A teoria durkheimiana:
A sociedade formadora do homem versus o homem formador da sociedade e um exemplo do campo político.
(Graduado em Ciênciais Sociais pela Universidade Estadual do Ceará e Mestrando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará)
*ANA HELENA BARBOSA
(Aluna do 1º semestre do curso de Ciênciais Sociais da Universidade Federal do Ceará)
(Aluna do 1º semestre do curso de Ciênciais Sociais da Universidade Federal do Ceará)
referência bibliográfica:
MOURÃO, Pedro. Jorge C., BARBOSA, Ana Helena Nascimento. A teoria durkheimiana: A sociedade formadora do homem versus o homem formador da sociedade e um exemplo do campo político. Disponível em http://cienciasocialceara.blogspot.com/2010/04/teoria-durkheimiana-sociedade-formadora.html. Acessado em 19 de abr. 2010.
Entendo que no pensamento durkheimiano existe um ponto de profunda relevância para qualquer pesquisa na área de ciências sociais, a metodologia fundada por ele.
No capitulo II da obra Regras do método Sociológico ele tenta explanar sobre forma de observar o objeto de estudo. de forma imparcial e concreta. No texto, ele almeja que o sociólogo trate e veja o fato social como uma “coisa”, algo sem forma pré-determinada ou prejulgada, sendo esse “fator” social algo que esta posto perante aos agentes sociais. Durkheim define seu objeto de estudo, no capitulo I, ele define que fato social é algo exterior aos indivíduos, pois eles a percebem de maneira difusa na sociedade e não neles próprios. Ela tem outra característica, tem a capacidade coercitiva, pois os “induz” a ter um certo tipo de conduta social independente da consciência individual e também tem ação geral, pois “o fato social generaliza-se por ser social, mas não é social porque se generaliza” (DURKHEIM:2002.p.31).
Inicialmente, definiu-se o objeto dessa ciência, o fato social, de forma que iniciasse as regras para sua observação e análise em campo. Esse processo de “coisificação” do fato social para que sua observação seja ao máximo insenta de pré-noções do senso-comum. Entendo que esta foi uma das maiores contribuições de Durkheim para a ciência humana, pois é a partir da forma como o autor trata o fato social, se distanciando dele, buscando não imprimir projeções de si mesmo sobre o objeto é que o cientista social pode e deve observar com mais clareza o objeto pesquisado. Porém essa mesma forma de tratar o fato social pode ser uma “faca de dois gumes”, porque na medida em que o cientista tenta se afastar de pré - noções ele também se afasta do próprio fato como um todo, perde os sentidos sociais que são atribuídos ao objeto e acaba por cair em uma armadilha cognitiva que ele próprio criou.
Maneira de constituir objeto positivo da investigação; agrupar os fatos e segundo suas características exteriores comuns. Relações do conceito assim forma do com o conceito vulgar, Exemplos de erros a que nos expomos ao negligenciar esta regra ou aplicá-la mau: Spencer e sua teoria sobre a evolução do casamento; Garofalo e a sua definição de crime; o erro comum que recusa a moral as sociedades inferiores. Que a exterioridade das características que entram nestas definições iniciais não constituam um obstáculo as explicações cientifica.(DURKHEIM:2002.p.41)
Neste trecho Durkheim sintetiza toda a sua preocupação com esta forma de enxergar o fato social, e ai ele mostra vários pensadores que ele julga terem caído “sem querer” no erro de buscar no indivíduo as respostas para o social; Spencer, Garofalo, etc. Ele diz que: “Estas características exteriores devem, além disso, ser o mais objetiva possível. Método para o conseguir; aprender os fatos sociais de modo que se apresentem isolados das manifestações individuais”.(DURKHEIM, 2002: 41. )
Essa objetividade que Durkheim mostra é a característica da abordagem positiva, em que a sua busca incessante pela imparcialidade científica o leva a cair nesta armadilha positivista. Porém, o julgamento positivo a que Durkheim se dispõem é um mote das Ciências Sociais, e esse “caminho” o liberta das falsas evidências que dominam o espírito do vulgar.
