segunda-feira, 28 de maio de 2012

Forró: Dança, rebolado, beleza e internacionalização do gênero.


              

          Forró: Dança, rebolado, beleza e internacionalização do gênero.



Ubiracy de Souza Braga*



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Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).







                                         
Existem duas versões sobre a origem da palavra forró. A primeira delas, talvez a mais fantasiosa, no sentido do “mágico”, atribui o nome à deturpação da expressão “for all”, que significa em inglês: “para todos”, e era como se denominavam os bailes populares promovidos para os operários que construíam a estrada de ferro da “Great Western”, empresa inglesa que explorava o transporte ferroviário nos Estados de Pernambuco, Alagoas e Paraíba. Mas, a grande maioria dos historiadores da cultura admite que a palavra “forró” seja uma derivação de “forrobodó”, que significa “divertimento pagodeiro ou baile popular”, sem formas e etiquetas definidas, que também ficou conhecido como “arrasta-pé”, “bate-chinela” ou “fobó”, festas em que pontificavam os ritmos mais populares da música nordestina, como: baião, coco, quadrilha, xaxado, xote, sempre animado pela “pé-de-bode”, a popular sanfona de oito baixos.
Forró, originariamente “forrobodó”, é um ritmo e dança típicos da região Nordeste do Brasil praticado nas festas juninas e outros eventos. No forró, vários ritmos musicais daquela região, como o “baião”, a “quadrilha”, o “xaxado”, que tem influências holandesas,  neste caso na cidade de Recife (cf. Barleus, 1647; 1980; Kalff, 1909) e o “xote”, que veio de Portugal, são tocados, tradicionalmente, por trios, compostos de um sanfoneiro: “tocador de acordeão”, que no forró é tradicionalmente a sanfona de oito baixos, um zabumbeiro e um tocador de triângulo (cf. Ramalho, 1962; 1987; 1999; 2001). Também é chamado “arrasta-pé”, “bate-chinela”, “fobó”. O que é mais evidente acusticamente ao examinarmos a démarche da música sertaneja no Brasil é: 1) a crescente internacionalização do gênero pela incorporação de ritmos e roupagens, da moda de viola à balada, da sonoridade caipira ao som orquestral por um lado, e 2) a coexistência de modos de produção artesanal e industrial - na produção e consumo local e comunitário ao lado da construção de modelos padronizados e de consumo massivo - por outro.
            Sobre esta nítida inspiração, de tema e de enredo, temos em Chico Buarque, - nestes dias em Fortaleza, a seguinte canção, “Não Existe Pecado ao Sul do Equador”:
Não existe pecado do lado de baixo do equador/Vamos fazer um pecado rasgado, suado, a todo vapor/Me deixa ser teu escracho, capacho, teu cacho/Um riacho de amor/Quando é lição de esculacho, olha aí, sai de baixo/Que eu sou professor/Deixa a tristeza pra lá, vem comer, me jantar/Sarapatel, caruru, tucupi, tacacá/Vê se me usa, me abusa, lambuza/Que a tua cafuza/Não pode esperar/Deixa a tristeza pra lá, vem comer, me jantar/Sarapatel, caruru, tucupi, tacacá/Vê se esgota, me bota na mesa/Que a tua holandesa/Não pode esperar/Não existe pecado do lado de baixo do equador/Vamos fazer um pecado, rasgado, suado a todo vapor/Me deixa ser teu escracho, teu cacho/Um riacho de amor/Quando é missão de esculacho, olha aí, sai de baixo/Que eu sou embaixador”.
            No caso particular do Xote, também escrito xótis, chóte ou chótis, é “um ritmo musical binário ou quaternário e uma dança de salão de origem centro europeu”. É um ritmo/dança muito executado no forró. De origem alemã, a palavra “xote” é corruptela de “schottisch”, uma palavra alemã que significa “escocesa”, em referência à “polca escocesa”, tal como conhecida pelos alemães. Conhecido atualmente em Portugal como “chotiça”, o “Schottisch” foi levado para o Brasil por José Maria Toussaint, em 1851 e tornou-se apreciado como “dança da elite” no período do Segundo Reinado (1840-1889). Daí, quando os escravos negros desenvolveram alguns passos da dança, acrescentado sua maneira peculiar de bailado, o “Schottisch” caiu no gosto popular, com o nome de “xótis” ou simplesmente “xote”. É uma dança muito versátil e pode ser encontrada, com variações rítmicas, desde o extremo sul do Brasil, o “xote gaúcho”, até no Nordeste do país, nos forrós nordestinos. Diversos outros ritmos possuem uma marcação semelhante, podendo ser usados para dançar o xote, que tem incorporado também diversos passos de dança e elementos da música latino-americana, como, por exemplo, alguns passos de salsa, de rumba e mambo. Hoje em dia, o xote é um dos ritmos mais tocados e dançados em todo o Brasil.
