Ubiracy de Souza Braga*
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* Sociólogo (UFF), cientista político (URFJ), doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará.
“Ele
falou que a juventude é o futuro mesmo das nossas igrejas”,
diz o voluntário Mauricio Santos Bezerra.
Na história da cultura o
título de “Papa” tornou-se associado principalmente com o Bispo de Roma, no
entanto, em alguns casos, o termo é usado por autoridades clericais de outros
grupos cristãos. Também pode ser usado de forma satírica para descrever algum líder religioso importante. O “Papa
Negro” é um nome não oficial que foi popularmente dado ao Superior Geral da
Companhia de Jesus devido à enorme importância dos Jesuítas na Igreja. O
Superior Geral da Companhia de Jesus é um religioso eleito pela Congregação
Geral para governar toda a Ordem dos Jesuítas em caráter vitalício, conforme as
Constituições da Companhia. O Padre Geral, como é comumente conhecido, reside
na Cúria Generalícia em Roma. Este nome foi dado com base na cor preta da
batina do Superior Geral, sendo referida como um paralelo entre ela e a túnica
branca do papa. Também o Prefeito da Congregação para a Evangelização dos
Povos, cuja batina cardinalícia era vermelha, foi chamado de “Papa Vermelho”.
Desde
o século III, os Bispos de Alexandria na Igreja Ortodoxa Copta e na Igreja
Ortodoxa Grega são chamados de “Papa”, sendo o primeiro denominado de “Papa
Copta” (ou “Papa de Alexandria”) e o segundo de Papa e Patriarca de Alexandria
e de toda a África. Nas Igrejas Ortodoxas Búlgara, Russa e Sérvia, não é incomum
um padre paroquial ser chamado de “papa”. Na atualidade os papas são retratados
normalmente do ponto de vista da divisão internacional do trabalho e do
processo de globalização cada vez mais mundanizado “como importantes líderes
internacionais, preocupados com a fé católica, e com os direitos humanos”. Por
sua vez, diferentemente, a administração da Santa Sé e da Cúria Romana,
normalmente chamada na cultura popular apenas de “Vaticano” ou “Roma”, é
usualmente retratada como um organismo burocrático conservador, corrupto, e
ambicioso, como ocorre na Dinamarca,oficialmente Reino da Dinamarca (KongerigetDanmark) destes tempos (foto).
Foto:
Escultura de um tiranossauro “pastoreando ovelhas” (Nietzsche) na Dinamarca.
A Igreja é uma instituição
garante de um sistema de crenças religiosas, elaborando e reativando um
conjunto de códigos e de normas que impõe aos seus fiéis, proclamando como
heréticos aqueles que não os seguem. As instituições religiosas, para além das
vias e caminhos espirituais, gerem todo um conjunto de bens e estratégias
temporais que fazem com que o místico solitário se constitua como um marginal
perante adeptos de uma mesma crença. O nascimento e desenvolvimento dos Estados
modernos fez com que o lugar e o espaço da Igreja, dentro da sociedade, se
tenham modificado, privando-a, em parte, do seu poder temporal bem como do
monopólio da cultura.A discussão situou-se, a dada altura, mais na distinção
entre Igreja e seita religiosa. Hoje, essa reflexão faz-se numa tentativa de
compreensão dos novos movimentos religiosos. Max Weber opôs Igreja à seita como
uma instituição de salvação e um agrupamento voluntário de convertidos.
Enquanto a Igreja privilegia a sua extensão, a seita coloca a sua tônica na
intensidade de vida dos seus membros.
Por
sua vez, Ernest Troeltsch escritor e teólogo alemão ao lado de Max Weber que elaboraram
alguns conceitos relacionados à religião, acrescenta outro ponto de vista: a
seita opõe-se à Igreja e à rede mística, portadora da religiosidade livre, fora
da instituição. A Igreja seria desta forma, universal, preexistindo aos seus
membros, aos quais se impõe. A Igreja, na sua vocação de extensividade, está
pronta a compromissos com as instituições da vida pública em geral e com o
Estado, interferindo na sociedade e nas culturas, e recebe no seu seio crente
oriundos dos vários estratos sociais e econômicos. Analogamente a seita nasce
da decisão voluntária de adesão dos seus membros e do contrato que estabelecem
entre eles e Deus. Por se retrair em relação à sociedade global e à sua
cultura, a seita dá origem a uma subcultura própria. A própria cultura
brasileira é uma subcultura da cultura portuguesa. Subculturas desenvolvem-se
em função de identidades étnicas, raciais, de ocupação, de interesses especiais
(Star Wars, juventude), ou mesmo em
função de preferências sexuais.
Este aspecto lembra-nos hic et nunc: “Fratello sole,
sorellaluna” (“Irmão Sol, Irmã Lua”), filme ítalo-britânico de 1972 dirigido
por Franco Zeffirelli, com trilha sonora de RizOrtolani e canções de Donovan,
que canta em inglês o conjunto de trilha sonora do filme para o público
estrangeiro. Claudio Baglioni as interpreta na versão lançada na Itália.O filme
é uma dramatis personaeda vida de
Giovanni di Pietro diBernadone, mais conhecido como São Francisco de Assis,
nascido em 5 de julho de 1182 e falecido em 3 de outubro de 1226, que nasceu
num berço esplêndido e após desfrutar de uma juventude irrequieta e mundana,
volta-se para a vida religiosa de completa pobreza e fundando a ordem
mendicante dos Frades Menores, que depois ficaria conhecido como Franciscanos,
que renovaram o Catolicismo de seu tempo.
Ele
era filho do comerciante italiano Pietro diBernadone dei Moriconi e de Pica
Boulermont que faziam parte da nascente burguesia da cidade de Assis e tinham
negócios bem sucedidos na Provença, na França e assim conquistaram riqueza e
bem estar. Quando o filho do comerciante nasceu, a mãe batizou com o nome de
Giovanni, que em português é conhecido como João em homenagem ao profeta São
João Batista. O menino cresceu e se tornou um jovem e popular entre seus amigos
por sua indisciplina e extravagâncias e também por sua paixão às aventuras, bem
como pelas belas roupas e bebidas, entre outras, mas apesar disso possuía uma
índole esplendidamente bondosa. No ano de 1202 alistou-se como soldado na
guerra que a cidade de Assis lutava contra Peruggia e é provavelmente quando
sua vida começa a mudar e tomar novos rumos e mais tarde ficar conhecido e
admirado como São Francisco de Assis.
