Forró: Dança, rebolado, beleza e internacionalização do gênero.
Ubiracy
de Souza Braga*
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Existem
duas versões sobre a origem da palavra forró.
A primeira delas, talvez a mais fantasiosa,
no sentido do “mágico”, atribui o nome à deturpação da expressão “for all”, que
significa em inglês: “para todos”, e era como se denominavam os bailes populares
promovidos para os operários que construíam a estrada de ferro da “Great
Western”, empresa inglesa que explorava o transporte ferroviário nos Estados de
Pernambuco, Alagoas e Paraíba. Mas, a grande maioria dos historiadores da
cultura admite que a palavra “forró” seja uma derivação de “forrobodó”, que
significa “divertimento pagodeiro ou baile popular”, sem formas e etiquetas
definidas, que também ficou conhecido como “arrasta-pé”, “bate-chinela” ou “fobó”,
festas em que pontificavam os ritmos mais populares da música nordestina, como:
baião, coco, quadrilha, xaxado, xote, sempre animado pela “pé-de-bode”, a popular
sanfona de oito baixos.
Forró,
originariamente “forrobodó”, é um ritmo e dança típicos da região Nordeste do Brasil
praticado nas festas juninas e outros eventos. No forró, vários ritmos musicais daquela região, como o “baião”, a “quadrilha”,
o “xaxado”, que tem influências holandesas,
neste caso na cidade de Recife (cf. Barleus, 1647; 1980; Kalff, 1909) e
o “xote”, que veio de Portugal, são tocados, tradicionalmente, por trios,
compostos de um sanfoneiro: “tocador de acordeão”, que no forró é tradicionalmente
a sanfona de oito baixos, um zabumbeiro e um tocador de triângulo (cf. Ramalho,
1962; 1987; 1999; 2001). Também é chamado “arrasta-pé”, “bate-chinela”, “fobó”.
O que é mais evidente acusticamente ao examinarmos a démarche da música sertaneja no Brasil é: 1) a crescente
internacionalização do gênero pela incorporação de ritmos e roupagens, da moda
de viola à balada, da sonoridade caipira ao som orquestral por um lado, e 2) a
coexistência de modos de produção artesanal e industrial - na produção e
consumo local e comunitário ao lado da construção de modelos padronizados e de
consumo massivo - por outro.
Sobre
esta nítida inspiração, de tema e de enredo, temos em Chico Buarque, - nestes
dias em Fortaleza, a seguinte canção, “Não Existe Pecado ao Sul do Equador”:
“Não
existe pecado do lado de baixo do equador/Vamos fazer um pecado rasgado, suado,
a todo vapor/Me deixa ser teu escracho, capacho, teu cacho/Um riacho de
amor/Quando é lição de esculacho, olha aí, sai de baixo/Que eu sou
professor/Deixa a tristeza pra lá, vem comer, me jantar/Sarapatel, caruru,
tucupi, tacacá/Vê se me usa, me abusa, lambuza/Que a tua cafuza/Não pode
esperar/Deixa a tristeza pra lá, vem comer, me jantar/Sarapatel, caruru,
tucupi, tacacá/Vê se esgota, me bota na mesa/Que a tua holandesa/Não pode
esperar/Não existe pecado do lado de baixo do equador/Vamos fazer um pecado,
rasgado, suado a todo vapor/Me deixa ser teu escracho, teu cacho/Um riacho de
amor/Quando é missão de esculacho, olha aí, sai de baixo/Que eu sou embaixador”.
No
caso particular do Xote, também
escrito xótis, chóte ou chótis, é “um
ritmo musical binário ou quaternário e uma dança de salão de origem centro europeu”.
