Ubiracy de Souza Braga*
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* Sociólogo (UFF), cientista político (UFRJ), doutor em ciências (USP) junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha formam a
região metropolitana, na região do Cariri, sul do Ceará: a distância que separa
as 3 é de menos de 10 km. Crato e Barbalha são as cidades mais antigas,
fundadas no século XVIII. Juazeiro do Norte foi emancipada no início do século
XX pelo extraordinário Padre Cícero
Romão, que depois de morto “passou a ser considerado um santo pela maioria
absoluta dos católicos nordestinos” (cf. Della Cava, 1976; Silva, 1982; Aquino,
1997; Neto, 2009). Milhões de pessoas vão a Juazeiro do Norte todos os anos,
por causa do Padre Cícero. Na devoção popular, é conhecido como “Padim Ciço”.
Carismático, obteve grande prestígio e influência sobre a vida social, política
e religiosa do Ceará bem como do Nordeste.
Em março de 2001, foi escolhido “O Cearense do
Século” em votação promovida pela TV Verdes Mares em parceria com a Rede Globo
de televisão. Em julho de 2012, foi eleito um dos “100 maiores brasileiros de
todos os tempos” em concurso realizado pelo SBT com a BBC. Juazeiro do Norte
tem quase 250.000 habitantes, e é a maior cidade do interior do Ceará. Crato
tem quase 100.000 e Barbalha, mais de 50.000. As três juntas formam um complexo
urbano de mais de 400.000 habitantes. Trataremos de aspectos gerais desse
processo social de comunicação que
transcende a região vista como mero instrumento da ação política e/ou religiosa.
- “Ha um ano atrás surge a ideia de estimular o
contato entre os jovens da região CRAJUBAR, já que, Crato, Juazeiro e Barbalha
são três das cidades maiores e mais conhecidas do Cariri. Mas de que forma?
Sabemos que as redes sociais são, atualmente, um dos meios mais influentes e
mais utilizados por jovens em todo o mundo, sendo assim, as redes sociais foram
a melhor maneira para atrair os jovens e proporcionar a cada um deles a
oportunidade de manter o contato entre jovens de sua própria cidade e de cidades
vizinhas. Já que até então não havia nenhuma comunidade no Orkut voltada para
os jovens da região e pelo fato do Orkut ser uma das redes sociais mais
influentes entre os jovens do Cariri, surge a ideia de se criar uma comunidade
totalmente voltada para os jovens. Surge então a marca CRAJUBAR TEEN. A
comunidade atinge o seu objetivo e em pouco tempo ganha destaque entre os
jovens. Hoje estamos presente em quase todas as redes sociais e estreamos a
pouco tempo esse Blog. Quero agradecer desde então todos que colaboram e torcem
pela Crajubar Teen, todos os membros da comunidade, seguidores no Twitter,
amigos no Facebook e a toda galera que esta diariamente visitando o Blog. Para
comemorar essa data segue as fotos enviadas a Crajubar Teen, e mais uma vez,
obrigado pelo carinho e apoio!”.
Tim
Maia foi um cantor, compositor, produtor, maestro, multi-instrumentista e
empresário brasileiro, responsável pela introdução do estilo.....
...... soul na música popular brasileiro e reconhecido mundialmente como um dos maiores ícones da música no Brasil. Ele refere-se ao Padre Cícero da seguinte forma:
...... soul na música popular brasileiro e reconhecido mundialmente como um dos maiores ícones da música no Brasil. Ele refere-se ao Padre Cícero da seguinte forma:
“No sertão do Crato,/Nasce um homem pobre/Porém muito jovem,/porém muito
jovem/Todo mundo vai saber/Quem ele é/Este homem estuda,/Mesmo sem ajuda/Se
formou primeiro/E no Juazeiro/Todo mundo respeitou,/O padre Cicero, Padre
Cicero,/Padre Cicero, padre Cicero/Daí então tudo mudou,/De reverendo a
lutador/Desperta ódio e amor,/passaram anos pra saber/ Se era bom ou mal,/Mas
ninguém/Até hoje afirmou/Era um triste dia,/Pois alguém jazia/Cego, surdo e
pobre,/Cego, surdo e pobre/Desse jeito faleceu, o padre Cicero/Padre Cicero,
padre Cicero/Padim Ciço”.
O
multi-instrumentista Tim Maia, Rio de Janeiro, 28 de setembro de 1942 -
Niterói, 15 de março de 1998.