Escólio: O
termo alemão be-deuten, escrito em “Ser
e tempo” (“SeinundZeit”, Halle, 1927; Max Niemeyer Verlag, Tubingen, 1986),
insinua que se lhe está atribuindo uma acentuação forte a partir do étimo
principal – deuten = “mostrar,
apontar, interpretar”. Na analítica da mundanidade, todo ato e exercício de
interpretação, indicação e demonstração se exercem a partir de um mundo já
estruturado e estabelecido. Be-deuten
= significar que remete então para o “movimento e processo de estruturação do
mundo”. A tradução por significar e significância (na derivação de Bedeut-samkeit) visa a que a leitura
remonte a esse nível ontológico de constituição da mundanidade. Este o objetivo
de meus apontamentos sobre a visita do Papa Francisco ao Rio de Janeiro na Jornada Mundial da Juventude (JMJ):
“Cristo bota fé nos jovens”, afirmou o Papa. O jovem é entendido como sendo forma imatura de um ser vivo, sendo o
período antes da maturidade intelectual e sexual. Para o ser humano esta
designação se refere ao período de transição entre a infância e a maturidade,
podendo ser aplicada a ambos os sexos e podendo haver variações psíquicas e
afetivas no período de idade que ocorre de acordo com a cultura. Nesta fase,
grande parte do aprendizado ocorre fora das áreas protegidas do lar e da
religião, onde o diálogo torna-se parte primordial do processo de formação.
Este grupo de pessoas não tem sido contemplado com a atenção necessária pelos
setores sociais.O conceito de juventude é uma construção social, histórica,
cultural e relacional, percebem-se diversas formas de denominar a juventude, sendo
considerada a passagem da infância para a idade adulta. A noção mais usual do
termo juventude “se refere a uma faixa etária, um período de vida, em que se
completa o desenvolvimento físico do indivíduo e ocorre uma série de
transformações psicológicas e sociais, quando este abandona a infância para
entrar no mundo adulto”.
Papa Francisco
circula pelo centro do Rio de Janeiro, após chegar ao Aeroporto Internacional Antônio
Carlos Jobim na praia do Galeão, na baía da Guanabara.
Tese: Em
toda a parte onde encontramos uma moral encontramos uma avaliação e uma classificação
hierárquica dos instintos e dos atos humanos. Essas classificações e essas
avaliações são sempre a expressão das necessidades de uma comunidade, de um
rebanho: é aquilo que aproveita ao rebanho, aquilo que lhe é útil em primeiro
lugar - e em segundo e em terceiro -, que serve também de medida suprema do
valor de qualquer indivíduo. A moral ensina a este a ser função do rebanho, a
só atribuir valor em função deste rebanho. Variando muito as condições de
conservação de uma comunidade para outra, daí resulta morais muito diferentes;
e, se considerarmos todas as transformações essenciais que os rebanhos e as
comunidades, os Estados e as sociedades são ainda chamados a sofrer, pode-se
profetizar que haverá ainda morais muito divergentes. A moralidade é o instinto
gregário no indivíduo.
Da perspectiva da teoria da ação, é
só de maneira insatisfatória que as atividades do espírito humano podem ser
restritas à confrontação cognitivo-instrumental com a natureza exterior; ações
sociais orientam-se por valores culturais. Estes últimos, porém, não contam com
um referencial de verdade, pois assim, coloca-se a seguinte alternativa: ou
negamos aos componentes não cognitivos da tradição cultural o status assumido
pelas entidades do terceiro mundo graças à alocação delas em uma esfera de
nexos de validade, e então nivelamos esses mesmos componentes de maneira
empirista, como formas enunciativas do espírito subjetivo; ou procuramos
equivalentes para o referencial de verdade que está ausente. Esta segunda via,
é escolhida por Max Weber. Vejamos a colocação do problema no âmbito da filosofia
vitalista quando oproblema da igualdade
política foi analisadocom sabedoria por Friedrich Nietzsche.
O
“animal de rebanho”, cuja maior conquista moderna é a garantia de direitos a
todos os membros da sociedade na Revolução Francesa, é visto por Nietzsche como
“bicho-anão de direitos e exigências iguais”. Impondo-se a uniformidade de
direitos e deveres, “atinge-se apenas o nivelamento e a impossibilidade de
questionar, de alçar voos próprios”. A moral da igualdade é a moral gregária e
niveladora: “[...] na Europa de hoje o homem de rebanho se apresenta como a única
espécie de homem permitida”. Relativamente a este tópico, pode-se dizer que
ocorre uma “moralização escrava da ação”: ao que parece, Nietzsche não desejava
atacar a moral, mas uma moral - a reativa, negativa e niveladora moral do
rebanho. Pode se ler com estes olhos o § 188 de Além do Bem e do Mal, em que se afirma: “Toda moral é, em
contraposição ao laisseraller, um
pouco de tirania contra a ´natureza`, e também contra a ´razão`: mas isso ainda
não constitui objeção a ela [...] [Pois] o fato curioso é que tudo o que há e
houve de liberdade, finura, dança, arrojo e segurança magistral sobre a Terra
[...] desenvolveu-se apenas graças à ´tirania de tais leis arbitrárias`”.Em
Nietzsche, fora de dúvida, temos a rejeição de toda transcendência, seja
idionômica como no platonismo, seja teonômica como no Cristianismo, imanência
absoluta da Natureza como fonte de todo o bem e de todo o valor e, enfim,
crítica da cultura existente e de sua moral, fonte do mal e da corrupção no
homem. Sobre esse fundamento crítico, pode-se elevar então o anúncio de um
“novo homem” e de uma “nova humanidade”, definitivamente reconciliados com a
Terra (cf. Nietzsche, 2005; 2008).
A perfeita comunidade política da
sociedade de massas não poderia ser senão a burocracia: nela se exerce o poder
de ninguém, tão coercitivo quanto o de um soberano absolutista. Não importa se
sob a forma democrática, monárquica ou totalitária: quem guia tal sociedade é a
vontade social única, o interesse global da sociedade como um todo. Em verdade,
podem-se abandonar tais categorias e adotar apenas o conceito de administração.
Assim como a sociedade de massas culmina na burocracia, Nietzsche percebeu em
seu tempo uma situação muito próxima. Pode-se dizer que há, na modernidade,
ausência de vontade de participação política ativa, expressa na “consciência
formal” que inculca em cada um o dever de obediência como algo natural. Sem
educação para a “arte de mandar”, os governantes sofrem de má-consciência ou se
iludem de também obedecerem: esta é a origem, para Nietzsche, dos regimes
constitucionais representativos: “o rebanho autônomo”. Nesse sentido, o
princípio guia da comunidade gregária é o “imperativo do temor do rebanho:
‘queremos que algum dia não haja nada mais a temer!”. O caminho que leva a ele
é uma ideia fixa central do homem moderno: a crença quase que instintiva na
ideia de progresso.
