Ubiracy de Souza Braga*
“Pela
estrada enquanto eu passo, o cinema é só ilusão...”. (Lobão, “Chorando no
Campo”, 2008).
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências, junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
A cidade de Aurora (Colorado, EUA) palco de massacre
durante a estreia do filme Batman.
O estudante de
Neurociência James Holmes, 24 anos, o atirador que matou 12 pessoas e deixou 59
feridos em um cinema no estado norte-americano
do Colorado, agiu sozinho. De acordo com as informações cedidas pela polícia
americana, os indícios apontam que o jovem californiano de San Diego organizou
o atentado pragmaticamente sem ajuda de ninguém. Ele comprou um fuzil AR-15,
uma escopeta Remington e uma pistola automática Glock. Seu arsenal incluía mais
de 3 000 balas para fuzil, 3 000 para duas pistolas Glock e 300 para uma
escopeta, pela internet - rede
mundial de computadores. Além disso, a polícia precisou, com a ajuda de um
robô, realizar uma “limpeza” em seu apartamento repleto de explosivos. Holmes em
sua fantasia entrou armado na sala de cinema, “com cabelos tingidos de vermelho
e vestindo roupas pretas, uma espécie de armadura e máscara de gás”.
O estudante-assassino utilizou bombas de
gás lacrimogêneo antes de abrir fogo contra a plateia, que assistia a uma
sessão especial de estreia do novo filme do Batman, e disse “ser o Coringa,
arqui-inimigo do herói”. Dos 30 pacientes que ainda estão internados, 11
continuam em estado grave. A polícia de Aurora confirmou os tipos e calibres
das quatro armas utilizadas por James Holmes: um fuzil AR-15, uma escopeta 12 e
duas pistolas calibre. 40.
O esquadrão antibomba
do FBI - Federal Bureau of Investigation,
é a unidade primária do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.......
..... (EUA),
servindo tanto como um organismo investigativo de auxílio de polícia criminal
de âmbito federal como serviço de inteligência doméstico. O FBI tem jurisdição
investigativa sobre as violações de mais de 200 categorias de crimes federais.
Seu lema é: “Fidelity, Bravery, Integrity”, correspondente às iniciais FBI.
Eles conseguiram desfazer as principais armadilhas usadas com explosivos
montados por Holmes no apartamento onde morava. Os agentes retiraram uma rede
de fios elétricos e um artefato incendiário, de acordo com o sargento da
polícia local Casidee Carlson.
O presidente norte-
americano, Barack Obama, chegou ao Colorado em seguida para se reunir com as vítimas
do massacre da cidade de Aurora, em meio à dor por mais uma tragédia provocada
por armas de fogo nos Estados Unidos. O avião Air Force One procedente de Washington pousou no meio da tarde na
Base Aérea de Buckley, na região de Denver, onde Obama foi recebido pelo
governador do Colorado, John Hickenlooper. Da base aérea, Obama seguiu de
automóvel para o hospital universitário de Aurora, onde cumprimentou o prefeito
da cidade, Steve Hogan, e o chefe de Polícia, Dan Oates, antes de visitar os
feridos no ataque e conversar com familiares das vítimas. A visita presidencial
acontece depois da identificação das 12 pessoas que morreram no ataque de sexta
(20/07) em Aurora, durante a estreia de “O Cavaleiro das Trevas ressurge”,
entre elas uma menina de seis anos.
Do ponto de vista da
chamada “guerra das imagens”, contrariando Gruzinki (2006), a ideia de massacre
no cinema aparece em sua progênie como a parte mais pesarosa e reflexiva do
filme: “Encouraçado Potemkin”, de Sergei Eisenstein (Bronenosets Potymkin, URSS, 1925, 75 minutos; cf. Eisenstein, 1972).