É um ritmo/dança muito executado no forró. De origem alemã, a palavra “xote” é
corruptela de “schottisch”, uma palavra alemã que significa “escocesa”, em
referência à “polca escocesa”, tal como conhecida pelos alemães. Conhecido
atualmente em Portugal como “chotiça”, o “Schottisch” foi levado para o Brasil
por José Maria Toussaint, em 1851 e tornou-se apreciado como “dança da elite”
no período do Segundo Reinado (1840-1889). Daí, quando os escravos negros desenvolveram
alguns passos da dança, acrescentado sua maneira peculiar de bailado, o “Schottisch”
caiu no gosto popular, com o nome de “xótis” ou simplesmente “xote”. É uma
dança muito versátil e pode ser encontrada, com variações rítmicas, desde o
extremo sul do Brasil, o “xote gaúcho”, até no Nordeste do país, nos forrós
nordestinos. Diversos outros ritmos possuem uma marcação semelhante, podendo
ser usados para dançar o xote, que tem incorporado também diversos passos de
dança e elementos da música latino-americana, como, por exemplo, alguns passos
de salsa, de rumba e mambo. Hoje em dia, o xote é um dos ritmos mais tocados e
dançados em todo o Brasil.
O
forró possui semelhanças com o “toré”, e o arrastar “dos pés dos índios”, com
os ritmos binários portugueses e holandeses, porque são ritmos de origem
europeia a chula, denominada pelos nordestinos simplesmente “forró”, “ xote”, e
variedades de polcas europeias que são chamadas pelos nordestinos de “arrasta-pé”
e ou “quadrilhas”. A dança do forró tem influência direta das danças de salão
europeias, como evidencia nossa história de colonização e invasões europeias. Forró, originariamente forrobodó,
é um ritmo e dança típicos da região Nordeste do Brasil, praticadas nas festas Juninas (cf. Nobrega, 2010) e outros
eventos. No forró, vários ritmos musicais daquela região, como “baião”, a “quadrilha”, o “xaxado”, que tem influências holandesas e o “xote”, que veio
de Portugal, são tocados, tradicionalmente, por trios, compostos de um sanfoneiro:
tocador de acordeão, que no forró é tradicionalmente a sanfona de
oito baixos; um zabumbeiro e um tocador de triângulo. Também é
chamado arrasta-pé, bate-chinela, fobó. O forró possui
semelhanças com o “toré” e o
arrastar dos pés dos índios, com os ritmos binários portugueses e holandeses,
porque são ritmos de origem europeia a “chula”, denominada pelos nordestinos simplesmente: “forró”, “xote” e variedades de “polcas” europeias que são chamadas pelos nordestinos de arrasta-pé e ou
quadrilhas. A dança do forró tem influência direta das danças de salão
europeias, como evidencia nossa história de colonização e invasões europeias.

Numa visão de conjunto, a região Nordeste (cf.
Albuquerque, 2006) apresenta uma cultura típica, rica e diversificda, é o
resultado da união da cultura dos brancos, especialmente os portugueses, com os
índios e os negros africanos, como fora analisado magistralmente na obra de
Gilberto Freyre na década de 1920, e que dispensa-nos comentários. Ritmos
populares como “Coco”, “xaxado”, “martelo agalopado”, “samba de roda”, “baião”,
“xote”, “samba-de-roda”, “forró”, “frevo” e “axé”, entre outros rítmos, se
destacam na formação da cultura musical da região Nordeste. O axé é destaque no
carnaval de Salvador, onde a cidade recebe milhares de turistas para curtir a
festa e em Recife, o destaque cultural é o frevo. Nas festividades há destaque
também para as festas de carnaval “fora de época”, como o “CarNatal” em Natal e o “Fortal”
em Fortaleza. Outras festas tipicas como o Bumba-meu-boi
no Maranhão, as “micaretas fora de época” e o Carnaval de bonecos, de Olinda, também são destaques da cultura da
região Nordeste. No Recife o movimento armorial, com inspiração em Ariano
Suassuna, realizou um trabalho erudito buscando a valorização desta rica
herança rítmica popular nordestina; um de seus expoentes mais conhecidos é o
cantor Antônio Nóbrega. O São João é outra festa tipicamente nordestina, quando
essa festa se aproxima, algumas cidades brigam pelo titulo de “Capital do Forró”,
as cidades de Caruaru, em Pernambuco, e a de Campina Grande na Paraíba disputam
o título.