Se me permitem uma digressão, vale
lembrar que a Irlanda (cf. Braga, 2012) é o sucessor do Estado Livre Irlandês.
Este domínio na esfera da ação política tem sido constituído quando toda a ilha
da Irlanda se separou do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda em 6 de dezembro
de 1922. No entanto, no dia seguinte, o Parlamento da Irlanda do Norte exerceu
o seu direito ao abrigo do Tratado Anglo-Irlandês, e optou voltar a pertencer
ao Reino Unido. Esta ação política, conhecida como a Partição da Irlanda, foi
seguida de quatro tentativas para introduzir o governo autônomo de toda a ilha
da Irlanda (em 1886, 1893, 1914 e 1920). O Estado Livre Irlandês foi abolido
quando a Irlanda foi formalmente criada em 29 de dezembro de 1937, o dia em que
a sua Constituição entrou em vigor (cf. Arensberg, 1968; Wolf, 1995; Leerssen,
1996; Patrick & Lyons, 1997; Fitzgerald, 2006).A Independência Irlandesa da
Grã-Bretanha em 1922 foi precedida pela Guerra de Independência e a Revolta da
Páscoa de 1916, quando voluntários irlandeses e membros do Exército Civil
Irlandês tomaram o comando político de lugares em Dublin e Galway “sob os
termos expressos na Proclamação da República da Irlanda”. Os sete signatários desta
proclamação, Patrick Pearse, Thomas MacDonagh, Clarke Thomas, Sean MacDiarmada,
Joseph Plunkett, EamonnCeannt e James Connolly, foram executados, juntamente
com outras nove pessoas, e milhares foram internados, precipitando, como num
balão de estufa, a Guerra de Independência da Irlanda.
Em
8 de maio de 2007, uma histórica cerimônia em Belfast deu início a um novo
governo de união na província britânica da Irlanda do Norte. Depois de décadas
de conflitos sanguinolentos, os protestantes do Partido Unionista Democrático e
os católicos do Sinn Fein concordaram em dividir o poder (a primeira reunião do
governo, com o vice-premiê católico Martin McGuinness e o premiê protestante
Ian Paisley). O acerto tem “a bênção da Inglaterra, que hoje administra a
Irlanda do Norte”. O governo conjunto pode consolidar a estabilização a Irlanda
do Norte - a província vive desde 1998 sob um acordo de paz que praticamente
acabou com o terrorismo e a violência sectária. Desde 1969, 3.600 pessoas
morreram por causa da luta entre os dois lados - a maioria, vítima de atentados
do exército IRA, braço armado dos católicos. Fundado em 1919, o Exército
Republicano Irlandês (IRA), como vimos, fora um grupo paramilitar católico, que
pretendia separar a Irlanda do Reino Unido e posteriormente reintegrar a
Irlanda do Norte à República da Irlanda.
Os
protestantes, em maioria de 75% na Irlanda do Norte, tinham o poder de decidir
candidaturas e plebiscitos, oprimindo e segregando ainda mais a minoria
católica. A violenta repressão dos ingleses aos protestos acabou provocando
retaliações do exército IRA-, através de ações terroristas por décadas,
principalmente em Belfast, causando mais de 3.500 mortes em ambos os lados.
Apenas em 2005 o exército IRA concordou em entregar as armas, dando por
encerrado o conflito. As histórias e cicatrizes causadas por tantos anos de
lutas políticas renderam ao cinema uma série de bons filmes, tais como: In theNameoftheFather (1993), filme
irlandês e britânico de 1993, do gênero drama, dirigido por Jim Sheridan e
baseado no livro autobiográfico:ProvedInnocent,
de Gerry Conlon. Prosseguindo em sua luta contra o governo britânico na Irlanda
do Norte, dividiu-se em dois ramos em 1969: temos IRA “oficial”, que condena o
terrorismo, e IRA “provisório”, dominante na Irlanda do Norte, que pratica
ações terroristas sistematicamente, como forma de chamar a atenção da opinião
pública internacional e pressionar o governo britânico, visando a soberania da
Irlanda do Norte em relação à Grã-Bretanha, e em última instância, a integração
com a República da Irlanda do ponto de vista da formação do Estado nacional.
Em
1974, um atentado a bomba do exército IRA mata cinco pessoas num pub de Guilford, próximo à Londres. O
jovem rebelde irlandês Gerry Conlon e três amigos são acusados pelo crime,
presos e condenados. Giuseppe Conlon, pai de Gerry, tenta ajudar o filho e
também é condenado, mas pede ajuda à advogada GarethPeirce, que passa a
investigar as irregularidades do caso.
Nas últimas três décadas as ações IRA e dos grupos paramilitares
“protestantes” intensificaram suas ações e foi responsável por vários atentados
na Irlanda do Norte, principalmente na capital, Belfast. A ascensão do Partido
Trabalhista ao poder em 1997, a criação do Euro e a “nova ordem mundial”
criaram novas condições de negociação política, tendo de um lado a Inglaterra
uma nova preocupação, em fortalecer-se dentro da Europa e a própria elite
irlandesa católica, preocupada em aproveitar as novas condições de
desenvolvimento. A suspensão dos atentados por ambos os lados foi fundamental
para que as negociações pudessem existir, criando condições concretas para a
pacificação da região.
Escólio:
Como os padres católicos lidam com suas emoções e sentimentos que se contrapõem
às leis morais da igreja? Esta é a ideia que o filme “O Padre” (The Priest, 1994), busca transmitir. A
produção irlandesa retrata diversos assuntos religiosos controversos e os
aborda de uma forma chocante principalmente em relação aos católicos. O enredo
retrata a vida de Padre Greg, um homossexual, na falta de melhor expressão, dividido
entre sua vocação e o desejo sodomita. Concomitantemente outros paradigmas
dogmáticos são colocados em xeque, como o sigilo da confissão, celibato
sacerdotal, incesto e preconceito na igreja. O protagonista, novo na
comunidade, é um sacerdote que acredita que o catolicismo deve ser levado a
ferro e fogo. Entretanto, ao deparar-se com a dura realidade, percebe a
fragilidade da contra-ideologia em que crê. Atormentado a todo o momento com o
comportamento dos membros da paróquia, pela liberalidade de seu colega padre
Matthew e principalmente pelo sofrimento de uma menina de 14 anos, que em confissão
conta ter sido abusada sexualmente pelo próprio pai, o Padre Greg se desespera
e cede aos seus desejos carnais, se envolvendo com um rapaz. O ápice da história
ocorre quando a sexualidade do líder vem à tona, polêmica que viria a atribular
a rotina da igreja.
