regimes de produção linguística e comunicativa: destruí-los com palavras é tão urgente quanto fazê-lo com ações.” Daí que vejo com otimismo o crescimento de mídias alternativas e a demanda pela democratização das grandes corporações midiáticas, a começar pela Rede Globo – que, como se sabe e se grita nas ruas, cresceu apoiando o governo dos militares. Como diria Maquiavel, “Governar é fazer crer”. O Estado, mancomunado com as grandes mídias, quer fazer crer uma série de coisas, inclusive que vivemos em uma democracia quando, de fato, vivemos em uma ditadura que cerceia e reprime não apenas os movimentos sociais organizados quanto os indivíduos, notadamente os mais pobres.
Em suma, entre as grandes questões de nosso tempo está o recrudescimento da violência do Estado contra a sociedade; ou melhor, contra determinados segmentos dela: os segmentos politicamente dominados e economicamente explorados há séculos; os movimentos que lutam pela conquista e manutenção de direitos básicos, sociais, políticos e civis.
A constituição de 1988 dispõe, em seu artigo 5º, sobre os direitos e garantias fundamentais do indivíduo, resguardando de forma taxativa os princípios cernes dos direitos civis e políticos. Os direitos de primeira geração consistem nos direitos políticos e civis. No âmbito político: direito a voto, participação política, direito a associação. No âmbito civil: integridade física, direito de ir e vir.
Desse ponto de vista, a ditadura no Brasil não acabou. Na história política recente não há verdadeira solução de continuidade entre a última ditadura e a mais recente democracia. Para além dos discursos, as práticas evidenciam a inexistência de rupturas efetivas. O militarismo, o autoritarismo, o abuso de poder é uma estrutura de longa duração, inerente a um estado histórico de coisas. Precisamos repensar e reescrever totalmente a história do último meio século, ao mesmo tempo em que lutamos contra todo tipo de autoritarismo no Estado como na sociedade. Penso que essa é uma herança maior da maré de movimentos que arrebenta o país desde julho de 2013.
Nas ruas somos como um enxame dispersado com violência e fumaça. Mas os enxames não são dóceis; possuem os ferrões do calor de vários corpos, inúmeras potências e vontade de ação. O Estado, as instituições e as corporações já se deram conta disso; daí a necessidade dos gritos de não violência e a insaciável busca por uma docilidade dos manifestantes. O silêncio e a inação nos fazem dóceis, domesticados; perpetuam a conivência e o acomodamento. Constituímos uma multidão; o participante político do século XXI vive em meio ao solapamento das representações. Dessa forma, nosso papel deve ser de atividade constituinte e não representativa; “a criação da história é, nesse sentido, a construção da vida da multidão”, conforme Hardt e Negri.

À violência e ao policiamento do cotidiano, sintetizados na prática do controle, há que se responder com um mesmo potencial, de uma ruptura produtora de descontinuidades e da tentativa de sinalizar o inesperado, o atual, o que ainda não existe e que só pode ser parido pela história ao mesmo tempo individual e coletiva. Essas potências são múltiplas e construídas na nervura do atual, que passam do virtual para o possível dos desejos, dos afetos, das forças e das novas formas de articular a vida de todos os dias.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

12 Anos de Escravidão: ajustando o foco das lentes.

                              
                                                                                    Ubiracy de Souza Braga*        
                                  

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* Sociólogo (UFF), cientista político (UFRJ) e doutor em ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará.





                                  “Eu sou um homem livre. E você não tem o direito de me deter”.        


