quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Fotógrafo registra salas de aula ao redor do mundo

O fotógrafo Julian Germain viajou ao redor do mundo registrando salas de aula e suas atmosferas em cada cidade que visitou. Comparar a realidade da educação de um país de terceiro mundo com a outro de primeiro através de fotos é o que dá profundidade ao projeto Classroom Portraits.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A Ironia de Gabriela: “uma puta deputada”

                                          A Ironia de Gabriela: “uma puta deputada”.

Ubiracy de Souza Braga*



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Sociólogo (UFF), cientista político (UFRJ), doutor em ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).



            Escólio: A ex-prostituta Gabriela Leite, que em 2005 lançou a grife Daspu, menção irônica (cf. Kierkegaard, 2005; Facioli, 2010) à Daslu, então a maior loja de artigos de luxo do País, morreu nesta quinta-feira, 10/10/2013, à noite no Rio de Janeiro, vítima de câncer no pulmão, aos 62 anos. Gabriela prostituiu-se na “Boca do Lixo”, em São Paulo, na Vila Mimosa, no Rio de Janeiro, e em Belo Horizonte. Em 1987 organizou o 1º Encontro Nacional de Prostitutas e em 1992 fundou a ONG Davida. Ela cursou Filosofia na Universidade de São Paulo (USP) e em 2009 lançou “Filha, mãe, avó e puta”, livro em que narra sua vida. Em 2010 Gabriela foi candidata a deputada federal pelo PV – Partido Verde, mas infelizmente não se elegeu.A ativista, que passava por quimioterapia para tratamento do câncer, dá nome ao projeto de lei de autoria do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) que “propõe a regularização dos profissionais do sexo”. O projeto é analisado em uma comissão da Câmara dos Deputados e se passar o país fará jus à sociedade mais justa e igualitária.
Em muitos países, chamam-se deputados aos representantes do povo “eleitos para o Parlamento”. Um deputado, no Parlamento, tem poder legislativo, isto é, no Parlamento os deputados decidem se aprovam ou não decretos-lei ou mesmo leis. Deputados também fazem perguntas ao governo, de caráter geral ou não, de forma a averiguar o seu trabalho. Qualquer pessoa em tese pode ser eleita para o mandato de deputado, desde que pertença a um partido político e reúna um número mínimo de votos. Quantos mais votos tiver o partido, maior número de deputados pode eleger para o Parlamento.Teoricamente todos os deputados que pertencem ao mesmo partido deveriam exercer o mesmo voto sobre uma matéria: chama-se a isto “disciplina de voto”.Em suma, um deputado é alguém eleito pelo povo para representá-lo no Parlamento e a quem o povo que o elegeu confia as decisões sobre variados assuntos.
                                  

