Por Paulo Roberto, do Em Paralello
Durante a leitura do Símbolo Perdido, de Dan Brown me deparei com o referido tema. Confesso que o mesmo, no decorrer da história, acabou aguçando minha curiosidade e me levou a pesquisar sobre o assunto, e não só isso, mas escrever um post sobre essa ciência, que a meu ver é deveras interessante. A palavra noética em si deriva do grego nous que quer dizer mente, contudo conceitualmente falando a noética se subdivide em duas correntes: a científica e a filosófica. No ramo científico é a disciplina que estuda os fenômenos subjetivos da consciência, da mente, do espírito e da vida a partir do ponto de vista da ciência. (1) Já no ramo filosófico a noética define a dimensão espiritual do homem. (3)
Apesar de ser uma ciência recente, a noética tem intrínseco em seus objetivos e objetos de estudo matérias que já foram suscitadas por correntes filosóficas de outrora, estas que intimamente se ligam as tradições religiosas ao redor do mundo. No Ocidente, as teorias filosóficas da Grécia antiga influenciaram fortemente a noética, tendo em vista os estudos travados a época sobre a consciência, do conhecimento e do “eu”.
Thomas J. McPartland e Jorge dos Santos Lima em seus respectivos artigos explicam que:
Deriva dos termos gregos nous, a mente, a alma racional, a inteligência; noema, o objeto ou foco de nous, e noesis, que significa estritamente o ato de pensar em si, e também uma compreensão global, completa e instantânea de qualquer questão sem o intermédio da articulação pela linguagem, equivalente ao insigth moderno ou ao conceito de intuição. Noesis contrasta com o significado de diadonia, que remete ao conhecimento racional ou dialético.Existem diversas correntes filosóficas que tentam não só explicar a noética em si, mas determinar sua abrangência e de que forma ela pode influenciar ou mesmo mudar a forma do pensamento humano. Já como ciência surge a figura de Charles Darwin, em seus estudos da evolução humana por uma perspectiva sintética, contudo o psicólogo norte americano William James foi o que melhor definiu a noética como sendo:
Para Platão noesis era superior à diadonia, sendo a mais elevada atividade mental possível, habitando na esfera do bem e da harmonia divinos, e trabalhando com axiomas e princípios, idéias, formas e causas primordiais. É o que possibilita o acesso ao mundo divino, transcendente, absoluto, além do raciocínio humano comum. (4) (5)
Estados de insight em verdades profundas inalcançadas pelo intelecto discursivo. Estes insights seriam revelações e iluminações cheias de significado, mas todas inarticuladas. (2)James foi o precursor que trouxe a transcendência humana aplicado ao estudo científico da consciência. Na mesma época na Europa, neurologistas como Jean-Martin e Pierre Janet atribuíam a hipótese psicogênica para sintomas físicos, ou seja, quando o doente pensa em ter uma doença ou no caso de ocorrer a somatização, quando a própria mente gera uma doença no próprio corpo. Posteriormente esses estudos possibilitaram médicos da escola de Viena como Freud, Jung dentre outros a elaborarem a Teoria de Psicologia do Inconsciente, comprovando que os sintomas das doenças podem ser meramente simbólicos de causas de origem física e ou psíquica.
A física e a arte moderna também contribuíram para o estudo da noética, seja a despeito da natureza da última matéria e no Dadaísmo, Surrealismo, o “fluxo da consciência” da literatura de James Joyce etc. Estes forneceram formas de descrever e interpretar a subjetividade da realidade objetiva, lançando novos paradigmas estéticos onde a negação do império do racionalismo era discursada aos quatro ventos.
Já no século XX com a evolução tecnológica da medicina bem como das outras ciências a pesquisa da subjetividade caiu no esquecimento. Já na década de 1960, surge o movimento da contracultura, estudos clínicos a respeito dos benefícios trazidos a indivíduos que praticavam a meditação transcendental ou hipnose impulsionou novamente o estudo da até então esquecida ciência. Já na década de 1970, outros passos foram dados para impulsionar o que chamamos hoje de ciência noética, sendo apresentados estudos comprobatórios, por exemplo, de pacientes com câncer tinham maior sobrevida quando participavam de grupos de apoio psicológicos, dentre outros.