Lembramos que, de acordo com
Jurandir Freire Costa no ensaio: A
Inocência e o Vício: Estudos sobre o Homoerotismo (Relume-Dumará, 1992; 195
páginas): “O termo homossexualismo nos vemos implicados no constructo
histórico-político-econômico-libidinal burguês do século XIX, o qual
caracteriza a humanidade como dividida em heterossexual e homossexual,
correlativa à normal/patológico, que transforma as vivências da experiência
sexual desses sujeitos em desvio de personalidade. Remete à construção
histórica a figura imaginária do homossexual como uma modalidade do humano (ou
desumano) com perfil psicológico único. Falar de homossexualidade é falar de
uma personagem imaginária que teve historicamente a função de ser antinorma do
ideal de masculinidade burguês” (cf. Costa,1992).
As teses de Foucault e Pasolini
sobre a constituição do dispositivo discursivo da sexualidade encontram-se
referenciadas em uma dupla crítica – histórica e metodológica – à hipótese repressiva da sexualidade, também
analisada pela filósofa Marilena Chauí. Esse, o nó górdio entre Foucault na
filosofia e Pasolini na arte cinematográfica em que pretendemos uma aproximação
conceitual brevemente. Píer Paolo Pasolini era um artista solitário. Antes de
ficar famoso como cineasta tinha sido professor, poeta e novelista. Entre seus
livros mais conhecidos estão:Meninos da
Vida, Uma Vida Violenta e Petróleo. De porte atlético e estatura média, Pasolini
usava óculos com lentes muito grossas. Em 26 de janeiro de 1947 escreveu uma
declaração polêmica para a primeira página do jornal Libertà: “Em nossa opinião, pensamos que, atualmente, só o
comunismo é capaz de fornecer uma nova cultura”. Após a sua adesão ao PCI -
Partido Comunista Italiano, participou de várias manifestações e, em maio de
1949, participou do Congresso da Paz em Paris.
Em
um caso e outro se quisermos insistir neste aspecto, vejamos. Surgem dois modos
possíveis de interpretação do uso do verbo “saber”. Na primeira, “saber” está
ligado à crença, saber implica crer. Em sentido amplo, crer também significa
“ter por verdadeiro”. Assim, crer significa, por exemplo, ter algo por
existente ou ter um enunciado por verdadeiro. Em outras palavras, crer
significa aceitar a verdade e a realidade sem que seja necessário apresentar
provas. Em última instância é possível afirmar, que crer implica “dar por
acordado que o mundo existe”. Há, portanto, uma dimensão prática e analógica que
liga o “saber” (Foucault) ao mundo manifestado no “crer” (Pasolini). Esta
dimensão parece apontar para o segundo modo de interpretação do uso do verbo
“saber”. Desta vez, ele pode ser associado a “poder” (Foucault). Dizer que “se
sabe” é o mesmo que dizer que “se pode” (Pasolini). Aqui reside o ponto central
da interpretação analítica que compreende o saber como habilidade e disposição.
Ora, a partir de Nietzsche
compreendemos que toda a moral da Europa tem por fundamento “o proveito do
rebanho”: a aflição dos homens mais raros e superiores estão no fato de que
tudo o que ela distingue chega-lhes à consciência com o sentimento de
apequenamento e de difamação. As forças do homem atual são as causas do
obscurecimento pessimista: os medíocres, como de resto o rebanho, quase não
possuem questões ou consciência moral, - são alegres. Para o obscurecimento dos
fortes: Schopenhauer, Pascal. Tanto mais perigosa uma característica parece ao
rebanho, tanto mais a fundo ele se acautela em relação a ela. No interior do
rebanho, de toda comunidade, portanto inter
pares, a superestimação da veracidade tem boa acolhida. Não se deixar
enganar – e, por conseguinte, como pessoa moral, não enganar a si mesmo! Um
compromisso mútuo entre iguais! Em relação ao que é de fora, o perigo e a precaução
exigem que se esteja vigilante diante do engano: para tanto, como condição
psicológica prévia, também se deve estar internamente vigilante. Desconfiança
como fonte da veracidade.
Assim,
“o instinto de rebanho avalia o meio e o mediano como o que há de mais
alto e valioso: a posição na qual se encontra a maioria; a maneira como ela se
encontra a si mesmo; com isso, é um opositor de toda hierarquia, a qual observa
uma ascensão de baixo para cima, ao mesmo tempo em que considera um descenso [Hinabsteigen] do maior número à
minoria. O rebanho sente a exceção, tanto a que está embaixo dele quanto a que
está em cima dele, como algo infame e que se opõe a ele. Seu truque em relação
às exceções de cima, aos mais fortes, mais poderosos, mais sábios, mais férteis,
é persuadi-los a desempenhar o papel de vigias, pastores, guardas – a serem os
seus primeiros servidores: com isso, ele transforma um perigo em uma utilidade.
No meio, cessa o temor; aqui, não se está sozinho com nada; aqui, há pouco
espaço para o mal-entendido; aqui, há igualdade; aqui, o ser próprio não é
sentido como uma censura, mas antes como um ser autêntico; aqui, reina a
satisfação. A desconfiança dirige-se às exceções; ser exceção vale como culpa”
(cf. Nietzsche, 2008: 161-162, passim).
Estatisticamente
falando do ponto de vista da religiosidade
a população brasileira é majoritariamente cristã (87%), sendo sua maior parte
católica (64,4%). Herança da colonização portuguesa, o catolicismo foi durante
cerca de 400 anos a religião oficial do Estado até a Constituição Republicana
de 1891, que instituiu o Estado laico. Também estão presentes os movimentos
básicos do protestantismo: adventismo, batistas, evangelicalismo, luteranos,
metodismo e presbiterianismo. No entanto, existem muitas outras denominações
religiosas no Brasil, algumas dessas igrejas são: pentecostais, episcopais,
restauracionistas, entre outras. Há mais de três milhões e meio de espíritas
(ou kardecistas) que seguem a doutrina espírita, codificada por Allan Kardec. O
animismo também é forte dividindo-se em candomblé, umbanda, esoterismo, santo
daime e tradições indígenas (cf. Braga, 2012). Existe também uma minoria de
muçulmanos, budistas, judeus e neopagãos. Enfim, 8% da população (cerca de 15
milhões de pessoas) declararam-se sem religião no último censo, podendo ser
agnósticos, ateus ou deístas.
