segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Ernest Hemingway, uma geração perdida - notas.

            
Ubiracy de Souza Braga*
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Sociólogo (UFF), cientista político (UFRJ), doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).  



Você vai precisar de uma mulher a cada livro”. Scott Fitzgerald
                                  
            Escólio: Ernest Miller Hemingway nasceu em 1899, em Oak Park, Illinois (EUA). Filho de um médico da zona rural cresceu em contato com um ambiente pobre e rude, que conheceu ao acompanhar o trabalho do pai na região. Esse ambiente foi descrito em seu livro de contos,“In Our Time” (1925). Fez parte da comunidade de escritores expatriados em Paris, conhecida como “geração perdida”, nome inventado (cf. Braga, 2012) e popularizado por Gertrude Stein (1874-1946), escritora, poeta e feminista estadunidense.Tinha um apreciável círculo de amigos, como Pablo Picasso, Matisse, Georges Braque, Derain, Juan Gris, Apollinaire, Francis Picabia, Ezra Pound, Ernest Hemingway e James Joyce, isso apenas pra citar alguns.Levando uma vida turbulenta, Hemingway casou-se quatro vezes, além de vários relacionamentos românticos. Em Pamplona, meados do século XX, fascinado pelas touradas, a ponto de tornar-se um toureiro amador, transporta essa experiência para o livro:“O Sol Também Se Levanta” (1926). Ao cobrir a Guerra Civil Espanhola (1936-39), como jornalista do North American Newspaper Alliance(1936), não hesitou em se aliar às forças republicanas contra o fascismo, tema do livro:“Por Quem os Sinos Dobram” (1940). É sempre considerada sua obra-prima. Após Mark Twain e Jack London, Ernest Hemingway é o escritor norte-americano mais traduzido a outros idiomas.
Autor de cinco romances e mais de 50 relatos, Hemingway cultivou uma imagem de viajante e aventureiro infatigável, com prolongadas viagens a França, Itália, Espanha, Cuba e África durante seus 61 anos de vida, nos quais testemunharam as duas guerras mundiais. Nascido em 1899 em Oak Park, nos arredores de Chicago, a vocação de Hemingway não tardou a brotar. Pouco após terminar seus estudos, começou a trabalhar com apenas 17 anos como repórter no jornal “Kansas City Star”.Sua permanência no periódico mal durou um ano, mas Hemingway sempre lembrou o livro de estilo do jornal com frases curtas, primeiros parágrafos curtos,- como guia para sua ágil escrita, que posteriormente inspiraria imitadores, os bons imitadores.Nessa época, uma das mais prolíficas de sua carreira, publicou dois de seus romances mais reconhecidos, “O Sol Também Se Levanta” (1926) e “Adeus às Armas” (1929). Por fruto de uma curiosa coincidência, uma vaga de bons romances e novelas ambientadas na 1ª grande guerra têm aparecido neste ano de 1929, mais de uma década depois do final do conflito,entre eles:“Good-Bye toAllThat”, de Robert Graves, “Deathof a Hero”, de Richard Aldington, e “AllQuietonthe Western Front”, de Erich Maria Remarque. Em uma fictícia batalha literária, entretanto, todos os anteriores capitulariam perante “A FarewelltoArms”, de Ernest Hemingway, de longe o mais singular da safra literária. Celebrado pelos críticos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, o livro vendeu 80.000 exemplares em seus primeiros quatro meses e consagrou o autor como ícone da chamada “Geração Perdida”, composta pelos escritores norte-americanos que serviram na guerra.Aliás, a guerra, um dos grandes temas literários de Hemingway, voltou ao trabalho do escritor com a eclosão da Guerra Civil Espanhola (1936-39), conflito que ele cobriu como correspondente em Madri. Hemingway já tinha então se casado duas vezes e comprado uma casa em Key West, ilha no sul da Flórida, onde cultivava duas grandes paixões, além da literatura: a bebida e a pesca. Posteriormente, após o sucesso de “Por Quem os Sinos Dobram”, voltaria à Europa para cobrir o “Desembarque da Normandia” na 2ª guerra mundial e a libertação de Paris da ocupação nazista.