A
Região Metropolitana do Cariri (RMC) está localizada no estado brasileiro do
Ceará. Surgiu a partir da conurbação entre os municípios de Juazeiro do Norte,
Crato e Barbalha, denominada então Crajubar.
Foi criado por uma Lei Complementar Estadual nº 78 sancionada em 29 de junho de
2009. Somando-se a eles, foram incluídas as cidades limítrofes situadas no
Cariri cearense: Caririaçu, Farias Brito, Jardim, Missão Velha, Nova Olinda e
Santana do Cariri. Tem como área de influência a região sul do Ceará e a região
da divisa entre o Ceará e os estados de Pernambuco, Paraíba e Piauí. O Metrô do
Cariri foi construído para interligar as cidades do núcleo da RMC e ser o
principal meio de transporte do interior cearense. O município do Crato é o
maior em área, com 1.009,202 km². Juazeiro do Norte é o menor município, com
248,558 km², e também o mais populoso, com 249.936 habitantes. Nova Olinda é o
de menor população, apenas 14.256 habitantes. Inegavelmente, o Cariri é um dos
principais polos de turismo religioso do País, chegando a receber mais de 1
milhão de turistas anualmente. Além dos investimentos no turismo religioso na
região há o seguimento do turismo científico, que vem sendo fortalecido por
meio de investimentos do Governo do Estado.
A
região do Cariri é marcada por forte “religiosidade popular” (cf. Clemen, 1927;
Clemen, 1932-33; Cascudo, 1965; Barthes, 1972; Brandão, 1985; Grotowski, 1989;
Barroso; 1996; Mendes, 2005; Brantes, 2007) que remete a acontecimentos do
final do século XIX, período em que a Capela de Nossa Senhora das Dores,
localizada em Juazeiro do Norte - CE foi palco do fenômeno conhecido como
“milagre da hóstia”, quando o pão eucarístico teria se transformado “em sangue
na boca da beata Maria de Araújo durante a missa celebrada pelo Padre Cícero”.
Tal acontecimento resultou na atração de devotos para a referida cidade - tida
por sagrada, e, consequentemente, o afluxo de fiéis favoreceu o crescimento
econômico e político local. Diante do milagre e dos resultados por ele
provocados, o Crato - e posteriormente também à cidade de Barbalha - desenvolve
políticas para se diferenciar e combater Juazeiro e, desta forma, firmar sua
suposta primazia intelectual e tradicional, visto que já tinha perdido para a
cidade dos que classificavam como fanáticos religiosos do Padre Cícero, o
domínio econômico e político da região.
Nesse
contexto surgiu, em 18 de outubro de 1953, o Instituto Cultural do Cariri - I.C.C., “(...) um espaço privilegiado
[sic] para produção da crença no adiantamento cultural do Crato, através do
qual esse grupo de ‘especialistas’ esmerou-se em ‘valorizar’ a tradição cultural
cratense”. Os intelectuais do ICC publicam, na década de 1950, na cidade do
Crato, textos e livros que falam sobre as manifestações tidas como folclóricas,
além de incentivarem a apresentação desses grupos na comemoração do centenário
do Crato e no 4º Centenário de São Paulo. O instituto em questão fundou uma
cultura histórica regional que discursava sobre o passado e a “preservação” do
folclore carirense. Um exemplo de elementos dessa Cultura Histórica a respeito
das práticas populares do Cariri pode ser apreendido na obra O folclore no Cariri, do estudioso
cratense J. de Figueiredo Filho. Nela se pode ver a atuação dos intelectuais
como patronos e promotores do folclore regional. Desde outubro de 1953, por
ocasião das empolgantes festividades, em comemoração ao centenário de elevação
do Crato à categoria de cidade, que o folclore carirense apareceu, com toda a
sua pujança. Para figurar naqueles festejos, foi preciso muito esforço do grupo
intelectual, que depois fundou o Instituto Cultural do Cariri. Ainda existia
certo ranço de prevenção contra os folguedos que nasceram da vida anônima do
povo simples, dos brejos e pés-de-serra. Mas, tudo foi contornado e vencido
pela gente que lia e escrevia, na tradicional e progressista cidade do Crato.