Nas últimas décadas, tem havido um
grande aumento de igrejas neopentecostais, o que diminuiu o número de membros
tanto da Igreja Católica quanto das religiões afro-brasileiras. Cerca de
noventa por cento dos brasileiros declararam algum tipo de afiliação religiosa
no último censo realizado. O censo demográfico realizado em 2010, pelo IBGE,
apontou a seguinte composição religiosa no Brasil: 64,6% dos brasileiros (cerca
de 123 milhões) declaram-se católicos; 22,2% (cerca de 42,3 milhões)
declaram-se protestantes (evangélicos tradicionais, pentecostais e
neopentecostais); 8,0% (cerca de 15,3 milhões) declaram-se irreligiosos: ateus,
agnósticos, ou deístas; 2,0% (cerca de 3,8 milhões) declaram-se espíritas; 0,7%
(1,4 milhão) declaram-se as testemunhas de Jeová; 0,3% (588 mil) declaram-se
seguidores do animismo afro-brasileiro como o Candomblé, o Tambor-de-mina, além
da Umbanda; 1,6% (3,1 milhões) declaram-se seguidores de outras religiões, tais
como: os budistas (243 mil), os judeus (107 mil), os messiânicos (103 mil), os
esotéricos (74 mil), os espiritualistas (62 mil), os islâmicos (35 mil) e os
hoasqueiros (35 mil). Há ainda registros de pessoas que se declarambaha`ís e wiccanos, “porém nunca foi revelado um número exato dos seguidores
de tais religiões no país”.
Se
na origem do“populismo” (популизм),
na expressão de V. Tvardovskaia (1972), eno sentido simplificado do termo pode
ser entendido como um processo mediante o qual “o popular se torna conhecido”
(cf. Weffort, 1968a; 1968b), quando uma multidão de 400 mil pessoas reunidas na
Praça de São Pedro, no Vaticano, durante o funeral do Papa João Paulo II, em
abril de 2005 gritava: “Santo Súbito!” temos assim, “sinais” (cf. Ginzburg,
1992: 158 e ss.) de que o papa reinventava o “populismo católico” para o mundo.
Ipso facto esta expressão fará com que “João de Deus” - como é conhecido no
Brasil - seja beatificado seis anos após a sua morte. Normalmente, como
sabemos, a igreja leva cinco anos só para iniciar todo o processo. Além disso,
temos um fato político-religioso novo: o processo se deu mais rápido, porque
este era um desejo do povo, que queria que ele fosse canonizado já no dia de
seu funeral. Com 27 anos de pontificado, “João de Deus” foi o terceiro papa a
passar mais tempo no cargo, perdendo apenas para São Pedro (30 d.C. - 67 d. C.)
e Pio XII (1846-1878).
Mas
o que pode representar para Freud, como diz-nos C. Ginzburg, leitor d
“ilgiovane Freud”, “ancora lontaníssimodallapsicoanalisi - lalettura dei
saggidi Morelli?”. Enfim, o que há de
importante nesses aspectos, resumidamente, é que Ginzburg articula mais precisamente
em seu “paradigma indiciário” (cf. Ginzburg, 1986:165;1991; 2001) onde sugere três
aspectos: “sintomi” (nel caso di Freud),“indizi” (nel caso di Sherlock Holmes)
e“segnipicttorici” (nel caso di Morelli). Ou seja,
“la proposta diunmetodo interpretativo imperniatosugliscarti, sui
datimarginali, considerati come rivelatori. In tal modo,
particolariconsideratidisolitosenzaimportanza, o addirittura tri viali,
´bassi`, fornivanolachiave per accedere ai prodottipiúelevatidellospiritoumano:
´i miei avversari` scriveva ironicamente Morelli (un`ironiafattaapposta per
piacere a Freud) ´si compiaccionodiqualificarmi per uno ilquale non savedereil senso spiritualediun`opera d´arte
e per questodà una particolareimportanza a mezziesteriori, qualile forme della
mano, dell`orecchio, e persino, horrible dictu, dicosíantipaticooggetto qual
èquellodelleunghie`. Anche Morelli avrebbepotutofarproprioil moto virgiliano
caro a Freud, scelto como epigrafe dell`Interpretazione dei sogni: ´Flectere si
nequeoSuperos, Cherontamovebo`. Ilnotre, questidatimarginalierano, per Morelli,
rivelatori, perchécostituivano i momenti in cuiilcontrollodell´artista, legato
allatradizioneculturale, si allentava per cedereil posto a
trattipruamenteindividuali, ´cheglisfuggonosenzacheegli se ne accorga`.
Ancorpiúdell`acceno, in quelperiodo non eccezionale, a un`attivitàinconscia,
colpiscel`identificazionedelnucleo intimo
dell`individualitàartisticaconglielementisottrati al controllodellacoscienza”
(cf. Ginzburg, 1986: 164-165, grifado no texto).
Além
disso, João Paulo II foi o primeiro papa a rezar em uma sinagoga, em Roma
(Itália), o primeiro a entrar em uma mesquita em um país islâmico, em Damasco,
na Síria, e o primeiro a presidir um encontro de líderes das maiores religiões
mundial, no ano 1986. Não devemos perder de vista, que no ano de 1981, o
extremista turco Melhmet Ali Ağca tentou matar o papa, atirando na Praça São
Pedro. Nascido a 9 de janeiro numa famíliapobre da Turquia foi o terrorista que
cometeu o atentado contra o Papa João Paulo II em 13 de maio de 1981, quando
este circulava “em carro aberto” pela Praça de São Pedro no Vaticano. Em segundo
lugar João Paulo II foi o primeiro pontífice em mil anos a ser beatificado pelo
seu sucessor. O processo foi aberto em junho de 2005, por iniciativa do papa
Bento XVI, a quem coube decidir pela aceleração da beatificação, sob alegativa
de que “não pretendiam esperar os cinco anos de morte previstos no Código de
Direito Canônico”. Pragmaticamente falando o papa Bento XVI aprovou decreto
atribuindo um milagre a seu antecessor, o que abriu a démarche para a beatificação. O milagre atribuído a KarolWojtyla é
a cura, aparentemente inexplicável, da freira francesa Marie Simon-Pierre, de
50 anos.
O
indivíduo, ator, identidade, grupo social, classe social, etnia, minoria,
movimento social, partido político, corrente de opinião pública, poder estatal,
todas estas “manifestações de vida” no sentido simmeliano do termo, não mais se
esgotam no âmbito da sociedade nacional, o que nos faz admitir que a
diferenciação em comunidades locais, tribos, clãs, grupos étnicos, nações e até
mesmo Estados, perderam ao menos algo do seu significado anterior. Na sociedade
global, de outra parte, generalizam-se as relações, os processos e as
estruturas de dominação e apropriação, antagonismo e integração. Modificam-se
os indivíduos, as coletividades, as instituições, as formas culturais, os
significados das coisas, gentes e ideias, vistos em configurações
histórico-sociais. Enfim, se as ciências sociais nascem e desenvolvem-se como
forma de autoconsciência científica da realidade social, pode-se imaginar que
elas podem ser seriamente desafiadas quando essa realidade já não é mais a
mesma. Nesse sentido é que a formação da sociedade global pode envolver novos
problemas epistemológicos, além de ontológicos.