   
            O filme “12 Anos de Escravidão” (“12 Years a Slave”) do diretor inglês Steve  McQueen tem como escopo a “saga de Northup”, um drama universal, na sua relação social de poder e dominação e atemporal, nos seus aspectos dinâmicos na sociedade contemporânea: a) como a luta pelos direitos civis dos negros nos EUA e, b) a eleição à presidência do negro Barack Obama, quanto em: c) àqueles aspectos que permanecem diacrônicos como o racismo. Com o vigor narrativo e o apuro visual que exibiu em seus dois longas-metragens anteriores, “Fome” (2008) e “Shame” (2011), McQueen, artista plástico por formação, fez “12 Anos de Escravidão” ser reconhecido por historiadores sociais e ativistas como aquele que mais fielmente reproduz o cenário de degradação moral, desumanização e violência física impostas pelo sistema escravagista norte-americano. Solomon Northup foi protagonista de uma saga absurdamente trágica em seu minucioso relato na autobiografia (1853) visto na obra de ficção. Temos um advogado opositor da escravatura (Brad Pitt) que luta pela liberdade desse homem.       
            A história social da escravidão (ou escravatura) nos Estados Unidos inicia-se no século XVII, quando práticas escravistas similares aos utilizados pelos espanhóis e portugueses em colônias na América Latina, e termina em 1863, com a Proclamação de Emancipação de Abraham Lincoln, realizada durante a Guerra Civil Americana. Na origem da guerra tem-se, grosso modo, a escravidão e dois modelos econômicos opostos. O norte em expansão econômica graças à industrialização, à proteção ao mercado interno e à mão-de-obra livre e assalariada, e o sul numa economia baseada na plantação e no escravismo. As diferenças entre os estados do norte e do sul, ao contrário da dicotomização feita por alguns estudiosos, não são tão acentuadas, como é analisado por Lewis Cecil Gray no ensaio: “History of Agriculture in the Southern United states to 1860. Contributions to American Economic History” (1933).   
            O caráter capitalista da “plantation” escravista do sul, análogo aos estados do norte, era em certa medida uma contradição, mas em última instância, de oposição assimétrica no sentido formal marxista interno ao sistema econômico. Contudo, em sua complementaridade uma economia escravista tende a inibir o desenvolvimento econômico de uma sociedade capitalista, tal como apontado, neste caso pelo sociólogo Max Weber em seu livro: “The Theory of Social and Economic Organization”. Além disso, o retorno dos lucros de volta à produção, no caso de Marx, presente no norte industrializado, não ocorria da mesma forma nos estados do sul, que tinha uma acentuada tendência a um consumo intenso, daí o binômio: produção-consumo. Assim, norte e sul diferem-se na medida em que o primeiro possui um progresso econômico qualitativo com o retorno dos lucros à produção, e o sul, por sua vez, ao dirigir seus lucros em escravos e terras, possui um progresso econômico quantitativo, levando em consideração a só aparente baixa produtividade da mão-de-obra escrava.  
Esse fato histórico e ideológico (cf. Bailyn, 2003; Braga, 2012) se deve à mentalidade escravista do proprietário sulista, que investia na compra de escravos como mercadoria, pois “dava prestígio e segurança econômica e social numa sociedade dominada pelos plantadores”. Os consequentes saltos qualitativos na produção nortista levaram os proprietários sulistas a uma aguda disputa com os proprietários do norte. Se for aceita a condição capitalista para os estados do sul (Marx), assim como para os estados do norte (Weber), tem-se então uma sociedade capitalista que impediu o desenvolvimento do próprio capitalismo, fato que historicamente tende a revoltas, guerras e revoluções, ainda mais considerando que o sul apresentava economicamente problemas de produção de produtos para o consumo interno.
O “pesadelo de Northup”, interpretado por Chiwetel Ejiofor, teve início em 1841, antes da guerra civil que oficializaria o fim da escravidão nos EUA. Ele vivia em Saratoga, no estado de Nova York, com a mulher e os três filhos (foto), e trabalhava como carpinteiro e músico, animando festas na região. Dois homens convidaram Northup para se apresentar em um circo em Washington. Constituíam-se em chefe de mercenários, bandidos, guerrilheiros como ocorrera historicamente na Itália medieval e renascentista. Neste caso, analogamente eram criminosos a serviço de fazendeiros do sul escravocrata que patrocinavam o sequestro de negros livres ao norte e, com aval de autoridades, falsificavam documentos de posse. Northup foi vendido a diferentes senhores até cruzar com o mais cruel deles, Edwin Epps (Michael Fassbender). Na fazenda de Epps, onde passou a maior parte de seu tempo de cativeiro, ele testemunhou horrores como os vividos pela jovem escrava Patsey (Lupita Nyong'o), alvo do furor sexual de seu dono e dos mais sádicos castigos. Filmes recentes como “Django Livre”, de Quentin Tarantino, e “Lincoln”, de Steven Spielberg, reacenderam o tema no cinema, mas nenhum deles atinge a força histórica, humanista e política representada em “12 Anos de Escravidão”.
Apesar de o tráfico de escravos serem proibido em 1815, o contrabando continuou até o ano de 1860, enquanto que no norte crescia a campanha pela abolição. O livro “A Cabana do Pai Tomás” (em inglês: “Uncle Tom`s Cabin”), de Harriet Elizabeth Stowe, retrata uma ardente abolicionista que o publicou em 1852. No final de 1860, o estado da Carolina do Sul já havia se declarado fora da União, fato este que culminou na formação dos Estados Confederados da América. Poucos meses após a eleição de Abraham Lincoln (1809-1865), um republicano contrário à escravidão, a confederação, de cunho separatista, já aglomerava 11 estados. Assim, a guerra civil se deflagra e deixa um saldo de centenas de milhares de mortos e uma legião de negros marginalizados. Nenhum programa governamental é previsto para sua integração profissional e econômica. O sul permanece militarmente, mas isso acontece até 1877, favorecendo o surgimento de outras novas religiões como uma que se chama: “Os cavaleiros da Camélia Branca”, essa perseguia os negros violentamente e defender a segregação racial. Todas essas diferenças elencadas, não só nos aspectos produtivos, mas também diferenças de mentalidades, tal como observadas por Alexis de Tocqueville, estão diretamente ligadas à questão da escravidão. O orgulho pela “plantation” sulista, a posse de escravos, os problemas produtivos - tudo remete à escravidão, fator que se pretendeu colocar como força motriz da Guerra Civil.
            Indicado ao Oscar de direção, McQueen pode se tornar o primeiro cineasta negro a conquistar o prêmio. “12 Years a Slave” estreou no Festival de Telluride em 30 de agosto de 2013 e tem sido amplamente elogiado pela crítica. Depois de estar em desenvolvimento há algum tempo, o filme foi anunciado oficialmente em agosto de 2011 com McQueen dirigindo e Chiwetel Ejiofor estrelando como Solomon Northup, um negro livre que foi sequestrado e vendido como escravo na Deep South. McQueen comparou a conduta de Ejiofor “de classe e dignidade” à de Sidney Poitier e Harry Belafonte. Em outubro de 2011, Michael Fassbender que atuou em filmes anteriores Hunger e Shame de McQueen se juntaram ao elenco. No início de 2012, o resto dos papéis foi lançado, e as filmagens estavam programadas para começar no final de junho de 2012. Para captar a linguagem e dialetos da época e regiões o professor de dialeto Michael Buster foi trazido para ajudar o elenco na alteração de seu discurso. A linguagem tem uma qualidade literária relacionada com o estilo de escrita do dia e da forte influência do Bíblia do Rei Jaime. O estudioso de cultura e história afro-americano Henry Louis Gates Jr. foi consultor no filme. Bibliografia geral consultada:

GRAY, Lewis Cecil, History of Agriculture in the Southern United states to 1860. Contributions to American Economic History. Washington: Carnegie Institute of Washington, 1933; FAULKNER, Harold Underwood, Historia Económica de los Estados Unidos. Buenos Aires: Editora Nova, 1954; GENOVESE, Eugene, A Economia Política da Escravidão. Rio de Janeiro: Editora Pallas, 1976; TOCQUEVILLE, Alexis de, A democracia na América. São Paulo: Martins Fontes, 2000; BAILYN, Bernard, As origens ideológicas da Revolução Americana. Bauru: EDUSC, 2003; BRAGA, Ubiracy de Souza, “A Hora da Verdade Norte-Americana: black or white?”. Disponível em: http://httpestudosviquianosblogspotcom/2012/11/09/; entre outros. 

