segunda-feira, 26 de março de 2012

Ensaio de etnologia: Ser um membro da yakusa, história e verdade


                    
                                                                            Ubiracy de Souza Braga*


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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto a Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).




 A cultura do Japão evoluiu enormemente com o tempo, da cultura do país original Jomon para sua cultura híbrida contemporânea, que combina influências da Ásia, Europa e América do Norte. Depois de várias ondas de imigração do continente e Ilhas do Pacífico, os habitantes do Japão experimentaram um longo período de relativo isolamento do resto do mundo. Sob o Xogunato Tokugawa, uma ditadura militar feudal estabelecida no Japão em 1603, por Tokugawa Ieyasu, e governada pelos xoguns da família Tokugawa até 1868 até a chegada dos Navios negros da Era Meiji. Como resultado, uma cultura distintivamente diferente do resto da Ásia desenvolveu-se, e resquícios disso ainda existem no Japão contemporâneo. No último século, a cultura japonesa foi também influenciada pela Europa e pela América do Norte.
Apesar destas influências, o Japão gerou um complexo único de artes: ikebana, origami, ukiyo-e, e técnicas artesanais: bonecas, objetos lacados, cerâmica, espetáculo: dança, kabuki, noh, raku-go, Yosakoi, Bunraku, música: Sankyoku, Joruri, Taiko e Ryuichi Sakamoto, entre outros, e tradições: jogos, onsen, senta, cerimónia do chá, além de uma culinária única. O Japão moderno é um dos maiores exportadores do mundo de cultura popular. Os desenhos animados (anime)s, histórias em quadrinhos, conhecida como mangá (cf. Bernabé, 2005) filmes, a cultura pop japonesa - literatura e música (J-pop) conquistaram popularidade em todo o mundo, e especialmente nos outros países asiáticos. Os mangás e os animes são produtos culturais mediáticos de origem japonesa, que criados para o entretenimento local, acabaram intencionalmente ou não, atuando coo veículos preponderantes na propagação de valores e pressupostos da cultura daquele país.
Ryuichi Sakamoto estudou na Universidade Nacional de Tóquio de Belas Artes e Música, onde se formou bacharel em composição e tornou-se mestre com ênfase em música eletrônica e música étnica. Sakamoto gravou seu primeiro longplay em 1978, que inclui as canções “Thousand Knives” e a significativa “The End of Asia”. Na mesma época, tornou-se membro da banda de synth-rock/pop Yellow Magic Orchestra, juntamente com Haruomi Hosono e Yukihiro Takahashi. A banda conseguiu o topo da parada britânica com o sucesso “Firecracker” no final dos anos 1970 e foram uma grande influência no surgimento do “acid house” e do movimento “techno” do final dos anos 1980 e começo dos 90. Além disso, colaborou com David Sylvian, da banda Japan, em muitos singles e álbuns. Ele também colaborou com grandes nomes da música internacional como, Fennesz, Towa Tei e DJ Dmitry (do grupo Deee-Lite), Thomas Dolby, Bill Laswell, Nam June Paik, Roddy Frame (do Aztec Camera), Iggy Pop, Caetano Veloso, e Rodrigo Leão. ele produziu o álbum de Virginia Astley “Hope In A Darkened Heart”, de 1986, que inclui David Sylvian como convidado.
            No âmbito deste “hibridismo cultural” surge literalmente a yakuza que significa 893 (ya = oito, ku = nove e za = três). Esse número vem de um jogo de cartas denominado “sanmai garuta”, parecido com o Blackjack, mas em que é preciso chegar a 19 pontos. A soma 20 - uma sequência de 8, 9 e 3 - determina a derrota, ou seja, é inútil ao jogo. O nome yakuza, portanto, significa “algo inútil à sociedade”. Todos sabem que ela existe, mas ao ouvirem o termo “Yakuza”, muitos que conhecem ao menos um mínimo da sua história cultural e social “encolhem os ombros” e evitam ao máximo falar sobre ela. Yakuza, em japonês: ヤクザ ou やくざ), também conhecidos como gokudō (極道) são os membros das tradicionais organizações do chamado “crime organizado”, na falta de melhor expressão, existentes no Japão e de resto no mundo.