Enfim, para concordarmos com
Leonardo Boff (2007; 2010),
“temos que desenvolver urgentemente a capacidade de somar, de interagir,
de religar, de repensar, de refazer o que foi desfeito e de inovar. Esse
desafio se dirige a todos os especialistas para que se convençam de que a parte
sem o todo não é a parte. Da articulação de todos estes cacos de saber,
redesenharemos o painel global da realidade a ser compreendida, amada e
cuidada. Essa totalidade é o conteúdo principal da consciência planetária,
esta, esta sim, a era da luz maior que nos liberta da cegueira que nos aflige”.
Do ponto de vista
teórico-metodológico Carlo Ginzburg tem um percurso de pesquisa dos mais
originais e criativos, que extravasa o quadro dahistoriografia italiana (cf.
Ginzburg, 1991: 169 e ss.) e mesmo da historiografia europeia. A sua obra, com
efeito, introduziu diversas rupturas nas maneiras de pensar em História,
mobilizou metodologias e instrumentos de conhecimento oriundos de outras áreas
de saber, estabeleceu novas zonas de dialogo com as restantes ciências humanas
e sociais, nomeadamente com a antropologia e a filosofia (cf. Ginzburg, 1991:
203 e ss.). Enfim, trata-se aqui de uma intervenção ativa, que procura inverter
as relações tradicionais de subordinação da História no que diz respeito à
produção dos meios de conhecimento, centrada numa forte preparação filológica,
caracterizada pela atenção ao detalhe, ao estudo de caso, à analise do processo
significativo, com a valorização dos fenômenos aparentemente marginais, como os
ritos de fertilidade, ou dos casos obscuros, protagonizados pelos pequenos e
excluídos, cuja verdadeira dimensão cultural e social vem sendo valorizada (cf.
Ginzburg, 1988: 96 e ss.).
Outro
aspecto relevante na vida política de João Paulo II é que ele foi louvado como
grande liderança na arena politica internacional. Só ao Brasil, o pontífice
realizou três visitas oficiais. A primeira, em 1980, foi a mais marcante. Com
apenas dois anos de pontificado, João Paulo II desembarcou em Brasília no dia
30 de junho, onde se ajoelhou e beijou o chão. O gesto célebre, que ele repetia
sempre que visitava um país pela primeira vez, virou a sua marca. Na ocasião de
sua primeira viagem ao país, o papa percorreu treze cidades em apenas doze
dias. O evento mais marcante de sua passagem foi a celebração de uma missa
campal no maior estádio do mundo, o Maracanã, no Rio de Janeiro, no vigor de
seus 58 anos para cerca de 160 mil fiéis presente, cantando o refrão da música
tema de sua visita ao país. Foi nessa primeira visita que o papa veio a
Fortaleza e durante a sua passagem ele celebrou uma missa para um Estádio
Castelão que atraiu cerca de 120 mil pessoas contando ainda com a presença do
Frei Aloisio Lorscheider.
Neste
aspecto não queremos perder de vista,
“ensutesis de doctorado sobre elMovimiento de Educación de Base enel
Brasil (movimento organizado por laIglesia Católica con recursos públicos a
partir de 1961 para laeducación de las capas populares del nordeste del Brasil
a través de la radio y confiado a laorientación de los laicos), publicada en
1970, Emanuel de Kadt - teniendoen mente los textos del famoso seminario sobre
populismo realizado enla London SchoolofEconomicsenmayo de 1967 - señalóla presencia
entre losjóvenes católicos brasileños de elementos semejantes a los que
marcaron al populismo rusodelsiglo XIX. La analogía entre lospatrones
ideológicos del populismo ruso y de los movimentos populistas deltercer mundo
había sido señalada por AndrzejWalichi, uno de losmejoresconocedoresdel
populismo ruso y sobre cuyotrabajo se apoyó Kadt.2 Éste intenta dar concreción
a la analogia reduciendolacaracterización de unmovimiento como populista a
lautilización de unos pocoscriterios. Seríanmovimientos promovidos por
intelectuales (y estudiantes) preocupados por las condiciones de vida de
lasmasas oprimidas, el ´pueblo`, aparentemente incapaz de identificar por
símismo sus intereses. Tales intelectualestendrían horror a lamanipulacióndel
´pueblo` y supresupuesto central sería que las soluciones para los problemas
vividos por elpueblodeberíanprovenir, en última instancia, delpropio Pueblo”
(cf. Paiva, 1982).
No
caso do papa Francisco, talvez a postura de adotar uma linha de menos
ostentação durante seu pontificado colocou o papa Francisco no centro de uma
polêmica na Itália, e gerou declarações no mínimo curiosas por parte de
historiadores. O escritor e historiador Vittorio Messori criticou a postura de
Francisco ao dizer que a Igreja Católica não é pobre e nem deve se portar como
tal, pois “Jesus não era um morto de fome”.Na entrevista ao jornal Il Fatto Quotidiano, Messori fez
analogias bastantespolêmicas para explicar sua visão sobre o ministério de
Jesus: “Ele vestia Armani, as suas vestes eram raras e luxuosas para a época.
Ele tinha um tesoureiro que o traiu e, portanto, também um tesouro” (“Indossava
Armani, i suoivestitieranorari e dilusso per il tempo.
Avevauntesorierechelotradiva, e, quindi, ancheuntesoro”), afirmou.Um colega de
Messori, o professor Roberto Rusconi, pondera sobre a questão: “Certamente,
Jesus não era um pedinte e talvez José também não. O sentido da sua mensagem e
da sua vida, não por acaso sintetizado por Francisco de Assis, está no não
possuir, pois a posse gera poder”.
O
papa Francisco chegou há pouco ao Palácio da Guanabara onde ocorrerá uma
recepção em sua homenagem. Ele saiu do Aeroporto Santos-Dumont, onde fica a
Base Aérea do III Comando Aéreo Regional (Comar) da Aeronáutica. Dois
helicópteros esperavam a chegada da comitiva para levar Francisco ao Palácio
Guanabara, sede do governo do Rio, em Laranjeiras. Assim que o papa saiu da
Catedral Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro, para seguir no
papamóvel pelas ruas do centro do Rio, milhares de fiéis se aglomeraram dentro
e na porta da igreja e uma confusão se formou. Enquanto um grupo queria sair da
igreja para seguir rumo ao Theatro Municipal, outros queriam entrar porque
acreditavam que Francisco voltaria para lá. A aglomeração foi tanta que muitos
reclamaram até de falta de ar. Ele não voltou à catedral. Francisco foi até o
Theatro Municipal, de onde deixou o papamóvel e embarcou no mesmo Fiat Idea
para seguir rumo à Base Aérea do Galeão e ir de helicóptero até o Palácio
Guanabara.