O rigor metodológico herdado da teoria de Durkheim é uma herança fundamental para a formação das ciências sociais. Podemos notar isso claramente na obra O suicídio, onde ele inicia tecendo uma pesquisa bibliográfica sobre o tema, citando inúmeras fontes científicas ou não que descrevem o tema. Durante o processo de descrição do objeto o autor vai sistematicamente analisando os dados e dialogando com a teoria, traçando assim um modelo de discussão sobre a concepção do objeto pelo senso comum e a ciência. Vemos esta mesma herança presente no pensamento bourdiesiano, quando ele trata da noção de que as estruturas agem sobre os indivíduos e os indivíduos agem sobre as estruturas, ou seja, homem sendo influenciado por sociedade.
Podemos identificar a estreita relação entre o fato social e o caso da passagem da herança política de pai para filho no campo político. Para o herdeiro, a obrigação de receber tal herança tem força exterior a ele, se apresenta de maneira coercitiva. Esse exemplo é mostrado na matéria publicada com o título, “Política de pai para filho”, da página eletrônica do jornal O POVO do dia 07/10/2006, a lista dos deputados estaduais eleitos para a 27ª legislatura da AL-CE mostra que 9 (nove) dos 46 (quarenta e seis) parlamentares (cerca de 20%) são parentes dos atuais ou de recém-ocupantes de cadeiras na Assembléia Legislativa do Ceará. São pais, maridos, filhos e irmãos que se candidataram e foram eleitos no lugar de membros de suas famílias. (O POVO, 2009)
Dois dos Deputados Estaduais que serão pesquisados em minha dissertação, Lívia Arruda (PMDB) e Tomás Figueiredo Filho (PSDB), ambos são filhos de pais que tiveram cargos eletivos. O pai de Lívia, José Gerardo Arruda é sobrinho de ex-Senador Esmerino Arruda e do ex-Deputado Federal Vicente Arruda. A mãe de Lívia Arruda é Inês Arruda, que é ex-Prefeita do município de Caucaia, filha da ex-Deputada Maria Lúcia Correia e nora do ex-Deputado Estadual Edson da Mora Correia. A tradição política na Família da Deputada Lívia Arruda é forte. Entendo que essa tradição na política é algo experimentado pelos herdeiros como uma condição independente e preexistente a eles.
Tomás Figueiredo Filho, é filho de Cândida Maria de Paula Pessoa e Tomás Figueiredo. Seu pai é ex-Prefeito do município de Santa Quitéria e sua mãe é ex-Deputada Estadual. Cândida é nora do ex-Deputado Estadual Chico Figueiredo , cunhada do ex-Deputado e ex-Ministro do TCE, Alexandre Figueiredo.
Entendo que trabalhar os “porquês” de não poder instrumentalizar plenamente a teoria durkheimiana sobre a questão da formação social de um político é um exemplo essencial interessante sobre os limites de qualquer teoria. Dentro da concepção positivista de Durkheim os objetos de análise perdem sua historicidade juntamente com a percepção dos diversos sentidos sociais que já foram atribuídos aos objetos.
Para dar maior propriedade à minha crítica sobre inaplicabilidade plena da teoria durkheimiana ao meu objeto de estudo recorro ao pensamento de Zygmunt Bauman, quando ele afirma que:
Durkheim desnudou e expôs a ‘natureza social de Deus’, tendo mostrado que, em todos os tempos, mesmo nas eras de maior devoção religiosa, Deus nada mais era que a sociedade disfarçada, os mandamentos da sociedade revestidos de caráter sagrado e, portanto, inspirando medo e terror. (...). Em vez de secularizar Deus, Durkheim deificou a sociedade.(...). Ocasionalmente, Durheim permite-se usar um estilo que poderia ser considerado genuinamente teológico, confirmando assim, embora de uma forma paradoxal, que Deus e a sua sociedade diferem apenas no nome. (Bauman, 1977: 31-32)
Nem de longe, em meu projeto de pesquisa para a dissertação pretendi tornar o “fato social” invencível, ou fazer a sociedade prevalecer perpetuamente sobre a subjetividade dos agentes. Posto que, os Deputados Lula Morais, Dedé Teixeira dentre outros não compartilham da situação de hereditariedade política, porém se tornaram Deputados tanto quanto os herdeiros.
