domingo, 8 de agosto de 2010

Caleidoscópio das Línguas: Um resenha crítica sobre os textos Língua e Sociedade e A polêmica sobre ciências e humanidade de Octavio Ianni.

Referências Bibliográficas:


IANNI, Octavio. Língua e Sociedade.Primeira Versão. Publicação do Instituto de Filosofias e Ciências Humanas-IFCH



IANNI, Octavio. A Polêmica sobre Ciências e Humanidades. In: Seminários UNICAMP: Diversidade na Ciência. 2003.





O autor inicia o texto Língua e Sociedade expondo a função social que as palavras e as expressões lingüísticas ocasionaram em dado período histórico. Afirma que a língua vem caminhando, concomitantemente, com a linha do tempo é que cada era é marcada também por uma expressão, uma ação, uma postura que advém da linguagem. Cede como um dos seus exemplos a frase “Penso, logo existo”, palavras essas que originou reflexões, inquietações, mudanças. Através destes argumentos, o autor incita uma discussão entre língua e sociedade e tenta reiterar o mundo social na ciência da linguagem.



Para o autor as palavras são dotadas de magia. Ele justifica essa qualidade por identificar nas palavras o poder que ela possui de criar, modificar, conectar, romper, denominar. Por possuir tais características é que ela se torna capaz de acompanhar as mudanças histórico-sociais do homem, portanto, torna-se parte essencial na cultura humana produzida ao longo do tempo histórico. No intuito de narrar sua condição social o homem faz uso das línguas em seus diversos estilos. Na pré-história o homem pintava as cavernas com gravuras rupestres para relatar um acontecimento, na contemporaneidade, após todos os aperfeiçoamentos gramaticais e até mesmo a isenção de dispositivos tecnológicos na linguagem, o que me chama atenção é que alguns homens transformaram as cavernas em muros, e continua pintando as paredes para se expressar, como mostra o exemplo de Eduardo Galeano “Dizem as paredes na saída de Santiago de Cuba: Como gasto paredes lembrando voce! (...) Em Montevideu, no bairro Braco Oriental: Estamos aqui sentados, vendo como matam os nossos sonhos” (GALEANO, 2002). Esse fato só comprova a elasticidade e a capacidade de metamorfose da língua, ela pode se apresentar na forma mais primitiva, como na forma mais técnica, se transmutando para as linguagens eletrônicas e cibernéticas, levando sempre em consideração o momento social que ela vivencia. Como afirma Bourdieu “O que fala nunca é a palavra, o discurso, mas toda a pessoa social” (BOURDIEU, 1996).



Ao falar de estilos de pensamentos, Ianni define algumas formas de pensar e agir da Modernidade e Pós-Modernidade, salientando as formas de narrativas inerentes a cada uma delas. Nesta parte do texto, podemos incluir os estilos de pensamento discutidos na polêmica entre as ciências naturais e ciências sociais, do segundo texto do autor. As ciências naturais prezam por uma linguagem de expressão fundamentadas em metodologias, hipóteses, deduções, explicações e leis. Por sua vez, as ciências humanas se apóiam em situações sociais, subjetividades e objetividades, modo de agir, pensar, expressar, figuras de linguagens e alegorias. No texto fica evidenciado o objetivo de cada ciência: as ciências naturais desejam EXPLICAR, as humanas COMPREENDER, e em especial, as artísticas como um segmento das humanas adota como finalidade a REVELAÇÃO. O autor defende que se estas ciências se mantêm indiferentes, o crescimento das ciências globais é prejudicado. Ele acredita que uma unidade das ciências contribuiria mais para evolução social do homem. Para Bourdieu, esta propriedade das ciências também é importante para atuação do homem, ele afirma que “O domínio prático da gramática não é nada sem o domínio das condições de utilização adequada das possibilidades infinitas, oferecidas pela gramática.” (BOURDIEU 1996).



