Um bom sociólogo é um bom
escritor:[1]
Dicas, Princípios,
observações e conselhos não convencionais
para os novos estudantes de pós-graduação[2]
para os novos estudantes de pós-graduação[2]
Harry G. Levine
Departamento de Sociologia
Queens College, City University of New York
Tradução de Pedro Jorge Chaves Mourão
LEVINE, Harry G. Um bom sociólogo é um bom escritor. Tradução.
Pedro J. C. Mourão. Fortaleza: S/Ed. 2013. Disponível em: http://cienciasocialceara.blogspot.com.br/2013/01/um-bom-sociologo-e-um-bom-escritor.html
A primeira vez que estudei sociologia foi como estudante de graduação na Brandeis University. Lewis Coser e Philip Slater foram meus professores e exemplos. Eles me convidaram para ajudar em uma tese e me ensinaram “como fazer sociologia[3]” corrigindo meus rascunhos. Quando Coser realmente gostava de um capítulo, ele rabiscava "Bravo" no topo da primeira página, e então ele editava o texto com suas observações. O inglês foi a terceira ou quarta língua que aprendeu, ele era um escritor muito bom e um editor maravilhoso.
Eu fui para a
faculdade em Berkeley em 1970. Os alunos em Berkeley quase não recebiam lições
de como fazer sociologia profissionalmente, comparado com o que Coser e Slater
tinham me ensinado. Eventualmente, eu entendi que minhas experiências de
graduação eram incomuns comparadas aos pós-graduandos mais típicos.
Em 1978,
quando eu terminei a minha dissertação, "publicar ou perecer" foi o meu
lema. Essa é a lógica no mundo de alta tecnologia de e-mail e internet conectando
o mundo no século XXI. O mercado de trabalho limitado para doutores
significa que uma carreira de sucesso como um sociólogo-pesquisador[4] requer
ser um escritor publicável e moderadamente produtivo. Mesmo com essa realidade
econômica, a pós-graduação, na maioria das áreas, ainda raramente fornece
preparação para uma escrita publicável ou para a carreira docente. Bem ou
mal, os professores mais bem sucedidos aprenderam a escrever por conta própria.
Alguns anos
atrás, fui convidado para falar sobre ser um sociólogo em um seminário para
novos estudantes de doutorado no centro de pós-graduação da University of
New York. Eu aproveitei a ocasião para resumir algumas das coisas mais
úteis que eu aprendi ao longo dos anos sobre a escrita sociológica. Eu
gostaria que alguém tivesse dito estas coisas para mim. Como todos os
conselhos, essas "dicas, observações e princípios" não devem ser levadas
ao pé da letra.
1. Um
bom sociólogo é um bom escritor
Tornar-se um
bom escritor é um passo inteligente para a carreira de sociólogo, pois o
sociólogo é acima de tudo um escritor. Para nós sociólogos, a escrita é a
nossa ferramenta e nosso ofício. Acadêmicos de todas as áreas, que escrevem
bem, tem maior facilidade para conseguir editoras e leitores. Escritores ruins
e sem graça tem dificuldade de serem lidos e levados a sério[5]. Poucos
alunos entendem isso quando começam a pós-graduação. Aprenda isso agora. Compreenda
que os grandes pensadores pensam em si mesmos como escritores. Se você começar
a pensar em si mesmo como um escritor, e tentar se tornar um bom escritor, você
estará se destacando da maioria dos sociólogos.
Bons
escritores têm sempre seus rabiscos guardados. Anote sempre suas reflexões,
mesmo que desorganizadas. Até notas confusas e incompletas podem ser muito
úteis mais tarde. Tome notas sobre sua vida. Copie trechos de livros e
frases interessantes que tenha ouvido.
