domingo, 18 de setembro de 2011

Roman Polanski: sabor de vida e de tragédia?


                                 
                                                                                Ubiracy de Souza Braga*


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Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).





                                                                  “Sr. Polanski, me perdoe. Sou um babaca”.


            Em primeiro lugar se tomamos o critério em geral usado para a seleção dos 10 maiores diretores da atualidade baseado na filmografia e trabalhos importantes, tendo como regra a escolha de diretores vivos e em atividade, entre eles, entendendo que Francis Ford Copolla vindo da mesma escola que revelou nomes como Spielberg, Lucas e Scorsese, Coppola foi o que teve a filmografia menos tradicional deste quarteto. Sem sombra de dúvidas o mais popular de qualquer geração, Steven Spielberg “será sempre lembrado como o mais influente cineasta dos últimos 30 anos”. Aos 62 anos, Spielberg se mostra um homem bastante eclético. Quem diria que imprimiria uma visão darwinista (1809-1882), por meio por meio do processo de seleção natural e sexual, em pleno século XXI, com seu “Jurassic Park” e que teria sido considerado “o mago de Hollywood”?
            Paul Thomas Anderson é conhecido por utilizar uma técnica individualista: a) colocar em seus filmes um grande elenco, b) adotar um estilo de filmagem independente e, c) entrelaçar várias histórias numa mesma trama. Anderson é um membro da primeira geração do chamado grupo “Cineastas do VCR”, ou seja, “uma geração que não frequentou faculdades e que teve como escola a cinefilia”, onde junto com diretores como Quentin Tarantino e Kevin Smith, “aprendeu o ofício da direção não em escolas de cinema, mas sim vendo inúmeros filmes em vídeo, adquirindo desta forma um vasto conhecimento da cultura e da técnica cinematográficas”.
Ou ainda, quem diria que por trás do homem sem nome do chamado “velho oeste” estaria escondido a alma de um artista completo. Clint Eastwood será sempre lembrado como sinônimo de cinema, já tendo passado por várias funções na Sétima Arte, seja a frente ou por trás das câmeras. O maior cowboy que as telas já viram não se limitou aos bons e velhos duelos ao meio-dia. Profissional completo, ele é um “ator de alcance dramático tremendo”, mas nem sempre fora reconhecido assim. Eastwood era visto como um intérprete de um papel só, “o do homem durão, seja dentro ou fora-da-lei”, como  o mineiro lituano, de ascendência tártara lipka, Charles Dennis Buchinsky. Ch. Bronson cresceu na Pensilvânia sem falar uma palavra de inglês.
Em 1987, Wim Wenders finalizou o poético filme “Asas do Desejo”, sobre anjos que observam a “desordem afetiva” e material dos habitantes de Berlim. Assim, Wenders derrubou não o muro que separou as duas Alemanhas, como é sabido, mas procurou uma espécie de língua comum para certa ordem celestial e o mundo terrestre. Depois, fez a continuação da história: “Tão Longe, Tão Perto” (1993). Com “Até o Fim do Mundo” (1991), Wenders realizou um projeto de muitos anos, mas não foi bem recebido pela critica, que nem sempre é justa em suas opiniões, partindo depois para “O Céu de Lisboa” (1995), quando escrevia o roteiro à noite, junto com a mulher, Donata, e rodava no dia seguinte. Feito em Portugal, o filme retoma o fascínio de Wenders por Lisboa e tem certa indefinição de proposta.       
            Já Jean-Pierre Jeunet, debutou com o curta-metragem “L’ Evasion” (1978). Levou o prêmio francês César de melhor curta-metragem em duas ocasiões: “Le Manège” (1980) e “Foutaises” (1990). Dirigiu videoclipes para Jean-Michel Jarre e Julien Clerc. O videoclipe que é “um produto comercial que surge atrelado ao mercado musical e contempla uma enormidade de formas”. Ao lado do parceiro Marc Caro, realizou os longas-metragens “Delicatessen” (1991) e “A Cidade das Crianças Perdidas” (1995). Em 1997 foi para Hollywood e dirigiu “Alien, A Ressurreição”. Roteiro criativo, fotografia marcante, uma história simples e encantadora: esses são os principais ingredientes que transformam o filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” em uma grande “poesia visual”, de 2001. Por esse clássico do chamado “cinema novo”, Jeunet recebeu uma indicação ao Oscar na categoria Melhor Roteiro Original e por essa mesma categoria, faturou o BAFTA - British Academy of Film and Television Arts, é uma academia britânica responsável pela premiação anual à excelência de trabalhos realizados em cinema, televisão, filmes e em outras mídias audiovisuais.