A Batalha da Normandia, com cujo nome de código de “Operação Overlord”, representou a invasão das forças dos Estados Unidos, Reino Unido, França Livre e aliados na França ocupada pelos alemães em 1944. Foi uma decisão política para manter a liberdade na Europa, ocorrida depois da derrota alemã para o Exército Vermelho, na famosa Batalha de Stalingrado. Sessenta anos mais tarde, a invasão da Normandia continua sendo a maior invasão marítima da história, com quase três milhões de soldadosterem cruzado o canal da Mancha, partindo de vários portos e campos de aviação na Inglaterra, com destino a Normandia, na França ocupada. Os primeiros planos da invasão aliada a França começaram a ser discutidos num encontro de Winston Churchill com o presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt em Casablanca, em janeiro de 1943. Neste encontro chegaram a conclusão que ainda não havia condições para um desembarque na França, mas ficou decidido que o tenente-general inglês Frederick Morgan seria encarregado da elaboração de um plano de assalto detalhado. Em agosto de 1943, numa nova conferência de líderes aliados no Quebec, Morgan apresentou “o plano de invasão da Normandia, um documento com o nome de código de Operação Overlord, que previa um desembarque em maio de 1944”.
Vejamos alguns aspectos do ângulo da rememoração, do ponto de vista da análise literária: “Por Quem os Sinos Dobram”, em inglês: “For Whomthe Bell Tolls” é um romance de 1940 de Ernest Hemingway, considerado pela crítica uma das suas melhores obras.O livro narra a história de Robert Jordan, um jovem norte-americano das Brigadas Internacionais. Professor de espanhol que se tornou conhecedor do uso de explosivos, Jordan recebe a missão de explodir uma ponte por ocasião de um ataque simultâneo à cidade de Segóvia.Hemingway usa como referência sua experiência pessoal como participante voluntário da Guerra Civil Espanhola (1936-39) ao lado dos republicanos e faz uma análise ácida, com críticas à atuação extremamente violenta das tropas de ambos os lados: A direita auxiliada pelo governo fascista italiano e nazista alemão e a esquerda pelas brigadas internacionais e União Soviética. Critica também a burocratização (Weber) e o panorama de privilégios rapidamente instaurado no lado da República.Mulherengo, boêmio e nômade, encarnava a lenda do escritor errante na busca de histórias para sua máquina de escrever, que datilografava sempre de pé. – “Sempre faça sóbrio o que você disse que faria bêbado. Isso lhe ensinará a manter a boca fechada”, era outro de seus irônicos lemas.
Acima de tudo o livro trata, no entanto, da condição humana (Arendt, 1999). O título é referência a um poema do pastor e escritor inglês JohnDonne que se encontra na obra: “PoemsonSeveralOccasions” que em português se intitula “Meditações”, e invoca o absurdo da guerra, mormente a guerra civil, travada entre irmãos. – “Quando morre um homem, morremos todos, pois somos parte da humanidade” (“When a man dies, weall die, becausewe are partofhumanity”).Em várias passagens do texto os personagens estranham e se estranham, no sentido da alienação (Marx), desempenhando os papéis bizarros que se viram forçados a assumir durante a guerra, e fraquejam ao ver nos inimigos seres humanos que poderiam estar de qualquer um dos lados da guerra indistintamente. Em 1943 um filme homônimo foi feito, tendo nos papéis principais os astros da época, Gary Cooper e Ingrid Bergman, com uma cena famosa na qual o casal usa um mesmo saco de dormir.A banda californiana de thrash metal “Metallica” tem uma canção em seu segundo álbum de estúdio, Ride theLightning chamada “For Whom The Bell Tolls”. A música foi inspirada nesta obra.O nono álbum do cantor e compositor brasileiro Raul Seixas, “Por Quem os Sinos Dobram” teve o título inspirado no filme homônimo, baseado em livro de Ernest Hemingway e traz alguns clássicos da obra de Raul Seixas, como “O Segredo do Universo”, “Ide a Mim Dadá” e “Por Quem Os Sinos Dobram”.
                       

A capa do novo romance: sem final feliz!