A polícia japonesa os chama de bōryokudan (暴力団, literalmente “grupo de violência”, enquanto os próprios yakuza se chamam de “ninkyō dantai” 任侠団体 ou 仁侠団体, “organizações cavalheirescas”, aqui distintas da “ordem cavalheiresca do arqueiro Zen” (Cf. Herrigel, 1998). Historicamente falando foi no início do século XVII que nasceram, nos grandes centros urbanos de Osaka e Edo, atual Tóquio, “sob a égide dos chefes de quadrilhas”. Os Yakuza agrupam diversas categorias: primeiro foram os jogadores profissionais e os ambulantes. A esses se uniram os samurais que, a partir de 1603, com o fim das guerras feudais e o reinado da “Paz Tokugawa” por 250 anos, viram-se sem mestres, ameaçados de banimento. Os Yakuza surgiram como associações criminosas e obedeciam a regras rígidas específicas. Com o tempo, passaram a influenciar diversos segmentos da sociedade e política japonesa. Na hierarquia social Yakuza, abaixo dos samurais, dos artesãos e dos comerciantes vêm os hinin (“não-humanos”) e os eta (maculados).
Os “Hinin” são carcereiros, carrascos e pessoas ligadas a espetáculos. Os “eta” estãovinculadas à profissão de abate de animais - no xintoísmo e no budismo consiste da mácula todo trabalho ligado à morte e ao sangue. Os Yakuza criaram um estatuto e um código que é “baseado nas relações de fidelidade entre o padrinho (oyabun) e seu prócerou protegido (kobun)”: a cerimônia de consagração consiste na troca do copo de saquê e representa a entrada no clã e os laços de sangue. Os Yakuza surgiram como associações criminosas e obedeciam a regras rígidas específicas. Com o tempo, passaram a influenciar diversos segmentos da sociedade e política japonesa.
Foi no início do século XVII que nasceram, nos grandes centros de Osaka e Edo, atual Tóquio, sob a égide dos chefes de quadrilhas. A Yakuza ficou marcada por suas grandes tatuagens orientais. Essas tatuagens geralmente levavam anos para serem terminadas. Eram feitas no método do Tebori, ou Irezumi que significa “inserção de tinta.” As tatuagens geralmente eram baseadas nas figuras do teatro kabuki, um dos designs mais utilizados era o do Benten Kozo, Kozo, “um criminoso que se disfarçava como mulher” e quando foi capturado ao tirarem sua roupa perceberam que se tratava de um homem muito tatuado. “O termo ´Yakuza` provém de um cartão de jogo japonês, Oicho - Kabu”.
                                                   
                                                              Festival de Sanja Matsuri.
A Yakuza muitas vezes participa de festivais locais, tais como Sanja Matsuri, onde muitas vezes carregam o santuário pelas ruas orgulhosamente exibindo suas tatuagens elaboradas. Os Yakuza agrupam diversas categorias: primeiro foram “os jogadores profissionais e os ambulantes”. A esses se uniram os samurais (cf. Kurosawa, 1950; 1980) que, a partir de 1603, com o “fim das guerras feudais” (cf. Kurosawa, 1985) e o reinado da “Paz Tokugawa” por 250 anos, viram-se sem mestres, ameaçados de banimento. No filme Os Sete Samurais temos a representação dos camponeses de uma aldeia que sofriam frequentes ataques de bandidos, e vivem em grande miséria. Para se defenderem, eles procuram pessoas que conhecem a arte da guerra, os samurais, temidos guerreiros profissionais no Japão. O filme se passa no Japão do século XVI, durante a era Sengoku.