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A Utopia Acadêmica: Realidade e Desprezo.

                                     


                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga*

Político não entende de universidade. Geralmente tem desprezo absoluto por elas. Talvez Darcy Ribeiro tenha sido uma honrosa exceção. Transitou à vontade tanto pelos “caminhos ocidentais” como pelas veredas do mundo tribal amazônico, ou pelos corredores de mais de dois “palácios de governo”. Seu compromisso foi vital, não setorial. Produziu na cátedra, na prolongada convivência com os índios, na criação de universidades, dentro e fora do país, como ministro da Educação ou como chefe da Casa Civil, como preso político, nas peregrinações do exílio, ou, como um sábio romancista.
Após Leonel Brizola, de Orestes Quércia a FHC, inclusive o Lula, todos estes desprestigiaram a universidade brasileira, exceto a presidenta da nação ainda exceção. Estes a viram apenas em seu sentido heteróclito, como ocorre no Ceará, destinada a formar tipos de profissionais que o funcionamento da sociedade local requer. Ignoram a relação entre o local e global. Esse é o propósito de se manter o “establishment”: para eliminar de uma vez por todas o sentido das palavras, eis o objetivo do Terror!
As jovens universidades estatais cearenses estão passando por problemas profundos de ordem político-administrativa, isto é, de liderança, pois tendem: a) aos riscos da burocratização: que tornam os professores irresponsáveis e, só atentos a regras administrativas; b) assim, esterilizam o ensino e liquidam com a pesquisa, a formação em tempo contínuo, como exigência do CNPq, só para atender a este ou aquele requisito regimental, e, c) não há interface permanente entre a burocracia estatal e as universidades públicas. Temos um governo de corte populista autoritário.
A universidade é a agência fundamental de renovação dos seus quadros e a formadora de seus corpos de professores e pesquisadores. Trata-se de irresponsabilidade social do governo. Tão grave quanto aquela que pretendeu corrigir em 2008. A somatória destas deformações resulta em greve prolongada, sem abertura de canais de negociação como em toda ordem democrática dentro ou fora do país. E infelizmente com um governo que estraga e despersonaliza a rica cultura da quinta economia do país!
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* Sociólogo (UFF) e cientista político (UFRJ). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE). 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

500 anos de “Il Príncipe” - história, teoria e verdade

                                  500 anos de “Il Príncipe” - história, teoria e verdade.
                                                                                                          
                                                                                    Ubiracy de Souza Braga*

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Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).







                                       “È molto più sicuro essere temuti che amati”. Niccolò Machiavelli, Il Principe, 1513.  

                                  

            Escólio: Niccolò di Bernardo dei Machiavelli (1469-1527) foi escritor, diplomata e pensador político. Viveu a sua juventude sob o esplendor político da República Florentina (cf. Villari, 1920; Roth, 1929; Vellecchi, 1929; Caristia, 1951; Mossini, 1962; Holle, 1963), durante o governo de Lourenço de Médici (cf. Tenenti, 1973; Larivaille, 1979). Após uma adequada educação humanista, ingressou na burocracia do governo republicano de 1498, sendo principalmente empregada como secretário dos “Dez de Guerra”. Instalado em 1310 para investigar a conspiração de Baiamonte Tiepolo, tornou-se talvez o mais famoso de todos os órgãos de Estado do Renascimento. A responsabilidade do Conselho consistia em proteger o Estado de traição, interna ou externa; empregava espiões e, ocasionalmente assassinos etc. Neste cargo, etnograficamente, Maquiavel “observou o comportamento de grandes nomes da época e a partir dessa experiência retirou alguns postulados para sua obra”. O defeito básico dos governantes e estadistas que Maquiavel conheceu consistia na fatídica inflexibilidade diante da mudança das circunstâncias políticas. Não souberam acomodar sua personalidade às exigências dos tempos. Estes políticos tentaram, como hoje, apenas remodelar os tempos segundo sua personalidade. Este julgamento de Maquiavel constitui o cerne da análise da liderança política (cf. Ledeen, 2006) em “Il Principe” (1513), e, por assim, dizer: “teniendo en cuenta que la naturaleza humana es invariable”. Sua obra principal, “Il Príncipe” foi lida pelo cardeal inglês Reginald Pole, se dizendo: “horrified by the influence she had on Thomas Cromwell”.  
                                       