Escólio:
Una Chiesa in crisi, scossa da scandali, assediata da una cristianofobiaaggressivaanche in Occidente, mache in
altricontinenti si fa sanguinosa. Eppure una Chiesa ancora
riccadicarismiedenergie, sofferentema viva, fermaneldesideriodicontinuarela sua
marcianel tempo. Èl'ereditàche Jorge Mario Bergoglioraccoglie,
conl'investituracheloconsacra papa Francesco.Trovaungregge imponente mache,
percentualmente, non cresce. Trova una cadutadellevocazioniallavita religiosa
che, soprattutto in Europa, ha spopolatole case canonichedelleparrocchie e i
conventi. Trova un mondo chesembra sempre piùsecolarizzato, ostaggiodellanuova
ideologia egemone, il ´politicamente correto`. E deve fare i conti, in seno
allaChiesa, conlerivalità, i protagonismi, i vizi e ladisobbedienza. Vittorio
Messori - cattolicofedeleall'ortodossiamaallergico al clericalismo e al
trionfalismo - in questaanalisiveloce e informata
ciricordacheleombreecclesialiconvivonoconampisquarci da cui filtra laluce. Come
ciconferma una storiadue volte millenaria,
laChiesapuòcontaresuun'energiaenigmaticacapacedirianimarlaanche al
fondodellecrisipeggiori: per i credenti, infatti, la sua struttura terrena
èaffidata a uomini sempre limitati e peccatori, mala sua essenzaè divina. La
sfidacheattendeilnuovo papa èattingere, nellapreghiera e nell'azione -
sullascorta dei suoigrandipredecessori - a questaforza per l'impegnopiù grande:
una nuovaevangelizzazione.
Roberto
Rusconi vai mais a fundo ao dizer que o problema da Igreja Católica não está
nas riquezas que possui, e sim, na forma
como a utiliza: “De um certo ponto de vista, nunca existiu uma Igreja
pobre, enquanto que a Igreja sempre teve – como instituição – o problema de
como gerir os bens que possuía, que geravam riqueza e principalmente poder.
Entre os seguidores de Francisco de Assis, que haviam partido com a rejeição de
toda forma de propriedade e, portanto, de poder, e que depois foram se enchendo
de esmolas e bens, abriu-se a discussão sobre a possibilidade de um ususpauper. Em outras palavras, pode
ser extremamente anti-histórico usar a categoria de pobreza fora do contexto. O
problema da Igreja consiste nos bens que geram a riqueza e não são utilizados
para os pobres”, contextualizou.O professor conclui seu raciocínio criticando
as declarações de Messori: “[O papa] escolheu o nome de Francisco. A sua
insistência sobre a pobreza e os pobres deve ser remetida a essa chave: quem
são os pobres e que uso se pode fazer dos bens da Igreja para os que precisam.
Se a Igreja de Roma deve se livrar das riquezas, isso não se faz em um dia. Se
quisermos nos colocar no plano das piadas, é fácil demais. Na cruz, Jesus não
estava vestido com Armani, e o sepulcro não havia sido projetado por Renzo
Piano [arquiteto italiano renomado]”.
Em
1984 foi celebrado na Praça São Pedro, no Vaticano, o Encontro Internacional da
Juventude com o Papa João Paulo II, por ocasião do Ano Santo da Redenção. Na
ocasião, o Papa entregou aos jovens a Cruz que se tornaria um dos principais
símbolos da JMJ, conhecida como a Cruz da Jornada. O ano de 1985 foi declarado
Ano Internacional da Juventude pelas Nações Unidas. Em março houve outro
encontro internacional de jovens no Vaticano e no mesmo ano o Papa anunciou a
instituição da Jornada Mundial da Juventude.Todos os anos ela acontece em
âmbito diocesano, celebrada no Domingo de Ramos e, com intervalos que podem
variar entre dois e três anos, são feitos os grandes encontros internacionais. A
primeira Jornada Mundial da Juventude, realizada em Roma em 1986, teve como
lema: “Estejam sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir a razão
da esperança que há em vocês” (1Pd 3, 15). A celebração aconteceu em âmbito
diocesano.
A
XXVIII Jornada Mundial da Juventude (JMJ) ocorre de 23 a 28 de julho de 2013 no
Rio de Janeiro, Brasil. Pela primeira vez, esse evento da Igreja Católica se dá
em um país cuja língua portuguesa é majoritária, e pela segunda vez em um país
da América do Sul - o primeiro encontro no subcontinente foi na Argentina em
1987. A escolha da cidade brasileira foi feita pelo então Papa Bento XVI em
2011, no encerramento da Jornada Mundial da Juventude daquele ano. É o primeiro
encontro da juventude católica que terá a frente o Papa Francisco.O tema da
Jornada Mundial da Juventude de 2013 foi inspirado em um versículo do Evangelho
de Mateus: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações!” (Mt 28, 19).A
visão de Mateus sobre a missão é caracterizada pelo “grande envio” relatado no
final de seu evangelho (Mt 28,16-20). – “Os onze discípulos voltaram à
Galileia....Quando o viram prostraram-se; mas alguns tiveram dúvida. Jesus se
aproximou deles e disse:- ´Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra.
Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, batizai-os em nome do Pai,
do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho
ordenado. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos”.
Há
três verbos no “grande envio” que destacam o caminho da missão. A expressão
“fazer discípulos” é a mais central. O “fazer discípulos” é a expressão chave
para o caminho da missão. A expressão “fazer discípulos” aparece somente quatro
vezes no Novo Testamento: três vezes em Mateus (13,52; 27,57; 28,19) e uma vez
nos Atos (14,21). Para Mateus, o termo “discípulo” não se refere somente aos
doze apóstolos (como aparece em Marcos e Lucas). Discípulo é o protótipo da Igreja
e inclui, também, todos os “discípulos”. Portanto, “fazer discípulos” significa
convidar outros a ser o que eles mesmos são: os que esperam o Reino de Deus
(5,20) e são o sal e a luz do mundo (5,13). Para Mateus, o que se aplica a
Jesus diz-se também em relação aos discípulos. Em Mt 10,24, - “O discípulo não
está acima do mestre, nem o servo acima do seu senhor. Para o discípulo basta
ser como o seu mestre, e para o servo, ser como o seu senhor”, no sofrimento e
na autoridade missionária.