No papel, o romance traz a história de Frederic Henry, assim como Hemingway, um jovem americano motorista de ambulância que combate ao lado do exército italiano no front austro-húngaro até ser atingido na perna por estilhaços de um morteiro. Levado a um hospital de Milão, passa a receber os cuidados de Catherine Barkley, enfermeira americana da Cruz Vermelha. A personagem foi inspirada em Agnes vonKurowsky, que cuidou de Hemingway na Itália.O romance da vida real ficou pelo caminho: Agnes se apaixonou por um oficial italiano e não retornou com Hemingway aos Estados Unidos, como o autor planejava. Na ficção, o autor trata de corrigir esta falha do destino. Mas não vai tão longe a ponto de mudar o que a humanidade, a duras penas, vem experimentando ao longo dos séculos. Há poucos finais felizes em uma guerra, aliás, acrescentaria o escritor, há poucos finais felizes na vida. No ano passado, o suicídio de seu pai, médico honrado em dificuldades financeiras e com saúde precária, foi mais uma demonstração de tal frustração. Em “A FarewelltoArms”, não há como virar a face para isso. As palavras de Frederic Henry são definitivas: “Aos que trazem muita coragem neste mundo, o mundo quebra a cada um deles e eles ficam mais fortes nos lugares quebrados. Mas aos que não se deixam quebrar, o mundo mata-os. Mata os muito bons, os muito meigos, os muito bravos imparcialmente. Se não pertenceis a nenhuma destas categorias, morrereis da mesma maneira, mas não haverá pressa nenhuma em matar-vos”.   Em primeiro lugar do ponto de vista da perspectiva antropológica de grupo, apesar de formado por diversos artistas, o grupo ficou mais conhecido pelas obras literárias que produziu no período. Na lista de autores célebres da chamada “geração perdida”,estárespectivamente T. S. Eliot, John Dos Passos, Waldo Peirce, Sherwood Anderson, Ezra Pound, F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway. Além deles, outra personalidade citada como parte dessa geração é James Joyce, que tem seu romance “Ulisses”, como um dos mais importantes nesta época. Dentro desta geração, no sentido que Karl Mannheim emprega, há bastante influência do jazz (Hobsbawm) nas composições literárias, pois este estilo musical estava surgindo nos Estados Unidos e influenciando outros países.No filme de Woody Allen, “Meia-Noite em Paris”, é possível ver uma ilustração da “Geração Perdida”. No longa-metragem, um pretendente a escritor contemporâneo acha um lapso temporal e consegue voltar para a época em que seus ídolos andavam e conversavam pelos cafés parisienses. Na ambientação feita pelo magnânimo diretor, notam-se outros artistas que compunham o grupo como Pablo Picasso, Salvador Dalí e Luís Buñuel.
                       

Vale lembrar que “Midnight in Paris” é um filme de comédia romântica e fantasia, escrito e dirigido por Woody Allen, lançado em 2011. É estrelado pelo trio: Owen Wilson, Marion Cotillard e Rachel McAdams. Na semana de 23 de janeiro de 2012 foi indicado pela Academia ao Óscar como melhor direção de arte de Anne Seibel, HélèneDubreuil, melhor direção de Woody Allen e como melhor filme, além de ter sido o vencedor do prêmio de melhor roteiro original.“Meia-Noite em Paris” é uma comédia romântica sobre um escritor e roteirista norte-americano que vai com família de sua noiva a capital da França, cidade que ele idolatra. A história é concentrada nos passeios de Gil (Owen Wilson) na noite Parisiense, onde e quando toca a meia-noite, o escritor é transportado para a Paris de 1920, época que ele considera a melhor de todas historicamente.
Nessas viagens, Gil frequenta varias festas onde conhece inúmeros intelectuais e artistas que frequentavam a “cidade da luz” (Benjamin) em que entre eles estão: F. Scott Fitzgerald, Gertrude Stein, Ernest Hemingway, etc. Dessa forma, Gil tenta acabar o seu romance com Inez, pois se apaixona por Adriana (Marion Cotillard), é forçado a confrontar a ilusão de que uma vida diferente do seu estilo de viver, nesse caso a época de ouro francesa é melhor. A bela e talentosa Carla Bruni, ex-primeira-dama da França, faz uma ponta no filme. Woody Allen a chamou para interpretar a guia de um museu. Ela explicou o motivo da resposta positiva à nova experiência: - “Não sou atriz, mas eu não poderia perder uma oportunidade como essas. Quando eu for avó, gostaria de poder dizer que fiz um filme com Woody Allen” (- “Jene suis pas une actrice, mais je ne pouvaispasmanquer une telleopportunité. Grand-mèrequand je voudraispouvoir dire quej`ai fait un film avec Woody Allen”). É o primeiro filme de Allen totalmente gravado em Paris, apesar de “Love andDeath” e “EveryoneSays I Love You” terem sido parcialmente gravados lá.