Expõe o percurso desde o velamento do mártir, onde a população de Odessa chora
a morte do herói, até a revolta das massas ocorrida a partir da provocação de
um burguês antissemita, onde é dita a frase: “Um por todos e todos por um”, um
dos principais leit-motiv do filme. Em
1925 em um Encouraçado Soviético diversos marinheiros rebelam-se contra seus
superiores pelos maus tratos recebidos. Tal rebelião gerando mortes comove toda
a população da cidade portuária de Odessa que passa a prestar homenagens aos
injustiçados. O governo não aprovando tal homenagem ordena que suas tropas
ataquem com veemência todos os envolvidos. Filme forte e de grande impacto social
e psicológico até para os dias atuais. Foi feito para comemorar a revolução
Soviética de 1905. A cena do massacre na escadaria onde uma mãe é assassinada e
seu carrinho de bebê desce degraus abaixo, é sempre citada como uma das mais
famosas e surpreendentes da história do cinema.
O Encouraçado Potemkin é a realização
mais importante e conhecida do diretor russo Serguei Eisenstein, um verdadeiro
clássico da história cinematográfica. Aqui se desenrola o massacre do povo de
Odessa pela guarda imperial do Czar. Cenas de alta dramaticidade reproduzem a
verve assassina e cruel do exército frente a mulheres, crianças e homens
desarmados. É nesta parte que ocorre a cena inenarrável que virou um marco para
a história do cinema, citada por vários diretores: a do carrinho de bebê que rola escada abaixo após a morte da mãe. É
admirável a profusão de símbolos nesta obra do início do século. A
multiplicidade atual dos recursos técnicos parece, ao contrário de enriquecer
tais possibilidades, esvaziando o caráter de humanização, ter tentado
substituir o papel da dimensão simbólica
na arte cinematográfica. O diretor russo Sergei M. Eisenstein inovou com a
impecável montagem do filme.
Cena clássica do Filme: Bronenosets Potymkin, URSS, 1925.
Neste aspecto,
guardadas as proporções temos no filme de Woody Allen, A Rosa Púrpura do Cairo, de 1985, durante a chamada “Grande
Depressão”, uma garçonete que sustenta o marido bêbado e desempregado e que só
sabe ser violento e grosseiro, costuma fugir
da realidade assistindo sessões seguidas de seus filmes prediletos. Ao
assistir pela quinta vez o filme “A Rosa Púrpura do Cairo”, ela tem uma grande
surpresa quando vê o herói sair da tela e lhe oferecer uma nova vida. Hollywood
vendia, simplesmente, o american-way-of-life,
o sonho norte-americano de liberdade
e da riqueza para os imigrantes que fugiam da opressão do velho continente,
onde, aliás, se preparava uma carnificina monumental, um sacrifício bestial, na
segunda grande guerra. No intervalo entre guerras, o público cinematográfico
sonhava. E Cecília era o arquétipo do expectador da época. Queria penetrar na
tela, viver o mundo do glamour. Esse liame, seja real, seja imaginário é o que
temos nestes dias, como “retorno do reprimido”, no caso das cenas no filme: Batman: The Dark Knight Rises.
James Holmes é o nome do suspeito acusado de
promover um verdadeiro massacre na
pré-estreia do filme, “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge” (Batman: The Dark Knight Rises) na cidade
de Aurora no estado do Colorado. Segundo os primeiros indícios divulgados pelo
departamento de polícia de Aurora, Holmes invadiu o Century 16 Movie Theater, (provavelmente por uma das entradas de
serviço) entrou em uma das salas de exibição, jogou algum tipo de dispositivo
explosivo ou bomba de gás e começou a atirar. A polícia recuperou um fuzil, uma
pistola e uma máscara de gás quando eles prenderam o suspeito. Outra arma foi
descoberta mais tarde, dentro da sala de cinema. O diretor de “Batman: O
Cavaleiro das Trevas Ressurge”, Christopher Nolan, classificou a chacina em uma
pré-estreia do filme no Colorado, Estados Unidos, de “insuportavelmente
selvagem” e expressou seu “profundo pesar” às vítimas e suas famílias.
As
duas armadilhas foram feitas para que matasse a pessoa que tentasse entrar na
casa. Depois, os especialistas do FBI começaram a retirar explosivos instalados
em outras áreas do apartamento, que foi dividido pelos três tipos de bombas
montadas pelo estudante-terrorista.