Bons
escritores escrevem com frequência. Quando for escrever uma
correspondência não se prive de usar plenamente as palavras. Escreva
poesias, ensaios, notas de leitura e de campo, experiências pessoais e
descrições detalhadas de coisas que são familiares a você. Mantenha
diálogos por e-mail para escrever com frequência. Escreva, escreva, escreva.
Para fazer uma
boa sociologia nós precisamos aprender as habilidades dos contadores de
histórias e dos grandes mestres de todas as áreas do conhecimento. E todos
nós somos obrigados a aprender por conta própria. Portanto, temos que aprimorar
a escrita por conta própria. Recomendo comprar, ler e reler The
Elements of Style de Strunk e
White[6],
e On Writing Well de William Zinsser. Os escritores profissionais
bem sucedidos estão sempre aprendendo mais sobre seu ofício, mesmo quando eles
estão revendo o que já sabiam e esqueceram.
A primeira regra
da boa escrita é: escreva com clareza[7]. Você
precisa tornar a sua escrita de fácil entendimento para o leitor assimilar o
que você está dizendo. Deixe a mensagem clara e saia do caminho do
leitor. Use frases curtas, varie o comprimento das frases no parágrafo, e
use palavras difíceis com moderação. Até certo ponto é bom que o escritor “desapareça”
do texto. Ao escrever de forma clara você ajuda o leitor a aceitar que o que você
está dizendo é verdade. A ciência é em parte uma estratégia retórica.
A segunda regra
da boa escrita é: Escreva na voz ativa. Ou, escreva na voz passiva e
depois metodicamente edite seu texto de volta para a voz ativa[8].
Sociólogos
tendem a focar em forças e tendências sociais, enquanto deixando de mencionar
(ou mesmo pensar) a vida, a respiração, os atores humanos. Por exemplo:
"O padrão foi criado", "a política foi alterada", e "A
companhia Ford Motors foi processada".
Todas as três
frases deixam em aberto quem fez a criação, a alteração e o processo. A
escrita na voz ativa exige que nós deixemos os atores explícitos. Em vez
disso, diga: "Os Beatles criaram o padrão", "Eleanor Roosevelt
mudou a política" e "os parentes das pessoas que morreram em chamas
processaram a companhia Ford Motor". Se não conseguimos dizer
claramente quem são os atores, provavelmente precisamos de mais informações
sobre os fatos ocorridos.
A terceira regra
da boa escrita é: Organize bem o seu texto. Quando eu era um estudante de
pós-graduação, um escritor de sucesso me contratou para ajudar a escrever um
texto. Sua única recomendação foi: "apenas certifique-se de usar segmentações
de A, B, C e 1, 2, 3 ". Ele quis dizer que uma texto deve ser bem
organizado, que os temas devem ser agrupadas em parágrafos e seções. Seguir
esse conselho e melhorar a organização de uma obra geralmente envolve a organização
da estrutura do texto. Portanto, a organização das partes do texto é sua
amiga.
A quarta regra
da boa escrita é: Dar o seu trabalho para várias pessoas,
principalmente aqueles que escrevem com clareza. Primeiro, peça que
digam o que gostaram no texto, o que ficou bom e o que acharam interessante. Todo
leitor vai ter críticas. Embora necessário, a crítica pode ser desanimadora. Os
amigos sempre irão demorar para lhe dizer o que acharam sobre seu texto. É
difícil conseguir deles uma resposta imediata. Então peça para darem exemplos
específicos de coisas que gostaram. Reafirme para eles em suas palavras e a mensagem central do manuscrito. Mostre sede
de conhecimento. Tente produzir o que seus leitores gostam. Force
seus interlocutores a sugerir frases alternativas e soluções específicas para
os problemas que eles encontraram. E leve as sugestões a sério. Se
dois leitores de confiança encontrarem uma frase, parágrafo ou seção confusa, mude
- mesmo se você acha que é a melhor coisa que você já escreveu na vida.