                            
            Os termos “Renascimento”, “Renascença” ou “Renascentismo” são usados para identificar o período da história social da Europa aproximadamente entre fins do século XIV e meados do século XVI. Os estudiosos, contudo, não chegaram a um consenso sobre essa cronologia, havendo variações consideráveis nas datas conforme o autor. Seja como for, o período foi marcado por transformações em muitas áreas da vida humana, que assinalam o final da Idade Média e o início da Idade Moderna. Apesar destas transformações sociais serem bem evidentes na cultura, sociedade, economia, política e religião, caracterizando a transição do feudalismo para o capitalismo e significando uma ruptura com as estruturas medievais, o termo é mais comumente empregado para descrever seus efeitos nas artes, na filosofia e nas ciências. Chamou-se “Renascimento” em virtude da redescoberta e revalorização das referências culturais da antiguidade clássica, que nortearam as mudanças deste período em direção a um ideal humanista e naturalista. O termo foi registrado pela primeira vez por Giorgio Vasari já no século XVI, mas a noção de Renascimento, como hoje o entendemos, surgiu a partir da publicação do livro de Jacob Burckhardt: “A Cultura do Renascimento na Itália” (cf. Ghelardi, 1991), onde ele definia o período como uma época de “descoberta do mundo e do homem”.                              
Depois de servir a burocracia em Florença durante catorze anos foi afastado do cargo e escreveu suas principais obras. Libertado, seguiu para uma propriedade em “Sant`Andrea in Percussina” distante 7 km de San Casciano. Foi durante esse ostracismo e aparente inatividade, o qual duraria até sua morte, que ele escreveu suas obras mais conhecidas: “Il Príncipe” (1513) e os “Discorsi sopra la prima deca di Tito Livio” (1512-1517), este em 3 volumes. Ora, vale lembrar que os “Discursos” são uma obra republicana. E, se Maquiavel foi torturado a mando dos Médici, que acabavam de retomar Florença, isso se deveu a ter sido ele um dos líderes da República florentina. O Maquiavel mais extenso é republicano – e sobre ele temos um livro notável de Newton Bignotto, “Maquiavel Republicano” (1991). Mas talvez o autor d’ O Príncipe seja o Maquiavel mais intenso: essas semanas no campo emancipam a política da moral cristã. Florença comemora os 500 anos de redação de “Il Príncipe”, de Maquiavel, obra fundadora da ciência política, com uma exposição que explora sua gênese em contexto historicamente determinado.
Concluído em 10 de dezembro de 1513 e dedicado a Lorenzo II de Médici (1449-1492), duque de Urbino, o célebre tratado de Nicolau Maquiavel (1469-1527), redigido em apenas dez meses, se tornou, com o passar dos séculos, um substantivo (maquiavelismo) e um adjetivo (maquiavélico), que explica a doutrina “de que os fins justificam os meios”. Lourenço de Médici foi um estadista italiano, soberano de fato da 1ª República Florentina (cf. Roth, 1929; Valori, 1929) durante o Renascimento italiano. Conhecido como Lorenzo “il Magnifico” por seus contemporâneos florentinos, foi um diplomata, político e patrono de acadêmicos, artistas e poetas e também mecenas. Sua vida coincidiu com alguns dos pontos altos do início do Renascimento na Itália, e sua morte marcou o fim da chamada “Idade de Ouro” de Florença. A paz frágil que ele ajudou a manter entre os diversos Estados italianos entrou em colapso depois de sua morte.
É indiscutível que Maquiavel foi o fundador da ciência política (cf. Escorel, 1958; Esposito, 1980; 1984; Bath, 1992; Nivaldo, 2004; King, 2010; Braga, 2012), constituindo-se naquele que entendeu primeiro que o poder não foi concedido por Deus, mas que é temporal. Juntamente com “Pinocchio”, de Carlo Collodi, o livro de Maquiavel é o texto de um autor italiano mais traduzido no mundo, afirmou Valdo Spini, presidente do Comitê florentino para as comemorações dos 500 anos da obra do escritor, durante uma coletiva de imprensa realizada em Roma. Para homenagear uma das personalidades mais importantes do Renascimento, como diplomata e filósofo foi organizada uma exposição com o lema: “Il percorso del Principe”. O comitê organizador quer desfazer também o estereótipo que foi ideologizado pelo mundo ocidental de que o italiano “é dúbio e oportunista”, como aparentemente sugere o livro, numa leitura de aproximação apressada ou imatura que passa ao largo da pretensão do autor ao desnudar as verdadeiras práticas e saberes sociais em torno do poder.
                           

    Palazzo Vecchio, na cidade italiana de Florença (2010). AFP/Arquivos, Filippo Monteforte.