A função gramatical tem essencial valia quando o homem consegue perceber o contexto social em que ela está inserida. Trocando em miúdos, o homem competente é aquele que detém um habitus lingüístico, ou seja, o que tem a capacidade de usar e avaliar as possibilidades da língua e utilizá-la no momento oportuno. Enfatizando que “Uma verdadeira ciência do discurso deve buscá-la no discurso, mas também fora dele, nas condições sociais de produção e de reprodução dos produtores e receptores”, (BOURDIEU 1996). Aplicando esta teoria na realidade, observei um garoto na rua com roupas sujas, pés descalços, franzino, e no rosto traços de sofrimento. Levava um cartaz que tinha escrito “Me ajude, estou com fome”.



Se desconsiderássemos as razões socias (pobreza, miséria, fome) implícitas nesta imagem, o discurso do garoto perderia força, e as palavras já não provocaria o mesmo efeito para o receptor.Neste momento é preciso ter discernimento e observar que para além dos métodos gramaticais, é necessário desenvolver uma visão crítica da realidade. Deve- se tomar uma postura sugerida por Octavo Ianni,no texto Língua e sociedade, o qual afirma que o interessante é “compreender a linguagem e a realidade em suas multiplicas articulações.” (IANNI). O autor ainda afirma que toda narrativa (seja modernidade ou pós-modernidade) busca a possibilidade de torna-se referência, e que todas as outras informações seria somente contribuições, sendo vistos como adendos, episódios ou fragmentos. Ansiando, desta forma, pela a detenção de um capital lingüístico simbólico que o destacasse dos outros estilos de pensamento e expressão. A mesma polêmica é proeminente nas relações de ciências naturais e humanas.



A linguagem se tornou um poder simbólico tão relevante, a ponto de batizar os dominantes e os dominados. Ianni enfatiza esta idéia quando assegura que técnicas sociais, sistemas de ensino, meio de comunicação, industrial cultural podem ser manipulados pelas elites governantes para ostentar uma hierarquia sócio-cultural dentro da sociedade. Como de fato podemos presenciar em nosso cotidiano que as normas gramaticais imposta para selecionar ou categorizar uma formação educacional é um ensino baseado em conhecimentos de uma classe dominante.



Esta postura reduz o olhar crítico e reflexivo que poderia ser concebido no estudo da linguagem e alimenta um jogo de forças sociais que inviabiliza um crescimento cultural e cientifico dos indivíduos de classes sociais díspares.



O poder simbólico que a classe dominante possui sobre a linguagem normativa é tão relevante que os dominados se policiam para que não se desviem das regras. A língua, neste caso, decide patamares, para, além disso, constroem segmentos de poder. Se vamos para uma entrevista de emprego ou se iremos concorrer a uma vaga na universidade, é a língua culta que devemos aplicar. Estamos submetidos a uma força linguística. Bourdieu escreve que “A disposição que leva a "se vigiar", a "se corrigir", a procurara "correção" através de correções permanentes nada mais é que o produto da introjeção de uma vigilância e de correções que inculcam, senão o conhecimento, pelo menos o reconhecimento da norma lingüística”. (BOURDIEU, 1996).



Os textos de Octavio Ianni, associados aos autores complementares nos concede uma visão que a língua tem várias óticas, e assim como o caleidoscópio, a cada movimento reflete em seus espelhos um sentido. Sabiamente, devemos compreender, explicar e revelar o sentido presente em cada ângulo.






BOURDIEU. Pierre. Economia das trocas linguísticas: o que falar quer dizer. Disponível em <http://free-books-online.net/pierre-bourdieu,-Economia-das-trocas-Linguistica:-o-que-falar-quer-dizer-pdf>.Data de acesso em 06.08.2010.



GALEANO. Eduardo. Livro dos Abraços. 9º Edição.Porto Alegre.L&PM.2002.270p.





Helena Barbosa. 2º semestre- Disciplina de Sociologia II- Ciências Sociais- UFC

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