A boa escrita
vem da reescrita. Eu costumo escrever pelo menos 4 a 6
rascunhos de coisas importantes, e às vezes letra por letra. A reescrita
significa releitura, olhando de novo e de novo para as palavras, frases e
sentenças desnecessárias e inadequadas. Mark Twain disse uma vez "A
diferença entre a palavra certa e a palavra quase certa é a mesma diferença
entre um raio e um vaga-lume.".
A quinta regra
da boa escrita é: Edite o trabalho de outras pessoas. Este é, de fato,
a única maneira de se tornar competente em editar o seu
próprio trabalho. É muito mais fácil ver os problemas em escritos de outras
pessoas do que no seu.
Edite o seu
trabalho, divida suas sentenças. Corte suas redundâncias, reorganizar seus
parágrafos, reescreva suas sentenças na voz ativa, dê alternativas para frases,
peça para desenvolver melhor as ideias mal formuladas. A longo prazo, a edição generosa
que você fizer aos outros será a ação mais egoísta que você já fez. Escrever é
um trabalho solitário. Escritores ficam sozinhos por muito tempo, olhando o
texto no papel ou na tela do computador, dialogando com ele. Ao editar o
trabalho de outras pessoas, escrever para pessoas que conhecemos, aprender o
que os leitores inteligentes gostam de ler, incorporando as sugestões ao texto,
isso torna o trabalho menos solitário e muito melhor.
2. Escrever
uma pesquisa: contar histórias a partir de dados.
Nosso
trabalho como sociólogos, estudiosos, escritores e professores, é contar
histórias. Nunca se esqueça, e nunca aceite qualquer interpretação do seu
trabalho que não inclua a ideia de que você é um contador de histórias. Você
é um contador de histórias que conta histórias reais.
Para contar
boas histórias é preciso dados, geralmente dados fieis, e se possível de muitos
dados. Somente com dados fieis se pode escrever uma boa história. Os
dados vêm em todas as formas - números, imagens, palavras, gravações,
artefatos, pixels, o que seja. Ao contrário do que pensam muitos
estudantes de pós-graduação, sociólogos e jovens universitários que estão
tentando ter suas pesquisas publicadas, os dados obtidos sem teoria são
melhores do que estudar uma teoria sem relacionar com dados.
Para obter boas
informações é preciso fazer uma pesquisa antes. Temos que sair de casa, conseguir
os dados, trazer para casa, e trabalhar com eles. Felizmente, as
pós-graduações de Sociologia dão suporte para a aprendizagem das técnicas básicas
de pesquisa, outra possibilidade é encomendar a captação dos dados através de
empresas de pesquisa[9]
que podem fazer um ótimo serviço. Para a maioria dos projetos de pesquisa é
fundamental ter curiosidade, persistência, sorte e algum recurso.
Para contar
boas histórias a partir de dados, nós temos que perceber o que interpretamos e o
que queremos dizer. Isso requer reflexão. A maior parte do tempo, o escritor
passa pelo processo de bloqueio de escrita. Às vezes, o
bloqueio na escrita é causado por falta de dados, e para resolver isso temos que
refletir sobre o que temos. Se você achar que está com bloqueio para
escrever é preciso tomar isso como um sinal de que está precisando pensar mais
sobre o que está tentando escrever, e que também pode precisar de mais informações.
Temos de encontrar histórias para contar usando a interpretação dos dados.
Todo mundo
faz alguma reflexão enquanto está escrevendo. No entanto, muitos problemas
são resolvidos longe do teclado. Andar, caminhar, tomar banho, andar de
bicicleta, dirigir, ler, ouvir música, ou simplesmente se encostar em uma
parede às vezes pode estimular a reflexão e a escrita para algumas
pessoas. Conversar com amigos e colegas também pode ajudar muito. E
alguns escritores só conseguem refletir sobre os dados quando estão escrevendo. Nesse
caso, reescrever é ainda mais importante.
