segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Festival lembra 98 anos de nascimento de Luiz Gonzaga

13/12/2010
Se fosse vivo, o Rei do Baião faria, hoje, 98 anos. Programação especial em Exu comemorou data
Crato. Com o título "Festival Pernambuco Nação Cultural" foi concluída, ontem, a programação comemorativa aos 98 anos de nascimento de Luiz Gonzaga, o "Rei do Baião", com um calendário de eventos que envolveu teatro, dança, cinema, Desafio Nordestino de Cantadores e shows de Dominguinhos, Elba Ramalho, Flávio Leandro e artistas regionais.

O sanfoneiro do "Riacho da Brígida" nasceu na Fazenda Caiçara, Município de Exu (PE), ao lado da casa da heroína Bárbara de Alencar, no dia 13 de dezembro de 1912, dia de Santa Luzia, daí a origem do seu nome. O sobrenome Nascimento foi sugerido pelo padre que o batizou por ter nascido em dezembro, mês do nascimento de Cristo. Gonzaga morreu na cidade de Recife no dia 2 de agosto de 1989.

Vinte um anos depois da morte de Luiz Gonzaga, o som de sua sanfona está cada vez mais presente nas salas de reboco das casas do sertão e nos mais diversos auditórios e palanques, enchendo de emoção e lirismo plateias de todas as categorias sociais. Em Exu, sua terra natal, o aniversário de Gonzagão foi comemorado com a presença de seus maiores seguidores.

Maratona
Durante os dias do festival, promovido pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), o Município do Sertão do Araripe recebeu uma maratona de shows no Parque Aza Branca.

A programação incluiu apresentações de Elba Ramalho, Dominguinhos e outros artistas regionais. No mesmo parque, foi celebrada uma missa especial em homenagem ao aniversariante. Dentro do festival, foi promovido também o Cine Exu - 1º Festival de Cinema e Vídeo do Sertão do Araripe, que exibiu dez curtas-metragens produzidos e protagonizados pelos moradores da região. Houve ainda espetáculos de teatro e dança seletiva de bandas e o desafio de poetas cantadores.

Ceará e o Rei do Baião
Pernambucano do século, Luiz Gonzaga tinha uma grande ligação com o Ceará, onde recebeu do Grupo Edson Queiroz a Sereia de Ouro. "Foi uma das poucas vezes que eu troquei o gibão de couro por uma paletó branco", relembrava Luiz Gonzaga não se cansava de repetir que sempre teve um cearense em sua vida. Com duas músicas prontas, ele procurou Lauro Maia para colocar as letras, encontrou Humberto Teixeira e, então, nasceram "Pé de Serra" e "Vira e Mexe".

Com o cearense de Iguatu, Humberto Teixeira, conquistou o título de "Rei do Baião". Com Patativa do Assaré cantou "A Triste Partida", apontada por ele como uma das três melhores músicas que ele gravou. Com o compositor José Clementino Padre Vieira, de Várzea Alegre, e Patativa formou a trilogia do jumento, um movimento que teve como objetivo a valorização do jumento.

Padre Cícero
Foi o primeiro artista nacional a cantar o Padre Cícero com a música "Beata Mocinha", gravada em 1952, uma época em que era proibido batizar crianças com o nome de Cícero. Gonzaga, com a sua sensibilidade poética, abriu caminho para outros artistas explorarem o tema.

Autêntico representante da cultura nordestina manteve-se fiel às suas origens mesmo seguindo carreira musical no Sul do Brasil. A cidade do Crato foi o seu referencial maior. O jornalista Huberto Cabral escreveu, que desde criança, Luiz Gonzaga começou a frequentar a feira semanal do Crato, em companhia de seu pai, Severino Januário, e de seus irmãos. Aos 18 anos, embarcou para Fortaleza, pegando o trem no Crato a fim de servir ao Exército, mais precisamente ao 23-BC.

Saudade
Cabral faz um relato saudosista de Luiz Gonzaga, mostrando suas ligações com a "Princesa do Cariri", lembrando que, depois que Gonzagão deixou o Exército e se tornou cantor e sanfoneiro, visitou Exu e realizou show no Crato em 1946 no antigo Cine Rádio. Em outubro do mesmo ano, animou leilões da Festa de São Francisco, em favor da construção da Igreja e do Hospital São Francisco.