As
ações dos barbalhenses a respeito de Juazeiro do Norte em muito pareciam com as
dos cratenses. Esta compatibilidade de costumes e visões favorecia a ideia de
que as cidades eram coirmãs e, portanto, dignas de homenagem. O que se percebe
no jornal A Ação, pertencente à
Diocese do Crato, é justamente isso:
“O Crato Tênis Clube, pela sua Diretoria, já decidiu a realização de uma
suntuosa festa de “black tié” [sic], ou seja, do mais alto nível social, festa
essa a ocorrer durante o mês de Novembro próximo, quando será prestada
significativa homenagem á sociedade de Barbalha, cidade co-irmã do Crato
irmanada nos objetivos de aperfeiçoamento da sociedade caririense. A festa será
eminentemente social, e se exigirá de todas as damas uma toalete e todos os
cavalheiros deverão trajar passeio escuro completo” (cf. A Ação, 16.09.1967, p. 06).
Nota-se, a partir daí, que outras
cidades, como é o caso de Barbalha, passam a inserir os grupos, dentre os quais
está o Reisado de Congo - prática cultural há muito existente na região - nos
eventos culturais, políticos e, sobretudo, religiosos. Até o início da década
de 1970, os grupos folclóricos faziam suas atuações nas práticas costumeiras,
ou seja, no dia do padroeiro de Barbalha, Santo Antônio, em 13 de junho, a
festa se resumia à realização do cortejo do pau da bandeira e à celebração
eucarística, não ocorrendo, desta forma, nenhum tipo de folguedo. Tais medidas
de “recuperação” e “valorização” geram apropriações e reinvenções por parte dos
brincantes2 do Reisado de Congo e, por extensão, “(re) significações
simbólicas”, na falta de melhor expressão, em maior ou menor grau. Em outras
palavras, a espetacularização das artes populares produz, em certa medida, uma
reinvenção dessas práticas por parte dos grupos que as constituem provocando,
segundo Carvalho (2004), a morte das experiências sociais e políticas. As
invenções ou reformulações promovidas pelos participantes dos grupos
folclóricos se tornam perceptíveis nas músicas, indumentárias ou na própria
atuação teatral. O processo se intensifica com a atuação da prefeitura local,
que fornece novas indumentárias, calçados padronizados e pagamento em troca da
apresentação em comemorações e datas especiais, especialmente na Festa de Santo
Antônio, padroeiro da cidade.
Escólio: Mircea Eliade foi um
professor, historiador das religiões, mitólogo, filósofo e romancista romeno,
naturalizado norte-americano em 1970. Do ponto de vista metodológico Eliade
demonstrou que é em torno da “consciência da manifestação do sagrado” que se
organiza o comportamento do homo
religiosus. Este crê em uma realidade absoluta, o sagrado, e desse fato, assume
no mundo um modo de existência específico. O sagrado manifesta-se sob diversas
formas: ritos, mitos, símbolos, homens, animais, plantas, etc. Ele manifesta-se
qualitativamente de forma diferente do profano, e chama-se hierofania a
irrupção do sagrado por intermédio do mundo profano. O homem apreende a
irrupção do sagrado no mundo e descobre assim a existência “de uma realidade
absoluta, o sagrado que transcende este mundo, mas que nele se manifesta e,
desse fato, o torna real”. Manifestando-se, o sagrado cria uma dimensão nova.
Descobrir essa dimensão sacra do mundo é próprio do homo religiosus, para quem o profano somente tem sentido na medida
em que ele é revelador do sagrado.
Em
seus estudos sobre a história das crenças e das ideias religiosas, Eliade (2010)
observa que as sociedades arcaicas tinham a tendência de viver o mais possível
no sagrado ou muito perto dos objetos consagrados.
O autor afirma que o mundo, de certa forma, está impregnado de valores
religiosos. A história das religiões é constituída por um número considerável
de hierofanias, manifestações das realidades sagradas. Por exemplo, a
manifestação do sagrado num objeto, numa pedra ou numa árvore até a hierofania
suprema, que é, para os cristãos, a encarnação de Deus em Jesus Cristo. Surge
um paradoxo: manifestando o sagrado, um objeto qualquer se torna outra coisa e,
ao mesmo tempo, continua a ser ele mesmo, porque segue participando do meio
cósmico envolvente. O reisado, objeto
dessas notas de leitura, é uma dança popular profano-religiosa, de origem
portuguesa, com que “se festeja a véspera e o Dia de Reis”.