Encontre um
modelo de formato de pesquisa[10]. Livros
e artigos acadêmicos que tenha afinidade como o trabalho que você quer
fazer. Se não podemos encontrar bons exemplos do tipo de pesquisa e de
forma de escrita que nós queremos fazer, nós provavelmente não teremos condição
de executar esse projeto.
Busque ler
periodicamente revistas de alto nível acadêmico. Um sociólogo sério é um verdadeiro
intelectual, alguém que joga de forma criativa com ideias e linguagem. Por
isso, leia os melhores intelectuais que escrevem na atualidade. Estude
suas obras e imite. Compre seus livros, ou pegue na biblioteca emprestado
e leve para casa, mesmo que não vá conseguir ler tudo. Todos os bons
estudiosos fazem isso. Para ser um intelectual competente também é preciso
aprender a história do que se estuda. Quanto mais se sabe sobre a história
do nosso tema, mais fácil será escrever sobre ele em qualquer campo, e melhor o
trabalho fica.
Ao escrever
um artigo, eu recomendo começar trabalhando com dados específicos, com um caso,
e no final buscar desenvolver generalidades a partir dele. Use a teoria
para explicar os dados. Conte a história a partir dos dados empíricos se
orientando pela teoria. Depois de apresentar as interpretações sobre os
dados, se assim desejar, poderá sair de trás “das cortinas” e explicar melhor
as suas intenções no texto. Ao contrário de historiadores, sociólogos
tendem a fazer o oposto - a começar com uma generalização ou hipótese. Eu
acho que os sociólogos têm muito a aprender com historiadores sobre contar
histórias.
Fazer um
argumento é criar uma história. Um trabalho científico deve apresentar uma
ou duas mensagens centrais e argumentos que os apoiem. Um trabalho deve
narrar os fatos em torno do objeto de estudo e buscar traçar uma generalidade a
partir deles. A teoria é uma história contada em um nível um pouco mais elevado
de abstração, no entanto, não passa de uma narrativa. Se algo não pode ser
contado como narrativa, então não faz sentido. E, se algo não faz sentido,
não faz sentido contar. Porém, não tenha medo de não fazer sentido. As
mesmas perguntas que podem ser impostas ao seu trabalho podem ser aplicadas ao
trabalho de qualquer outra pessoa: Qual é o ponto defendido? Qual é o
argumento? Qual é a história?
Desenvolva
relacionamentos com outras pessoas que estão estudando o mesmo tema que o seu
ou temas semelhantes. Leia seus escritos, converse por e-mail, fale com
eles por telefone. Tente fazer deles seus amigos. No século XXI,
temos a possibilidade de manter relações de trabalho, e até mesmo amizades
íntimas com as pessoas que raramente vemos.
Escrever e
pesquisar com outra pessoa pode ser algo divertido e produtivo. Duas
pessoas podem ser mais espertas do que uma, e um trabalho escrito por duas
pessoas pode ser mais interessante do que qualquer trabalho que uma das duas poderia
fazer sozinha. Mas a colaboração entre duas pessoas não torna o trabalho
menos complexo. Um bom trabalho escrito por duas pessoas leva pelo
menos duas vezes mais tempo para ser feito do que um trabalho escrito por
uma pessoa. Para fazer um bom trabalho sociológico, muitas vezes é necessário conhecer
a fundo pelo menos duas áreas do conhecimento. Para fazer uma boa
sociologia histórica, antes eu tenho que trabalhar bem com a sociologia e com a
história. Ter a expertise em
dois ou mais campos é necessário para muitos tipos de projetos de pesquisa e
áreas de estudo. É necessário muito esforço para alcançar profundidade em
dois campos, mas as recompensas pessoais, intelectuais e profissionais são
substanciais.