           
            Historicamente a Boca do Lixo surge como uma região não oficial do centro da cidade de São Paulo caracterizada por ter se tornado um polo da indústria cinematográfica nas décadas de 1920 e 1930, quando empresas como a Paramount, a Fox e a Metro se instalaram na região. Durante as décadas seguintes, essas companhias atraíram distribuidoras, fábricas de equipamentos especializados, serviços de manutenção técnica e outras empresas do ramo cinematográfico para as redondezas, o que transformou a Boca em um verdadeiro reduto do cinema independente brasileiro, desvinculado dos incentivos governamentais. Durante aqueles anos, era comum ver homens guiando carroças carregadas de latas de filmes pelas vias públicas. A Boca está localizada no bairro da Luz, em um quadrilátero que inclui a Rua do Triumpho e suas adjacências. Nos anos 1990, parte desse quadrilátero veio a ser chamada de Cracolândia (cf; Braga, 2012) e se tornou uma das regiões mais degradadas da cidade de São Paulo. Algumas fontes citam a região como sendo o fim da rua Augusta. Enquanto São Paulo tinha a Boca do Lixo, o Rio de Janeiro tinha o Beco da Fome.
Muitos cineastas, como Carlos Reichenbach, Luiz Castelini, Alfredo Sternheim, Juan Bajon, Cláudio Cunha ou Walter Hugo Khouri, tinham clara proposta autoral em seus filmes, mas a produção da Boca “ficou mesmo caracterizada pelos filmes baratos e que tinham forte apelo sexual”. Ela floresceu e se expandiu na pornochanchada dos anos 1970, com musas como Helena Ramos, Sandra Bréa, Vanessa Alves, Patrícia Scalvi, Nicole Puzzi, Zilda Mayo. Comédias, dramas, policiais, faroestes, filmes de ação e de kung fu, terror, entre outros, foram gêneros explorados pelo cinema da Boca, sem deixar de lado o uso restrito do erotismo. Produtores como Antônio Polo Galante, David Cardoso, Nelson Teixeira Mendes, Juan Bajon, Cláudio Cunha, Aníbal Massaini Neto, entre outros, ficaram milionários com esse tipo de cinema.Alguns tiveram sucesso de bilheteria, entre os quais “A Viúva Virgem”, de Rovai, e “Giselle”, de Victor di Mello. Em raras exceções, esses filmes eram sucesso entre a crítica, que preferia os filmes mais voltados à questão social, de diretores surgidos no chamado “Cinema Novo” e nos anos 1970, integrados à Embrafilme, que produzia filmes com incentivo estatal. O fim da ditadura militar golpista no Brasil em 1984 trouxe de volta o filme de sexo explícito, o que acabou matando simbolicamente essa indústria cinematográfica.
Gabriela Leite, a mais destacada lutadora pelos direitos civis das prostitutas brasileiras, morreu de câncer, no Rio de Janeiro. Paulistana e de família tradicional, ela abandonou, com 22 anos, os cursos de Filosofia e Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) para imergir, por opção, na chamada “Boca do Lixo”, antiga região de São Paulo de grande concentração de garotas de programas, na década de 1970. Hoje [em agosto de 2012], aos 61 anos, ela rejeita o termo “ex-prostituta” em suas apresentações. E com razão, pois Gabriela está muito ativa no movimento de defesa dos direitos das prostitutas, tendo fundado, inclusive, uma ONG em 1992, a Davida. Uma das principais conquistas até agora foi a inclusão, em 2002, da ocupação “trabalhador do sexo”, na Classificação Brasileira das Ocupações (CBO), permitindo que prostitutas possam se registrar no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), como autônomas, e garantir uma aposentadoria futura. Autora do livro “Filha, mãe, avó e puta – A história de uma mulher que decidiu ser prostituta”, da editora Objetiva e que já foi transformada em peça teatral, “Gabriela”, que luta contra um câncer, acaba de ser uma das contempladas do Prêmio “Trip Transformadores 2012”. Foi uma homenagem ao fato de ter lançado, anos antes, a grife Daspu – uma provocação à luxuosa Daslu e, ao mesmo tempo, uma cooperativa de produção de roupas constituída por ex-prostitutas que não seguiram no mercado do sexo por conta da idade. 
            Direitos civis são as proteções e privilégios de poder pessoal dados a todos os cidadãos por lei. Direitos civis são distintos de “direitos humanos” ou “direitos naturais”, também chamados “direitos divinos”. Direitos civis são direitos que são estabelecidos pelas nações limitados aos seus limites territoriais, enquanto direitos naturais ou humanos são direitos que muitos acadêmicos dizem que os indivíduos têm por natureza ao nascer. Por exemplo, o filósofo John Locke (1632-1704) argumentou que os direitos naturais da vida, liberdade e propriedade deveriam ser convertidos em direitos civis e protegidos pelo Estado soberano como um aspecto do contrato social. Outros argumentaram que as pessoas adquirem direitos civis como um presente inalienável da divindade ou em um tempo de natureza antes que os governos se formaram. Leis garantindo direitos civis podem ser escritas, derivadas do costume ou implicadas. Nos Estados Unidos e na maioria dos países continentais europeus, as leis de direitos civis em sua maior parte são escritas.