Pergunto-me, se a sociedade é que determina os homens de acordo com o pensamento de Durkheim, então quem determina a sociedade? Esse é o grande dilema do pensamento durkheimiano. Para Durkheim, a sociedade é um fator determinante sobre as consciências individuais, a sociedade não é um mero conjunto de indivíduos amontoados. Quando os homens entram em contato uns com os outros surge um esprit de corp, espírito do corpo, que é a moralidade, então ela começa agir sobre os indivíduos independente da vontade deles e os coagem a fazer ações e manter certas condutas. A palavra-chave para entender o pensamento de Durkheim é coletividade, no sentido que não podemos avaliar a sociedade toda através de uma análise sobre um individuo, tirar o todo pela parte pela parte. Pois um indivíduo não é um elemento fac-simile da sociedade de onde está inserido. O fenômeno "sociedade" é algo que está além dos homens, no sentido que um homem isolado não age da mesma forma se estivesse em grupo.
De certa forma o parágrafo acima é uma síntese descritiva do fato social, coerção social, consciência coletiva, totalidade, no entanto isso não deixa claro o que é o objeto da sociologia. Essa Sociedade, suprema, abstrata, que influência, impõe, divide os indivíduos, a sociedade é algo que tem efeitos concretos sobre as pessoas, porém é algo difícil de ser visualizado em si. A alternativa aqui é buscar observá-la quando ela se materializa através dos indivíduos, devemos então analisar as ações e obras humanas onde esse fenômeno pode ser observado com maior clareza, leis, moda, linchamento, consciência coletiva, etc.
Porém o aspecto da importância da subjetividade dos indivíduos não é valorizado pelo autor, o individuo é mostrado como um sujeito passivo perante a sociedade, e que individualmente não tem grande influência na formação da sociedade. Mas vale lembrar que Durkheim escreveu no século XIX, sua obra é datada e tem suas limitações como qualquer outra teoria, No entanto seu pensamento é um clássico porque o enxergou a força que a sociedade exerce sobre os indivíduos.
Todavia, o que é que influencia as mudanças na estrutura da sociedade e as transformações nos fatos Sociais? O grande protagonista da sociedade para Durkheim é a coletividade. No livro, A sociedade dos indivíduos, de Norbet Elias, é mostrado uma metáfora sobre a construção de uma casa que pode ser observado da seguinte forma. O que faz uma casa? É um monte de tijolos amontoados? Não, é a forma como esses tijolos são encaixados que dá ao monte de tijolos o nome de casa. A casa é um monte de tijolos organizados de uma determinada forma que confere adquire caráter de casa. A humanidade baseia sua forma de organização no o estilo de vida dos antepassados porque é como nós é passado esse conhecimento e fazemos isso sem perceber. É preciso entender aqui que as Ciências Sociais estuda coisas imateriais que se manifestam através das pessoas, mas elas não conseguem controlar plenamente esses fenômenos. Nos somos “caça fantasmas”, quando buscamos compreender o que são essas coisas imateriais como a Sociedade, o que é um País, a política, a moral ou a cultura, e esses fantasmas só se manifestam em alguns momentos quando tentamos agir contra a lógica deles.
Referências bibliográficas:
BAUMAN, Zygmunt. Por uma Sociologia crítica. Rio de Janeiro: Zahar,1977.
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Lisboa: Difel, 1989.
DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. São Paulo, Ed. Martin Claret, 2002.
ELIAS, Norbert. Sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
O POVO. Em família: política de pai para filho. http: //WWW.opovo.com.br.html, Acessado em 20 mar. 2009.
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