A
lógica dialogal dos cantos é baseada em duas vozes: o coro da primeira voz que
puxa os cantos e o coro da segunda voz que responde à primeira. Nisto, a
qualidade dos cantos é indissociável do estado de atenção ao outro: ouvir o que
está sendo cantado, pois,
“em todas as canções, as palavras do Santo são praticamente
incompreensíveis, pois no diálogo das vozes dissonantes, ritmadas pelo alto
volume dos instrumentos de percussão, é, sobretudo a sonoridade das vogais que
chega aos ouvidos do dono-da-casa. Mas para as Reiseiras estas palavras são
importantíssimas, porque além de transmitir a mensagem do Santo, elas orientam
a sequência dos versos no diálogo entre as vozes. Este valor das palavras exige
das reiseiras uma grande atenção ao que está sendo falado, pois uma distração
pode desandar o canto e quando isto acontece o Reis perde a sua força. A
concentração nos versos cantados pela voz emitida em altíssimo volume, conduz o
corpo numa espécie de meditação sonora. O senso auditivo é fundamental nesta
lógica dialogal dos cantos. Pela audição se estabelece uma relação entre as
partes de dentro e fora da casa, que prepara a interação visual e corporal das
reiseiras com o dono-da-casa. O canto de entrada é finalizado com o grito de
uma reiseira: Viva o dono-da-casa! E todos respondem: Viva! A mesma reiseira
grita Viva São Sebastião! E o dono-da-casa, antes de abrir a porta responde:
Viva! Cantando as palavras do Santo, as reiseiras celebram a pessoa que abre
sua casa para receber o Reis. Esse duplo sentido do canto (veículo das palavras
do Santo e celebração do dono-da-casa) abre o diálogo das reiseiras com o
espaço da casa” (cf. Brantes, 2007).
Melhor
dizendo, como afirma Eliade, o sagrado é um elemento na estrutura da
consciência, e não um estágio na história desta consciência. E pela imitação
dos modelos revelados por Seres Sobrenaturais que a vida humana toma sentido. A
imitação de modelos transumanos constitui uma das características primeiras da
vida religiosa, uma característica estrutural que é indiferente à cultura e à
época. A partir dos documentos religiosos mais arcaicos que nos sejam
acessíveis até ao cristianismo e ao Islã, a imitatio dei, como norma e linha diretriz da existência humana,
jamais foi interrompida; na realidade, não poderia ter sido de outra forma. Em
níveis mais arcaicos de cultura, viver enquanto ser humano é cm si um ato
religioso, pois “a alimentação, a vida sexual e o trabalho têm um valor sacramental”.
Em outros termos, ser, ou melhor, tornar-se um homem significa “ser religioso”.
No
período de 24 de dezembro a 6 de janeiro, um grupo formado por músicos,
cantores e dançarinos vão de porta em porta anunciando a chegada do Messias e
fazendo louvações aos donos das casas por onde passam e dançam. Reisado também
é muito conhecido como “Folia de Reis”. É de origem portuguesa e instalou-se em
Sergipe no período colonial. Atualmente, é dançado em qualquer época do ano, os
temas de seu enredo, variam de acordo com o local e a época em que são
encenados, podem ser: amor, guerra, religião entre outros. Compõe-se de várias
partes e tem diversos personagens como o rei, o mestre, contramestre, figuras e
moleques. Os instrumentos que acompanham o grupo são: violão, sanfona, ganzá,
zabumba, triângulo e pandeiro. Na interpretação do filho do rei do baião e mais
conhecido como Gonzaguinha, (Rio de Janeiro, 22 de setembro de 1945 -
Renascença, a 29 de abril de 1991) foi um cantor e compositor brasileiro, filho
adotivo do cantor e compositor pernambucano Luiz Gonzaga e de Odaleia Guedes
dos Santos (mãe verdadeira), cantora do Dancing
Brasil. Após uma apresentação em Pato Branco, no Paraná, Gonzaguinha morreu
aos 45 anos vítima de um acidente automobilístico às 7h30 min do dia 29 de
abril de 1991, entre as cidades de Renascença e Marmeleiro, enquanto dirigia o
automóvel, um Monza da Chevrolet, rumo a Francisco Beltrão, depois ia a Foz do
Iguaçu. Dedicou os últimos anos da sua vida à cuidar da obra de seu pai.