Os primeiros artefatos, ainda não especificados, foram detonados com sucesso. Depois
do massacre (cf. Braga, 2011),
familiares das vítimas e centenas de moradores começaram a fazer, na madrugada
de sábado, uma vigília no shopping onde fica o cinema (foto). Os moradores deixaram flores, velas e cartas
em sinal de luto pelos mortos. Uma das cartas dizia: “Para nossas almas
inocentes. Isso é para vocês, nós nunca vamos esquecer”. Em missa realizada em
uma igreja católica local, o cardeal Samuel Aquila, arcebispo de Denver,
capital do Colorado, lembrou trechos do evangelho ao comentar a tragédia.
“Aventurados os que estão de luto, porque serão confortados. O coração do nosso
Pai é mais forte que as balas que mataram essas 12 pessoas”, disse.
Tese: Anti-herói é o termo que designa
o personagem caracterizado por atitudes referentes ao contexto do conto contemporâneo, mas que não possuem
vocação heroica ou que realizam a justiça por motivos egoístas, pessoais,
vingança, por vaidade, por matar ou por quaisquer gêneros que não sejam altruístas,
ou seja, é o antônimo da ideia que se tem de herói. A maioria dos anti-heróis
da ficção são os mais populares que os heróis. Exemplos de anti-heróis: Vegeta,
Bass, Shadow the Hedgehog, Homem-Aranha (quando está com a Symbiote de Venom),
Hiei de Yu Yu Hakusho, Ikki de Cavaleiros do Zodíaco, Lelouch Lamperouge de
Code Geass, Severus Snape, entre outros.
Como
tecer heróis depois de tantos e sucessivos fracassos da figura do indivíduo nos
últimos dois séculos? Como ultrapassar o inseticídio inócuo de um Gregor Samsa
(cf. Braga, 2011), a amoralidade homicida de um Mersault? Os americanos, em
geral, tentaram buscar essa resposta levando o herói ao último reduto da
escrita: a figura do próprio escritor (seu álter ego). Miller e Hemingway.
Fante e Bukowski. Philip Roth. Não mais o personagem que poderia escrever um
livro, herói esmagado pela multidão, como o protagonista de Fome, de Knut Hamsun, o Raskolnikov de Crime e Castigo, mas o escritor mesmo,
só em seu exército, sitiado pelo bizantinismo do mundo acadêmico, bombardeado
pela vulgaridade da cultura midiática. Portnoy, Kepesh, Sabbath, mas
especialmente Zuckerman - a mais assídua das personas literárias de Roth -,
lutam por dois conceitos, por duas palavras que de tão gastas quase já não
aderem ao papel: individualismo e liberdade, pilares da Terra Nova, carcomidos
por toda sorte de eufemismos, políticas corretas e autoindulgência. Sabedores
da derrota restam a esses heróis adultos buscar no sexo a última arma possível
para mover um Armagedom.
Sobre
a asa de “Batman - O Cavaleiro das Trevas”, segundo maior sucesso da história
do cinema, o canal History Channel
produziu o documentário “Batman Desmascarado - A Psicologia do Cavaleiro das
Trevas” (“Batman Unmasked: The Psychology of the Dark Knight”, 2008). Usando
ferramentas reais de análise para entrar na mente e destravar a psique de Bruce
Wayne, o documentário explora a lenda que se tornou Batman. Como uma criança
vítima de uma tragédia emergiu como símbolo da justiça? O que faz um bilionário
se tornar um combatente do crime? Com depoimentos de profissionais de diversas
áreas, incluindo Christopher Nolan e Christian Bale - respectivamente diretor e
protagonista dos últimos filmes do “Homem-Morcego”, o documentário vasculha
cada aspecto psicológico da psique de Batman e de seus maiores inimigos: O
combatente do crime; o vingador; o vigilante; o herói! Batman engendra a
dialeticidade: é tão complexo quanto contraditório.
O documentário começa
falando que o filme “Batman Begins” deu uma das chaves para entender a mente do
Batman. Nela reside uma emoção universal: o medo.
Outro pilar importante da mitologia do Batman é a noção da escolha. Isso é
muito central para tudo. A história do Batman mostra as escolhas de bom e mau,
vida e morte. A parte final do documentário fala dos inimigos de Batman. Seus
nomes se tornaram icônicos: Coringa, Espantalho, Charada, Pinguim, Mulher-Gato,
Duas Caras. Batman Desmascarado chama atenção para um fato interessante: os
inimigos do Cavaleiro das Trevas são tão feridos psicologicamente quanto ele. E
os inimigos definem o herói. Quanto maior a ameaça, maior o herói! Os vilões
refletem imagens distorcidas do próprio Batman.