No século XVI, durante a era Sengoku, quando os poderosos samurais de outrora estavam com os seus dias contados, pois eram agora desprezados pelos seus aristocráticos senhores (samurais sem mestre eram chamados de “ronin”). Kambei (Takashi Shimura), um guerreiro veterano sem dinheiro, chega a uma aldeia indefesa que foi saqueada repetidamente por ladrões assassinos. Os moradores do vilarejo pedem sua ajuda, fazendo com que Kambei recrute seis outros ronins, que concordam em ensinar os habitantes como devem se defender em troca de comida. Os aldeões dão boas-vindas aos guerreiros e algumas relações começam. Katsushiro (Ko Kimura) se apaixona por um das mulheres locais, embora os outros ronins mantenham distância dos camponeses. O último dos guerreiros que chega é Kikuchio (Toshiro Mifune), que finge estar qualificado, mas na realidade é o filho de um camponês que almeja aceitação. Os bandoleiros chegam e no final os vilões são derrotados, mas apenas três samurais sobrevivem e estes contemplam os túmulos dos camaradas enquanto os aldeões plantam arroz para a próxima estação.
Da história política e social do país nasce o filme: O Último Samurai (The Last Samurai”) é um filme de 2003 dirigido pelo cineasta Edward Zwick. A história se passa no Japão, durante o Império Meiji e neste caso, narra a história do Capitão Nathan Algren (Tom Cruise), veterano da Guerra Civil Americana. Após o fim do conflito Algreen é convidado por seu ex-comandante para participar com ele do treinamento do recém-criado exército Imperial Japonês. Após a volta do Imperador ao poder central no Japão, O governo passou a contratar Generais e Engenheiros ocidentais para treinar e equipar o seu exército contra os Samurais (Restauração Meiji). Após começar o treinamento dos soldados do Exército Imperial, Algreen percebe que não estão prontos para lutar e não podem vencer mesmo com armas de fogo, no entanto seu comandante, o Coronel Bagley insiste em envia-los a batalha. Durante o combate, vendo o exército ser massacrado pelos samurais, O Coronel bagley foge da frente de batalha, pois na verdade não tinha o dever de lutar mesmo, Ao contrário de seu comandante, Algreen fica e luta bravamente até ser rendido pelo líder dos Samurais que fica impressionado com a bravura de seu adversário, poupando-lhe assim a vida mas levando-o como prisioneiro. Durante sua estadia com os Samurais, Algren acaba aos poucos se apaixonando pela cultura e valores dos guerreiros e enfim passa a apoiá-los contra as forças Imperiais e a ocidentalização desenfreada do país.
Na hierarquia social Yakuza, abaixo dos samurais, dos artesãos e dos comerciantes vêm os hinin (“não-humanos”) e os eta (maculados). Os “hinin” são carcereiros, carrascos e pessoas ligadas à espetáculos. Os “eta” estão vinculadas à profissão de abate de animais que, no xintoísmo e no budismo consiste mácula todo trabalho ligado à morte e ao sangue. Os Yakuza criaram um estatuto e um código baseado nas relações de fidelidade entre o “padrinho” (oyabun) e seu “protegido” (kobun): a cerimônia de consagração consiste na troca do copo de saquê e representa “a entrada no clã e os laços de sangue”.
                                   
Shoko Tendo contou essa história no livro Yakuza Moon, à venda em japonês e inglês e ainda sem tradução para o português. Filha de um mafioso de Osaka, ligado à facção Yamaguchi-gumi, uma das maiores do país, cresceu com a violência espreitando-a sem trégua. Em casa, o pai embriagado não hesitava em espancá-la. Nas ruas, virou líder de uma gangue juvenil aos 15 anos, viciou-se em drogas, foi para reformatórios e manteve relacionamentos tortuosos com mafiosos brutamontes. Surpreendentemente, tornou-se a primeira hostess de um clube noturno, para pagar as despesas da família, no curto espaço de tempo de três meses, garantindo rendas de até 4 milhões de ienes (cerca de 60 mil reais) e uma aposentadoria antecipada. A partir daí, começa a reviravolta em sua vida, marcada pelas várias tatuagens desenhadas no corpo, onde se destaca a cortesã de faca presa aos lábios, Jigoku Daiyu, figura lendária da Era Muromachi. Desse renascimento, surgiu a escritora, que já está preparando seu segundo livro.