Foi também neste período que Maquiavel conheceu vários escritores, no Jardim Rucellai, formado por um círculo de literatos. Cosimo Rucellai falecera 25 anos antes, em 1519. Maquiavel dedicou os “Discorsi sopra la prima deca di Tito Livio” a ele e a Zanobi Buondelmonti, a quem se referirá mais adiante e se aproximou de Francesco Guicciardini apesar de já conhecê-lo há tempos. Entre os escritos desse período estão o poema: “Asino d`oro” (1517), a peça: “A Mandrágora” (1518), considerada uma obra prima da comédia italiana, e “Novella di Belfagor” (romance, 1515), além de vários tratados histórico-político, poemas e sua correspondência particular, organizada pelos descendentes, tais como: “Dialogo intorno alla nostra língua” (1514), “Andria” (1517), “Discorso sopra il riformare lo stato di Firenze” (1520), “Sommario delle cose della citta di Lucca” (1520), “Discorso delle cose florentine dopo la morte di Lorenzo” (1520), “Clizia”, comédia em prosa (1525), “Frammenti storici” (1525) e poemas tais como: “Sonetti”, “Canzoni”, “Ottave”, e “Canti carnascialeschi”.  
A história social da recepção da obra de Maquiavel foi marcada, desde o século XVI, pela insistência de muitos intérpretes em descrever suas análises da política como exemplo acabado do “cinismo e da amoralidade”, convertidos em regra do convívio dos homens. Associar o nome do escritor ao diabo, por exemplo, ou atribuir-lhe uma defesa ilimitada da tirania foi o caminho dos que quiseram defender uma plena submissão da política a regras que lhe são exteriores. Essa interpretação acabou se refletindo no vocabulário de quase todas as línguas ocidentais, deixando “maquiavelismo” (cf. Bath, 1992) seu campo semântico original para se tornar um operador corrente da linguagem no âmbito da política. Depois de mais de cem anos de um cenário histórico dominado pelo apelo às utopias e pela crítica a seus efeitos na vida das nações, chama a atenção em Maquiavel seu apego ao que denomina metodologicamente de “verdade efetiva das coisas” (“efficace verità delle cose”). Mais do que formular um novo conceito de verdade, ele nos ensina a deixar de lado formas políticas imaginárias ou utópicas, para concentrar nossos esforços de compreensão nas condições objetivas e, portanto reais, que presidem as ações humanas: a ambição, o desejo de glória, o medo, os interesses materiais (cf. Villari, 1920; Roth, 1929; Valori, 1929; Wertheimer, 1942; Canistra, 1951; Escorel, 1958; Mossini, 1962; Hole, 1963; Squaroti, 1966; Esposito, 1980; 1984; Ridolfi, 2003).
Como renascentista Maquiavel se utilizou de autores e conceitos da Antiguidade clássica (cf. Pires, 2010) de maneira revolucionária. Maquiavel é um dos raros pensadores da política a pensar, não só o exercício, mas a tomada, do poder - não a continuidade, mas a novidade, o que o torna “primus inter pares”. Não é fortuito que o marxista italiano Antônio Gramsci tenha escrito sobre ele: “Maquiavel pode ser revolucionário” (cf. Gramsci, 1975; 1991; 2000; 2002). Um dos principais autores foi Tito Lívio (50 a. C.-17 d. C.), além de outros lidos através de traduções latinas, e entre os conceitos apropriados por ele, metodologicamente encontram-se o de “virtù”, entendido como um traço de caráter que distinguia o homem enérgico, probo, corajoso, até arrojado, mas não imprudente, da sua contraparte convencionalmente virtuosa, tornando-o menos vulnerável às cavilações da “fortuna”. A fortuna é o imprevisível, o acaso, a sorte. A “virtù” é o saber como atuar de acordo com a necessidade do momento, é a “vontade-força”, reiterada por Nietzsche, leitor de Maquiavel, qualidade fundamental do Príncipe. Tal como Maquiavel encerrava “O príncipe”, com a “vontade-força” na expectativa de que surgisse na Itália dilacerada do seu tempo uma figura magnífica, despida de preconceitos, que lançasse mão de quaisquer recursos, mesmo que inescrupulosos, para unificar o país ameaçado pelos bárbaros, analogamente Nietzsche-Zaratustra esperava o mesmo na emergência de um “super-homem” (“Übermensch”).     
            Tese: Maurizio Viroli en “La sonrisa de Maquiavelo” (cf. edição brasileira, 2002) apela a una anécdota para comenzar y concluir su biografía sobre el florentino: se dice que en su lecho de muerte, Nicolás Maquiavelo tuvo un sueño. En él, se veía a dos tipos de hombres que tomaban caminos diferentes: los primeros, vestidos con ropas harapientas, representaban a los santos y beatos, y aunque se veían sufrientes decían que iban al paraíso. Los segundos, vestidos elegantemente, entre los cuales se encontraban reconocidos filósofos, iban camino al infierno. Según él, y como le comentó a sus amigos cercanos, prefería ser de aquellos que iban al infierno para poder conversar de política con ellos. La anécdota anterior, nos remite a un personaje que desde el Renacimiento ha sido polemizado, así como leído en sentido negativo. Asimismo, interpretado desde diversas corrientes y receptores. No es tampoco curioso que se llame “maquiavélico” a quien acciona astutamente o para apelar a un prejuicio negativo. Tampoco es extraño, que a partir de sus escritos hayan surgido insólitas interpretaciones como “Maquiavelo para mujeres” o “Maquiavelo para madres” o se hayan realizado series de televisión basadas en la Italia renacentista del autor (“The Borgias”).  Y es que el pensador italiano, – de quien hoy 3 de mayo se cumplen 544 años de su natalicio y este año se conmemoran los 500 años de su más famoso libro “El príncipe”–, aún persiste en la actualidad (cf. Orrego, 2010).  
                                  
            Foi porque Maquiavel percebeu que qualquer conselho positivo para lidar com problemas políticos era suscetível de ser contrariado por uma alusão pessimista à fortuna, que ele resolveu dedicar a esse tema o penúltimo capítulo de “Il Príncipe”, livro escrito por Nicolau Maquiavel em 10 de dezembro de 1513, cuja 1ª edição foi publicada postumamente, em 1532. Ele próprio aceitou que a Fortuna era o árbitro de metade das ações dos homens, mas sublinhou que isso não deveria levar ao derrotismo. Em duas memoráveis imagens, comparou a fortuna a um rio cujas águas caudalosas podem ser inofensivamente desviadas por diques e canais de drenagem precavidos, e a uma mulher que, sendo mulher, pode ser domada pelo ardor e a violência. Vejamos:
Chegada a noite, retorno para casa e entro no meu escritório; na porta, dispo a roupa quotidiana, cheia de barro e lodo, visto roupas dignas de rei e da corte e, vestido assim condignamente, penetro nas antigas cortes dos homens do passado onde, por eles recebido amavelmente, nutro-me daquele alimento que é unicamente meu, para o qual eu nasci; não me envergonho ao falar com eles e perguntar-lhes das razões de suas ações. Eles por sua humanidade, me respondem, e eu não sinto durante quatro horas qualquer tédio, esqueço todas as aflições, não temo a pobreza, não me amedronta a morte: eu me integro inteiramente neles. E, porque Dante disse não haver ciência sem que seja retido o que foi apreendido, eu anotei aquilo de que, por sua conversação, fiz capital, e compus um opúsculo De Principatibus, onde me aprofundo o quanto posso nas cogitações deste assunto, discutindo o que é principado, de que espécies são, como são adquiridos, como se mantêm, porque são perdidos. Se alguma vez vos agradou alguma fantasia minha, esta não vos deveria desagradar; e um príncipe, principalmente um príncipe novo, deveria aceitar esse trabalho: por isso eu o dedico à magnificência de Juliano. Filippo Casavecchia o viu e vos poderá relatar mais ou menos como é e das conversas que tive com ele, se bem que frequentemente eu aumente e corrija o texto”.
                                              
