quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A inteligência brasileira na década de 1930 à luz da perspectiva de 1980 . . .

Luciana Pereira da Silva[1]

Marina Calaza Ruas


Como em seus estudos da década de 1950 sobre a inteligência brasileira, Alberto Guerreiro Ramos retoma aqui sua análise da história das idéias e dos perfis dos homens de idéias do Brasil agora sob à luz da década de 1980, como expressa o título deste ensaio.

Sua idéia central é a de que a inteligência brasileira da década de 1930 buscou interpretar e transformar as instituições brasileiras mas não conseguiu contudo ultrapassar o que ele chama de confinamento da história modernista na sociedade ocidental.

Ramos busca classificar estes intelectuais, tratados aqui como a inteligência brasileira, isto é os indivíduos envolvidos com o magistério público que estariam interessados em interpretar e configurar o processo de formação do país neste momento. Já aí temos uma importante noção presente na obra deste autor, a de que o cientista social deveria estar ativamente engajado na promoção de mudanças no país. Aqui a ciência ganha esta dimensão, de fonte de conhecimento que corrobora para a intervenção na realidade objetiva.

Guerreiro Ramos traz uma série de categorizações subdividindo os grupos de intelectuais classificados como hipercorretos, pragmátimos críticos, bonaldianos, gorkianos e ainda os qualifica quanto a sua posição estrutural no campo como cêntricos, periféricos, fronteiriços, confrontiços e independentes.

Na tradição do pragmatismo crítico nas ciências sociais, encontraríamos os intelectuais comprometidos com a questão nacional, que através de uma atitude crítico-assimilativa frente ao saber sociológico exterior elaborariam um conhecimento mais adequado à realidade brasileira, sempre com a finalidade pragmática. Em outro extremo estariam os hipercorretos, caracterizados por “atribuir a idéias e teorias importadas eficácia direta na configuração de comportamentos sociais, assim negligenciando os seus condicionamentos contextuais.

Podemos perceber que Ramos traz portanto uma atitude bastante crítica em relação as elites colonizadas pelas idéias importadas dos países desenvolvidos. O autor é contrário ao transplante de idéias, estilos, modos de vida, teorias que não tenham utilidade para as transformações necessárias às nações subdesenvolvidas.

Guerreiro Ramos traz inscrita em sua trajetória esta preocupação com os rumos políticos e com as transformações históricas do país. O autor foi assessor do presidente Getúlio Vargas em seu segundo mandato, diretor do ISEB e deputado federal. Deu grande importância a formulação de um projeto histórico-político de caráter universalista que trouxesse condições de levar o Brasil a modernidade, inserido-o assim no processo civilizatório.

Sobre a inteligência brasileira da década de 1930 Ramos reforça que não tinham um caráter verdadeiramente revolucionário, que pretendesse alterar significativamente a estrutura social vigente. Desejavam na verdade ampliar o sistema de participação política que possuía uma configuração ainda profundamente dominada pelas oligarquias regionais. Como coloca o autor seus propósitos radicais eram limitados, o que corresponde ao que chama de dialética da ambigüidade e da complementaridade.

Entretanto nesta interpretação este mesmo grupo interessado em garantir uma efetiva participação política está ao mesmo tempo interessado em propósitos de um humanismo civilista, uma vez que a participação política mais ampla levaria o país ao caminho do progresso democrático, trazendo assim melhorias para a vida de todos.

Mesmo sendo vagos e confusos em suas propostas, segundo Guerreiro Ramos, esta geração transformaria o país empreendendo um importante trabalho de articulação política que conformaria o PTB, PSD e indiretamente a UDN. Partidos que teriam grande importância na consolidação do poder político desta vanguarda civil que se forma.

Para Guerreiro Ramos os partidos teriam um importante papel de mediadores racionais dos interesses comuns. Sua análise nos traz assim importantes reflexões revisionistas para se compreender os rumos políticos do Brasil e as diferentes posturas de sua inteligência diante da ação política e da história.



[1] Alunas de ciências sociais cursando o sexto período de Ciências Sociais na UFRJ

Referência:

RAMOS, Alberto Guerreiro, A inteligência brasileira na década de 1930 à luz da perspectiva de 1980 In:A revolução de 1930 – Seminário Internacional

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