Representante
"Gonzagão foi o mais autêntico representante do Nordeste. Ele fez muito pela região"
Clauver Renê Barreto
Advogado, presidente da OAB-Juazeiro do Norte

"A escola gonzagueana é eterna. Ele será sempre símbolo para as futuras gerações"
Marcos Eduardo Arrais
Acadêmico de Direito, bancário e sanfoneiro

MAIS INFORMAÇÕES
Parque Asa Branca
Exu - Pernambuco
Telefones: (87) 9626.4101
(87) 3879.1216

MESTRE

Sanfoneiro rompeu com preconceitos

Crato. A influência de Luiz Gonzaga rompeu as barreiras dos preconceitos, ultrapassou os muros dos coronéis, os tabus religiosos, as ingerências políticas e, principalmente, a descriminação contra a arte nordestina. Os mais famosos artistas nacionais o têm como mestre. O gemido da sanfona ganhou o mundo, conquistou os jovens, empolgou plateias, arrastando seguidores de todas as classes sociais. Até mesmo gênios como Tom Jobim, Gilberto Gil, Caetano Veloso, dentre outros, ícones da MPB, beberam da fonte do velho Lua.

O presidente da OAB-Juazeiro do Norte, Clauver Renê Barreto, diz que Gonzagão é uma unanimidade. "Ele cantou o Nordeste de cabo a rabo", define o advogado, parafraseando uma expressão gonzagueana. O bancário e advogado, Marcos Eduardo Arraes, foi mais além.

Tornou-se sanfoneiro para, segundo afirma, quebrar a rotina do dia a dia de bancário e advogado, tocando os xotes de Luiz Gonzaga. Marcos, que tinha apenas dois anos quando Luiz Gonzaga morreu, afirma que é o maior símbolo para a geração de novos sanfoneiros.

O mais legítimo representante da arte de Luiz Gonzaga é o neto de Januário, João Januário Maciel, conhecido por Joquinha Gonzaga que, apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, assimilou a cultura nordestina. Herdou do tio, Gonzagão, a mesma "puxada" de sanfona. "Essa puxada eu conheço, é a mesma de Januário", dizia Luiz Gonzaga, referindo-se ao sobrinho.

Joquinha nasceu e cresceu ouvindo os conselhos e o ronco da sanfona do tio que o presenteou com uma harmônica de oito baixos, a chamada pé-de-bode. Após dois anos, reconhecendo o talento do sobrinho, Gonzagão trocou os oito baixos por um Acordeom. "Aí foi uma mão na roda", diz Joquinha, lembrando que começou sua trajetória artística tocando em festas e forrós no Rio de Janeiro e, posteriormente, viajando por todo o Nordeste acompanhando o "Rei do Baião" como músico (sanfoneiro).

Em 1986 gravou o seu primeiro disco pela gravadora "top tape", intitulado "Forró, Cheiro e Chamego". Em seguida, a convite de seu tio Gonzagão, viajou numa turnê à Europa e participou de muitos outros shows já como artista convidado do Rei.

A sua maior alegria foi receber o que ele chama de primeiro diploma, quando o Gonzaga declarou em público, registrando oficialmente, que Joquinha seria o seguidor cultural da Família Gonzaga. Em 1988, foi convidado a participar de uma faixa - "Dá licença pra mais um" - no disco "Aí Tem..." de Gonzagão.

Hoje, Joquinha Gonzaga é um dos grandes nomes do forró autêntico, com uma discografia de uma média de 15 LPs e CDs, com destaque para o CD "Cantos e Causos de Gonzagão", gravado em 2006, em que o artista fala de ´causos´ que presenciou nas viagens que fez com o Tio Lula, canta músicas conhecidas de Gonzagão, de compositores conhecidos nacionais e regionais, e também de sua autoria. Joquinha fala do tio com amor filial. Relembra a vida de viajante, acompanhando o "Rei".

Fique por dentro
Ligação com o Crato
Em 1953, Luís Gonzaga abrilhantou a Festa do Centenário do Crato, com grande show na Feira de Amostra, instalada na Praça da Sé, trazido pela Rádio Araripe, sob o comando de Wilson Machado. Em 1974, tornou-se cidadão cratense, título outorgado pela Câmara Municipal, em solenidade realizada no auditório do Sesi.

Em 1975, levou o Coral da Sociedade Cultural Artística do Crato (SCAC) para cantar a Quinta Missa do Vaqueiro, criada por ele, padre João Câncio e Pedro Bandeira, em Lajes, Município de Serrita, localizado no Estado de Pernambuco, em homenagem ao vaqueiro Raimundo Jacó. A diretora da Escola de Música, Divane Cabral, diz que Luiz Gonzaga sempre valorizou a cultura e a arte cratense. O Crato foi o seu ponto de apoio nos grandes eventos promovidos por ele na região.

O Rei do Baião participou também da inauguração da Rádio Araripe, juntamente com seu pai, Januário, e seu irmão, Zé Gonzaga, bem como da Rádio Educadora do Cariri e do Gaibu Avenida. Foi sempre uma das maiores atrações artísticas da Exposição do Crato, além de seu grande divulgador. A música "Eu Vou Pro Crato", interpretada por ele, ainda hoje emociona os cratenses de todas as gerações.

ANTÔNIO VICELMOREPÓRTER
fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=900829

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