Exemplos de direitos civis e liberdades incluem o direito de ser ressarcido em caso de danos por terceiros, o direito à privacidade, o direito ao protesto pacífico, o direito à investigação e julgamento justos em caso de suspeição de crime e direitos constitucionais mais generalistas, como o direito ao voto, o direito à liberdade pessoal, o direito à liberdade de ir e vir, o direito à proteção igualitária e, ainda, o habeas corpus, o direito de permanecer em silêncio (i. e. não responder a questionamento), e o direito a um advogado; estes últimos três são designados na constituição Norte-Americana para garantir que aqueles acusados de algum crime estão assegurados de seus direitos. Ao passo que as civilizações emergiram e formalizaram através de constituições escritas, alguns dos direitos civis mais importantes foram passados aos cidadãos. Quando esses direitos se descobriram mais tarde inadequados, movimentos de direitos civis surgiram como veículo de exigência de proteção igualitária para todos os cidadãos e defesa de novas leis para restringir o efeito de discriminações presentes.
A Câmara dos Deputados do Brasil, assim como o Senado Federal, faz parte do Poder Legislativo da União. São 513 deputados, que através do voto proporcional, são eleitos e exercem seus cargos por quatro anos. Atualmente seu presidente é o deputado Henrique Eduardo Alves, filiado ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) do estado do Rio Grande do Norte. A Câmara dos Deputados está localizada na Praça dos Três Poderes,
na capital federal.À Câmara dos Deputados compete privativamente: eleger os membros do Conselho da República e autorizar a abertura de processo contra o presidente da República e seus ministros. Juntamente com o Senado forma o Congresso Nacional, cabendo a esta instituição: a aprovação, alteração e revogação de Leis; autorização ao Presidente para a declaração de guerra; sustar atos do Poder Executivo; julgar as contas do Presidente da República; dentre outras funções, enumeradas no capítulo I, título IV, da Constituição Federal de 1988.
Segundo o artigo 80 da Constituição brasileira o presidente da Câmara dos Deputados é o segundo na linha de sucessão do presidente da República, logo após o vice-presidente, sendo chamado em caso de impedimento ou vacância de ambos os cargos. Isso ocorre para dar a maior legitimidade possível a decisão, pois os deputados são considerados representantes do povo e os senadores representantes dos estados. Após esse assumem o presidente do Senado Federal e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).A Câmara dos Deputados tem mais de 15 mil funcionários e, segundo recente publicação, 1371 destes temsalários maiores do que R$28 mil por mês.Sobre o regime de trabalho está em curso a apresentação do Projeto de Lei n. 6071/2013, pela Deputada Aline Corrêa (PP-SP), que: “Acrescenta artigo à Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, a fim de dispor sobre a jornada de trabalho em regime de doze horas de trabalho por trinta e seis de descanso”.
Além disso, a renomada revista inglesa The Economist escolheu o Brasil como tema para uma extensa reportagem de capa em sua edição mais recente, onde busca explicações para uma pergunta pertinente: por que, mesmo dispondo de potencial interno invejável e atravessando conjunturas externas favoráveis, o Brasil não decola, nem consegue acompanhar o ritmo de crescimento dos outros países ditos emergentes, apresentando o pior desempenho entre eles? A matéria, de ótimo conteúdo jornalístico, foi taxada pelos assessores do Planalto e a militância petista como uma espécie de encomendaoposicionista para desmerecer o governo Dilma Rousseff, tendo em vista a crítica localizar-se em deputados do PSDB, quando não se trata de uma análise profunda dos fatores que ora travam o nosso desenvolvimento e que podem ser resumidos em duas vertentes básicas: o foco único no palanque, na perpetuação do poder partidário, na reeleição da presidente-candidata e, mais grave, a tentativa ideológica de transpor para o Brasil um modelo bolivarianode gestão pública, ignorando a grandeza, a história social e a diversidade cultural e política da nação.
Com o cabelo curto, cara de menina e silhueta perfeita, Sylvia Kristel foi escolhida como atriz para o papel principal de “Emmanuelle”, do diretor Just Jaeckin, que virou um sucesso mundial de bilheteria. Quando protagonizou o filme, Kristel tinha apenas 22 anos. Por obrigações contratuais, Kristel participou em papéis mais ou menos importantes em várias sequências de “Emmanuelle” (1974), tais como: “Emmanuelle 2” (1975), “Adeus, Emmanuelle” (1977) e “Emmanuelle 4” (1984). Apesar das tentativas de se afastar do cinema erótico para trabalhar com nomes importantes do cinema francês, sua imagem ficou marcada positivamente, pela personagem que a tornou famosa. A atriz holandesa de maior fama no panorama do cinema internacional até hoje, ficou conhecida e acabou eternamente marcada por seu primeiro filme, “Emmanuelle”, de 1974. O longa-metragem, dirigido por Just Jaeckin, é uma adaptação do livro (foto) de mesmo nome escrito por Emmanuelle Arsan.