Não existe um momento
histórico definitivo, para quando o anti-herói
surgiu como um elemento literário. O “anti-herói” tem evoluído ao longo do
tempo, mudando como as concepções da sociedade sobre o herói mudaram, desde os
tempos Elizabetanos de Fausto e Falstaff de William Shakespeare, para os mais
sombrios temas da literatura vitoriana do século 19, como a “Ópera dos
Mendigos” de John Gay como “um homem tímido, passivo e indeciso que contrasta
fortemente com os heróis gregos”. O herói byroniano também estabelece um
precedente literário para o conceito moderno de anti-heróis. O herói byroniano
é um “anti-herói rebelde”. É simpático, apesar de sua rejeição da virtude. São
personagens não inerentemente maus e que, às vezes, até praticam atos
moralmente aprováveis. Contudo, algumas vezes é difícil traçar a linha tênue que
separa o anti-herói do vilão; no entanto, note-se que o anti-herói, diferente
do vilão, sempre obtém aprovação, seja através de seu carisma (Weber), seja por
meio de seus objetivos muitas vezes justos ou ao menos compreensíveis, o que
jamais os torna lícitos. A “malandragem” ou picardia chapliniana, por exemplo,
é uma ferramenta tipicamente anti-heroica. O terror, seguido do crime,
evidencia o social pela culatra, individualmente ou através da força letal do
Estado e situam politicamente os EUA como uma “metrópole de força”.
Além
disso, o espaço em seu telos realiza-se enquanto vivenciado, ou seja, um determinado lugar só se torna espaço na
medida em que indivíduos exercem dinâmicas de movimento nele através do uso, e
assim o potencializam e o atualizam. Quando ocupado, o lugar é imediatamente
ativado e transformado, passando à condição de “lugar praticado”, para
lembrarmo-nos de Michel de Certeau (1980). Ou então quando a casa ou uma rua, “geometricamente
definida” (cf. Bachelard, 1978) por um projeto arquitetônico e urbanístico, é
constantemente atualizada, ativada e transformada por seus usuários. O lugar praticado é algo fisicamente imóvel que
depende das dinâmicas de deslocamentos de um coletivo para dar um novo significado
e sentido e atualizar-se constantemente. O cinema, seguindo a trilha aberta por
Walter Benjamin (1966) é o melhor exemplo dessa nova característica. O filme já
nasce multiplicado em muitas cópias para tornar-se rentável, exibido em salas,
cinemas, cidades, países numa escala globalizada. E como Benjamin não tem uma
posição hostil ao cinema, ele enquanto arte é o melhor exemplo dessa nova
característica.
Nunca
é demais repetir que a conversação é
um processo pelo qual se procura “chegar a um acordo”. Faz parte de toda
verdadeira conversação o atender realmente ao outro, deixar valer os seus
pontos de vista e pôr-se em seu lugar, e talvez não no sentido de que se queira
entendê-lo como esta individualidade, mas sim no de que se procura entender o
que diz. O que importa que se acolha é o direito de sua opinião, pautado na
coisa, através da qual podemos ambos chegar a nos por de acordo com relação à
coisa. O que se diz é que não referimos “sua opinião a ele”, mas ao próprio
opinar e supor. Quando temos em mente realmente o outro como a individualidade,
como ocorre na conversação terapêutica ou no interrogatório de um acusado,
realmente não se pode falar de uma situação de possível acordo. Tudo isso, que caracteriza a situação do
pôr-se de acordo na conversação toma sua versão propriamente hermenêutica, onde
se trata de compreender textos.