Foi o sanfoneiro pernambucano Luiz Gonzaga do Nascimento
(1912-1989), quem primeiro colocou o nome forró
em uma música ao gravar o “Forró de Mané Vito”, em 1949, como ilustra a poesia:
“Seu delegado, digo a vossa/senhoria/ Eu sou fio de uma famia/ Que não
gosta de fuá/Mas tresantontem/No forró de Mané Vito/Tive que fazer bonito/A
razão vou lhe explicar/ Bitola no Ganzá/Preá no reco-reco/Na sanfona de Zé
Marreco/Se danaram pra tocar/Praqui, prali, pra lá/Dançava com Rosinha/Quando o
Zeca de Sianinha/Me proibiu de dançar/Seu delegado, sem encrenca/eu não
brigo/Se ninguém bulir comigo/Num sou homem pra brigar/Mas nessa festa/Seu
dotô, perdi a carma/Tive que pegá nas arma/Pois num gosto de apanhar/Pra Zeca
se assombrar/Mandei parar o fole/Mas o cabra num é mole/Quis partir pra me
pegar/Puxei do meu punhá/Soprei o candieiro/Botei tudo pro terreiro/Fiz o samba
se acabar”.
Luiz Gonzaga gravou outros forrós no mesmo estilo, como “Derramaro o
Gai” e “Forró do Quelemente” e consagrou-se no gênero como parceiro de Zé
Dantas, José Marcolino, Nelson Valença, Luiz Ramalho e João Silva. Outro
pioneiro na divulgação do forró no sul do país foi o paraibano Jackson do
Pandeiro, com a gravação “Forró em Limoeiro”, em 1953. Jackson gravou outros
clássicos do gênero: “Sebastiana”, “A Mulher do Aníbal”, “Um a Um”, “Na Base da
Chinela”, chegando a ser chamado “o rei do ritmo”. Também o sanfoneiro
pernambucano José Domingos de Morais, o Dominguinhos,
e o compositor maranhense João do Vale contribuíram para a valorização do
ritmo, principalmente depois da migração de grandes camadas da população
nordestina para a região sul e sudeste do País.
O “Forró eletrônico” é uma variação divergente,
estilizada e pós-modernizada do “Forró clássico” que utiliza elementos
eletrônicos em sua execução, como o teclado, o contrabaixo e a guitarra
elétrica, sendo que muitas das músicas são versões de singles de rock internacional, evidenciando assim a influência
desse estilo musical. banda cearense Aviões do Forró é uma das principais
representantes do segmento de mercado conhecido como forró eletrônico, que
atualmente movimenta numeroso público em feiras, arraiais, vaquejadas e eventos
em todo Nordeste brasileiro.
O “forró eletrônico” pode ser considerado uma espécie de “country
nordestino” e está para o Forró, como a
Música Sertaneja está para a Música Caipira, ou Música de Raiz. Outra
característica que o Forró Eletrônico compartilha com a Música Sertaneja é o
fato de ser considerado, um estilo “brega” por muitos admiradores dos estilos
tradicionais de que se derivaram, os mais tradicionalistas não consideram o
ritmo um gênero do forró e outros até preferem a extinção das bandas, do mesmo
modo que os músicos caipiras inicialmente viraram a cara para a música
sertaneja. No entanto, o “forró clássico” já estava saturado no mercado e
necessitava de um upgrade urgente
para conquistar mercados mais joviais e alegres, já que o forró clássico só falava
de gerações mais antigas e suas lamentações com estiagens, etc.
Em meados do início da década de 1990 o movimento, no sentido que emprega Touraine (1965; 1973) surgiu com
força total com surgimento de bandas como “Mastruz com Leite”, “Cavalo de Pau”,
“Noda de Cajú”, “Mel com Terra”, “Magnífico” e outras. Essas bandas caíram no
gosto dos jovens, pois suas canções falavam de amor e coisas do cotidiano
enquanto o forró tradicional tratava de temas das zonas rurais dos pequenos
municípios sertanejos, coisa que até hoje muitos forrozeiros ainda insistem,
muito distantes da realidade da juventude das capitais nordestinas e sua
agitada vida urbana. Esse movimento trouxe além da renovação do forró,
profissionalização para os eventos nos quais tinham shows de forró, crescimento
do mercado de eventos de todo o nordeste além de maior propagação do ritmo. A
influência do forró eletrônico se tornou tão grande que o cantor Michel Teló ao
regravar a música: “Ai se eu te pego”, que é originalmente um “forró eletrônico”,
acabou virando um fenômeno na Europa sendo inclusive regravado por artistas
poloneses.