3. Ser
um sociólogo
Meu velho
amigo, Jerry Himmelstein, escreveu um trabalho de graduação em seu último ano
na Universidade de Columbia. Jerry trabalhou arduamente durante todo o
ano. Nas últimas semanas ele virava dias e noites para concluir o trabalho. Já
exausto, ele entregou a monografia no escritório de seu orientador. O orientador
pegou calhamaço pesado, folheou-o brevemente e disse:
"Bom
trabalho Himmelstein - você está querendo ir para a pós-graduação em
sociologia, não é?"
"Sim, eu
estou", respondeu Jerry orgulhosamente.
"Bem",
disse o professor, "se você trabalhar duro, e se você for muito bom, você
conseguirá fazer isso para o resto de sua vida."
Por que
alguém iria querer fazer isso ?
Estou feliz
de ser um sociólogo por várias razões, sobretudo por não ser um trabalho tão
alienante. Gosto de ensinar e agora estou ficando muito bom
nisso. Mas eu tenho sido contratado, pago, e promovido para aprender
coisas e escrever um pouco do que eu aprendi. A escrita ainda hoje é algo
difícil para mim, mas o aprendizado é fantástico. Como sociólogo eu posso estudar
sobre quase tudo que eu quero.
Uma das
melhores coisas de ser um sociólogo, é que podemos ir a qualquer lugar, não ver
nada, não ler nada, não falar com ninguém, e sempre poderemos dizer que estávamos
fazendo trabalho de campo. E pior que podemos realmente estar fazendo
trabalho de campo. Ninguém sabe o que será útil para nossos escritos ou nossas
aulas - e nós certamente também não sabemos. Como disse Edward Brecher, “certas
coisas não aparecem no resultado”.
O nosso
trabalho como sociólogos é aprender as verdades sobre o mundo social para
escrever sobre elas. Grande parte do tempo, talvez a maior parte do tempo,
nós não podemos estar indiferentes ou desinteressados. Mas podemos ser
honestos e sinceros sobre o que interpretamos. O mundo real é feito de
seres humanos e dificilmente é da forma como gostaríamos que fosse. As
ações das pessoas, palavras e criações são muitas vezes surpreendentes, até
mesmo peculiares, estranhas ou bizarras. Nossa tarefa como sociólogos é
descrever de maneira mais clara e honestamente possível alguma parcela do mundo
social. Se você não acredita que existam coisas verdadeiramente importantes
a serem ditas sobre o mundo social e sobre o que as pessoas fazem, então você
está no campo errado. Considere uma carreira no direito, filosofia ou
economia.
Sociologia é
uma ciência. Não é uma ciência puramente positivista ao molde das ciências
naturais. Mas faz uso de muitas das ferramentas lógicas e empíricas das
ciências naturais. Todas as ciências, incluindo a sociologia, procuram
descrever e compreender o mundo. Mas a sociologia é também uma forma de
arte - entre muitas outras razões, porque é uma variedade de
literatura. (Robert Nisbet tem uma boa discussão sobre isso em seu
livro, A sociologia como uma forma de arte[11]).
Em Perspectivas
Sociológicas: uma visão humanística[12], Peter
Berger diz que a sociologia não é definida pelo que ela estuda, nem pelas
teorias e métodos que utiliza. Ele diz que a sociologia se distingue por
suas perspectivas, especialmente pela sua desconfiança em relação aos dados
obtidos. Berger oferece o que ele chama de “primeira verdade sociológica". A
ideia de que um campo acadêmico tem uma "primeira verdade" é inteligente
e ousado. A primeira verdade da sociologia de Berger é: as coisas não
são o que parecem ser. Eu gosto muito desse conceito.
Berger aponta
quatro características que ele considera centrais na escrita sociológica. Ele
chama de desmascaramento (desmascaramento no sentido de
revelar a verdade sobre algo), não-respeitabilidade (olhar o
mundo a partir da perspectiva dos não-respeitáveis, os perdedores), relativização (compreensão
de que quase tudo depende do contexto), e cosmopolitismo (uma
valorização da visão cosmopolita e da diversidade humana). Eu amo fazer
uma ciência com essas características. Todas essas características são
importantes, mas acho que a primeira é a mais importante. No mesmo sentido
de Berger, eu afirmo que os sociólogos bons são bons contadores de histórias, que mostram
que as coisas não são como parecem ser.