Em outras palavras, como dizem
Heller e Féher, a abertura incerta e plural para as múltiplas possibilidades de
mudança eram amarradas por finalidades maiores como dignidade da vida, do
trabalho, do bem-estar material e da auto-realização pessoal. Isto permitia ao
sujeito fazer da figura imaginária da “contingência” pré-condição de um destino
desenhado por ele próprio. Numa cultura individualista, voltada para o apelo
constante à singularização do eu, a crença da autonomia do sujeito é
fundamental. Conceber-se como senhor da vontade é o que estrutura o amor
narcísico de si e o respeito aos iguais. A noção de indivíduo, como mostra
Ruwen Ogien, é normativa. Não descreve apenas um estado de coisas dos
organismos humanos; prescreve condutas; hierarquiza aspirações, em suma,
exprime preferências morais. Tudo isso, lembra Jurandir Freire Costa, levando
em conta “a imagem de um mundo sem fins ou com fins pré-fixados são um convite
à desconfiança no poder de criação do indivíduo, ideário que nos constitui
enquanto sujeitos morais. Perdida esta confiança, pouco resta, exceto a
sujeição ou a busca cega de afirmação a qualquer preço” (cf. Costa, 1996). A
destruição, muitas vezes pode tornar-se o único objetivo capaz de empolgar
povos ou indivíduos. O gozo com a morte, o sofrimento e a degradação de si ou
do outro é uma das características da espécie a que pertencemos.
O
dispositivo discursivo (Foucault) que transforma o espaço em lugar é efêmero,
mas adquire tal condição justamente por uma vivência temporal do indivíduo em
determinado lugar. O espaço público só adquire identidade quando praticado
pelos indivíduos através do contato físico e na esfera comunicativa (cf. Braga, 2012), pressupondo um tipo de
enraizamento - provisório - com tais lugares. As transições de um lugar a
outro, realizadas pelo coletivo de praticantes das cidades geram reverberações
constantes nas passagens de lugar para “lugar-praticado” (cf. Certeau, 1980),
de anônimos para portadores de identidade. Os lugares representam histórias
fragmentárias e isoladas em si, dos passados roubados à legibilidade por outro,
tempos empilhados que podem se desdobrar, mas que estão ali antes como
histórias à espera e permanecem no estado de quebra-cabeças, enigmas, enfim
simbolizações enquistadas na dor ou no prazer do corpo.
Vale
lembrar que em uma conferência, o Comandante David Gascon, da Polícia de Los
Angeles (EUA) apresentava uma visão sobre os acontecimentos daquela cidade, em
abril de 1992. Naquele ano, policiais brancos espancaram o negro Rodney King e
as cenas foram filmadas por um cineasta amador. Logo depois, o vídeo foi
exibido nas TVs americanas e de resto no mundo. No relato do Comandante Gascon,
a mídia explorou as imagens de forma implacável. Um ano depois, uma onda de
novos distúrbios ocupava as ruas de Los Angeles, após a absolvição dos
policiais envolvidos no caso. Para o Comandante, a mídia colaborou com os
distúrbios, insuflando contra a discriminação racial nos EUA. O que teria
também contribuído para agravar os fatos sociais (Durkheim) foi que, na época,
a cidade tinha um chefe de polícia que não era muito popular nos meios de
comunicação e entre alguns governantes.
Na tênue linha que
separa ideologia e pragmatismo é que caminha a análise do laureado cientista
político carioca Eurico de Lima Figueiredo (1980; 1988), no artigo: “Cinema,
Terror e Ideologia”. Ao menos neste aspecto, fora de dúvida, o autor infere de
forma adequada e conspícua sobre o modus
operandi de tal sociedade no plano ideológico. Ou seja,
“Todos
os impérios, em todos os tempos, procuraram impor seus desígnios tanto através
de seus poderes econômico, político e militar e - no que aqui mais de perto
interessa - ideológico. As artes e as ciências, as religiões e as filosofias
sempre serviram a esse propósito. Trata-se de armas tão sutis e refinadas
quanto mortíferas: atacam por cima, invadem a cabeça. O que é novo não decorre da
ação ideológica propriamente dita, tão antiga quanto os impérios, repita-se. A
novidade surge, por um lado, em função das constantes descobertas tecnológicas
e, por outro, das modificações da correlação de forças no plano das relações
internacionais onde os EUA ocupam estratégica posição. Nas telas, o vilão de
hoje pode ser o herói de ontem, e vice-versa. Rambo III (1988) é um bom
exemplo. Localizado no Afeganistão, um personagem que tem tudo para ser Osama
Bin Laden, hoje procurado ´vivo ou morto`, é aliado do principal protagonista,
Sylvester Stallone, na guerra em que o herói americano luta ao lado do povo
afegão contra os invasores soviéticos” (cf. Figueiredo, 1988).