                       

Entre as obras mais importantes desta época destacam-se:“O Sol Também se Levanta” (Hemingway), “O Grande Gatsby” (Fitzgerald), “ThreeSoldiers” (Dos Passos) e “Ulisses” (James Joyce).É possível dizer que a “geração perdida” tenha, até mesmo, influenciada os beatniks dos anos 1950, grupo que também tinha o jazz e longas jornadas como temas de seus livros. No caso da geração de Hemingway, eram norte-americanos em outro país “buscando uma espécie de refúgio perante a nação que os criou”. Já os beatniks, Kerouac, William Burroughs, Allen Ginsberg, entre outros, utilizavam a própria América do Norte como tema de seus livros e críticas. Isso pode ser observado em obras como “On The Road”, de Jack Kerouac.O termo “geração” é bastante amplo, muitas imprecisões ocorrem em torno das suas definições. Seu significado é sociológico, mas, sobretudo ideológico, isto porque demostra que comumente usamos esse termo para nos referirmos aos descendentes ou ascendentes familiares.
O termo foi usado pelo filósofo Augusto Comte para afirmar uma visão “mecânica e automática” da história, na qual o tempo histórico é confundido e mesclado com o tempo biológico. Por isso, a concepção elaborada por Comte é chamada de “positivista” e implica em uma “naturalização da história”. Após Comte, vários sociólogos e historiadores recorreram ao conceito de geração, embora cada um deles atribuísse ao conceito um determinado significado.O estilo inovador de Hemingway, que preferiu a economia de linguagem e a palavra depurada aos artifícios literários e à extensa análise psicológica, influenciou as gerações seguintes de escritores norte-americanos.O conceito de geração foi retomado por Karl Mannheim que, esvaziando o aspecto biológico, natural, referente à época de nascimento, mas reificando (Lukács) o fato de um grupo de pessoas compartilharem a mesma experiência histórica, possibilitaria aos membros do grupo a adoção de um mesmo estilo de pensamento ou de ação.Entrementes, o conceito de geração foi utilizado por diferentes autores em diferentes períodos e, por isso, seu significado felizmente não é jamais dado para referir-se a único ente.
Só vale insistir no que há de circunspecto em “O Velho e o Mar”, em inglês: “The Old Man andtheSea”, porque se trata de um romance de Ernest Hemingway, escrito em Cuba, em 1951, e publicado em 1952.  E principalmente porque foi a última grande obra de ficção de Hemingway a ser publicada ainda durante a sua vida, sendo uma das suas obras mais famosas. Narra a história de um velho pescador que luta com um gigante espadarte em alto mar por entre a corrente do Golfo. Apesar de ter sido alvo de apreciações muito severas, o que é importante por parte da crítica, é uma obra que permanece uma referência entre os livros de Hemingway, tendo reafirmado a inquietude do autor em tempo de qualificá-lo para o Prêmio Nobel de Literatura de 1954.
A história resumidamente tem como personagem principal um velho pescador chamado Santiago que experiente, encontra-se numa “maré de azar”, tendo ficado quase três meses - 84 dias - sem conseguir pescar um peixe. Santiago possui um jovem amigo, chamado Manolin, que o incentiva a pescar. Na manhã do 85º dia, na sua pequena canoa, Santiago consegue um peixe, de tamanho descomunal, lembrando-nos o “realismo mágico” de Gabriel Garcia Marques (cf. Braga, 2011) aproximadamente de 5 metros de comprimento e 700 kg. O peixe oferece muita resistência, e arrasta a canoa de Santiago cada vez mais para alto mar. Santiago sofre com o sol cegante e abre feridas nas mãos, de tanto lutar com peixe. Depois de alguns dias, Santiago consegue finalmente capturar o peixe e amarrá-lo à sua canoa. Porém, enquanto retornava a costa, sofre constantes ataques de tubarões. Quando finalmente consegue chegar à praia, o peixe já estava sem carne, só restava a sua espinha, e Santiago estava sem forças. Os outros pescadores, vendo tamanho peixe, o maior que alguém já havia pescado, respeitam e ajudam-no, especialmente o jovem Manolin, que gostava muito do velho; esse o retrato representado pela angústia (Kierkegaard) da atividade unissexual masculina do homem diante do mar.