Em Maquiavel quando “virtù” e “fortuna” caminham juntas, o resultado é a vitória -  como podemos observar nos exemplos históricos - em caso contrário, a derrota na politica. Exumada pelo interesse humanista na mitologia clássica, essa personificação das forças que desafiam e frustram os esforços humanos foi utilizada, muitas vezes, como um subterfúgio convencional para evitar “a invocação da vontade de Deus” na explicação dos fenômenos que pareciam racionalmente inexplicáveis, quer se tratasse de “um revés no amor ou no campo de batalha”. A ideia de “fortuna” em Maquiavel vem da “deusa romana da sorte” e representa as coisas inevitáveis que acontecem aos seres humanos. Não se pode saber a quem ela vai fazer bens ou males e ela pode tanto levar alguém ao poder como tirá-lo de lá, embora não se manifeste apenas na política. Como sua vontade é desconhecida, não se pode afirmar que ela nunca lhe favorecerá. Ela, pois curiosamente tanto o substantivo “fortuna” quanto a personificação, “Fortuna”, eram femininos, refletindo a opinião dos homens e da lei de que as mulheres deviam ser identificadas analogamente com a irracionalidade.
Era invocada mais comumente num contexto político durante a incapacidade da Itália para fazer frente às sucessivas ondas de invasão estrangeira depois de 1494. Em Florença ocorreu um fato estranho. Um frade, de nome Savonarola, que comandava a cidade, previu-lhe uma invasão estrangeira “em punição pelo seu gosto pelo luxo e lassidão”. Carlos VIII não avançou sobre o lugar e tomou o caminho de Roma, aonde chegou a 31 de dezembro de 1494. Ali ele conseguiu prender o Príncipe Djem, filho do sultão turco Bajazet. Em seguida, a 22 de fevereiro de 1495, tomou posse de Nápoles, e passou a viver em um ambiente festivo em função de seus sucessos. Daí a análise maquiavélica, segundo a qual afirma: - “sou de parecer de que é melhor ser ousado do que prudente, pois a fortuna (oportunidade) é mulher e, para conservá-la submissa, é necessário (...) contrariá-la. Vê-se, que prefere, não raramente, deixar-se vender pelos ousados do que pelos que agem friamente. Por isso é sempre amiga dos jovens, visto terem eles menos respeito e mais ferocidade e subjugarem-na com mais audácia” (“Io sono del parere che è meglio essere audaci rispetto cauti, perché la fortuna (opportunità) è una donna e per tenerla sottomessa, è necessario (...) per contraddirli. Si è visto che preferiscono non di rado lasciano vendere per audaci che agendo freddamente. Quindi è sempre un amico del giovane, perché hanno meno rispetto e più ferocia e la sua sottomettere con più audácia”).
Na Inglaterra chegaram a afirmar que o nome dado ao diabo (cf. Abrahão, 2009) procedia do seu nome, pois, “Maquiavel precisa de um truque para dar seu nome ao nosso velho apelido” (“Nick Machiavel hed neer a trick. Tho gove his name to our old Nick”). Geralmente, acredita-se que a Inquisição é uma instituição eclesiástica. Mas, na realidade, seu aspecto eclesiástico era mínimo. Quase ninguém fora da instituição sabia que os inquisidores eram nomeados pelo rei. Diretamente a Inquisição funcionou mais ou menos como uma “polícia política” de nossos tempos. A Inquisição funcionou muitas vezes como um tribunal inteiramente politizado. A Inquisição era inimiga dos grupos burgueses e “pré-burgueses” na transição para o capitalismo. E a Inquisição foi decisiva para que na Península Ibérica não amadurecesse uma consciência burguesa, por muito tempo. Foi nesse clima que Nicolau Maquiavel ofertou “O Príncipe” a Lourenço de Médicis; que Lutero promoveu a Reforma religiosa; que Copérnico demonstrou a Terra em rotação sobre seu eixo e os planetas girando em torno do Sol, não é o centro do universo e que Johannes Weyer publicou, após anos de estudo, o seu “De praestigiis daemonum...”. Johann Weyer (Grave, 1515 - 1588) era um médico holandês, ocultista e demonologista, discípulo e seguidor de Heinrich Cornelius Agripa. Foi um dos primeiros a protestar contra a perseguição às bruxas. Seu trabalho mais influente é: “De Praestigiis Daemonum et Incantationibus ac Venificiis” (1563), em português: “Sobre a ilusão de Demônios, Feitiços e Venenos”.
Mas para o que nos interessa:
Il Principe è sempre stato nell`Indice dei libri proibiti dalla Chiesa cattolica, in parte perché smontava le teorie politiche cristiane come quelle - rispettate da lungo tempo - di Sant`Agostino e Tommaso d`Aquino, ma soprattutto perché Machiavelli annulla ogni nesso tra etica e politica: infatti, secondo lui, il Principe deve cercare di sembrare magnanimo, religioso, onesto ed etico. Ma in realtà, i doveri di un principe non gli permettono di possedere alcuna di queste virtù. Il Principe ha sfidato la filosofia scolastica della Chiesa cattolica e la sua lettura ha contribuito alla fondazione del pensiero Illuminista e quindi del mondo moderno, occupando così una posizione unica nell`evoluzione del pensiero in Europa. Le sue massime più conosciute sono ampiamente citate anche oggi, in genere nella critica di leader politici: ´è molto più sicuro essere temuti che amati`, ma non è meglio essere odiati, e nemmeno ignorare virtù e giustizia quando questi non minacciano il proprio potere”.
                                              