                                        
                            Tiger by Christian, Jigoku Daiyu by Han
Mulheres como podem ver, também são partes integrantes da Yakuza. Não como os filmes ocidentais insistem em fazer, colocando-as como líderes. Isso não acontece, por mais sexy que possa parecer. Uma líder Yakuza usando um kimono estilizado de couro preto é o sonho de qualquer homem normal - ou talvez seja só eu projetando meus sonhos em todos os outros, afirma Shoko Tendo - mas o fato é que mulheres são submissas na organização. Ainda assim têm papel importante como namorada, amantes e mães dos homens do clã. A Yakuza era, em princípio, uma sociedade exclusivamente masculina. Eles acreditavam que as mulheres “foram feitas para serem mães e para cuidarem de seus maridos, não devendo se meter nos negócios dos homens”, como uma espécie de “sexo frágil”.
Afirma shoko: “Escrever este livro foi uma maneira de enfrentar os demônios que me assombraram pela vida toda”, posto que em Yakuza Moon - Memórias de Filha de um Gângster apresenta ao leitor uma realidade muito distante do glamour com que o cinema costuma retratar a vida de membros de grandes organizações criminosas. Esta é uma história crua chocante da trajetória dos envolvimentos amorosos e da vida familiar nos anais da Yakuza, segundo o The Wall Street Journal. Há algum tempo li uma entrevista com Shoko Tendo, na revista Marie Claire:
Ela é a voz feminina da máfia. Na época, não se sabia quando o livro iria ser lançado no Brasil. Quem a vê hoje brincando com sua filha provavelmente imaginará estar apenas diante de uma mãe comum, mas basta que ela coloque uma blusa de manga curta para que esta primeira impressão seja desfeita. A tatuagem fechada, característica dos membros da Yakuza - organização criminosa equivalente à Máfia na sociedade japonesa -, que cobre tronco, braços e coxas é apenas uma das lembranças de seu passado que inclui, além de luxo e dinheiro, distúrbios alimentares, abusos, dívidas, casamento, divórcio e tentativa de suicídio”.
                                        
Outro motivo pelo qual as mulheres não eram aceitas na yakuza é que não se deve falar sobre o grupo a ninguém de fora da sociedade, e eles acreditavam que as mulheres não seriam fortes o suficiente para se mantiver caladas caso fossem interrogadas pela polícia ou por algum inimigo. Isso ocorreu até a década de 1990, pois atualmente já existem mulheres que atuam na Yakuza e ocupam alto escalão no grupo, mas para entrarem no grupo, dependendo de qual função, elas devem passar por diversos testes. Nos dias atuais recrutam também jovens e estudantes, para infiltração na chamada “dominação da área” numa operação e guerra, pois eles não usam tatuagens, mas são obrigadas a aprender artes marciais e a manejar armas, como espada, nunchaku, e armas de fogo, entre centenas de outras. Antropologicamente falando, quando o chefe morre e não há ninguém que possa substituí-lo imediatamente, é a esposa quem assume temporariamente o comando do grupo.
                                        
                                             Mulheres que atuam na Yakuza desde 1990.