Eu sou um wrightmillsiano. Eu
acredito que decifrar os sentidos do mundo é um trabalho fascinante e
útil. Eu amo interpretar o mundo, e para isso eu preciso de uma representação
grande para poder me orientar e ter um parâmetro. Rotineiramente, eu busco
entender quem eu sou, o que eu quero, e o que eu sinto a partir da observação
do contexto histórico em que estou inserido em relação a minha
biografia. Eu entendo minha própria vida visualizando-a no contexto
político, econômico, cultural, institucional e histórico. Eu acredito que
a imaginação sociológica pode realmente ajudar as pessoas - coletivamente e individualmente
- para melhorar suas vidas, as tornando mais felizes, mais saudáveis e mais eficientes
em tudo que fazem. Acredito que com mais força do que nunca.
4. Boa
escrita como uma tradição sociológica.
Para C.
Wright Mills, escrever bem era fundamental para a tarefa de interpretar o mundo
social. Para Mills, entre as qualidades importantes que faziam seus heróis
- Emile Durkheim, Max Weber, Karl Marx, Georg Simmel, Sigmund Freud, W.E.H.
Lecky, Jackob Burckhardt, W.E.B. DuBois, Robert Park, Karl Manheim, Charles
Beard e Thorstein Veblen - a principal era
a de que todos eram escritores bons ou muito bons habilidosos com as palavras.
O que há em comum na maioria dos sociólogos bons ou apenas lidos na minha
geração, nas gerações anteriores, de vertentes políticas e perspectivas
sociológicas distintas, é que todos se viam como escritores e trabalharam duro
para conseguir uma boa escrita. Certamente, alguns sociólogos, a partir de
Talcott Parson a Harold Garfinkle, tiveram uma escrita densa, pesada, e prosa
com jargões cheios. Porém a escrita mais didática também tem se mantido
como uma tradição forte dentro da sociologia. Por exemplo, a partir de
meados dos anos 1930 até meados dos anos 1970, junto com C. Wright Mills e
Peter Berger, outros foram surgindo:
Robert Lynd, Helen Lynd, Lewis Coser, Rose
Coser, Phillip Slater, Alice Rossi, David Reisman, Everett Hughes, Helen
Hughes, Howard Becker, Robert Merton, Louis Wirth, Mirra Komarovsky, Alvin
Gouldner, Paul Cressy, Oliver Cox, Alfred Lindesmith, Seymour Lipset, William
F. White, Dennis Wrong, Jessie Bernard, Nathan Glazer, Elliot Liebow, Ralph
Miliband, Vance Packard, Robert Nisbet, Erving Goffman, Norbert Elias, Betty
Friedan, Michel Foucault, Irving Zeitlin, Eric Fromm, Phillip Reiff, Ralph
Daherndorf, Herbert Blumer, Arthur J. Vidich, Joseph Bensman, Ned Polsky, Ernst
Becker, Robin Williams, E. Digby Baltzell, Joseph Gusfield, John Seeley,
Raymond Aron, William Domhoff, David Matza, Robert Blauner, Kingsley Davis,
Reinhard Bendix, Herbert Gans, Daniel Bell, e Kai Erickson.
Na mesma
época, boa parte dos bons antropólogos, historiadores, cientistas políticos,
geógrafos, linguistas e filósofos também eram escritores hábeis. Suas
obras importantes resistem e continuam a ter importância para os estudantes e pesquisadores,
em parte, porque essas obras geralmente foram bem estruturadas em termos da
frase e de parágrafo. Têm surgido muitos cientistas sociais que são bons e
bem sucedidos, porque eles têm algo importante a dizer e dizem isso bem.