Do ponto de vista historiográfico pouco se conhece da biografia de Maquiavel antes de entrar para a vida pública (cf. Ridolfi, 2003; 2012; White, 2007; King, 2010; Braga, 2012). Ele era o terceiro de quatro filhos de Bernardo e Bartolomea de` Nelli. Não se sabe ao certo o que teria levado à escolha de Maquiavel para a chancelaria. Outros analistas preferem atribuir a sua entrada à escolha e camaradagem de um antigo professor seu, Marcelo Virgilio Adriani, o qual ele teria conhecido em aulas na Universidade Pública de Florença e naquele momento era Secretário da Primeira Chancelaria. Mas Ross King (2010) resgata a imagem de Maquiavel da caricatura, descrevendo em detalhes o vibrante contexto político e social que influenciou seu pensamento, e ressalta a humanidade de um dos mais importantes filósofos políticos da história social e política. Além disso, o Maquiavel de Ross King frequenta astrólogos, produz vinho, percorre a Europa a cavalo como diplomata, e é um estudioso apaixonado da Antiguidade - mas, sobretudo, “um observador perspicaz da natureza humana”. Isto é importante. Em uma elaborada e instigante biografia, Ross King resgata a imagem de Maquiavel da caricatura, descrevendo em detalhes o vibrante contexto político e social que influenciou seu pensamento, e ressalta a humanidade de um dos mais importantes filósofos políticos da história. O Maquiavel de Ross King frequenta astrólogos, produz vinho, percorre a Europa a cavalo como diplomata, e é um estudioso apaixonado da Antiguidade - mas, sobretudo, um observador perspicaz da natureza humana.
                       