De outra parte, dono de uma filmografia peculiar, David Lynch tem seus filmes associados geralmente a palavras como “bizarro” e “estranho”. Diretor, escritor e compositor, Lynch é um exemplo raro de artista que não cede às pressões comerciais. A despeito de existirem algumas poucas obras mais comerciais em sua carreira, como a adaptação do romance de Frank Herbert “Duna”, foi no reino onírico (Freud) que o cineasta encontrou seu chamado. Adepto da escola surrealista no melhor estilo de Jodorowski e Buñuel, as obras do controverso diretor não são “digeridas” facilmente. Tendo co-criado a cultuada série de TV “Twin Peaks” no início dos anos 1990 - quando se tornou mais conhecido do grande público brasileiro, Lynch já possuía várias obras interessantes em seu currículo, tais como: “O Homem Elefante” (com Anthony Hopkins) e “Veludo Azul”, longas-metragens lançados durante a década de 1980 com ambos os trabalhos tendo lhe rendido indicações ao Oscar de Melhor Diretor. Situada na fictícia cidade de “Twin Peaks”, Washington D.C., a série foi exibida originalmente pela emissora ABC de 8 de Abril de 1990 a 10 de Junho de 1991, com um total de 30 episódios e duas temporadas.
O diretor dinamarquês de cinema, Lars von Trier, é reconhecido no cenário cinematográfico atual como um diretor “capaz de provocar calorosas reações tanto por parte da crítica quanto do público”. Vários de seus filmes são protagonizados por mulheres (cf. Braga, 2011) e a construção dessas personagens é muitas vezes alvo de questionamentos. Tais reações acontecem principalmente porque essas personagens são sempre expostas a diversas formas de violência simbólica (Bourdieu). O espaço onde essas personagens são inseridas é hierarquizado, no sentido que emprega Louis Dumont, o que demonstra uma importância fundamental para a discussão sobre a modernidade. Ele irá relacionar a modernidade com o individualismo e seus personagens emergem na forma estratificada pelos poderes simbólicos que os permeiam.
            Nascido em Teerã em 1957, Mohsen Makhmalbaf se junta ainda muito novo a uma organização islâmica que lutava contra o regime de Shah. Aos dezessete anos de idade, é preso após um ataque a um posto policial. Fica na prisão de 1974 a 1979 e é libertado com o início da revolução. Entre 1980 e 1981 escreve um romance, diversas histórias e algumas teses sobre o teatro islâmico. Em 1982 seu romance, intitulado “O Jardim de Cristal”, é publicado e traduzido para a língua inglesa e no ano seguinte, publica “Bassin du Roi”. Seu primeiro longa metragem foi “Nassouh le Repentant”, rodado em 1982. Mas sua maestria e conhecimento cinematográficos só foram revelados ao mundo ocidental em 1985, quando fez seu quarto filme: “Boycott”, graças a um “contexto político favorável ao renascimento do cinema no Irã”. Dois anos mais tarde, seu filme “The Pedlar” é exibido em aproximadamente vinte festivais internacionais.
            Last but not least com filmes provocantes e ousados, Pedro Almodóvar é um dos cineastas espanhóis mais influentes de todos os tempos. Seus filmes possuem uma carga de sensualidade e sinceridade únicas, sendo bastantes diretos junto ao público, sendo bastante incisivos nas emoções de seus personagens. Conhecido por suas personagens femininas fortes e pelo simbolismo presentes em suas produções, Almodóvar não se importa em agradar a todos, mas sim de levar sua arte às telas. De origem humilde, o cineasta “batalhou” desde cedo para levar sua paixão pelo cinema adiante, contando apenas com uma câmera Super-8 ao seu lado. Com o passar do tempo, foi ganhando notoriedade em sua terra natal, chegando finalmente ao mundo dos longas-metragens. Seus filmes logo ganharam respaldo internacional, tendo revelado nomes como Penélope Cruz e Antônio Banderas. Ele descreve estórias e as dirige de forma a apresentar o “espírito ibérico-latino”: passional, emotivo, irônico, trágico, machista, homófobo, violentador, estuprador, pedófilo, incestuoso, religioso, hipocondríaco, drogado, maníaco por sexo, emotivo com canções românticas, enfim, todas as taras do ser humano.