Foto: Dutch actress Sylvia Kristel, best known for the 1974 erotic French film: “Emmanuelle”.
Não queremos perder de vista analogamente que Sylvia Kristel, nascida em Utrecht, em 28 de setembro de 1952 - Amsterdã, em 17 de outubro de 2012, foi uma atriz, diretora e modelo holandesa, mais conhecida pelo filme “Emmanuelle”. Iniciou seu trabalho como modelo aos 17 anos, mas “inicialmente planejava ser professora”. Musa de uma época em que erotismo (cf. Márquez, 1972), a pornografia e o orgasmo (cf. Reich, 1974a; 1974b; 1978; Marchi, 1974; Baker, 1980; Boadela, 1985) eram quase sinônimos no cinema, a atriz holandesa Sylvia Kristel morreu na noite de quarta-feira, aos 60 anos, em Amsterdã. Tornou-se conhecida mundialmente interpretando a personagem principal na série de filmes “Emmanuelle”. Mas a sua estreia se dá com o filme: Naakt over de schutting (1973). Em 1974, aos 21 anos, a atriz personificou “Emmanuelle”, em filme homônimo, grande sucesso na França, sobretudo pelo teor erótico. Melhor dizendo, em seu ersatz colocou o erotismo no centro da história social do cinema. Segundo o site especializado em cinema IMDb, “o filme garantiu US$ 100 milhões em bilheteria ao redor do mundo”. 
As teses de Foucault e Pasolini sobre a constituição do dispositivo discursivo da sexualidade encontram-se referenciadas em uma dupla crítica - histórica e metodológica - à hipótese repressiva da sexualidade. Esse, o nó górdio entre Foucault na filosofia e Pasolini na arte cinematográfica em que pretendemos uma aproximação conceitual. Píer Paolo Pasolini era um artista solitário. Antes de ficar famoso como cineasta tinha sido professor, poeta e novelista. Entre seus livros mais conhecidos estão Meninos da Vida, Uma Vida Violenta e Petróleo (livro). De porte atlético e estatura média, Pasolini usava óculos com lentes muito grossas. Em 26 de janeiro de 1947 escreveu uma declaração polêmica para a primeira página do jornal Libertà: “Em nossa opinião, pensamos que, atualmente, só o comunismo é capaz de fornecer uma nova cultura”. Após a sua adesão ao PCI - Partido Comunista Italiano, participou de várias manifestações e, em maio de 1949, participou do Congresso da Paz em Paris.
Em um caso e outro se quisermos insistir neste aspecto, vejamos. Surgem dois modos possíveis de interpretação do uso do verbo “saber”. Na primeira, “saber” está ligado à crença, saber implica crer. Em sentido amplo, crer também significa “ter por verdadeiro”. Assim, crer significa, por exemplo, ter algo por existente ou ter um enunciado por verdadeiro. Em outras palavras, crer significa aceitar a verdade e a realidade sem que seja necessário apresentar provas. Em última instância é possível afirmar, que crer implica “dar por acordado que o mundo existe”. Há, portanto, uma dimensão prática que liga o saber (Foucault) ao mundo manifestado no “crer” (Pasolini). Esta dimensão parece apontar para o segundo modo de interpretação do uso do verbo “saber”. Desta vez, ele pode ser associado a “poder” (Foucault). Dizer que “se sabe” é o mesmo que dizer que “se pode” (Pasolini). Aqui reside o ponto central da interpretação analítica que compreende o saber como habilidade e disposição. Melhor dizendo, se para Hegel, à existência na consciência, no espírito chama-se saber, “conceito pensante”. O espírito é também isto: “trazer à existência, isto é, à consciência”. Como “consciência em geral”, tenho eu um objeto; uma vez que eu existo e ele está na minha frente. Mas enquanto o Eu é o objeto de pensar, é o espírito precisamente isto: “produzir-se, sair de si, saber o que ele é”.
Nisto consiste a grande diferença: o homem sabe o que ele é. Logo, em primeiro lugar, ele é real. Sem isto, a razão, a liberdade não são nada. O homem é essencialmente razão. O homem, a criança, o culto e o inculto, é razão. Ou melhor, a possibilidade para isto, para ser razão, existe em cada um, é dada a cada um.Todo conhecer, todo aprender, toda visão, toda ciência, inclusive toda atividade, não possui nenhum outro interesse além do aquilo que “é em si”, no interior, manifestar-se desde si mesmo, produzir-se, transformar-se objetivamente. Nesta diferença se descobre toda a diferença na história do mundo. Os homens são todos racionais. O formal desta racionalidade é que o homem seja livre. Esta é a sua natureza. Isto pertence à essência do homem. O europeu sabe de si, é objeto de si mesmo. A determinação que ele conhece é a liberdade. Ele se conhece a si mesmo como livre. O homem considera a liberdade como sua substância. Se os homens “falam mal de conhecer é porque não sabem o que fazem”. Conhecer-se, converter-se a si mesmo no objeto (do conhecer próprio) e o fazem relativamente poucos. Mas o homem é livre somente se sabe que o é. Pode-se também em geral falar mal do saber, como se quiser. Mas somente este saber libera o homem. O conhecer-se é no espírito a existência. Portanto isto é o segundo esta é a única diferença da existência (“Existenz”) a diferença do separável. O Eu é livre em si, mas também por si mesmo é livre e eu sou livre somente enquanto existo como livre.
                       