“Rei com sua sanfona de prata/Rei com seu gibão de couro/Estrela de ouro
no chapéu/Carrega consigo o céu/Pra semear pelo o sertão./Com sua voz
potente/Já deixou sua marca/Todo nego sanfoneiro/Sabe bem o seu rojão./Seu
sorriso escancarado/Figura forte e cravado/De norte a sul, leste, oeste/No
peito dessa nação./Rei com sua sanfona de prata/Rei com seu gibão de
couro/Estrela de ouro no chapéu/Carrega consigo o céu./Pra semear pelo o
sertão/Lui, lua, lula/Rei pra ninguém botar defeito/Humildade, honestidade/Véio
macho, meu respeito./Seu sorriso escancarado/Figura forte e cravado//De norte a
sul, leste, oeste/No peito dessa nação./Rei com sua sanfona de prata/Rei com
seu gibão de couro/Estrela de ouro no chapéu/Carrega consigo o céu/Pra semear
pelo o sertão”.
Contudo,
do ponto de vista da interpretação da cultura, para o que nos interessa, Luís
da Câmara Cascudo (1921; 1924; 1934; 1944; 1956; 1958; 1965; 1967; 1971; 1972;
1979; 1985), historiador, antropólogo, advogado e jornalista brasileiro, com sabor passou toda a sua vida em Natal e
dedicou-se ao estudo da cultura brasileira. Foi monarquista nas primeiras
décadas do século XX. Durante a década de 1930, combate a crescente influência
marxista no Brasil, e, em parte, sob a impressão causada pela assim chamada “Intentona
Comunista de 1935”, quando Natal fora palco e sede da primeira tentativa de um
governo fundado nas ideias marxistas da América Latina, Cascudo aderiu ao
integralismo brasileiro e foi membro destacado e Chefe Regional da Ação
Integralista Brasileira, o movimento nacionalista encabeçado por Plínio
Salgado.
Desencantou-se
rapidamente com o Integralismo, tal como outro famoso ex-integralista, Dom
Hélder Câmara, e já durante a Segunda Guerra Mundial favoreceu os Aliados,
demonstrando sua antipatia aos fascistas italianos e aos nazistas alemães. Fiel
ao seu pensamento anticomunista, não se opôs ao golpe político-militar de 1964,
mas “protegeu e ajudou a diversos potiguares perseguidos pelos militares”.
Muito contribuiu para a cultura na gestão do Prefeito de Natal, Djalma
Maranhão. O conjunto de sua obra é considerável em quantidade e qualidade: ele
escreveu 31 livros e 9 plaquetas sobre o folclore brasileiro, em um total de
8.533 páginas, o que o coloca entre os intelectuais brasileiros que mais produziram,
ao lado de nomes como Pontes de Miranda e Mário Ferreira dos Santos. É também
notável que tenha obtido reconhecimento nacional e internacional publicando e
vivendo distante dos centros Rio e São Paulo.
Conceptualmente
afirma que o Reisado é “a denominação erudita para os grupos que cantam e
dançam na véspera e nascimento do Menino Jesus”. Em Portugal é conhecido como “Reisada”
ou “Reseiro”. No Brasil é uma espécie de revista popular, recheada de histórias
folclóricas, mas sua essência continua a mesma, com uma mistura de temas sacros
e profanos. É formado por um grupo de músicos, cantores e dançarinos que “percorrem
as ruas das cidades e até propriedades rurais, de porta em porta, anunciando a
chegada do Messias, pedindo prendas e fazendo louvações aos donos das casas por
onde passam”. A denominação de Reisado persiste ainda na maioria dos estados do
Nordeste. Em diversas outras regiões o folguedo é chamado de “Bumba-meu-boi”, “Boi
de Reis”, “Boi-Bumbá” ou simplesmente, “Boi”. Em São Paulo é conhecido como “Folia
de Reis”, onde a festa é composta de apresentações de grupos de músicos e
cantores, todos com roupas coloridas, entoando versos sobre o nascimento de
Jesus Cristo, liderados por um mestre.
A
Tiração de Reis, pelos reisados do
Cariri cearense, ou a Folia de Reis,
assim chamada em diversas outras regiões brasileiras, pelos grupos de foliões,
são tradicionalmente realizadas no período de 25 de dezembro a 6 de janeiro.
Têm sua origem primária na Festa do Sol Invencível, comemorada pelos romanos e
depois adotada pelos egípcios. A festa romana era comemorada em 25 de dezembro
(calendário gregoriano) e a egípcia em 6 de janeiro. No século III ficou
estabelecido que dia 25 de dezembro se festejasse o Nascimento de Cristo e 6 de
janeiro, Dia dos Reis, homenageando os Reis Magos Gaspar, Melchior e Baltazar,
que levaram ouro, incenso e mirra, que representam, segundo a Igreja Católica,
as três dimensões de Cristo, que são realeza, divindade e humanidade. Durante
12 dias, a partir do Natal até 6 de janeiro, acontece a Tiração de Reis.