Em geral seus críticos se basearam em “Il Príncipe”, analisando-a isoladamente das demais obras de Maquiavel e sem levar em conta o contexto histórico e social no qual foi produzida. Sustentamos a tese segundo a qual Maquiavel escreve história mais como pensador político do que como historiador (cf. Pires, 2010). Isto é importante e evidencia sua singularidade como pensador político. Não se preocupa tanto com a referência precisa de afirmações contidas nas suas obras, mal comparando, tal como o filósofo Michel Foucault em nossos dias, ainda que tenha ido aos arquivos de Florença - prática incomum na época. Deixa transparecer nas suas obras históricas a defesa de algumas das suas ideias através da narração dos fatos históricos. Ele também acredita que a história se repete, tornando a sua escrita útil como exemplo para que os homens, tentados a agir sempre da mesma maneira, evitassem cometer os mesmos erros. Assim, a) alguns dos seus biógrafos atribuem-lhe os fundamentos da escrita moderna da história, b) outros admitem que ele não possua uma visão crítica o suficiente para poder separar os fatos históricos dos mitos e, c) aceitou como verdade, por exemplo, a fundação mitológica de Roma, outros ainda, d) de forma vulgar atribuem-lhe uma “concepção dogmática e ingénua da história”, daí a ideia contida em nossa argumentação entre história, teoria e verdade na obra do pensador italiano.
Metodologicamente falando, “virtù” representa justamente a capacidade do indivíduo de controle das ocasiões e acontecimentos, ou seja, da “fortuna”. O político com grande “virtù” vê justamente na “fortuna” a possibilidade da construção ideal de uma estratégia para controlá-la e alcançar determinada finalidade, agindo frente a uma determinada circunstancia, percebendo seus limites e explorando as possibilidades perante os mesmos. Uma estratégia é uma entidade que é reconhecida como uma autoridade - pode ser qualquer coisa, desde uma instituição ou uma entidade comercial até um indivíduo cujo comportamento coincide com as definições próprias para “estratégico”. Uma estratégia pode ter o status de ordem dominante, ou ser sancionada pelas forças dominantes. Em outras palavras, uma estratégia é relativamente inflexível, pois ela é amarrada a um “próprio” (cf. Braga, 2013), que é a sua “localização espacial ou institucional”. O objetivo de uma estratégia é se perpetuar através das coisas que ela produz. Ipso facto, a “virtù” está sempre analisando a “fortuna” e, portanto, não existe em abstrato, não existe uma fórmula, ela varia de acordo com a situação determinada. Pois, os fins justificam os meios dentro de uma determinada conjuntura política que sofre influência de outras dimensões como a social, a econômica e a moral e cabe ao político com as suas capacidades de análise e de estratégia achar um meio mediante o qual essa conjuntura para realização de um determinado fim.
No livro “O Príncipe”, cap. 25. “Quanto pode a fortuna influenciar as coisas humanas e como se pode resistir a ela”, em que Maquiavel explica esses conceitos, ele fala sobre a crença que há em sua época em um “determinismo divino”, o desenvolvimento dos mesmos se opõe a esse “determinismo”, porém devemos cuidar, pois assim como a fortuna não é determinada e fatalista, mas sim muda de acordo com a conjuntura, a “virtù” não representa o simples livre arbítrio, mas sim, a escolha certa na hora certa. Os “Discorsi sopra la prima deca di Tito Livio”, de 1513 a 1521, opõem-se a “O Príncipe” pelo tema, apesar de ambos  compartilharem alguns conceitos. Nos “Discorsi”, Maquiavel defende a forma de governo republicana (cf. Bobbio, 1980; 1996; 1999; 2003; 2004; 2005; 2008; 2012) com uma constituição mista, de acordo com o modelo da República de Roma Antiga. Defende também a necessidade de uma cultura política sem corrupção, pautada por princípios morais e éticos (cf. Ribeiro, 2004), o que representa atualidade ímpar de sua obra, havendo passado 500 anos da publicação. Foram pensados como análise e comentário a toda a obra de Tito Lívio, mas permaneceram incompletos, não passando da primeira década. Esta obra surgiu da vontade do autor de comparar as instituições da Antiguidade, em especial às da Roma clássica, com as de Florença no período. Assim, seguindo a obra de Tito Lívio, analisa como surgem, se mantém e se extinguem os Estados. Ficou assim dividido em três partes, estudando na primeira, a fundação e a organização, em seguida, o enriquecimento e a expansão e, por fim, sua decadência.
Mas há ainda em sua obra um ponto de inflexão e diz respeito o fato de que a ética em Maquiavel se contrapõe à ética cristã herdada por ele da Idade Média. Ou seja, para a ética cristã, as atitudes dos governantes e os Estados em si estavam subordinados “a uma lei superior e a vida humana destinava-se à salvação da alma”. Com Maquiavel a finalidade das ações dos governantes “passa a ser a manutenção da pátria e o bem geral da comunidade”, não o próprio, de forma que uma atitude não pode ser chamada de boa ou má a não ser sob uma perspectiva histórica (cf. Esposito, 1980). Reside aí um ponto de crítica ao pensamento maquiavélico e fundamento de sua atualidade, pois com essa justificativa, o Estado pode praticar todo tipo de violência, seja aos seus cidadãos, seja a outros Estados. Ao mesmo tempo, o julgamento posterior de uma atitude que parecia boa, pode mostrá-la má. Para ele, a “natureza humana” seria “essencialmente má” e os seres humanos querem obter os máximos ganhos a partir do menor esforço, contrariando Hobbes, para quem a “condição da natureza humana e as leis divinas exigem um cumprimento inviolável”, ou, Locke, “dentro dos limites da lei da natureza, sem pedir permissão ou depender da vontade de qualquer outro homem”.
A “natureza humana” é a parte do comportamento humano que se acredita que seja normal e/ou invariável através de longos períodos de tempo e de contextos culturais dos mais variados. Todavia sem querer com isso dizer que os seres humanos ajam sempre de “forma má”, pois isso causaria o fim da sociedade, baseada em um acordo entre os cidadãos. Enfim, ele quer dizer que o governante não pode esperar o melhor dos homens ou que estes ajam segundo o que se espera deles. Talvez isto signifique o seguinte: na Idade Média, o quadro moral dava conta do lugar tanto do príncipe quanto do súdito, que deviam ambos obedecer à religião. Em tese, bastava isso para fazer um bom rei ou um fiel cristão. Maquiavel demonstra que o príncipe não está mais submetido - nem protegido - por esse quadro. É essa insegurança que lhe dá liberdade. Ninguém é livre sem ansiedade. “Maquiavélico e maquiavelismo” (cf. Bath, 1992; Abrahão, 2009; Nietzsche, 2008: 385 e ss.) são adjetivo e substantivo que estão tanto no discurso erudito, quanto no âmbito do debate político (cf. King, 2010), quanto na fala do dia-a-dia (cf. Cortina, 2000). Seu uso extrapola o mundo da política e habita sem nenhuma cerimônia o universo das relações privadas. Em qualquer de suas acepções, porém, o “maquiavelismo” está associado à ideia de perfídia, a um procedimento astucioso, velhaco, traiçoeiro. Estas expressões pejorativas sobreviveram de certa forma, incólumes no tempo e no espaço situando a atualidade de um Maquiavel intemporal.
Em verdade, o manuscrito passou inteiramente despercebido durante a vida do seu autor. Publicado por seus filhos em forma de livro anos após a sua morte, a rejeição a “O Príncipe” logo nasceu e cresceu. Rejeição que marcou a trajetória do livro durante séculos e que tendo o “maquiavelismo” como centro produziu muita condenação e pouca luz. Mas em política não poderia ser de outra forma. De modo geral, lido de má-fé, sem método no sentido de Hans Georg Gadamer (1900-2002), considerado como um dos maiores expoentes da hermenêutica filosófica. Sua obra de maior impacto foi “Verdade e Método”, de 1960, ou, como dizíamos simplesmente citado, sem ao menos ter sido consultado, O Príncipe transformou-se num “símbolo da trapaça, o número um da galeria dos livros malditos” (cf. Alves Filho, 1976; 2009).
Maquiavel venceu, Maquiavel está vivo (cf. Cortina, 2000). Pois nem depois de morto, Maquiavel terá descanso. Foi posto no Index pelo concílio de Trento, o que o levou, desde então a ser objeto de excreção dos moralistas. Realizado de 1545 a 1563, foi o 19º concílio ecuménico. É considerado um dos três concílios fundamentais na Igreja Católica. Foi convocado pelo Papa Paulo III para assegurar a unidade da fé e a disciplina eclesiástica, no contexto da Reforma da Igreja Católica e a reação à divisão então vivida na Europa devido à Reforma Protestante, razão pela qual é denominado também de Concílio da Contrarreforma. Os Príncipes mudaram, mas não de alma, gesto, corpo e pensamento. Mudaram a mistura usada em pintura (cf. Braga, 2012), pois ontem como hoje, alguns usam batom e salto alto, mas continuam Príncipes, de alma e coração. Bibliografia geral consultada:
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Disponível em: http://amargemrevista.wordpress.com/2013/05/24/; VILLARI, Pasquele, Niccolo Machiavelli e suoi tempi. Firense. Vol. 1-2, 1920; Artigo: “500 años: La actualidad de Maquiavelo”. Disponível em: http://realismovisceral.cl/; WERTHEIMER, Oskar Von, Maquiavel. Porto Alegre: Editor Globo, 1942; CARISTIA, Carmelo, II pensiero político di Niccolo Machiavelli. 2ª. ed. Napoli: Casa Editrice Dott. Eugenio Jovene, 1951; SFORZA, Carlos, O pensamento vivo de Maquiavel. São Paulo: Livraria Martins Editora: 1951; FERRARA, Orestes, Maquiavello - la vida, las obras, la Fama. Madrid: Coleccion La Nave, 1952; ESCOREL, Lauro, Introdução ao Pensamento Político de Maquiavel. Rio de Janeiro: Edição Simões, 1958; MOSSINI, Lanfrano, Necessita e legge nell`opera del Machiavelli. Milano: Giuffre, 1962; HOLE, J. R, Maquiavel e a Itália da Renascença. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1963; SQUAROTI, Giorgio Barberi, La forma trágica del ´Principe`. Volume 9 de Saggi di ´Leterre italiane`. Editora L. S. 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