                                              
            O forró possui semelhanças com o “toré”, e o arrastar “dos pés dos índios”, com os ritmos binários portugueses e holandeses, porque são ritmos de origem europeia a chula, denominada pelos nordestinos simplesmente “forró”, “ xote”, e variedades de polcas europeias que são chamadas pelos nordestinos de “arrasta-pé” e ou “quadrilhas”. A dança do forró tem influência direta das danças de salão europeias, como evidencia nossa história de colonização e invasões europeias. Forró, originariamente forrobodó, é um ritmo e dança típicos da região Nordeste do Brasil, praticadas nas festas Juninas (cf. Nobrega, 2010) e outros eventos. No forró, vários ritmos musicais daquela região, como “baião”, a “quadrilha”, o “xaxado”, que tem influências holandesas e o “xote”, que veio de Portugal, são tocados, tradicionalmente, por trios, compostos de um sanfoneiro: tocador de acordeão, que no forró é tradicionalmente a sanfona de oito baixos; um zabumbeiro e um tocador de triângulo. Também é chamado arrasta-pé, bate-chinela, fobó. O forró possui semelhanças com o “toré” e o arrastar dos pés dos índios, com os ritmos binários portugueses e holandeses, porque são ritmos de origem europeia a “chula”, denominada pelos nordestinos simplesmente: “forró”, “xote” e variedades de “polcas” europeias que são chamadas pelos nordestinos de arrasta-pé e ou quadrilhas. A dança do forró tem influência direta das danças de salão europeias, como evidencia nossa história de colonização e invasões europeias.

            Numa visão de conjunto, a região Nordeste (cf. Albuquerque, 2006) apresenta uma cultura típica, rica e diversificda, é o resultado da união da cultura dos brancos, especialmente os portugueses, com os índios e os negros africanos, como fora analisado magistralmente na obra de Gilberto Freyre na década de 1920, e que dispensa-nos comentários. Ritmos populares como “Coco”, “xaxado”, “martelo agalopado”, “samba de roda”, “baião”, “xote”, “samba-de-roda”, “forró”, “frevo” e “axé”, entre outros rítmos, se destacam na formação da cultura musical da região Nordeste. O axé é destaque no carnaval de Salvador, onde a cidade recebe milhares de turistas para curtir a festa e em Recife, o destaque cultural é o frevo. Nas festividades há destaque também para as festas de carnaval “fora de época”, como o “CarNatal” em Natal e o  “Fortal” em Fortaleza. Outras festas tipicas como o Bumba-meu-boi no Maranhão, as “micaretas fora de época” e o Carnaval de bonecos, de Olinda, também são destaques da cultura da região Nordeste. No Recife o movimento armorial, com inspiração em Ariano Suassuna, realizou um trabalho erudito buscando a valorização desta rica herança rítmica popular nordestina; um de seus expoentes mais conhecidos é o cantor Antônio Nóbrega. O São João é outra festa tipicamente nordestina, quando essa festa se aproxima, algumas cidades brigam pelo titulo de “Capital do Forró”, as cidades de Caruaru, em Pernambuco, e a de Campina Grande na Paraíba disputam o título.
            Foi o sanfoneiro pernambucano Luiz Gonzaga do Nascimento (1912-1989), quem primeiro colocou o nome forró em uma música ao gravar o “Forró de Mané Vito”, em 1949, como ilustra a poesia:
Seu delegado, digo a vossa/senhoria/ Eu sou fio de uma famia/ Que não gosta de fuá/Mas tresantontem/No forró de Mané Vito/Tive que fazer bonito/A razão vou lhe explicar/ Bitola no Ganzá/Preá no reco-reco/Na sanfona de Zé Marreco/Se danaram pra tocar/Praqui, prali, pra lá/Dançava com Rosinha/Quando o Zeca de Sianinha/Me proibiu de dançar/Seu delegado, sem encrenca/eu não brigo/Se ninguém bulir comigo/Num sou homem pra brigar/Mas nessa festa/Seu dotô, perdi a carma/Tive que pegá nas arma/Pois num gosto de apanhar/Pra Zeca se assombrar/Mandei parar o fole/Mas o cabra num é mole/Quis partir pra me pegar/Puxei do meu punhá/Soprei o candieiro/Botei tudo pro terreiro/Fiz o samba se acabar”.