Fazem
parte do espetáculo os “entremeios” (corruptela de entremezes), pequenas
encenações dramáticas que são intercaladas com a execução de peças, embaixadas
e batalhas. Os personagens são tipos humanos ou animais e seres fantásticos
humanizados, cheios de energia e determinação. Folguedo do ciclo natalino é
comemorado em várias regiões brasileiras, principalmente no Norte e Nordeste,
onde ganhou cores, formas e sons regionais. Em Alagoas, constitui-se numa
representação dramática, normalmente curta e pobre de enredo, acompanhada e
precedida de canto. Em Sergipe, é apresentado em qualquer época do ano e não
apenas nas festas de Natal e Reis. Os temas de seu enredo variam de acordo com
o lugar e o período em que são encenados: amor, guerra, religião, entre outros.
O
Reisado apresenta diversas modalidades e é composto de várias partes: a
abertura ou abrição de porta; entrada; louvação ao Divino; chamadas do rei;
peças de sala; danças; guerra; as sortes; encerramento da função. A música no
Reisado está sempre presente. O Mestre é o solista, sendo respondido pelo coro
a duas vozes. Os instrumentos utilizados alternadamente são: a sanfona, o
tambor, a zabumba, a viola, a rebeca ou violão, o ganzá, pandeiros, pífanos e
os maracás, chocalhos feitos de lata, enfeitados com fitas coloridas. Há uma
grande variedade de passos nas danças do Reisado, entre os quais se pode
destacar: do Gingá, onde os figurantes de cócoras se balançam e gingam; da
Maquila, um pulo pequeno com as pernas cruzadas e balanços alternados do corpo
para os lados, passo também exibido pelos caboclinhos; corrupio, movimento de
pião com o calcanhar esquerdo; Encruzado, cruzando-se as pernas ora a direita à
frente da esquerda, ora ao contrário.
Tem
como personagens principais o Mestre, o Rei e a Rainha, o Contramestre, os
Mateus, a Catirina, figuras e moleques. O Mestre é o regente do espetáculo.
Utilizando apitos, gestos e ordens, comanda a entrada e saída de peças e o
andamento das execuções musicais. Usa um chapéu forrado de cetim, de aba
dobrada na testa (como o dos cangaceiros), adornado com muitos espelhinhos,
bordados dourados e flores artificiais, de onde pendem fitas compridas de
várias cores; saiote de cetim ou cetineta de cores vivas, até a altura dos joelhos,
enfeitado com gregas e galões, tendo por baixo saia branca, com babados; blusa,
peitoral e capa. O traje do Rei deve ser mais bonito e enfeitado. Veste saiote
ou calção e blusa de mangas compridas de cores iguais, peitoral, manto de cores
diferentes em tecido brilhante (cetim ou laquê);calça sapato tênis (tipo
conga), meiões coloridos e na cabeça uma coroa feita nos moldes das dos reis
ocidentais, semelhante a das outras figuras, porém encimada por uma cruz; levam
nas mãos uma espada e, às vezes, também um cetro. Durante o cortejo os Reis vêm
na frente, logo atrás do Mestre e do Contramestre. A Rainha é representada por
uma menina, com vestido de festa, branco ou rosa, uma coroa na cabeça e um
ramalhete de flores nas mãos.
Cena
de um Reisado (2009).
Juazeiro
é uma cidade de grande efervescência cultural. Pesquisa feita pela UFRJ em todo
o país e divulgada em março de 2009, constatou que a cidade de Juazeiro do
Norte é a maior em população envolvida em atividades culturais, como vimos, chegando
a receber mais de 1 milhão de turistas anualmente. Esse “caldeirão de cultura”
tem registrados junto a secretaria de cultura do estado, 72 grupos de cultura
popular. Existem vários grupos folclóricos de reisado, maneiro-pau e malhação
de Judas, entre outros. A literatura de cordel e a xilografia também são
bastante difundidas (cf. Braga, 2012), especialmente em função da Academia de
Cordelistas de Juazeiro do Norte e a Lira Nordestina da Universidade Regional
do Cariri.