            Mas para o que nos interessa do ponto de vista etnobiográfico, Roman Rajmund Polański (Paris, 18 de agosto de 1933) é um cineasta, produtor, roteirista, ator franco - polonês. Polański iniciou sua carreira na Polônia, e depois se tornou um célebre. Cineasta de sucesso e prestígio na carreira foi premiado com a Palma de Ouro do Festival de Cannes e com o Oscar de melhor diretor, ambos por seu filme “O Pianista”, de 2002, que tem como background o gueto de Varsóvia, onde esteve na infância, como judeu na Polônia ocupada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial (cf. Arendt, 1989). Polański é um dos melhores do mundo, conhecidos diretores de cinema contemporâneo e é amplamente considerado um dos maiores diretores de sua época. Também é conhecido por suas polêmicas, turbulenta na vida pessoal e controversa.

                                                      
                                             Roman Polanski. Foto: Roberto Pfeil/AP.
Bastaria citar três episódios que sozinhos seriam suficientes para preencher ou definir toda uma vida: a) a experiência do Holocausto na Polônia, na infância, tendo perdido a mãe num campo de concentração de extermínio humano nazista; b) o assassinato bárbaro de sua segunda mulher, Sharon Tate, grávida de quase nove meses, numa carnificina promovida por membros da seita do lunático e psicopata Charles Manson, em 1969 (cf. Braga, 2011); c) e o escândalo provocado pelo suposto estupro de uma menina de 13 anos, oito anos depois, seguido da condenação pela Justiça americana e da fuga desesperada do país.
Parece difícil acreditar que alguém consiga não apenas passar incólume por tantos traumas psicoativos, psicanaliticamente falando, como também encontrar energia e inspiração para produzir uma obra cinematográfica internacionalmente reconhecida, que já chega a 18 longas-metragens, desde a estreia, com “Faca na Água”, em 1962, ainda na Polônia comunista, até “O escritor fantasma”, em 2010, passando por clássicos da cinematografia como “O bebê de Rosemary”, “A dança dos vampiros” e “Chinatown”. Essa carreira aparentemente ainda não chegou ao “fim”, negando a máxima weberiana, segundo a qual “fim” é a “representação de um resultado em causa de uma ação”. Polanski já está envolvido na pré-produção de “Carnage”, baseado na peça de Yasmina Reza que no Brasil recebeu o título de “O Deus da carnificina”. Arrogante, polemista e avesso às convenções sociais, promíscuo notório com uma queda incontrolável por “lolitas”, que é um estilo japonês de moda cujas primeiras manifestações apareceram em fins da década de 1970 e começo da década de 1980, é artista cínico e indiferente à opinião pública, o cineasta polonês - que completa 78 anos no próximo dia 18 - parece ser amado e odiado combinando uma “dialética trágica” nietzscheana (cf. Safranski, 2005: 75 e ss.), na mesma medida em que tem plena consciência disso.
Sharon Tate, nascida em Dallas em 24 de janeiro de 1943, fora uma atriz de beleza esfuziante e com carreira em ascensão depois de atuar em “Vale das Bonecas” (1967), de Mark Robinson, e “A Dança dos Vampiros” (1967), de Roman Polanski (com quem se casaria em 1968). A conexão se dá através de um cara sombrio, Charles Manson, líder da autointitulada “Família Manson”, uma pseudo-comunidade hippie que ele fundara na Califórnia. O assassino de Sharon Tate, Charles Watson confessou em sua biografia ter esfaqueado a atriz por 16 vezes, enquanto ela pedia apenas para poder ter o filho. Deixaram a casa toda pixada, como é comum nas assinaturas entre os serial killers norte-americanos (cf. Braga, 2011) ou, com títulos de músicas do “Album Branco” dos Beatles, gravadas com o sangue das vítimas (cf. Foucault, 1983; Fromm, 1987).