Em 1973, surge Institute os Noetic Science, fundada pelo Capitão Naval Edgar Mitchell, com o objetivo de expandir a compreensão das possibilidades humanas, investigando aspectos da realidade – mente, ou seja, compreender tanto o interior quanto o exterior baseando-se que o mundo como conhecemos é reflexo do nosso interior. A noética é uma ciência que se baseia em conceitos das diversas tradições filosóficas e religiosas, que a consciência transmite a realidade, e que o homem é dono de sua própria vida. Surge também da possibilidade de interagir com a realidade além dos seus cinco sentidos e do conhecimento objetivo que em nada tem de objetivo. Ou seja, que baseia na verdade em subjetividades de um consenso coletivo. Hoje, a mesma contribui para diversos estudos chamados interdisciplinares da mente com foco especial, por exemplo, na psicologia, artes, terapias, ciências sociais, etc. Que fique bem claro que a noética se difere, e muito, do misticismo tendo em vista que a mesma se baseia no método científico para testar suas teorias e o misticismo procura se embasar na filosofia, fé e experiência religiosa.
Por fim, a noética é uma ciência pouco divulgada no mundo. Eu mesmo só obtive conhecimento da mesma, em minha leitura do Símbolo Perdido, de Dan Brown, como dito no início do texto. Fato é que a referida ciência ainda tem muito que evoluir, pois ainda não possui uma estrutura definida, bem como conceitos básicos apesar de sua abordagem já ser usada por muitos pesquisadores da ciência convencional.
Nos dizeres de João de Queiroz, em um texto intitulado Tipologia da Consciência, ele diz:
Há uma explosão sem precedentes de estudos sobre a consciência. Pesquisadores de muitas áreas – Computação, Etologia, Física e Matemática, Antropologia, Psicologia, Ciências e Neurociências Cognitivas, Filosofia, Linguística, etc. – organizam simpósios, periódicos, volumes e antologias, sites e cursos sobre o tema. Este parece, entretanto, ser o objetivo de convergência pluri e interdisciplinar que mais produz divergência na recente História das Ciências. Multiplicam-se questões sobre definições e demarcações conceituais e terminológicas, sobre teorias, métodos, modelos, protocolos de investigação. Divergem, num mesmo departamento, visões gerais (general frameworks) sobre problemas básicos: como definir a consciência? (6)Até a próxima!
Referências:
1 – HARMAN, Willis. What Are Noetic Sciences?. Institute of Noetic Sciences. Newsletter, Vol. 6, No. 1, 1978;
2 – SCHLITZ, Marilyn; Taylor, Eugene & Lewis, Nola. Toward a Noetic Model of Medicine. Noetic Sciences, Review, nº. 47, 1998;
3 – COELHo JUNIOR, Achilles Gonçalves & Mahfoud, Miguel. As dimensões Religiosa e Espiritual da Experiência Humana: distinções e interrelações na obra de Viktor Frankl. IN Revista de Psicologia. São Paulo: USP, 2001. V. 12 n.2;
4 – MCPARTLAND, Thomas J. Noetic Science. Wagner Columbus Publishing Co. Ltd., sd, p.6;
5 – LIMA, Jorge dos Santos. A Perfeição da justiça em Platão: uma análise comparativa entre a Alegoria da Linha Dividida em os personagens de A República. Dissertação de Mestrado. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Natal: Univercidade Federal do Rio Grande do Norte, 2007. PP. 17-19; 23-24; 28-29;
6 – QUEIROZ, João. Tipologia da consciência: Um estudo comparativo baseado na filosofia de C. S. Peirce. IN Galaxia, Revista do Programa de Pós – Graduação em Comunicação Semiótica. São Paulo: PUC-SP, 2001. Nº.1;
LEHRER, Noah. Why Science needs art. Shift Magazine, nº. 20, Setembro/ Novembro de 2008;
PROWSE, Franci. Explorinh a sentient World. Shift Magazine, nº. 11, Julho/ Agosto 2006.
interessante!
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