“Ai Se Eu Te Pego” é uma canção composta e produzida por Sharon Acioly e
Antônio Dyggs, animadora do Axé Moi
(um palco montado na praia de Porto Seguro, BA) e também autora de outro grande
sucesso, o funk: “Dança do Quadrado”. A primeira versão da música apareceu no final
de 2008, em Porto Seguro, no litoral sul da Bahia. A composição virou música
com a banda Meninos de Seu Zeh,
empresariado por Dyggs. Na época, a letra era diferente. Em vez de “sábado na
balada”, eles cantavam “sábado na Kabana”, que “é a casa noturna que eu tenho
aqui em Feira de Santana”, explica o compositor. A canção foi interpretada
posteriormente pela banda Cangaia de
Jegue em 2010. Sua versão mais conhecida é cantada pelo cantor sertanejo
Michel Teló o qual foi lançado nacionalmente pela Som Livre.
O segredo é o processo singular de comunicação, como
vemos na música: Nossa História, do grupo
musical Aviões do Forró:
“Eu que me enganei em ter
pensado que sabia demais/Ah, perdi você e hoje vejo que não fui capaz/Agora
estou aqui pra te pedir perdão/Volte por favor, você que tem razão/A vida
ensina aquele que quer ser diferente/Sozinho sem você, agora eu aprendi que
depende de mim pra gente ser feliz/Eu vou fazer de tudo pra te ter
novamente/Vou lhe mostrar que eu mudei/Volta pra mim, tente outra vez/Tire de
ti, mágoas que nos deixam ausente/Vou te esperar, não cansarei/Eu sinto e vejo,
hoje eu sei/Nem todo sim, nem todo não é pra sempre/Só tem um jeito deu te
esquecer/É se eu perder a memória/Mesmo assim alguém vai lembrar da nossa
história”.
O nome foi estrategicamente escolhido “por dá ideia de algo grande, de
algo que está por cima”. Popularmente falando, o nome dá o significado de
mulher bonita, como vemos, assim como as dançarinas da banda, que já viraram
marca registrada da banda Aviões do
Forró (foto) e que não deixam a desejar por sua beleza física, dança e rebolado. Aviões do Forró é uma banda brasileira de “forró
eletrônico” do Brasil formada em Fortaleza (Ceará) no dia 6 de agosto de 2002,
por Zeca Aristides, André Camurça, Antônio Isaías, conhecido como “Isaías CDs”,
e Carlos Aristides, criadores da produtora “A3 Entretenimento”. A banda é
formada por 2 cantores, Solange Almeida e José Alexandre (conhecido como Xand
Avião e Xandinho), três backing vocals,
nove músicos e oito dançarinas. Em 2002 chegou aos palcos cearenses a banda Aviões do Forró.
“Xand Avião”, nome pelo qual se tornou conhecido na banda é cantor
profissional há oito anos e é natural Itaú, no Rio Grande do Norte. Solange
Almeida é da cidade de Alagoinhas na Bahia e é cantora profissional desde os
vinte e um anos de idade. Foi no ano de 2002 que a banda Aviões do Forró estreou nos palcos cearenses. Hoje a banda conta
com mais de mil fãs clubes em todo o Brasil. A Banda possui 7 CD`s e 2 DVD`s. O
primeiro e segundo CD`s da banda, tiveram 200 mil cópias vendidas, o terceiro
500 mil cópias, o quarto 700.000 mil cópias, o quinto e sexto CD`s da banda,
venderam 500 mil cópias, já o sétimo, 50.000. O primeiro DVD foi gravado em
2006, na “Vaquejada de Itapebussu”. Em Itapebussu tamanho é documento e a
vaquejada do parque Novilha de Prata faz história a cada edição. São 66 anos de
tradição que se renova a cada ano e prova que o esporte estar cada vez mais e
arregimentando adeptos. O público circulante nos quatros dias de festa passou
de cem mil pessoas e as duas noites de shows com bandas do nível de Aviões do Forró e Garota Safada atraíram 35 mil forrozeiros. Já o segundo, foi
gravado em no Parque de Exposições de Salvador, teve lançamento pela gravdora Som
Livre em 2010, e contou com participações de Ivete Sangalo e Dorgival Dantas.