Em primeiro lugar, a ironia (cf. Kierkegaard, 2005; Facioli, 2010) é um instrumento de literatura ou de retórica que consiste em dizer o contrário daquilo que se pensa, deixando entender uma distância intencional entre aquilo que dizemos e aquilo que realmente pensamos. Na Literatura, a ironia é a arte de zombar de alguém ou de alguma coisa, com vista a obter uma reação do leitor, ouvinte ou interlocutor. Ela pode ser utilizada, entre outras formas, com o objetivo de denunciar, de criticar ou de censurar algo. Para tal, o locutor descreve a realidade com termos aparentemente valorizadores, mas com a finalidade de desvalorizar. A ironia convida o leitor ou o ouvinte, a ser ativo durante a leitura, para refletir sobre o tema e escolher uma determinada posição. O termo “ironia Socrática”, levantado por Aristóteles, refere-se ao método socrático. Neste caso, não se trata de ironia no sentido moderno da palavra.A ironia de situação é a disparidade existente entre a intenção e o resultado: quando o resultado de uma ação é contrário ao desejo ou efeito esperado. Da mesma maneira, a “ironia infinita” (“cosmicirony”) é a disparidade entre o desejo humano e as duras realidades do mundo externo. Certas doutrinas afirmam que a ironia de situação e a ironia infinita, não são ironias de todo. É também um estilo de linguagem caracterizado por subverter o símbolo que, a princípio, representa. A ironia, enfim, utiliza-se como uma forma de linguagem pré-estabelecida para, a partir e de dentro dela, contestá-la.É, sobretudo neste aspecto que entendemos a ironia de Gabriela Leite. Ora, vale lembrar queputa do ponto de vista da linguagem, pode representar um substantivo feminino; prostituta, um adjetivo feminino; com muita raiva e, lastbutnotleast, adverbio de intensidade; equivalente a muito, usado para alimentar a intensidade do adjetivo: - Ah que tédio, vou ali comer uma puta; - Haha, eu não paguei e ela ficou puta comigo!; - Nossa não pagar ela foi uma puta sacanagem!
De outra parte, a moda é um lugar de observação privilegiado para ver “funcionar o social” (cf. Lipovetsky, 1989). É apaixonante e cruel, porque se descobrem coisas que estão na moda em um ano e, no ano seguinte, têm de se renovar para alcançarem uma nova moda. Por outro lado, a moda não é favorável ao mito, porque é demasiado rápida. O mito precisa se instalar adquirir peso, criar tradições, por isso Amy Winehouse, como vimos noutro lugar, virou mito, já que não vivemos a aceleração da história, mas a aceleração da “pequena história”. É, portanto, precisamente com a crise do desejo que podemos encontrar mitos, porque é fixo, imóvel, agressivo, como fora o “mito de esquerda”, os ecos da ecologia para salvar a nossa casa, o planeta Terra (cf. Braga, 2012), a questão tópica do aborto, ou as lutas contra o racismo etc. O mal-estar e a crise da civilização de que falava Freud, é talvez uma crise do desejo.