Há dois tipos de Yakuza: a) aqueles que pertencem a um clã e, b) os autônomos. Por não pertencerem a clã algum, os autônomos têm dificuldades para agir, pois os grupos não permitem que eles atuem em seus “territórios”. Os clãs costumam usá-los como espiões ou pagá-los para realizar um serviço sujo no qual não queiram envolver o seu clã. Se o autônomo for ambicioso e capacitado, pode começar um grupo do zero, mas geralmente, quando não é assassinado, torna-se membro de algum clã já existente. O chefe dos filhos chama-se wakagashira, e dos irmãos shateigashira. O wakagashira é o segundo em autoridade, vindo logo após o oyabun e servindo também como um intermediário para supervisionar se as ordens estão sendo cumpridas. O shateigashira é o terceiro em autoridade. Ipso facto, “cada filho pode formar sua própria gangue e assim por diante, resultando em diversas subfamílias. Cada um obedece ao líder de sua gangue, mas é sempre o oyabun que dá a palavra final”.
Etnograficamente uma família típica tem de 20 a 200 membros, o que pode assegurar ao clã todo um número bem superior a 1000 homens. As famílias em que possuem membros yakuza são geralmente de raiz com nome Shibatsu, Yakasa, Shiatsuta, Tashiro, Tonaco, Shematse, Tokesho entre outras diversas com membros na cultura japonesa. Quando um indivíduo entra na sociedade dos yakuza, muitos clãs não permitem que ele saia do seu grupo, duvidando de que possa vazar alguma informação. Daí que, sociologicamente falando, a Yakuza é uma máfia de origem japonesa envolvida em crimes mundiais como narcotráfico e alistamento internacional de prostitutas, além disso, a Yakuza possui algumas propriedades clandestinas dedicadas à pecuária (criação de gatos para cheiramento) e fabricação de armas de uso militar. A Yakuza é extremamente influente e poderosa no Japão, (atual sede operacional), na Tailândia, na Dinamarca, em Hong Kong, na Polinésia, no Zimbábue e no Congo, mas seus braços se ramificam em todas as direções e já chegaram ao Brasil. A atividade mais lucrativa da Yakuza, no entanto, está relacionada ao comércio informal de armas. O arsenal, que frequentemente é utilizado por eles mesmos em suas brigas, que é comercializado pelos yakuzas é bastante abrangente, incluindo cassetetes da polícia civil, Num-Tchacos, pistolas automáticas e maçaricos.
                                       
                        A família Yamaguchi é a mais poderosa do Japão, atualmente.
Os Yakuzas são os seguidores da “Máfia Yakuza”, homens cientificamente clonados para parecerem superficialmente idênticos dificultando assim as investigações policias e impedindo que os Yakuzas sejam individualmente identificados. Todos os yakuzas são versados em quase todas as artes marciais que existem na Ásia. Kung-Fu, Karatê, Judô, Jiu-Jitsu, Nin-Jutsu, Tae Kwon Do e Yoga fazem parte do caderno básico de aprendizagem Yakusa. O Sumô é dedicado aos mais pesados, que também treinam Boxe, Kickboxer, Luta Livre e Capoeira. Além de saber tudo isso, os Yakuzas também são assexuados. Não são capazes de se reproduzir e gerar filhos. Isso é para que as esposas ou esposos dos Yakuzas não tenham que pedir pensão na Justiça, já que o dinheiro teria que sair dos cofres da família Yakuza. Isso também é uma forma de os chefões da Máfia Yakuza manterem seus subordinados sob controle, já que eles não têm impulsos sexuais, o que os torna mais racionais e menos preguiçosos. Já os chefões da Yakuza são pessoas normais, que lucram inclusive com as participações cinematográficas da referida organização criminosa em muitos filmes de Hollywood, e também em jogos de videogame como os da série Grand Thief Auto. Além de sempre terem à disposição várias japas gostosas em seus quartos e um Lexus na garagem, também aparecem em filmes com os mesmos caras manjados.