Devemos aprender com os seus trabalhos e exemplos. No final, somente
existem duas tarefas profissionais para o sociólogo - descobrir o sentido das
coisas através do trabalho sociológico e escrever sobre ele com habilidade.
Harry G.
Levine, Departamento de Sociologia, Queens College e Centro de Pós-Graduação,
Universidade da Cidade de Nova York, Flushing, Nova York, 11367. e-mail:
HGLevine@compuserve.com
[1] Agradeço
a contribuição dos amigos Vinicius
Frota, Napoleão Araujo Neto, Carlos do Valle, Diego de Almeida Alves
[2] Artigo
originalmente publicado em http://dharma.soc.qc.cuny.edu/soc/faculty/pages/levine/docs/a-good-sociologist.html
.
[3] No original “how to write sociology”.
[4]
Aqui ele faz uma distinção entre o ofício de sociólogo como pesquisador e como
professor.
Nos EUA essa diferença é mais clara devido a diversidade
do mercado de trabalho, já no Brasil essa distinção ainda é pouco aparente.
[5] Um
indício do fenômeno que Levine descreve pode ser percebido na transformação
linguística através das redes sociais eletrônicas e microblogs, como facebook e
twitter. Dificilmente, as pessoas leem textos grandes e complexos nas
mídias digitais, que cada vez mais ganham espaço no cotidiano dos
leitores.
[6] Ambos
sem tradução para o português:
STRUNK,
Jr., William; E.B. White. The Elements of Style. Boston: Ed Allyn & Bacon, 2009.
ZINSSER, William Knowlton.On writing well : the classic guide to writing nonfiction.New York: Ed First HarperResource Quill, 2001. Disponível em:. Acesso
em: 3 dez. 2012.
ZINSSER, William Knowlton.On writing well : the classic guide to writing nonfiction.New York: Ed First HarperResource Quill, 2001. Disponível em:
[7]
Lembro que durante minha própria pós-graduação meu orientador, Domingos Sávio
Abreu, sempre fazia a recomendação: Escreva como se sua avó fosse ler. Com isso
ele queria dizer para que eu não fosse prolixo na escrita.
[8] Um
exemplo de voz ativa: O deputado roubou o povo. Na voz passiva seria: O povo
foi roubado pelo deputado.
[9] No
mercado norte-americano existem diversas empresas que fazem pesquisa de
mercado, pesquisa de opinião e até especializadas em pesquisas acadêmicas.
[10]
Aqui o autor se refere à busca por um trabalho que possa orientar na confecção
da estrutura da monografia.
[11] NISBET,
Robert. A sociologia como uma forma de arte [orig. ingl.1962].
Trad.S.Garcia.Re.técn.H.Martins.Plural,Revista do curso de pós-graduação em
sociologia da USP, São Paulo, n.7, pp.111-130,10 sem.2000. Disponível em:
http://www.fflch.usp.br/ds/plural/edicoes/07/traducao_1_Plural_7.pdf
[12] BERGER,
Peter I. Perspectivas Sociológicas – uma visão humanística. Petrópolis: Vozes,
1986.
Parabéns pela iniciativa de traduzir e publicar o texto.Analisar sempre nossa escrita é muito importante para a profissão de sociólogo.
ResponderExcluirCerto que os prazos urgentes também rondam a contação de histórias e ser um bom contador requer prática e disciplina.
Chegaremos lá!
Show!!! copiei até algumas coisas...
ResponderExcluirParabéns, eu vou começar o curso de Ciências Sociais nesse semestre na UECE, e tava querendo ler um pouco...
Essas informações vão ser muito bem aproveitadas...
Me chamou atenção pelo tema...
ResponderExcluirRealmente muito bom.
Vou começar nesse semestre Ciências Sociais na UECE...
Tava procurando um artigo assim...
Parabéns..
Como estudante de Sociologia achei muito interessante.
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