Há pouco mais de um século Sigmund Freud (1972; 1996) desandou de vez o caldo ao descobrir o inconsciente e, com isso, afirmar que não somos exatamente aquilo que pensamos. Com o espelho do Narciso arranhado, tomou-se consciência de que tudo poderia ser motivo de dúvida. Na insegurança e desorientação das massas, o capitalismo globalizado fez sua mágica. Além do coelho, tirou da cartola casas, carros, videogames, roupas e tudo o mais para nos desviar o foco das angústias. Porém, isso tudo não passa de uma forma de abstração. Quando alguém fala que está em crise existencial, precisa descobrir qual o seu motivo, pois não há um sintoma nomeado como “crise existencial”, existe sim castrações de desejo no sujeito que o angustiam. Ipso facto, muitas pessoas sentem dificuldade ao tentar definir a razão de estarem insatisfeitas com a vida.
Do ponto de vista ideológico é fato que numa das primeiras cenas do filme:“Bruna Surfistinha”, a cafetina que a acolhe no prostíbulo ironicamente diz que ela teria sua carteira de trabalho registrada como profissional do sexo, com todos os direitos inerentes a qualquer trabalhador, o que causou espanto na personagem. Evidentemente isto não é possível porque a lei considera crime a exploração da prostituição, com pena de reclusão de um a quatro anos (crime de rufianismo). Entretanto, do ponto de vista político o Estado brasileiro reconhece desde 2002 “a profissão de prostituta”, ano em que o Ministério do Trabalho oficializou a profissão em sua Classificação Brasileira de Ocupações, item 5198, definindo quem a pratica como sendo:“a profissional do sexo, garota de programa, garoto de programa, meretriz, messalina, michê, mulher da vida, prostituta, puta, quenga, rapariga, trabalhador do sexo, transexual (profissionais do sexo) e travesti (profissionais do sexo)”. Isto permite que quem vive da prostituição possa recolher contribuições previdenciárias, como “profissional do sexo”, e garantir direitos comuns a todos os trabalhadores, como aposentadorias e auxílio doença.
                                  
O importante é entender que a crise existencial diz respeito à defesa do sujeito contra seu próprio desejo. Em resumo, entre solidão, aceitação sexual e problema familiar, a crise existencial nada mais é que um diálogo interno, sua autocrítica em comparação e relação a si mesmo e ao outro, pois na medida em que esse sujeito está de algum modo deserdado, esmagado pelas duas grandes estruturas psíquicas que mais retiveram a atenção da modernidade, a saber, a neurose e a psicose, o sujeito imaginário é um parente pobre dessas estruturas porque nunca é nem inteiramente psicótico, nem inteiramente neurótico, como ocorreu com o psicopata islamofóbico (cf. Braga, 2011a; 2011b) e autor do duplo atentado nestes dias na Noruega, Anders BehringBreivik, 32, que qualificou seu ato de “cruel, mas necessário”.O fenômeno histórico que aparenta revelar-se desse modo, há cinquenta anos, é o problema da “gregaridade” – é uma palavra nietzschiana. Os marginais multiplicam-se, reúnem-se, tornam-se rebanhos, pequenos é certo, ou rebanhos de qualquer maneira.
ParaRoland Barthes “a história atual é o desvio em direção à gregaridade: os regionalismos, por exemplo, são pequenas gregaridades que tentam reconstituir-se. Acredito agora que a única marginalidade verdadeiramente consequente é o individualismo. Mas há que se retomar esta noção de uma forma nova”.Dizia-se ainda que Sócrates fosse atopos, quer dizer “sem lugar”, inclassificável. É um adjetivo que relacionamos, sobretudo ao objeto amado, tanto mais que, enquanto sujeito apaixonado simulado no livro, não saberia me reconhecer como atopos mas, ao contrário, como uma pessoa banal cujo dossiê é bastante conhecido. Ou seja, sem tomar partido quanto ao fato de ser inclassificável, devo reconhecer que sempre trabalhei por repentes, por fases, e que há uma espécie de motor, que expliquei um pouco em Roland Barthes, que é o paradoxo. Quando um conjunto de posições parece reificar-se, constituir uma situação social pouco precisa, então efetivamente, por mim mesmo sem o pensar, sinto o desejo de ir em outra direção. E é nisso que, afirma Bathes,“eu poderia me reconhecer como um intelectual; a função do intelectual sendo ir sempre a outra direção quando as coisas pegam”.Referências bibliográficas:
Filme: “Os Cafajestes”, com Norma Bengell (1935/2013), apresenta a primazia da nudez frontal no cinema brasileiro. Norma Aparecida Almeida Pinto Guimarães d`ÁureaBengell, nascida no Rio de Janeiro, em 21 de fevereiro de 1935 e morta nesta cidade, em 9 de outubro de 2013, foi uma atriz, cineasta, produtora, cantora e compositora brasileira. Era filha única de um alemão, afinador de pianos, com uma jovem rica da zona sul carioca.Entrevista: “Gabriela Leite: contra preconceitos, a força da ironia”. Disponível no site: http://outraspalavras.net/destaques/11/10/2013; BRAGA, Ubiracy de Souza, “Para sempre Emmanuelle”. Disponível no site: http://cienciasocialceara.blogspot.com.br/2012/10/; Idem, “Notas sobre Michel Foucault e os Anarco-Ecologistas”. Disponível em: http://www.oreconcavo.com.br/2012/05/11/; Idem, “Píer Paolo Pasolini: Profeta e mártir do cinema”. Disponível em: http://www.oreconcavo.com.br/2012/03/25/; Idem, “Guerra de Sangue em Oslo, contra imigrantes e marxistas”. Disponível em: http://www.oreconcavo.com.br/2011/07/26/; Idem, “A Irmandade Muçulmana: história & ordem política”. In: http://www.oreconcavo.com.br/2011/02/25/; KIERKEGAARD, Soren,O conceito de ironia. Petrópolis (RJ), Brasil: Vozes, 2005; FACIOLI, Adriano,A ironia: considerações filosóficas e psicológicas. Curitiba (PR): Juruá, 2010; JABOR, Arnaldo, Porno Politica: Paixões e taras na vida brasileira. São Paulo: Editora Objetiva, 2006; 134 páginas; Artigo: “Morre ex-prostituta Gabriela Leite, criadora da Daspu”. In: http://www.estadao.com.br/noticias/; artigo: “O voo de galinha e os custos da candidatura”. In: http://www.antonioimbassahy.com.br/; LIPOVETSKY, Gilles, O Império do Efêmero. A moda e seu destino nas sociedades modernas. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1989; BARTHES, Roland, O grau zero da escritura. São Paulo: Editora Cultrix, 1971; Idem, Mitologias. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1972; Idem, O grão da voz. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995; FREUD, Sigmund, Obras Completas. Madrid: Editorial Biblioteca Neuva, 1972, 3 volumes; Idem, Obras psicológicas completas. Rio de Janeiro: Ed. Standard; Imago, 1996; PLATÃO, Fedro. 275-c a 276-d e “Carta VI”, 344-c. d.; Idem, Obras Completas. Madrid: Aguillar, 1977; Idem, Apologias a Sócrates. São Paulo: Martin Claret, 1999; NIETZSCHE, Friedrich, A Filosofia na Época trágica dos Gregos. São Paulo: Abril Cultural, 1974. (Obras Incompletas; Col. Os Pensadores); Idem, Sabedoria para depois de amanhã. São Paulo: Martins Fontes, 2005; Idem, A Vontade de Poder. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008; FOUCAULT, Michel, Arqueologia do Saber. Petrópolis (RJ): Vozes, 1971; Idem, El Ordendel Discurso. Barcelona: Tusquets, 1973; Idem, “Genealogia e Poder”. In: Microfísica do Poder. 4ª edição. Rio de Janeiro: Graal, 1984; MÁRQUEZ, Gabriel García, La increíble y triste historia de la cândida Eréndira y de suabuela desalmada.Colombia: DeBols!llo, 1972; DE MARCHI, Luigi, Wilhelm Reich: Biografía de una idea. Barcelona: Península, 1974; REICH, Wilhelm, La Funcióndel Orgasmo. Buenos Aires: Paidós, 1974; Idem, O combate sexual da juventude. 2ª ed. Lisboa: Antídoto, 1978; BAKER, Elsworth F, O labirinto humano: as causas do bloqueio da energia sexual. São Paulo: Summus Editorial, MISSSE, Michel, O Estigma do Passivo Sexual. Rio de Janeiro: Achiamé/Socii, 1983; BOADELLA, David, Nos caminhos de Reich. São Paulo: Summus Editorial, 1985;entre outros.




segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Ernest Hemingway, uma geração perdida - notas.

            
Ubiracy de Souza Braga*
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Sociólogo (UFF), cientista político (UFRJ), doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).  



Você vai precisar de uma mulher a cada livro”. Scott Fitzgerald
                                  
            Escólio: Ernest Miller Hemingway nasceu em 1899, em Oak Park, Illinois (EUA). Filho de um médico da zona rural cresceu em contato com um ambiente pobre e rude, que conheceu ao acompanhar o trabalho do pai na região. Esse ambiente foi descrito em seu livro de contos,“In Our Time” (1925). Fez parte da comunidade de escritores expatriados em Paris, conhecida como “geração perdida”, nome inventado (cf. Braga, 2012) e popularizado por Gertrude Stein (1874-1946), escritora, poeta e feminista estadunidense.Tinha um apreciável círculo de amigos, como Pablo Picasso, Matisse, Georges Braque, Derain, Juan Gris, Apollinaire, Francis Picabia, Ezra Pound, Ernest Hemingway e James Joyce, isso apenas pra citar alguns.Levando uma vida turbulenta, Hemingway casou-se quatro vezes, além de vários relacionamentos românticos. Em Pamplona, meados do século XX, fascinado pelas touradas, a ponto de tornar-se um toureiro amador, transporta essa experiência para o livro:“O Sol Também Se Levanta” (1926). Ao cobrir a Guerra Civil Espanhola (1936-39), como jornalista do North American Newspaper Alliance(1936), não hesitou em se aliar às forças republicanas contra o fascismo, tema do livro:“Por Quem os Sinos Dobram” (1940). É sempre considerada sua obra-prima. Após Mark Twain e Jack London, Ernest Hemingway é o escritor norte-americano mais traduzido a outros idiomas.
Autor de cinco romances e mais de 50 relatos, Hemingway cultivou uma imagem de viajante e aventureiro infatigável, com prolongadas viagens a França, Itália, Espanha, Cuba e África durante seus 61 anos de vida, nos quais testemunharam as duas guerras mundiais. Nascido em 1899 em Oak Park, nos arredores de Chicago, a vocação de Hemingway não tardou a brotar. Pouco após terminar seus estudos, começou a trabalhar com apenas 17 anos como repórter no jornal “Kansas City Star”.Sua permanência no periódico mal durou um ano, mas Hemingway sempre lembrou o livro de estilo do jornal com frases curtas, primeiros parágrafos curtos,- como guia para sua ágil escrita, que posteriormente inspiraria imitadores, os bons imitadores.Nessa época, uma das mais prolíficas de sua carreira, publicou dois de seus romances mais reconhecidos, “O Sol Também Se Levanta” (1926) e “Adeus às Armas” (1929). Por fruto de uma curiosa coincidência, uma vaga de bons romances e novelas ambientadas na 1ª grande guerra têm aparecido neste ano de 1929, mais de uma década depois do final do conflito,entre eles:“Good-Bye toAllThat”, de Robert Graves, “Deathof a Hero”, de Richard Aldington, e “AllQuietonthe Western Front”, de Erich Maria Remarque. Em uma fictícia batalha literária, entretanto, todos os anteriores capitulariam perante “A FarewelltoArms”, de Ernest Hemingway, de longe o mais singular da safra literária. Celebrado pelos críticos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, o livro vendeu 80.000 exemplares em seus primeiros quatro meses e consagrou o autor como ícone da chamada “Geração Perdida”, composta pelos escritores norte-americanos que serviram na guerra.Aliás, a guerra, um dos grandes temas literários de Hemingway, voltou ao trabalho do escritor com a eclosão da Guerra Civil Espanhola (1936-39), conflito que ele cobriu como correspondente em Madri. Hemingway já tinha então se casado duas vezes e comprado uma casa em Key West, ilha no sul da Flórida, onde cultivava duas grandes paixões, além da literatura: a bebida e a pesca. Posteriormente, após o sucesso de “Por Quem os Sinos Dobram”, voltaria à Europa para cobrir o “Desembarque da Normandia” na 2ª guerra mundial e a libertação de Paris da ocupação nazista.
A Batalha da Normandia, com cujo nome de código de “Operação Overlord”, representou a invasão das forças dos Estados Unidos, Reino Unido, França Livre e aliados na França ocupada pelos alemães em 1944. Foi uma decisão política para manter a liberdade na Europa, ocorrida depois da derrota alemã para o Exército Vermelho, na famosa Batalha de Stalingrado. Sessenta anos mais tarde, a invasão da Normandia continua sendo a maior invasão marítima da história, com quase três milhões de soldadosterem cruzado o canal da Mancha, partindo de vários portos e campos de aviação na Inglaterra, com destino a Normandia, na França ocupada. Os primeiros planos da invasão aliada a França começaram a ser discutidos num encontro de Winston Churchill com o presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt em Casablanca, em janeiro de 1943. Neste encontro chegaram a conclusão que ainda não havia condições para um desembarque na França, mas ficou decidido que o tenente-general inglês Frederick Morgan seria encarregado da elaboração de um plano de assalto detalhado. Em agosto de 1943, numa nova conferência de líderes aliados no Quebec, Morgan apresentou “o plano de invasão da Normandia, um documento com o nome de código de Operação Overlord, que previa um desembarque em maio de 1944”.
Vejamos alguns aspectos do ângulo da rememoração, do ponto de vista da análise literária: “Por Quem os Sinos Dobram”, em inglês: “For Whomthe Bell Tolls” é um romance de 1940 de Ernest Hemingway, considerado pela crítica uma das suas melhores obras.O livro narra a história de Robert Jordan, um jovem norte-americano das Brigadas Internacionais. Professor de espanhol que se tornou conhecedor do uso de explosivos, Jordan recebe a missão de explodir uma ponte por ocasião de um ataque simultâneo à cidade de Segóvia.Hemingway usa como referência sua experiência pessoal como participante voluntário da Guerra Civil Espanhola (1936-39) ao lado dos republicanos e faz uma análise ácida, com críticas à atuação extremamente violenta das tropas de ambos os lados: A direita auxiliada pelo governo fascista italiano e nazista alemão e a esquerda pelas brigadas internacionais e União Soviética. Critica também a burocratização (Weber) e o panorama de privilégios rapidamente instaurado no lado da República.Mulherengo, boêmio e nômade, encarnava a lenda do escritor errante na busca de histórias para sua máquina de escrever, que datilografava sempre de pé. – “Sempre faça sóbrio o que você disse que faria bêbado. Isso lhe ensinará a manter a boca fechada”, era outro de seus irônicos lemas.
Acima de tudo o livro trata, no entanto, da condição humana (Arendt, 1999). O título é referência a um poema do pastor e escritor inglês JohnDonne que se encontra na obra: “PoemsonSeveralOccasions” que em português se intitula “Meditações”, e invoca o absurdo da guerra, mormente a guerra civil, travada entre irmãos. – “Quando morre um homem, morremos todos, pois somos parte da humanidade” (“When a man dies, weall die, becausewe are partofhumanity”).Em várias passagens do texto os personagens estranham e se estranham, no sentido da alienação (Marx), desempenhando os papéis bizarros que se viram forçados a assumir durante a guerra, e fraquejam ao ver nos inimigos seres humanos que poderiam estar de qualquer um dos lados da guerra indistintamente. Em 1943 um filme homônimo foi feito, tendo nos papéis principais os astros da época, Gary Cooper e Ingrid Bergman, com uma cena famosa na qual o casal usa um mesmo saco de dormir.A banda californiana de thrash metal “Metallica” tem uma canção em seu segundo álbum de estúdio, Ride theLightning chamada “For Whom The Bell Tolls”. A música foi inspirada nesta obra.O nono álbum do cantor e compositor brasileiro Raul Seixas, “Por Quem os Sinos Dobram” teve o título inspirado no filme homônimo, baseado em livro de Ernest Hemingway e traz alguns clássicos da obra de Raul Seixas, como “O Segredo do Universo”, “Ide a Mim Dadá” e “Por Quem Os Sinos Dobram”.
                       