Ao ser perguntado o que significava aquilo, Manson respondeu que recebeu mensagens subliminares contidas nesse disco, especialmente “Helter Skelter”. “Piggies” seria um recado aos reacionários. “Blackbird” um libelo racista, e “Revolution nº 9” seria referência à 9ª Revelação da Bíblia, a “Batalha do Armagedon”, que para ele, seria uma guerra entre brancos e negros. Os próprios assassinatos teriam a intenção de culpar os negros pelos crimes e dessa forma iniciar a guerra. Outra integrante da “família”, Susan Atkins, escreveu “piggies” com o sangue de Sharon na porta principal. Sua prisão ocorreu apenas em dezembro de 1969. O julgamento teve início em 1970 e terminou em 1971. A princípio condenados à morte, tiveram suas penas atenuadas para prisão perpétua.

                                  
              Sharon Tate: “Roman mente para mim, e eu finjo que acredito”.
Em 1969, por exemplo, a sua esposa grávida, Sharon Tate, como vimos, foi assassinada pela “Família Manson”. Em 1977, ele foi condenado por “intercurso sexual ilegal com menores”, ele posteriormente fugiu dos Estados Unidos e é atualmente (desde 26 de setembro de 2009) “sob a prisão na Suíça, dependendo do processo de extradição”. Não é à toa que os filmes do cineasta trazem uma weltanschauung um tanto macabra e pessimista do mundo (cf. Braga, 2008). Estamos falando de uma vida em extremos e uma visão em paralaxe de um sujeito que passou a juventude fugindo de nazistas e comunistas (cf. Braga, 2011), que perdeu a mãe num campo de concentração e que teve a mulher, Sharon Tate, assassinada pelos seguidores de Carles Manson que é conhecido como o fundador, mentor intelectual e líder de um grupo que cometeu vários assassinatos, entre eles o da atriz Sharon Tate, esposa do diretor de cinema Roman Polanski.
Filho de uma prostituta, ainda criança Manson passou a frequentar reformatórios juvenis pelos quatro cantos dos Estados Unidos. Em 1967, Manson saiu da prisão aos 33 anos de idade, tendo permanecido preso desde os 9 anos de idade. Em 1968, ele formou uma “comunidade alternativa” em Spahn Ranch, perto de Los Angeles. Lembramos que as primeiras pessoas a usarem o termo “sociedade alternativa” foi o francês François Fourier e o inglês Robert Owen.  Eles foram socialistas utópicos e usaram pela primeira vez o termo “sociedade alternativa” no princípio do século XIX. Fourier e Owen são considerados os pais do cooperativismo e foram fortes críticos do sistema capitalista de sua época, foram adversários ativos a industrialização e ao urbanismo, lutaram contra o liberalismo e a competição do mercado.
Acreditavam numa “sociedade alternativa”, cooperativista autônoma e autossuficiente. Acreditavam que o cooperativismo asseguraria uma sociedade justa. Manson aparentemente tinha ideias grandiosas e um grupo de amigos e admiradores, conhecidos como “Família Manson”. Esses eram jovens, homens e mulheres de famílias ricas, que não tinham bom relacionamento com seus familiares e que por isso passaram a morar nas ruas da Califórnia. Alguns dos admiradores de Manson o consideravam uma “reencarnação de Jesus Cristo” - uma analogia a ele abrir a vida dos jovens para “novos horizontes”. O próprio Manson, porém, sempre negou tal comparação.
            Polański fez o primeiro longa-metragem, “Knife in the Water” (1962), e na Polónia, Polański ganhou sua primeira indicação ao Oscar (de Melhor Filme Estrangeiro, 1963). Polański deixou a Polônia comunista para viver na França há vários anos, antes de se mudar para a Inglaterra, onde colaborou com Gérard Brach em três filmes, começando com o “Repulsion” em 1965. Em 1968 mudou-se para os E.U.A., dirigindo o filme de terror “Bebê de Rosemary” de 1968, em Hollywood. Depois de fazer vários filmes independentes, Polanski voltou a Hollywood em 1973 para fazer “Chinatown” para a Paramount Pictures, com Robert Evans como produtor. “Chinatown” é um filme estadunidense de 1974, do gênero “policial noir”, dirigido por Roman Polanski e estrelado por Jack Nicholson e Faye Dunaway. O filme possui um dos melhores roteiros do cinema, numa sucessão de reviravoltas extremamente bem organizadas, onde a verdadeira história se revela aos poucos. Duas cenas são clássicas neste filme: no início, em que J.J. “Jake” Gittes (Jack Nicholson) adentra seu escritório animado para contar uma piada e é cortado pela presença de Evelyn Mulwray (Faye Dunaway) que o informa de que foi enganado por uma impostora, que ao se passar por ela havia contratado seus serviços para investigar seu marido (que seria encontrado morto logo a seguir).
