terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Ceará e a desigualdade sócio econômica


Imagine um salário mínimo dividido por oito. É com essa renda mensal que vivem 908.985 cearenses. A situação de extrema pobreza coloca o Ceará em terceiro lugar entre os estados com maior quantidade de pessoas com renda de até R$58 por mês. O Estado fica atrás apenas de Bahia e Pernambuco. 

O número de pessoas extremamente pobres vinha diminuindo ano após ano. Em 2008, chegou ao patamar mínimo de 660 mil, mas voltou a subir em 2009, auge da crise econômica.

Os dados fazem parte de relatório apresentado ontem pelo Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP), da Universidade Federal do Ceará, com base nos números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de setembro de 2009.

A situação é ainda pior entre crianças e adolescentes. De cada cem pessoas com faixa etária entre 0 e 14 anos, 18 vivem em situação de extrema pobreza no Ceará.

De acordo com os pesquisadores do LEP, seria necessário transferir R$ 24,2 milhões por mês, 2,43% da renda do Governo Estadual, para erradicar a pobreza extrema no Ceará.

O percentual é considerado alto pelos economistas. Santa Catarina é o mais próximo a erradicar a pobreza extrema. Precisaria transferir 0,35% da renda estadual para os mais pobres.

“Quando esse valor é alto, estados não são capazes, sozinhos, de reservar aportes para resolver o problema”, avalia Carlos Eduardo Marinho, pesquisador do LEP.

Geração condenada
Para Arnaldo Santos, integrante da equipe do LEP, o desafio é salvar ou perder toda uma geração. “Ficar como está não pode, ou teremos crianças condenadas a reproduzir a situação dos pais”, pontua.

Segundo ele, a questão não se trata de caridade, nem filantropia. “É preciso potencializar a economia de mercado, criando condições para que, através da renda, essas pessoas possam suprir necessidades básicas”, aponta.

Para fevereiro, o LEP prepara relatório da situação domiciliar das famílias em extrema pobreza do Ceará.

Como
ENTENDA A NOTÍCIAO relatório “Caracterização da Extrema Pobreza no Brasil” se baseia em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2009. O salário mínimo à época era de R$465


COMBATE À POBREZA
Alguns dos dados apresentados na pesquisa foram adiantados, com exclusividade, por O POVO, no dia 8 de novembro de 2010.


No Ceará, cerca de 940 mil famílias recebem benefício do Bolsa Família, segundo a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS).

Outra Linha de combate à pobreza no campo da assistência social tem sido, de acordo com o Governo do Estado, a atuação do Fundo de Combate à Pobreza (Fecop), com investimentos na casa de R$ 70 milhões na área social, voltados especialmente para crianças e idosos.

Na matéria de 8 de novembro, o uso do Fecop para investimentos em áreas não prioritárias foi criticada pela Conselheira do Tribunal de

Contas do Estado (TCE/CE), Soraia Victor. Segundo ela, foram poucos os investimentos em setores diretamente ligados à erradicação da pobreza.

Em parceira com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Governo investe na construção de Centros de Assistência Social (CRAS). Em 2010 foram construídos 53 CRAs em 20 municípios. Os Centros dão a principal porta de entrada de atendimento de pessoas pobres ou extremamente pobres.

A STDS cita ainda a criação do programa “Inclusão Produtiva”, em dezembro do ano passado, como forma de incluir 10 mil pessoas, em 21 municípios do Estado, em atividades de cajucultura, apicultura e caprinocultura.
Thiago Mendes
thiagomendes@opovo.com.br

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