Na
música, o forró sobressai como ritmo predominante, destacando-se Alcymar
Monteiro, Luiz Fidélis e Santanna, músicos juazeirenses consagrados em todo o
Nordeste do Brasil. Em 2001 Alcymar Monteiro, na época secretário de cultura,
criou o Juaforró, uma festa junina
que hoje está entre as maiores do gênero. O repente é muito popular,
especialmente em época de romaria, ocasião em que os violeiros saem pelas ruas
fazendo versos e desafios de rimas. Outros ritmos conquistaram espaço em
Juazeiro, como é o caso do rock, axé e Música eletrônica, existindo várias
bandas independentes. As escolas públicas de Juazeiro mantêm a tradição das
fanfarras, sendo que nas comemorações da Independência do Brasil elas desfilam
pela cidade. Outra tradição mantida é a da rabeca, instrumento arcaico
semelhante ao violino, havendo inclusive uma orquestra de rabecas em Juazeiro. Enfim,
a Orquestra Armorial do Cariri seguiu viagem para Istambul a partir dos
primeiros dias de maio de 2012. O grupo fez duas apresentações na Turquia, por
meio de uma parceria com a Universidade Técnica do Oriente Médio. A orquestra
vem de uma formação de mais de dez anos, com jovens músicos da região, tendo à
frente o artista Di Freitas. Os shows tem obtido um interesse maior das
instituições acadêmicas, que desejam conhecer o som que é produzido a partir da
própria identidade cultural do povo do Cariri e sua ancestralidade. Di Freitas
dá mais vida a rabeca. Leva o som do violoncelo, das cabaças estilizadas,
promovendo um resgate aos instrumentos rústicos. Bibliografia geral consultada:
BRAGA, Ubiracy de
Souza, “Forró: Dança, rebolado, beleza e internacionalização do gênero”.
Disponível em: http://httpestudosviquianosblogspotcom.dihitt.com.br/n/arte-cultura/2012/05/29/; Idem, “Notas sobre
cordel & poesia popular: o legado do Ceará. Disponível em: http://encantacantadores.blogspot.com.br/2012/07/; CLEMEN, Carl
Christian, Die Religionen der Erde.
Munique, 1927; Idem, Ilrgeschichtliche Religion. Die Religionen
der Stein - Bronze - und Eisenzeit, I-II, Bonn, 1932-1933; ANDRADE, Mário
de, As danças dramáticas no Brasil. Belo
Horizonte: Editora Itatiaia, 1934; Idem, “Danças dramáticas”. In: Obras completas. Tomo I, vol. XVIII.
São Paulo: Livraria Martins, 1959; DELLA CAVA, Ralph, Milagre em Joazeiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976; SILVA,
Antenor Andrade, Cartas do Pe. Cícero.
Salvador - Bahia, 1982; AQUINO, Pedro Ferreira de, O Santo do Meu Nordeste - Padre Cícero Romão Batista. São Paulo:
Ed. Letras & Letras, 1997; NETO, Lira, Padre
Cícero: Poder, Fé e Guerra no Sertão. São Paulo: Companhia das Letras,
2009; BATISTELI, Líbero, I fuori-classe:
tentativo di una determinazione e di un orientamento politico dei residui
sociale. Rio de Janeiro: Tip. Cupolo, 1931; BARTHES, Roland, Mythologies. New York: Hill and Wang,
1972; BRANDÃO, Junito de Souza, Mitologia
Grega. Petrópolis (RJ): Editora Vozes, 1986, 419 p. 3 vols.; CASCUDO,
Câmara, Alma Patrícia, critica literária.
Editor Atelier Typ. M. Vitorino, 1921; Idem, Histórias que o tempo leva. Ed. Monteiro Lobato, S. Paulo, (outubro
1923), 1924; Idem, Viajando o sertão.
Natal: Imprensa Oficial, 1934; Idem, Tradições
populares da pecuária nordestina - MA-IAA n° 9, Rio de Janeiro, 1956; Idem, Dicionário
do Folclore Brasileiro. 2ª edição. Rio de Janeiro: INL/MEC, 1962, 2 volumes;
Idem, Dicionário do Folclore Brasileiro.
7ª edição. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1993; Idem, Made in África. Rio de Janeiro: Ed. Civilização
Brasileira, 1965; Idem, Folclore no Brasil. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, Rio, 1967
- 2ª edição, FJA, Natal, 1980; Idem, Nomes
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