                                  

                                   Prêmio Nobel de Literatura em 1954.
A vida e a obra de Hemingway tem intensa relação afetiva com a Espanha, país onde viveu por quatro anos. Uma breve passagem, mas marcante, para um escritor norte-americano que estabeleceu uma relação emotiva e ideológica com os espanhóis. Em 1952 publicou: “O Velho e o Mar”, com o qual ganhou o prêmio Pulitzer (1953). Foi laureado com o Nobel de Literatura de 1954. Ao longo da vida do escritor, o tema suicídio aparece em escritos, cartas e
conversas, com muita frequência. Seu pai suicidou-se em 1929 por problemas de saúde e financeiros. Sua mãe, Grace, dona de casa e professora de canto e ópera, o atormentava com a
sua personalidade dominadora. Ela enviou-lhe pelo correio a pistola com a qual o seu pai havia se matado. O escritor, atônito, não sabia se ela queria que ele repetisse o ato do pai ou que guardasse a arma como lembrança.
            O enredo do livro:“O Sol Nasce Sempre” (Fiesta) decorre na Europa após o termo da Primeira grande Guerra. Se excetuarmos o toureiro Pedro Romero, todos os seus outros personagens principais se expatriaram dos Estados Unidos da América ou da Grã-Bretanha. E todos eles, quer tivessem vindo em busca de aventura ou de algo indefinido com que preencher o vazio das suas vidas, tinham acabado por instalar-se em Paris. Esta se celebrizara, nos anos 1920, graças à boemia esfuziante dos seus cafés e da sua intelectualidade. Aí se podiam, com efeito, encontrar pintores como Picasso, Miró ou Matisse, ou mulheres como a norte-americana Gertrude Stein, que criara uma tertúlia onde diversos artistas plásticos ou escritores como James Joyce, F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway se juntavam para trocar ideias. Mas se Paris garantia assim a todos uma vida interessante, a verdade é que muitos a sentiam também como vazia. De modo que, à semelhança aliás do que acontecera a Hemingway e a alguns dos seus amigos, um certo número de personagens deste romance pretenderão escapar à sofisticação e à corrupção da grande cidade, refugiando-se no universo mais tradicional da Espanha daqueles anos. E porque muitos se reconheceram neste retrato de uma geração sem raízes, “O Sol Nasce Sempre” (Fiesta) tornou-se rapidamente um romance de culto para os jovens europeus do período de entre as duas guerras.
            Ainda muito jovem, decidiu ir à Europa pela primeira vez, quando a Grande Guerra assombrava o mundo (1918). Hemingway havia terminado o segundo grau em Oak Park e trabalhado como jornalista no Kansas City Star. Tentou alistar-se, mas “foi preterido por ter um problema na visão”. Decidido a ir à guerra, conseguiu uma vaga de motorista de ambulância na Cruz Vermelha. Na Itália, apaixonou-se pela enfermeira Agnes Von Kurowsky, sua inspiração na criação da heroína de “Adeus às Armas” (1929) - a inglesa Catherine Barkley. Atingido por uma bomba, retornou para Oak Park que, depois do que viu na Itália, tornou-se monótona demais. Volta à Europa (Paris), em 1921, recém-casado com Elizabeth Hadley Richardson, seu primeiro casamento, com quem teve um filho. Na ocasião, trabalhava para o jornal Toronto Star Weeky e, em início de carreira, se aproximou de outros principiantes: Ezra Pound (1885-1972), Scott Fitzgerald (1896-1940) e Gertrude Stein (1874-1940).Se “O Jardim do Éden” fala de uma relação “a três”, muito semelhante àquela por que Hemingway passou, então não é despropositado falar das mulheres na vida do Nobel da Literatura. Com 21 anos, conheceu Elizabeth Hadley Richardson, oito anos mais velha. Hadley, como ele lhe chamava, tinha ido de Chicago para St. Louis recuperar da morte da mãe e encontrou em festas um rapaz que os amigos tratavam por muitos nomes - Ernie, Nesto, Oinbones, Wemmedge, Hemmy, Stein, Hemingstein. É assim que narra o escritor britânico Anthony Burgess na sua curta biografia de Hemingway. Apaixonaram-se e casaram em 1921. Destino: França. Era o sítio certo para um escritor. Um filho, Bumby, nasceu pouco depois.