Luiz Gonzaga gravou outros forrós no mesmo estilo, como “Derramaro o Gai” e “Forró do Quelemente” e consagrou-se no gênero como parceiro de Zé Dantas, José Marcolino, Nelson Valença, Luiz Ramalho e João Silva. Outro pioneiro na divulgação do forró no sul do país foi o paraibano Jackson do Pandeiro, com a gravação “Forró em Limoeiro”, em 1953. Jackson gravou outros clássicos do gênero: “Sebastiana”, “A Mulher do Aníbal”, “Um a Um”, “Na Base da Chinela”, chegando a ser chamado “o rei do ritmo”. Também o sanfoneiro pernambucano José Domingos de Morais, o Dominguinhos, e o compositor maranhense João do Vale contribuíram para a valorização do ritmo, principalmente depois da migração de grandes camadas da população nordestina para a região sul e sudeste do País.
            O “Forró eletrônico” é uma variação divergente, estilizada e pós-modernizada do “Forró clássico” que utiliza elementos eletrônicos em sua execução, como o teclado, o contrabaixo e a guitarra elétrica, sendo que muitas das músicas são versões de singles de rock internacional, evidenciando assim a influência desse estilo musical. banda cearense Aviões do Forró é uma das principais representantes do segmento de mercado conhecido como forró eletrônico, que atualmente movimenta numeroso público em feiras, arraiais, vaquejadas e eventos em todo Nordeste brasileiro.
O “forró eletrônico” pode ser considerado uma espécie de “country nordestino” e  está para o Forró, como a Música Sertaneja está para a Música Caipira, ou Música de Raiz. Outra característica que o Forró Eletrônico compartilha com a Música Sertaneja é o fato de ser considerado, um estilo “brega” por muitos admiradores dos estilos tradicionais de que se derivaram, os mais tradicionalistas não consideram o ritmo um gênero do forró e outros até preferem a extinção das bandas, do mesmo modo que os músicos caipiras inicialmente viraram a cara para a música sertaneja. No entanto, o “forró clássico” já estava saturado no mercado e necessitava de um upgrade urgente para conquistar mercados mais joviais e alegres, já que o forró clássico só falava de gerações mais antigas e suas lamentações com estiagens, etc.
Em meados do início da década de 1990 o movimento, no sentido que emprega Touraine (1965; 1973) surgiu com força total com surgimento de bandas como “Mastruz com Leite”, “Cavalo de Pau”, “Noda de Cajú”, “Mel com Terra”, “Magnífico” e outras. Essas bandas caíram no gosto dos jovens, pois suas canções falavam de amor e coisas do cotidiano enquanto o forró tradicional tratava de temas das zonas rurais dos pequenos municípios sertanejos, coisa que até hoje muitos forrozeiros ainda insistem, muito distantes da realidade da juventude das capitais nordestinas e sua agitada vida urbana. Esse movimento trouxe além da renovação do forró, profissionalização para os eventos nos quais tinham shows de forró, crescimento do mercado de eventos de todo o nordeste além de maior propagação do ritmo. A influência do forró eletrônico se tornou tão grande que o cantor Michel Teló ao regravar a música: “Ai se eu te pego”, que é originalmente um “forró eletrônico”, acabou virando um fenômeno na Europa sendo inclusive regravado por artistas poloneses.
“Ai Se Eu Te Pego” é uma canção composta e produzida por Sharon Acioly e Antônio Dyggs, animadora do Axé Moi (um palco montado na praia de Porto Seguro, BA) e também autora de outro grande sucesso, o funk: “Dança do Quadrado”. A primeira versão da música apareceu no final de 2008, em Porto Seguro, no litoral sul da Bahia. A composição virou música com a banda Meninos de Seu Zeh, empresariado por Dyggs. Na época, a letra era diferente. Em vez de “sábado na balada”, eles cantavam “sábado na Kabana”, que “é a casa noturna que eu tenho aqui em Feira de Santana”, explica o compositor. A canção foi interpretada posteriormente pela banda Cangaia de Jegue em 2010. Sua versão mais conhecida é cantada pelo cantor sertanejo Michel Teló o qual foi lançado nacionalmente pela Som Livre.