De
outra parte, a célebre expressão de Auguste Comte, citada por Marx (1973: 22), leitor de Comte: “os mortos tolhem os
vivos!” (“Le mort saisit le vif!”), é de uma atualidade impressionante para a
“máquina de guerra” norte-americana, seja no plano individual, seja no plano
coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos). Vejamos: o total de civis mortos no
Iraque e no Afeganistão até hoje é de 873.344 (conforme a metodologia do IBC o
total cai para 82.077 mortos) contra 2.996 mortos norte-americanos. O que dá
uma média de 291.50 (27,39 pela metodologia do IBC) iraquianos e afegãos mortos
para cada norte-americano assassinado em 11
de setembro. Nos territórios ocupados pela Alemanha, a Wehrmacht tinha como
prática executar 10 civis para cada soldado alemão morto. Os números estão para
demostrar que quaisquer que seja a
metodologia quantitativa de contagem de corpos, os norte-americanos realmente
conseguiram ser primus inter pares.
Já superaram com folga os nazistas. O número de iraquianos e afegãos civis
mortos por causa das guerras norte-americanas já é consistentemente superior ao
de pessoas que morreram no atentado de 11
de setembro.
Nos
EUA oficialmente, um total de 558. 052 soldados morreram durante a Guerra Civil
Americana. Considerando soldados desaparecidos, o total sobe para
aproximadamente 620 mil. O número de feridos é de aproximadamente 275 mil na
União e de 137 mil na Confederação. Estes números fazem da Guerra Civil
Americana a mais sangrenta de toda a história dos Estados Unidos.
Aproximadamente 360 mil soldados da União e 198 mil da Confederação morreram. O
número de americanos mortos na Guerra Civil Americana é maior do que a soma de
americanos mortos durante todos os outros eventos da história militar dos
Estados Unidos, desde a Revolução Americana de 1776 até tempos atuais. Três
quintos de todas as mortes foram causados por doenças, um quinto por lesões e
ferimentos e apenas um quinto morreu diretamente em combate.
A
Guerra Civil Americana é considerada por vários historiadores como a “primeira
guerra moderna”. Do ponto de vista tecnológico e da indústria de armamentos, o
conflito gerou vários avanços na área militar. Táticas e armas foram criadas e
introduzidas, que seriam largamente usadas nas próximas décadas, até o começo
do século XX. Entre as principais inovações da guerra está a invenção de rifles
que podiam atirar várias balas antes de serem recarregados, e o uso das
primeiras metralhadoras. Foi, outrossim, a primeira guerra onde balões foram utilizados
com o propósito de patrulhamento aéreo. Pela primeira vez, ironclads foram utilizados em guerra, bem como submarinos capazes
de destruir outros navios. Minas terrestres e aquáticas foram outras inovações.
Além disso, pela primeira vez na história mundial, ferrovias foram usadas para
movimentar um grande número de soldados de uma região para outra, em questão de
poucos dias. O telégrafo também foi usado, para comunicação, pela primeira vez.
Enfim, é considerada “uma guerra moderna por causa da grande destruição gerada.
Foi a primeira guerra total do mundo, onde todos os recursos disponíveis foram
usados por ambos os lados para os esforços de guerra”.
Para
o que nos interessa, os Estados Unidos tem uma macabra tradição de “Atiradores
Solitários” (em alguns casos já se registrou a ação de duplas ou grupos de
atiradores) nos últimos anos todos os ataques ou a maioria deles foram
realizados em escolas e universidades norte-americanas, há muito tempo algo do
gênero não acontecia em um cinema. Holmes abandonara recentemente, “de forma voluntária”,
o programa de neurociência da faculdade de Medicina da Universidade do Colorado.
O Massacre de Virginia Tech foi um assassinato em massa em ambiente escolar que
ocorreu em 16 de Abril de 2007 no Instituto Politécnico e Universidade Estadual
da Virgínia (conhecido como Virginia Tech), em Blacksburg, Virginia, Estados
Unidos da América. Morreram 33 pessoas, incluindo o “solitário atirador”, e 21
pessoas ficaram feridas. É o mais mortífero ataque a uma universidade na
história dos Estados Unidos.