            As filmagens de Chinatown começaram em 28 de setembro de 1973, o dia mais quente de início de outono já registrado no local. Fazia 35 graus quando o elenco se reuniu em um pomar de laranjas perto de Pasadena para dar início aos trabalhos. Um Polański “elétrico” saltou de seu carro com motorista, vomitou e começou a trabalhar. Embora a temperatura viesse a cair na semana seguinte, a produção se mostraria agonizantemente lenta, até mesmo para um filme conscientemente cadenciado. Polański acabou por concluir que a culpa era de Stanley Cortez, o velho câmera man de 64 anos a quem achara “cheio de charme à moda antiga”, mas “completamente por fora” dos avanços tecnológicos pós-guerra. Ao chegarem ao nono dia de filmagens, Cortez foi despedido. Para seu posto Polański chamou John Alonzo, um indivíduo extremamente autoconfiante, além de enérgico operador de câmara e ator que havia feito uma participação memorável em “Sete homens e um destino”. Com sua ajuda, “Chinatown” se tornaria o segundo filme consecutivo em que Polański chegaria ao final antes do que previa o cronograma.
A saída abrupta de Cortez parece ter irritado alguns membros da equipe de “Chinatown”, que já trabalhavam seguindo a cartilha de Polanski, com longas e cansativas jornadas. Um técnico em particular, que prefere permanecer anônimo, admite ter sido um “amotinador” que tentaria organizar uma petição contra o diretor, mais especificamente seu hábito de exigir inúmeras tomadas, se necessário “bem além do horário de trabalho”. Tal protesto parece ter atingido o âmago da questão, comum em muitas filmagens, sobre quem de fato estava no comando. Ao tomar conhecimento do caso, Robert Evans teria chamado certa noite o funcionário descontente em seu escritório e lhe oferecido uma escolha: “Você prefere rasgar seu contrato e ir para o olho da rua ou fazer as pazes com Roman?”. Diante de tais alternativas, o homem lhe perguntou como poderia apresentar seu pedido de desculpas. “Apenas vá até ele e diga: 'Sr. Polanski, me perdoe. Sou um babaca`”. Aquilo parece ter funcionado.
Outra cena marcante é a final, quando Evelyn, em fuga, é atingida por um tiro de um policial. Como o carro não para, a única coisa que dá a entender que foi atingida é o som da buzina do carro que toca sem parar, subentendendo que caiu morta sobre o volante. O filme foi indicado para um total de 11 Oscars, estrelas como Jack Nicholson e Faye Dunaway ambos receberam indicações para seus papéis e engenhosamente desenhados roteiro de Robert Towne ganhou o prêmio de Melhor Roteiro Original. A principal crítica e sucesso de bilheteria da época de sua estreia no verão de 1974, “Chinatown”, fora considerado a maior realização de Polański como cineasta. Assim como, na sequência o filme de Polański, “The Tenant” (1976), foi filmado na França, e completou o seu “Apartment Trilogy”, nessa direção “Repulsion” e “Rosemary`s Baby”.
Em 1977, Polański foi detido em Los Angeles e se declarou culpado de relações sexuais ilegais com menores, de uma garota de 13 anos (na época ele próprio tinha 43 anos). Nos depoimentos, a menor acusou-o de drogá-la com Champanhe e Methaqualone. É mais conhecida como Mandrix (e também mandrax, mequalon, quaaludes, “smarties”, ou “geluk-tablette”) são nomes comerciais ou populares do princípio ativo Methaqualone,  uma droga sedativa e hipnótica depressora do sistema nervoso central, muito usada como comprimidos para dormir nos anos 1970, com efeitos semelhantes e menos efeitos colaterais que os barbitúricos, largamente usada como “droga de abuso”. Foi uma das substâncias em que se iniciou no vício em drogas Christiane F. Christiane Vera Felscherinow, mais conhecida como “Christiane F” (Hamburgo, 20 de maio de 1962), é uma alemã que fora viciada em heroína, que se tornou célebre por contribuir para o livro autobiográfico Wir Kinder vom Bahnhof Zoo, publicado e editado pela revista alemã Stern em 1978 e que descreve sua démarche e luta contra o vício durante a adolescência.