            O segredo é o processo singular de comunicação, como vemos na música: Nossa História, do grupo musical Aviões do Forró
Eu que me enganei em ter pensado que sabia demais/Ah, perdi você e hoje vejo que não fui capaz/Agora estou aqui pra te pedir perdão/Volte por favor, você que tem razão/A vida ensina aquele que quer ser diferente/Sozinho sem você, agora eu aprendi que depende de mim pra gente ser feliz/Eu vou fazer de tudo pra te ter novamente/Vou lhe mostrar que eu mudei/Volta pra mim, tente outra vez/Tire de ti, mágoas que nos deixam ausente/Vou te esperar, não cansarei/Eu sinto e vejo, hoje eu sei/Nem todo sim, nem todo não é pra sempre/Só tem um jeito deu te esquecer/É se eu perder a memória/Mesmo assim alguém vai lembrar da nossa história”.
O nome foi estrategicamente escolhido “por dá ideia de algo grande, de algo que está por cima”. Popularmente falando, o nome dá o significado de mulher bonita, como vemos, assim como as dançarinas da banda, que já viraram marca registrada da banda Aviões do Forró (foto) e que não deixam a desejar por sua beleza física, dança e rebolado. Aviões do Forró é uma banda brasileira de “forró eletrônico” do Brasil formada em Fortaleza (Ceará) no dia 6 de agosto de 2002, por Zeca Aristides, André Camurça, Antônio Isaías, conhecido como “Isaías CDs”, e Carlos Aristides, criadores da produtora “A3 Entretenimento”. A banda é formada por 2 cantores, Solange Almeida e José Alexandre (conhecido como Xand Avião e Xandinho), três backing vocals, nove músicos e oito dançarinas. Em 2002 chegou aos palcos cearenses a banda Aviões do Forró.
“Xand Avião”, nome pelo qual se tornou conhecido na banda é cantor profissional há oito anos e é natural Itaú, no Rio Grande do Norte. Solange Almeida é da cidade de Alagoinhas na Bahia e é cantora profissional desde os vinte e um anos de idade. Foi no ano de 2002 que a banda Aviões do Forró estreou nos palcos cearenses. Hoje a banda conta com mais de mil fãs clubes em todo o Brasil. A Banda possui 7 CD`s e 2 DVD`s. O primeiro e segundo CD`s da banda, tiveram 200 mil cópias vendidas, o terceiro 500 mil cópias, o quarto 700.000 mil cópias, o quinto e sexto CD`s da banda, venderam 500 mil cópias, já o sétimo, 50.000. O primeiro DVD foi gravado em 2006, na “Vaquejada de Itapebussu”. Em Itapebussu tamanho é documento e a vaquejada do parque Novilha de Prata faz história a cada edição. São 66 anos de tradição que se renova a cada ano e prova que o esporte estar cada vez mais e arregimentando adeptos. O público circulante nos quatros dias de festa passou de cem mil pessoas e as duas noites de shows com bandas do nível de Aviões do Forró e Garota Safada atraíram 35 mil forrozeiros. Já o segundo, foi gravado em no Parque de Exposições de Salvador, teve lançamento pela gravdora Som Livre em 2010, e contou com participações de Ivete Sangalo e Dorgival Dantas.
Já realizou três Turnês internacionais. A primeira foi em 2008, nos Estados Unidos. A segunda foi em fevereiro de 2011, onde a banda realizou shows na Suíça, Holanda, e em Portugal. A terceira turnê internacional da banda ocorreu em fevereiro de 2012, onde a banda voltou a Suíça, Holanda, e Portugal, novamente. Em 2008 participou do DVD “Pode Entrar”, de Ivete Sangalo. Já gravaram comerciais para grandes empresas nacionais como a Brahma e as da Ótica Diniz. No “Festival de Verão” de Salvador, participou nos anos de 2007, 2008, 2010 e em 2012. No Carnaval de Salvador, desde 2009, a banda emplaca o bloco: “Aviões Elétricos”, pelas ruas da cidade.