O
atirador, Cho Seung-Hui no segundo dos dois ataques no campus do Instituto
Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia, na localidade de Blacksburg,
era um estudante sul-coreano da instituição, revelou hoje o presidente da
universidade. Apesar de não dizer explicitamente que o estudante também foi o
responsável pelo primeiro incidente, ele disse que não acredita que houve um
segundo atirador. Foram mortas duas pessoas num dormitório da universidade,
West Ambler Johnston Hall. Duas horas depois invadiu o prédio da engenharia
(Norris Hall) e mataram outras trinta pessoas, para depois se suicidar com um
tiro na cabeça. “Sabemos que era um asiático - no segundo incidente - um
asiático que era residente em um de nossos dormitórios”, disse o presidente
(reitor) da Virginia Tech, Charles Steger, revelando pela primeira vez que o
assassino era um estudante. O teste de balística posterior confirmou que a
mesma arma foi usada para os dois ataques. A chacina desta sexta-feira é o pior
episódio desde o massacre de 33 estudantes na universidade Virgínia Tech, em
2007, e aconteceu a apenas 20 quilômetros do massacre do instituto de
Columbine, onde em 1999 dois alunos mataram 13 pessoas antes de se suicidarem. Numa
nação impulsionada em 2001 ao medo do terrorismo, mais uma vez um capítulo
triste é escrito por um indivíduo sem nenhum tipo de envolvimento político, mas
marcado pela reclusão e pela discrição. Bibliografia geral consultada:
GRUZINKI, Serge, A guerra das imagens: de Cristóvão Colombo a
Blade Runner (1492-2019). São Paulo: Companhia das Letras, 2006; EISENSTEIN,
Sergei M, Encouraçado Potemkim (Bronenosets Potymkin, URSS, 1925); Idem,
Reflexões de um Cineasta. Lisboa: Arcádia, 1972; ENZENSBERGER, Hans Magnus, Palaver. Politische Überlengungen
(1967-1973). Suhrkamp Verlag /Frankfurt am Main, 1974; MARX, Carlos, El Capital. Crítica
de la Economía Política. Libro Primero. Buenos Aires: Editorial
Cartago, 1973, 3 volumes; BENJAMIN, Walter, L`opera
d`arte nell`epoca della riproducilità técnica. Turim: Einaudi, 1966; FIGUEIREDO,
Eurico de Lima, Os Militares e a
Democracia. São Paulo: Graal, 1980; Idem, “Cinema, Terror e Ideologia”.
Disponível no site: http://www.achegas.net/numero/um/eurico_fhtm; BACHELARD,
Gaston, “A Poética do Espaço”. In: Coleção Os
Pensadores. São Paulo: Abril cultural, 1978; CERTEAU, Michel de, L` Invention du Quotidienne. Vol 1. Arts de Faire. Paris: Union Générale d` Éditions
10-18, 1980; MARCUSE, Herbert, Eros e
Civilização. Uma Interpretação Filosófica do Pensamento de Freud. 8ª
Edição. São Paulo: Guanabara Koogan, 1966; GUATARRI, Felix, Revolução Molecular: pulsações políticas do
desejo. São Paulo: Brasiliense, 1980; FREUD, Sigmund, Obras Completas. Madrid: Editorial Biblioteca Nueva, 1972, 3
Volumes; COSTA, Jurandir Freire, “Laboratório social de assassinatos”. In: Jornal
Folha de São Paulo, Caderno MAIS!, Domingo, 31 de março de 1996, pp. 3-5; BRAGA, Ubiracy de Souza, “Massacre de Eldorado dos
Carajás: 15 anos de impunidade”. In: http://espacoacademico.wordpress.com/2011/04/30/massacre-de-eldorado-dos-carajas-15-anos-de-impunidade/; Idem,
“Franz Kafka e a figura paterna em Praga”. Disponível em: http://www.oreconcavo.com.br/2011/08/05/franz-kafka-e-a-figura-paterna-em-praga/, entre
outros.
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