Enfim, o termo Yakuza, como vimos: “vem de um jogo de cartas chamado Sanmai Garuta”, semelhante a um Blackjack, porém com o objetivo de somar 19 pontos. Os clãs da Yakuza, talvez possuam as hierarquias “mais rígidas do mundo dos crimes, sendo organizados por famílias, onde o pai e chefe é o Oyabun, seus filhos são os Wakashu e Kyodai são seus irmãos. O chefe dos filhos chama-se Wakagashira e o dos irmãos, Shateigashira”. O Wakagashira é o segundo em autoridade, com papel também de conferir se as ordens do Oyabun estão sendo cumpridas. O Shateigashira é o terceiro em autoridade. Cada filho pode formar sua determinada gangue, resultando em diversas subfamílias. Cada um obedece ao líder de sua gangue, mas é sempre o Oyabun quem dá a palavra final. Cada gangue pode variar de 20 a 200 integrantes, o qual se pode dizer um total de mais de 1000 homens no clã todo. Todos devem total obediência e lealdade ao Oyabun, que toma as principais decisões e em troca oferece proteção a todos de sua gangue. Há dois tipos de Yakuza: aqueles que pertencem a um clã/grupo e os autônomos. Por não pertencerem a clã algum, os autônomos têm dificuldades para agir, pois os grupos não permitem que atuem em seus territórios. Os clãs costumam usá-los como bode expiatório ou pagá-los para realizar um serviço no qual não queiram envolver o grupo todo.
Possuem uma hierarquia totalmente masculina por acreditar que a presença feminina não tem poder de lutar contra os homens e por acreditarem que elas são fracas podendo facilmente entregar os planos quando capturadas pela polícia ou por rivais. Aliás, é terminantemente proibido comentar sobre o clã a membros de fora dele. Acreditam que as mulheres foram feitas para cuidar da casa e dos filhos. A única mulher com maior prestígio é a esposa do Oyabun. Apesar de não ser considerado membro, é respeitada simplesmente por ser a esposa do líder. Quando o chefe morre e não há ninguém para substituí-lo imediatamente, é sua esposa quem assume temporariamente o comando do grupo. A Yakuza é conhecida pela cruel prática do yubitsume, em que o dedo de uma pessoa é cortado “cada vez que ela comete um erro”. Pessoas que carregam essas marcas permanentes são mal-vistas no Japão e em geral ficam à margem da sociedade. Enfim, a “máfia japonesa”, assim como qualquer outra máfia, está envolvida em atividades como jogos proibidos, extorsão, prostituição e tráfico de drogas.
Além disso, os “membros da Yakuza” apresentam “grande parte de seu corpo tatuado”. A tatuagem é símbolo de status (cf. Bourdieu, 1980; Leitão, 2003), de “lealdade e sacrifício à organização”. Historicamente, os membros destes grupos foram recrutados do submundo dos “fora da lei”: camponeses, operários e os desajustados sem dinheiro, que migraram para Edo na esperança de melhorar suas vidas. Para isso eram obrigados a fazer um “voto de devoção” à máfia, que era a tatuagem. Por isso no Japão a tatuagem ainda é vista nos dias de hoje como símbolo de marginalização do ser. A Yakuza, sinônimo de máfia japonesa, provavelmente será a última grande mina de ouro da cultura oriental a não ter sido especulada aqui no Ocidente. Depois de grandes temas como as guerras, samurais, ninjas, entre outros, a máfia japonesa tem sido relativamente pouco exposta se compararmos a estes, embora as histórias da Yakuza serem muito intensas e excitantes. Tais histórias ganham exposição hoje em dia com a publicação de mangás como Sactuary e também no “mercado de jogos eletrônico”, como o jogo Yakusa para a chamada plataforma PS2. Apesar dessas influências, o Japão gerou, conforme apresentamos traços gerais, um complexo único de artes (ikebana, origami, ukiyo-e), técnicas artesanais (bonecas, objetos lacados, cerâmica), espetáculo (dança, kabuki, noh, raku-go, Yosakoi Soran, Bunraku, e na música, Sankyoku, Joruri e Taiko e tradições culturais como: jogos, onsen, sento, “cerimónia do chá”, além de uma culinária única e, de fato, singular!