            O seu segundo casamento (1927) foi com a jornalista de moda Pauline Pfeiffer. Com ela teve dois filhos. Em 1928, o casal decidiu morar em Key West, na Flórida. O escritor sentiu falta da vida de jornalista e correspondente internacional. O casamento com Pauline era instável. Nessa época conhece Joe Russell, dono do SloppyJoe’s Bar e companheiro de farra. Já na década de 1930, resolveu partir com o amigo para uma pescaria. Dois dias em alto-mar que terminaram em Havana, capital cubana, para onde voltava anualmente na época da corrida do agulhão entre os meses de maio e julho. Hospedavam-se no hotel Ambos os Mundos, em plena Habana Vieja, bairro mais antigo da cidade que se tornava o lar do escritor, e os cenários que comporiam sua história e a da própria ilha pelos próximos 23 anos. Duas décadas de turbulências que teriam como desfecho a revolução socialista e o suicídio do escritor.
           
           
Em Cuba, o escritor se apaixonou por Jane Mason, casada com o diretor de operações da Pan American Airways e se tornaram amantes. Em 1936, nos Estados Unidos, novamente se apaixona desta feita pela destemida jornalista Martha Gellhorn, motivo do segundo divórcio, confirmando o que predisse seu amigo, Scott Fitzgerald, quando eles se conheceram em Paris: “Você vai precisar de uma mulher a cada livro”. Dos Estados Unidos, Hemingway prepara-se para partir para Espanha, onde estalara a Guerra Civil. Pauline é contra, tem um presságio mau. Provavelmente não o da morte do marido, mas o da morte do casamento.Assim, Hemingway partiu para a Espanha, onde Martha já estava e, em meio à guerra, os dois viveram um romance que resultou no seu terceiro casamento. Quando a república caiu e a Europa vivia o prenúncio de um conflito generalizado, Hemingway retornou para Cuba com Martha.Em 1946, o escritor casa-se pela quarta e última vez com Mary Welsh, também jornalista, mas tímida e disposta a viver ao lado de um Hemingway cada vez mais instável emocionalmente.
É ainda na Florida que ele encontra Martha Gellhorn, uma das mais extraordinárias repórteres de guerra do século XX, sem dúvida muito melhor do que Hemingway neste campo. É já em Espanha, no meio do horror, que se envolvem. Digamos que, no intervalo das reportagens de guerra, ele era o primeiro amante dela e ela o primeiro amante dele, mas que não havia exclusividade. Ela era casada. A relação, pública, durou anos e era quase sempre tumultuosa, mas ainda assim casaram em 1940. Hemingway tinha ciúmes do trabalho de Martha Gellhorn, que inclusive desembarcou na Normandia, na Segunda Guerra Mundial, antes dele. Neste ano, 1944, em Londres, ele conheceu Mary Welsh, jornalista do “Daily Express” casada com um colega do “Daily Mail”. O tempo desse encontro amoroso foi também o do desencontro final com Martha. Hemingway está presente na libertação de Paris. Instala-se no Ritz e recebe quem o vai visitar por entre champanhe e conhaque.
Uma das primeiras visitas é a da Mary Welsh. – “O quarto 31 do Ritz é consagrado às alegrias do amor pré-marital com Mary, breve, mas apaixonado, acompanhado por champanhe LansonBrut” (ainda Burgess). Casam em 1946. Ela será a quarta e última senhora Hemingway. Aos 61 anos e enfrentando problemas de hipertensão, diabetes, depressão e perda de memória, Hemingway decidiu-se pela primeira alternativa. Todas as personagens deste escritor se defrontaram com o problema da “evidência trágica” do fim. Hemingway não pôde aceitá-la. A vida inteira jogou com a morte, até que, na manhã de 2 de julho de 1961, em Ketchum, Idaho, tomou um fuzil de caça e disparou contra si mesmo. Encontra-se sepultado em KetchumCemetery, Ketchum, Condado de Blaine, Idaho nos Estados Unidos.
Bibliografia geral consultada:
BRAGA, Ubiracy de Souza, “90 anos de Gabito coincide com seus libelos”. Disponível em: http://cienciasocialceara.blogspot.com.br/2011/12/; artigo: “Morte de Ernest Hemingway completa 50 anos neste sábado”. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/;




                    

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