terça-feira, 26 de outubro de 2010

Vacas sociológicas



O que cada sociólogo (e/ou filósofo e/ou antropólogo e/ou desempregado funcional) tem a dizer sobre o fato de você, hipoteticamente apenas, veja bem, possuir uma vaca?
Marx: Você tem uma vaca. Se ela se recusar a dar leite é uma miserável vaca burguesa exploradora da mais-valia leiteira. Pode tirar o couro, repartir com os companheiros e comer.
Durkheim: Sua sociedade tem uma vaca. Você não importa.
Weber: Se sua vaca for protestante você trabalhará para ela.
Platão: Você tem uma vaca, mas no Mundo das Idéias. (Dê calote nos outros vendendo leite metafísico.)
Nietzsche: Sua vaca é o anti-cristo. A menos que você tenha um super-touro para te salvar, corra para as montanhas.
Kant: Você tem uma vaca porque é livre para ter uma vaca.
Sartre: Existe uma vaca, mas ela só existe.
Lévi-Strauss: Você tem o tabu do incesto. Dane-se a vaca.
Dumont: Você tem uma vaca. Sua vaca está de ponta-cabeça.
Bourdieu: Você tem uma vaca vacante cuja função principal (que não é função, dado a função de qualquer ente — ou estrutura estruturada por entes, estruturante de significância bovina — ser uma internalização da realidade não-objetiva da objetividade) é reproduzir o capital leiteiro fruto da troca simbólica efetuada entre alimento e metabolismo corporal que em um primeiro momento operou-se, sendo o alimento a ela dado por um agente a reproduzir o habitus agropecuário que há dentro de si (e há, não de outra forma, por estar também no campo social em que esse se situa).
Freud: Você tem uma vaca. É a sua mãe?
Mary Douglas: Você tem um porco…
Foucault: Esqueça a vaca… você precisa urgentemente de um estábulo de vidro com uma torre no meio.
Tocqueville: Os Estados Unidos têm as melhores vacas do mundo.
Maquiavel: Camponês, o Príncipe mandou servir essa sua única vaca no jantar.

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