Roman Polański foi acusado em 1977 de ter se valido de Methaqualone para facilitar sexo ilícito com uma menina de 13 anos de idade. Liberado após 42 dias, de uma avaliação psiquiátrica, Polański fugiu para a França e teve um “mandado de detenção E.U. pendentes desde 1978” e ainda um “mandado de captura internacional desde 2005”.  Polański foi por muitos anos evitados em fazer visitas nos países que eram susceptíveis de extraditá-lo, como o Reino Unido e viajou principalmente entre a França, onde reside, e a Polónia. Como um cidadão francês, foi protegido na França pela extradição limitada do país com os Estados Unidos. Em 26 de setembro de 2009, ele foi preso, a pedido das autoridades americanas, pela polícia suíça, em sua chegada ao aeroporto de Zurique durante a tentativa de entrar na Suíça para pegar uma realização da vida “Golden Icon Award” do Festival de Cinema de Zurique.
Depois de fugir para a Europa na sequência da sua condenação nos Estados Unidos em 1977, Polański continuou a dirigir filmes, embora não houvesse quase uma pausa de sete anos entre “1979 a Tess” (um drama romântico adaptado da novela de Thomas Hardy Tess, de 1891, do “Urbervilles d´”, dedicado à memória de sua falecida esposa, Sharon Tate e “Os Piratas” em 1986, uma comédia de aventura. Mais tarde, seus filmes incluem “Frantic” (1988), “Death and the Maiden” (1994), “The Ninth Gate” (1999), “The Pianist” (2002), e “Oliver Twist” (2005). O mais notável de seus filmes mais tarde é “O Pianista”, a “Segunda Guerra Mundial” - set adaptação da autobiografia de mesmo nome de músico judeu-polonês Wladyslaw Szpilman, cujas experiências têm semelhanças com o próprio Polański, pois ele, como Szpilman, escapou do gueto e campos de concentração, enquanto os membros da família não. O filme ganhou três Oscar, incluindo Melhor Diretor (2002), Palma de Ouro do Festival de Cannes (2002), e sete César, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor. Também fez trabalhos ocasionais no teatro. Enfim, foi um dos nomeados ao “European Film Awards” de melhor diretor por The Ghost Writer. Enfim, o novo filme de Polański, “Carnage” foi exibido na quinta-feira no Festivald e Veneza e foi elogiado pela crítica. Baseado na peça “Deus da Carnificina”, de Yamina Reza, reúne, no elenco, John C. Reilly, Jodie Foster, Cristoph Waltz e Kat Winslet.
O governo da Suíça anunciou, nesta sexta-feira (23/08), que os Estados Unidos enviaram pedido formal para que o cineasta Roman Polański. O governo da Suíça anunciou, nesta sexta-feira (23), que os Estados Unidos enviaram pedido formal para que o cineasta Roman Polanski seja extraditado. Segundo o Ministério da Justiça suíço, a solicitação foi feita na noite de quinta-feira (22). Polański, de 76 anos, foi preso ao chegar à Suíça em 26 de setembro para receber um prêmio em um festival de cinema em homenagem a sua obra. A prisão foi por causa de um crime cometido nos EUA há mais de 30 anos, quando ele foi condenado por fazer sexo com uma menor de idade, como vimos.
O cineasta, que tem dupla cidadania, francesa e polonesa, se declarou culpado de fazer sexo com uma menina de 13 anos em 1977 e passou 42 dias na prisão, onde foi submetido a testes psiquiátricos. No entanto, ele fugiu dos EUA antes de o caso ser concluído porque achou que um juiz iria sentenciá-lo há até 50 anos atrás das grades. Polański pode optar por enfrentar Justiça dos EUA, diz advogado. Com receio de fuga, a corte suíça rejeita pedido de Polański, para sair da prisão Roman Polański deixa a prisão para exames médicos, diz advogado. Por conta do receio de nova fuga, a Suíça negou os pedidos para que o cineasta espere o processo em liberdade. “De acordo com as leis da Suíça, a detenção é regra durante todo o processo de extradição”, afirmou em nota oficial da Corte Criminal Federal Suíça. “A corte considera que há riscos de Polanski fugir se for libertado”.