Bibliografia geral consultada:
BERNABÉ, Marc, Japonês para quadrinhos: curso básico de japonês através do mangá. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2005; Filmes: Akira Kurosawa, Dodeskaden - O Caminho da Vida (Dodeskaden, Japão, 1970); Idem, Dersu Uzala (idem, URSS/JAP, 1975); Idem, Kagemusha, a Sombra de um Samurai (Kagemusha, JAP, 1980); Idem, Os Sete Samurais (Schichinin no Samurai, JAP, 1950); Idem, Ran (idem, JAP/FRA, 1985); BRAGA, Ubiracy de Souza, “Das Armas dos Traficantes e das (Re) Portagens Policiais: Efeitos Sociais sobre a Utilização de Armas no Brasil”. In: Revista Jurídica Dataveni@hotmail.com. Campina Grande, PB. Ano II. n˚ 14, abril de 1998; Idem, “Das Armas dos Traficantes e das Reportagens Policiais: Efeitos sociais sobre a utilização de armas no Brasil”. Disponível em: www.datavenia.net.com; Idem, “Rebeliões da Cidade”. In: Jornal O Povo. Fortaleza, 27 de maio de 2006; Idem, “Fabulas de Solidariedade: Neruda, Kurosawa e Hitchcock”. In: www.dapraianet.blogspot.com. Max Krichanã Editor, 4 de fevereiro de 2008; Idem, “Formação de Bandos”. In: Jornal Feira Hoje. Feira de Santana, BA, 12 de fevereiro de 2009. Disponível em www.jornalfeirahoje.com.br; Idem, “Batismo de fogo: um século de favela no Brasil”. http://espacoacademico.wordpress.com/2010/12/08/batismo-de-fogo-um-seculo-de-favela-no-brasil/; LEITÃO, Débora Krischke, O Corpo Ilustrado: um estudo antropológico sobre usos e significados da tatuagem contemporânea. PPGAS - Programa de Pós-Graduação em Antropologia. UFRGS, 2003; COULON, Alain, Etnometodologia. Petrópolis (RJ): Vozes, 1995a; Idem, A Escola de Chicago. Campinas: Papirus, 1995b; HELLER, Agnes, O Cotidiano e a História. Rio de Janeiro: Zahar, 1972; Idem, A Filosofia Radical. São Paulo: Brasiliense, 1983; HERRIGEL, Eugen, A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen. 15ª edição. São Paulo: Editora Pensamento, 1998; BOURDIEU, Pierre, “L’ Identité et la Représentation. Eléments pour une réflexion critique sur l’idée de région”. In: Actes de la Recherche en Sciences Sociales, n˚ 35, 1980; HIRATA, Helena, “Familles ouvrieres face a la crise une enquete dans les quartiers ouvriers de São Paulo”. In: Les Temps Modernes, 1990; TENDO, Shoko, Memórias de Filha de um Gângster. São Paulo: Companhia das Letras, 2011; HERBERT, Wolfgang, Foreign workers and law enforcement in Japan. London: Kegan Paul International, 1996, 385 páginas (Japanese Studies Series); CARIGNATO, Taeco Toma, Passagem para o desconhecido: Um estudo psicanalítico sobre migrações entre Brasil e Japão. São Paulo: Via Lettera Editora e Livraria Ltda, 2002; CARIGNATO, Taeco Toma (Org.); ROSA, Miriam Debieux (Org.); PACHECO FILHO, Raul Albino (Org.). Psicanálise, Cultura e Migração. São Paulo: YM Editora & Gráfica, 2002; MIYOSHI, Takefumi. Japão ao seu alcance: Tudo o que você precisa saber para viver legalmente no país. São Paulo: J.B. Communication, 2001; REIS, Maria Edileusa Fontenell. Brasileiros no Japão - O elo humano das relações bilaterais. São Paulo: Kaleidus- Primus, 2001, edição trilingüe (japonês/português/inglês), coordenação de Masato Ninomiya; ADICHIE, Chimamanda Ngozi, Meio sol amarelo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, entre outros.



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