Há, porém, diferenças entre um e outros. Ele,
Jesus, é o Senhor. Os discípulos não são perfeitos e experimentam a fraqueza e
as contradições. Muitas vezes são classificados como pessoas de "pouca
fé", cheios de dúvidas e receios.A fragilidade e a vulnerabilidade dos
discípulos são experimentadas em sua própria identidade: eles estão vivendo à beira da hostilidade dos judeus e
pagãos. Assim aconteceu com Jesus. A missão nem sempre é vivida na certeza;
muitas vezes se abastece da fraqueza. Há sempre uma tensão dialética entre
adoração e dúvida, entre fé e medo. Mateus é o único evangelista que põe na
boca de Jesus o termo: “Igreja” (Ekklesia)
(cf. Mt 16,18 e 18,17). Não se trata aqui da conotação de uma instituição ou
denominação. Enfim, a XXVIII Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 23 a 28 de
julho de 2013 no Rio de Janeiro. O evento custará aos cofres públicos do Brasil
aproximadamente R$ 120 milhões. Mas o impacto social não se refere apenas ao
plano da reprodução ideológica econômica, mas, sobretudo no plano da ecologia. Sob
a justificativa de “limpar” uma área para celebrar uma missa campal, 334
árvores de área proteção ambiental foram cortadas pelos famigerados organizadores
da JMJ. Estejamos atentos! Bibliografia geral consultada:
BRAGA, Ubiracy de
Souza, “Joseph Ratzinger e a sucessão papal sem
morte”. In:http://httpestudosviquianosblogspotcom.dihitt.com/n/religiao/2013/02/15/; Idem, “Martin
Heidegger e o caráter de apelo da consciência: Be-deuten”. Disponível no site: http://www.oreconcavo.com.br/2012/01/16/; Idem,“Grã-Bretanha:
Devolva a Irlanda aos irlandeses”!In: http://httpestudosviquianosblogspotcom.dihitt.com/n/opiniao-e-noticias/2012/08/06; Idem, “Grande Jorge
- 100 Anos de Nascimento”. Disponível em: http://httpestudosviquianosblogspotcom.dihitt.com/n/arte-cultura/2012/08/17/; Idem, “João de Deus
e a reinvenção do Populismo
Católico”. Disponível em: http://oblogdoabelha.blogspot.com.br/2011/06/; Idem, “João de Deus
e a reinvenção do Populismo
Católico”.In :http://espacoacademico.wordpress.com/2011/06/29/; Idem, “A
Estapafúrdia Visão de Joseph Ratzinger”.: http://www.oreconcavo.com.br/2010/09/24/; COSTA, Jurandir
Freire, A Inocência e o Vício: Estudos
sobre o Homoerotismo.Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1992; PRANDI,
Reginaldo, “Dei africaninell’ odiernoBrasile: Introduzzionesociologicaal
candomblé”. In: Luisa FaldiniPizzorno (org.), Solto le acqueabissali. Firenze: Aracne, 1995; ARENSBERG, Conrad.,Family and community in Ireland.Europe:
Harvard University Press, 1968; WOOLF, Stuart (ed.), Nationalism in Europe, 1850 to the Present: A Reader. London:
Routledge, 1995; LEERSSEN, Joep., Mere
Irish and FíorGhael: Studies in the Idea of Irish Nationality, Its Development
and Literary Expression prior to the Nineteenth Century. Cork: Cork
University Press, 1996; WRIGHT, Patrick & LYONS, Evanthia., “Remembering
pasts and representing places: the construction of national identities in
Ireland”. In: Journal of Environmental
Psychology. Vol.17.1 (1997): 33-45; FITZGERALD, Valpy, STEWART, Frances, VENUGOPAL,
Rajesh (Editors)., Globalization, Violent
Conflict and Self-Determination. PalgraveMacmillan, 2006; WEFFORT, Francisco Correia,
Classes Populares e Política
(Contribuição ao Estudo do ´Populismo`). Tese de Doutorado. F. F. L. C. H/
USP. São Paulo, 1968a; Idem, “El Populismo enla Política Brasileña”. In: Brasil Hoy. México: SigloVeintiuno
Editores, 1968b; TVARDOVSKAIA, Valentina,
El Populismo Russo. México: SigloVeintiuno Editores, 1972; Artigo: “O Papa
dos Pobres”. Revista Veja. Ano 46 n°
30, 24 de junho de 2013; Artigo: “Historiador critica o papa Francisco por aproximação
com pobres e diz que Jesus vestia Armani”.
In: http://noticias.gospelmais.com.br/; Artigo: “Papa
Francisco provoca expectativa de renovação da Igreja Católica”. Disponível em: http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2013/07/; Artigo: “Jovens se
vestem como São Francisco de Assis, dormem no chão, fazem jejum e vivem para
ajudar”. Disponível em: http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2013/07/; Artigo: “O Papa vem
para a rua”. Disponível em: Revista Época:
Reportagem Especial: “10 lições de vida do papa”. 22 de junho de 2013, pp.
38-51; ENGLISCH, Andreas, “Francisco
é o primeiro papa livre da história”. In: Revista Época, 22 de junho de 2013, pp. 52-60; PAIVA, Vanilda, “Populismo
católico y educación, una experienciabrasileña”. Em: Cuadernos Políticoscon número 34, México D.F., Editorial Era;octubre-diciembre
1982, pp. 22-39; AQUINO, Tomás de, SummaTheologica.
2ª edição. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes,
1980-1981;AGOSTINHO, Santo, A Doutrina
Cristã. São Paulo: Edições Paulinas, 1991; GINZBURG, Carlo, “O inquisidor
como antropólogo: uma analogia e suas implicações”. In: GINZBURG, Carlo “et
alii”, A Micro-História e outros ensaios.
Rio de Janeiro: Editora Bertrand, 1991; Idem, Miti, Emblemi, Spie- Morfologia e Storia. Torino: Einaudi Editore,
1986; Idem, “Um lapso do papa Wojtyla”. In: Olhos de Madeira. Nove Reflexões sobre a distância. São Paulo:
Companhia das Letras, 2001; NIETZSCHE, Friedrich, Além doBem e do Mal. São Paulo: Companhia das Letras, 2005; Idem, A Vontade de Poder. Rio de Janeiro: Editor
Contraponto, 2008; pp. 161 e ss.; BOFF, Leonardo, A Nova Era: AConsciência Planetária. Rio de Janeiro: Record Editora,
2007; Idem, “Uma história épica: irmãs negras”. In: Diário do Nordeste. Fortaleza, 23 de novembro de 2009; Idem, “A
Sociedade Mundial da Cegueira”. In: Jornal O
Povo, Fortaleza, 22.02.2010; entre outros.
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