Já participram de vários programas de TV. Na Rede Globo, “Domingão do Faustão”; “TV Xuxa”; “Mais Você”; “Altas Horas”; “Estrelas”; “A Turma do Didi”; “Estação Globo”; “Esquenta”; “Show da Virada”; “Criança Esperança”; “Caldeirão do Huck” e foi a primeira banda de forró a participar do Big Brother Brasil. Na Rede Record, Programa do Gugu, e teve seus cantores imitados no programa O Melhor do Brasil apresentado por Rodrigo Faro. Já no SBT, participou no programa da Hebe em 2006, mas atualmente o programa é exibido na emissora Rede TV! Em 2011, emplacou a música “Ovo de Codorna”, interpretada por Xand, na novela das 7, “Morde & Assopra”, da Rede Globo.
Na festa de aniversário de 9 anos da banda, em Fortaleza, no dia 11 de outubro de 2011, a banda recebeu Disco de Ouro, pela vendagem de mais de 50.000 mil cópias do CD/DVD gravado em Salvador. No Domingão do Faustão em 2012, a banda ganhou Disco de Platina, pela vendagem de 100.000 cópias do CD/DVD Ao vivo em Salvador. Em 2011, Solange Almeida, Xand Avião e a banda Aviões do Forró, ganharam novamente, os prêmios de: “melhor cantora”, “melhor cantor”, e “melhor banda de forró”, respectivamente. Em 2012, emplacou mais uma música em uma novela da Rede Globo. A música “Correndo Atrás de mim”, é um sucesso da banda, e foi emplacada na novela recentemente: “Avenida Brasil”.
O mercado alternativo do forró foi inaugurado no início dos anos 1990 pela banda “Mastruz com Leite”, organizada pelo empresário Emanoel Gurgel, que pretendia revolucionar os padrões do gênero, tornando-o “estilizado e progressista”. Para atingir o objetivo, o empresário montou um poderoso sistema de rádios via satélite que dava suporte à divulgação de seus produtos musicais, a “Somzoom Sat”. Sob a batuta de Gurgel, além da banda Mastruz, formaram-se outras dezenas de bandas de perfil semelhante, divulgadas durante a década de 1990 pela rádio. Atuando ainda como gravadora, a Somzoom foi e ainda é a principal responsável pela divulgação de novas e consagradas bandas de forró eletrônico (cf. Pedroza, 2001: 2).
Portanto, no início do século XXI já havia um movimento de forró consolidado no mercado nordestino, inaugurado pela banda Mastruz e seguido por bandas como “Limão com Mel”, “Calcinha Preta”, “Cavaleiros do Forró”, “Brucelose” e “Caviar com Rapadura”, entre dezenas de outras. Integrando este mercado, a banda “Aviões do Forró” foi montada em 2002, pelos empresários-produtores Zequinha Aristides, Antonio Isaias Paiva Duarte (dono da produtora e loja Isaias Cd’s) e Carlos Aristides, e começou a atuar em pequenas casas noturnas no interior do Ceará, com rápida resposta positiva de público.
A boa projeção comercial de Aviões se relaciona, portanto, com sua inserção na categoria mercadológica do forró eletrônico, que conduz a construção de sentidos e a sedução do público nos momentos de experiência musical. Os shows da banda são montados com um evidente direcionamento para a dança, estabelecendo uma atmosfera festiva, dinâmica e animada, representada pelo grupo de dançarinas - os “aviões” - que atua no espetáculo. A elas cabe um forte apelo erótico e sensual, que busca uma comunicação direta com o público (especialmente o público masculino) e produz uma semelhança visual estreita tanto com outras bandas de forró, axé e brega, quanto com os programas de auditório televisivos como o célebre Programa do apresentador  Chacrinha e o atual Domingão do Faustão. Nesse sentido, o perfil estético visual do show de Aviões dialoga com regras formais do universo do forró eletrônico e, ao mesmo tempo, com padrões vigentes na indústria do entretenimento, negociando significados e valores. 
Sedimentando a ênfase da banda no mercado da experiência e da performance, Aviões passou a formatar um repertório mais acelerado com o objetivo de se apresentar no forte mercado carnavalesco das principais capitais do Nordeste, seguindo passos de outros grupos de forró como o “Saia Rodada” e “Cavaleiros do Forró”. Somente no verão de 2007/2008, Aviões realizaram apresentações nas micaretas de Fortaleza (Fortal) Natal (Carnatal) e Aracaju (Precajú). Para “esses eventos, a banda se transforma no que chamam de Aviões Elétricos”, buscando traduzir o caráter animado através da associação com a tradição dos “trios elétricos”. Abre-se, então, para o forró eletrônico um novo mercado de apresentações durante o carnaval, originalmente hostil ao gênero, o que faz com que tais bandas consigam atuar durante todo o ano, gerando ainda mais circulação e lucro.