Já realizou três Turnês
internacionais. A primeira foi em 2008, nos Estados Unidos. A segunda foi
em fevereiro de 2011, onde a banda realizou shows na Suíça, Holanda, e em
Portugal. A terceira turnê internacional da banda ocorreu em fevereiro de 2012,
onde a banda voltou a Suíça, Holanda, e Portugal, novamente. Em 2008 participou
do DVD “Pode Entrar”, de Ivete Sangalo. Já gravaram comerciais para grandes
empresas nacionais como a Brahma e as da Ótica Diniz. No “Festival de Verão” de
Salvador, participou nos anos de 2007, 2008, 2010 e em 2012. No Carnaval de
Salvador, desde 2009, a banda emplaca o bloco: “Aviões Elétricos”, pelas ruas
da cidade.
Já participram de vários programas de TV. Na Rede Globo, “Domingão do
Faustão”; “TV Xuxa”; “Mais Você”; “Altas Horas”; “Estrelas”; “A Turma do Didi”;
“Estação Globo”; “Esquenta”; “Show da Virada”; “Criança Esperança”; “Caldeirão
do Huck” e foi a primeira banda de forró a participar do Big Brother Brasil. Na Rede Record, Programa do Gugu, e teve seus
cantores imitados no programa O Melhor do
Brasil apresentado por Rodrigo Faro. Já no SBT, participou no programa da
Hebe em 2006, mas atualmente o programa é exibido na emissora Rede TV! Em 2011,
emplacou a música “Ovo de Codorna”, interpretada por Xand, na novela das 7, “Morde
& Assopra”, da Rede Globo.
Na festa de aniversário de 9 anos da banda, em Fortaleza, no dia 11 de
outubro de 2011, a banda recebeu Disco de Ouro, pela vendagem de mais de 50.000
mil cópias do CD/DVD gravado em Salvador. No Domingão do Faustão em 2012, a
banda ganhou Disco de Platina, pela vendagem de 100.000 cópias do CD/DVD Ao
vivo em Salvador. Em 2011, Solange Almeida, Xand Avião e a banda Aviões do
Forró, ganharam novamente, os prêmios de: “melhor cantora”, “melhor cantor”, e “melhor
banda de forró”, respectivamente. Em 2012, emplacou mais uma música em uma
novela da Rede Globo. A música “Correndo Atrás de mim”, é um sucesso da banda,
e foi emplacada na novela recentemente: “Avenida Brasil”.
O mercado alternativo do forró foi inaugurado no início dos anos 1990
pela banda “Mastruz com Leite”, organizada pelo empresário Emanoel Gurgel, que
pretendia revolucionar os padrões do gênero, tornando-o “estilizado e
progressista”. Para atingir o objetivo, o empresário montou um poderoso sistema
de rádios via satélite que dava suporte à divulgação de seus produtos musicais,
a “Somzoom Sat”. Sob a batuta de Gurgel, além da banda Mastruz, formaram-se outras dezenas de bandas
de perfil semelhante, divulgadas durante a década de 1990 pela rádio. Atuando ainda
como gravadora, a Somzoom foi e ainda é a principal responsável pela divulgação
de novas e consagradas bandas de forró eletrônico (cf. Pedroza, 2001: 2).
Portanto, no início do século XXI já havia um movimento de forró consolidado
no mercado nordestino, inaugurado pela banda Mastruz e seguido por bandas como “Limão
com Mel”, “Calcinha Preta”, “Cavaleiros do Forró”, “Brucelose” e “Caviar com
Rapadura”, entre dezenas de outras. Integrando este mercado, a banda “Aviões do
Forró” foi montada em 2002, pelos empresários-produtores Zequinha Aristides,
Antonio Isaias Paiva Duarte (dono da produtora e loja Isaias Cd’s) e Carlos Aristides,
e começou a atuar em pequenas casas noturnas no interior do Ceará, com rápida
resposta positiva de público.