Finalmente, convém situar uma questão mais geral a propósito desse “individualismo” ou “individuação” que se invoca tão frequentemente para explicar, em épocas diferentes, fenômenos bem diversos. Sob tal categoria misturam-se, frequentemente realidades completamente diferentes, e não seria distinta no caso do cineasta franco-polonês. De fato, convém distinguir três aspectos: a) a atitude individualista, caracterizada pelo valor absoluto que se atribui ao indivíduo em sua singularidade e pelo grau de independência que lhe é atribuído em relação ao grupo ao qual ele pertence ou às instituições das quais ele depende; b) a valorização da vida privada, ou seja, a importância reconhecida às relações familiares, às formas de atividade doméstica e ao campo de interesses patrimoniais; e, c) finalmente, com a “intensidade das relações consigo”, isto é, das formas nas quais se é chamado a tomar a si próprio como “objeto de conhecimento” e “campo de ação” para transformar-se, corrigir-se, purificar-se e promover a própria salvação.
Bibliografia geral consultada.
BRAGA, Ubiracy de Souza, “Fabulas de Solidariedade: Neruda, Kurosawa e Hitchcok”. In: http://www.dapraianet.blogspot.com. Max Krichanã Editor, 4 de fevereiro de 2008
Idem, “Atira. Tenório, no fim, resolveu não atirar. As armas da crítica e a crítica das armas”. Disponível em: http://www.oreconcavo.com.br/2011/08/24; Idem, http://espacoacademico.wordpress.com/2011/04/13/serial-killers-brasileiros-origem-e-significado-da-tragoidia/
Idem, “Guerra de Sangue” em Oslo, contra imigrantes e marxistas. Disponível em: http://espacoacademico.wordpress.com/2011/07/30
DUNCAN, Paul e FEENEY, F. X., Roman Polanski. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Taschen do Brasil, 2006
SANDFORD, Christopher, Polanski - Uma vida. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2011
SAFRANSKI, Rüdiger, Nietzsche. Biografia de uma Tragédia. São Paulo: Geração Editorial, 2005
Filmes: Jean-Luc Godard, Alphaville (idem, FRA, 1965)
Idem, Nouvelle Vague (idem, FRA/SUI); Krzystof  Kieslovski, A Liberdade é Azul (Trois Couleurs: Bleu, FRA/POL, 1993)
Idem, A Igualdade é Branca ( Trois Couleurs: Blanc, FRA/POL, 1994)
Idem, A Fraternidade é Vermelha (Trois Couleurs: Rouge, FRA/POL/SUI, 1994)
 Idem, A Dupla Vida de Veronique (La Double Vie de Véronique, POL/FRAN/NOR, 1991)
BENJAMIN, Walter, L`opera d`arte nell`epoca della riproducilità técnica. Turim: Einaudi, 1966
GAMALERI, Giampiero, La Galaxia McLuhan. Roma: A. T. E., 1981
GUATARRI, Felix, “Milhões e milhões de Alices no ar”. In: Revolução Molecular: pulsações políticas do desejo. São Paulo: Brasiliense, 1980
FROMM, Erich, Anatomia da destrutividade humana. RJ: Guanabara, 1987
Idem, O Espírito de Liberdade. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1989
FOUCAULT, Michel, Eu Pierre Rivière, que matei minha mãe, minha irmã e meu irmão. Rio de Janeiro: Graal, 1983
CASTAÑEDA, Carlos, L` herbe du diable et la petite fumée. Paris: Plon, 1972
ALBERONI, Francesco, O Erotismo, Fantasias e Realidades do Amor e da Sedução. São Paulo: Circulo do Livro, 1986
ANDRADE, Mario de, Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. Belo Horizonte: Itatiaia, 1986
KAFKA, Franz, O processo. São Paulo: Editora 34, 2002
ARENDT, Hannah, Origens do Totalitarismo. Anti-semitismo, imperialismo, totalitarismo. São Paulo: Cia das Letras, 1989
BEAUVOIR, Simone de, O segundo sexo. 2ª edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009, entre outros.  

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