Nas mixagens realizadas para os discos oficiais de Aviões, a utilização dos recursos de áudio como reverb, equalizadores, compressores e filtros diversos obedece a padrões pré-estabelecidos, oriundos quase todos de modelos experimentados da tradição da música pop internacional e nacional. A voz está sempre centralizada e os timbres graves do baixo e do bumbo da bateria recebem tratamento especial, imprimindo uma certa profundidade ao som, característica das músicas dançantes veiculadas em larga escala pela indústria do entretenimento. Da mesma forma, as melodias estão construídas sempre sob modelos conhecidos do sistema tonal, assim como os ciclos harmônicos são recorrentes e encontráveis em diversas searas da música popular. Ritmicamente, Aviões se utilizam basicamente de uma única célula em andamento médio, que é repetida em quase todas as canções. Bibliografia geral consultada:
Filme: “Je ne Suis pas là pour Être Aimé”. Direção: Stéphane Brizé. França, 2005. Duração: 93 minutos; BRAGA, Ubiracy de Souza, “Etta James: At Last. Ensaio de Etnomusicologia”. Disponível em: http://estudosviquianos.blogspot.com.br/2012/03/etta-james-at-last-ensaio-de.html; Idem, “Jorge Ben Jor, 70 anos do Poeta da Simpatia”. Disponível em: http://www.oreconcavo.com.br/2012/05/17/jorge-ben-jor-70-anos-do-poeta-da-simpatia/; BARLAEUS, Gaspar, Geschiedenis van de laatste bewerkingen geoefend voor acht jaar in Brazilië. Amsterdam, 1647; Idem, História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1980; KALFF, G., Geschiedenis der Nederlandsche letterkunde. Deel 4. J.B. Wolters, Groningen 1909; BASTOS, Rafael José de, “Esboço de uma Teoria da Música: Para Além de uma Antropologia sem Música e de uma Musicologia sem Homem”. In: Anuário Antropológico 95, 1994; NOBREGA, Zulmira, O Maior São João do Mundo. Tese de Doutorado: Programa Interdisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade. Universidade Federal da Bahia, 2010; RAMALHO, Elba Braga, Violeiros do Norte. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1962; Idem, Cantoria Nordestina: Música e Palavra. São Paulo: Terceira Imagem. Travassos, Elizabeth, 1987; Idem, “Repente Música Popular: A autoria em Debate”. In: Brasiliana, n° 1, jan. 1999: 06-15; Idem, Cantoria Nordestina: Novo Enredo para o Metro Cantado. Tese de Titular. Departamento de Música: Universidade Estadual do Ceará, 2001; THIBAU, Jacques, La Télévision le Pouvoir et L’argent. France: Calmann-Lévy, 1973; TOURAINE, Alain, Sociologie de l`action. Paris: Éditions du Seuil, 1965; Idem,  Production de la Societé. Paris: Éditions du Seuil, 1973; MORIN, Edgar, Cultura de Massas no Século XX. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1981; VILA, Pablo, “Identidades narrativas y musica: uma primeira propuesta teórica para entender sus relaciones”. In: TRANS - Revista Transcultural de Musica n.2: Editora Annablume, 2000; DIAS, Márcia Tosta, Os donos da voz: indústria fonográfica brasileira e mundialização da cultura. São Paulo: Editora Boitempo, 2000; PEDROZA, Ciro, “Mastruz com Leite for all: folkcomunicação ou uma nova indústria no Nordeste brasileiro”. Campo Grande: In: Anais da XXIV Congresso Brasileiro de Comunicação - Intercom - Sociedade Brasileira de Pesquisadores da Comunicação, 2001; ALBUQUERQUE, Durval Muniz de, A invenção do Nordeste e outras artes. Tese de Doutorado em História Social. São Paulo: Cortez, 2006; ANDERSON, Chris, A cauda longa: do mercado de massa para o mercado de nicho. São Paulo: Campus, 2006; BECKER, Howard S, Falando da Sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2009, entre outros.


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