A boa projeção comercial de Aviões se relaciona, portanto, com sua
inserção na categoria mercadológica do forró eletrônico, que conduz a
construção de sentidos e a sedução do público nos momentos de experiência
musical. Os shows da banda são montados com um evidente direcionamento para a
dança, estabelecendo uma atmosfera festiva, dinâmica e animada, representada
pelo grupo de dançarinas - os “aviões” - que atua no espetáculo. A elas cabe um
forte apelo erótico e sensual, que busca uma comunicação direta com o público
(especialmente o público masculino) e produz uma semelhança visual estreita
tanto com outras bandas de forró, axé e brega, quanto com os programas de
auditório televisivos como o célebre Programa do apresentador Chacrinha e o atual Domingão do Faustão. Nesse
sentido, o perfil estético visual do show de Aviões dialoga com regras formais
do universo do forró eletrônico e, ao mesmo tempo, com padrões vigentes na
indústria do entretenimento, negociando significados e valores.
Sedimentando a ênfase da banda no mercado da experiência e da performance, Aviões passou a formatar um
repertório mais acelerado com o objetivo de se apresentar no forte mercado
carnavalesco das principais capitais do Nordeste, seguindo passos de outros
grupos de forró como o “Saia Rodada” e “Cavaleiros do Forró”. Somente no verão
de 2007/2008, Aviões realizaram
apresentações nas micaretas de
Fortaleza (Fortal) Natal (Carnatal) e Aracaju (Precajú). Para “esses eventos, a
banda se transforma no que chamam de Aviões Elétricos”, buscando traduzir o
caráter animado através da associação com a tradição dos “trios elétricos”.
Abre-se, então, para o forró eletrônico um novo mercado de apresentações
durante o carnaval, originalmente hostil ao gênero, o que faz com que tais
bandas consigam atuar durante todo o ano, gerando ainda mais circulação e
lucro.
Nas mixagens realizadas para os discos oficiais de Aviões, a utilização
dos recursos de áudio como reverb, equalizadores, compressores e filtros
diversos obedece a padrões pré-estabelecidos, oriundos quase todos de modelos
experimentados da tradição da música pop internacional e nacional. A voz está
sempre centralizada e os timbres graves do baixo e do bumbo da bateria recebem
tratamento especial, imprimindo uma certa profundidade ao som, característica
das músicas dançantes veiculadas em larga escala pela indústria do entretenimento.
Da mesma forma, as melodias estão construídas sempre sob modelos conhecidos do
sistema tonal, assim como os ciclos harmônicos são recorrentes e encontráveis
em diversas searas da música popular. Ritmicamente, Aviões se utilizam basicamente de uma única célula em andamento
médio, que é repetida em quase todas as canções. Bibliografia geral
consultada:
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Brizé. França, 2005. Duração: 93 minutos; BRAGA, Ubiracy de Souza, “Etta James:
At Last. Ensaio de Etnomusicologia”.
Disponível em: http://estudosviquianos.blogspot.com.br/2012/03/etta-james-at-last-ensaio-de.html; Idem, “Jorge Ben
Jor, 70 anos do Poeta da Simpatia”. Disponível em: http://www.oreconcavo.com.br/2012/05/17/jorge-ben-jor-70-anos-do-poeta-da-simpatia/; BARLAEUS, Gaspar, Geschiedenis
van de laatste bewerkingen geoefend voor acht jaar in Brazilië. Amsterdam,
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recentemente praticados durante oito anos no Brasil. Recife: Fundação de
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sem Música e de uma Musicologia sem Homem”. In: Anuário Antropológico 95, 1994; NOBREGA, Zulmira, O Maior São João do Mundo. Tese de
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Elba Braga, Violeiros do Norte.
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Éditions du Seuil, 1973; MORIN, Edgar, Cultura
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entender sus relaciones”. In: TRANS -
Revista Transcultural de Musica n.2:
Editora Annablume, 2000; DIAS, Márcia Tosta, Os donos da voz: indústria fonográfica brasileira e mundialização da
cultura. São Paulo: Editora Boitempo, 2000; PEDROZA, Ciro, “Mastruz com
Leite for all: folkcomunicação ou uma nova indústria no Nordeste brasileiro”.
Campo Grande: In: Anais da XXIV Congresso
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