A capa do novo romance: sem final feliz!
No papel, o romance traz a história de Frederic Henry, assim como Hemingway, um jovem americano motorista de ambulância que combate ao lado do exército italiano no front austro-húngaro até ser atingido na perna por estilhaços de um morteiro. Levado a um hospital de Milão, passa a receber os cuidados de Catherine Barkley, enfermeira americana da Cruz Vermelha. A personagem foi inspirada em Agnes vonKurowsky, que cuidou de Hemingway na Itália.O romance da vida real ficou pelo caminho: Agnes se apaixonou por um oficial italiano e não retornou com Hemingway aos Estados Unidos, como o autor planejava. Na ficção, o autor trata de corrigir esta falha do destino. Mas não vai tão longe a ponto de mudar o que a humanidade, a duras penas, vem experimentando ao longo dos séculos. Há poucos finais felizes em uma guerra, aliás, acrescentaria o escritor, há poucos finais felizes na vida. No ano passado, o suicídio de seu pai, médico honrado em dificuldades financeiras e com saúde precária, foi mais uma demonstração de tal frustração. Em “A FarewelltoArms”, não há como virar a face para isso. As palavras de Frederic Henry são definitivas: “Aos que trazem muita coragem neste mundo, o mundo quebra a cada um deles e eles ficam mais fortes nos lugares quebrados. Mas aos que não se deixam quebrar, o mundo mata-os. Mata os muito bons, os muito meigos, os muito bravos imparcialmente. Se não pertenceis a nenhuma destas categorias, morrereis da mesma maneira, mas não haverá pressa nenhuma em matar-vos”.   Em primeiro lugar do ponto de vista da perspectiva antropológica de grupo, apesar de formado por diversos artistas, o grupo ficou mais conhecido pelas obras literárias que produziu no período. Na lista de autores célebres da chamada “geração perdida”,estárespectivamente T. S. Eliot, John Dos Passos, Waldo Peirce, Sherwood Anderson, Ezra Pound, F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway. Além deles, outra personalidade citada como parte dessa geração é James Joyce, que tem seu romance “Ulisses”, como um dos mais importantes nesta época. Dentro desta geração, no sentido que Karl Mannheim emprega, há bastante influência do jazz (Hobsbawm) nas composições literárias, pois este estilo musical estava surgindo nos Estados Unidos e influenciando outros países.No filme de Woody Allen, “Meia-Noite em Paris”, é possível ver uma ilustração da “Geração Perdida”. No longa-metragem, um pretendente a escritor contemporâneo acha um lapso temporal e consegue voltar para a época em que seus ídolos andavam e conversavam pelos cafés parisienses. Na ambientação feita pelo magnânimo diretor, notam-se outros artistas que compunham o grupo como Pablo Picasso, Salvador Dalí e Luís Buñuel.
                       

Vale lembrar que “Midnight in Paris” é um filme de comédia romântica e fantasia, escrito e dirigido por Woody Allen, lançado em 2011. É estrelado pelo trio: Owen Wilson, Marion Cotillard e Rachel McAdams. Na semana de 23 de janeiro de 2012 foi indicado pela Academia ao Óscar como melhor direção de arte de Anne Seibel, HélèneDubreuil, melhor direção de Woody Allen e como melhor filme, além de ter sido o vencedor do prêmio de melhor roteiro original.“Meia-Noite em Paris” é uma comédia romântica sobre um escritor e roteirista norte-americano que vai com família de sua noiva a capital da França, cidade que ele idolatra. A história é concentrada nos passeios de Gil (Owen Wilson) na noite Parisiense, onde e quando toca a meia-noite, o escritor é transportado para a Paris de 1920, época que ele considera a melhor de todas historicamente.
Nessas viagens, Gil frequenta varias festas onde conhece inúmeros intelectuais e artistas que frequentavam a “cidade da luz” (Benjamin) em que entre eles estão: F. Scott Fitzgerald, Gertrude Stein, Ernest Hemingway, etc. Dessa forma, Gil tenta acabar o seu romance com Inez, pois se apaixona por Adriana (Marion Cotillard), é forçado a confrontar a ilusão de que uma vida diferente do seu estilo de viver, nesse caso a época de ouro francesa é melhor. A bela e talentosa Carla Bruni, ex-primeira-dama da França, faz uma ponta no filme. Woody Allen a chamou para interpretar a guia de um museu. Ela explicou o motivo da resposta positiva à nova experiência: - “Não sou atriz, mas eu não poderia perder uma oportunidade como essas. Quando eu for avó, gostaria de poder dizer que fiz um filme com Woody Allen” (- “Jene suis pas une actrice, mais je ne pouvaispasmanquer une telleopportunité. Grand-mèrequand je voudraispouvoir dire quej`ai fait un film avec Woody Allen”). É o primeiro filme de Allen totalmente gravado em Paris, apesar de “Love andDeath” e “EveryoneSays I Love You” terem sido parcialmente gravados lá.
                       

Entre as obras mais importantes desta época destacam-se:“O Sol Também se Levanta” (Hemingway), “O Grande Gatsby” (Fitzgerald), “ThreeSoldiers” (Dos Passos) e “Ulisses” (James Joyce).É possível dizer que a “geração perdida” tenha, até mesmo, influenciada os beatniks dos anos 1950, grupo que também tinha o jazz e longas jornadas como temas de seus livros. No caso da geração de Hemingway, eram norte-americanos em outro país “buscando uma espécie de refúgio perante a nação que os criou”. Já os beatniks, Kerouac, William Burroughs, Allen Ginsberg, entre outros, utilizavam a própria América do Norte como tema de seus livros e críticas. Isso pode ser observado em obras como “On The Road”, de Jack Kerouac.O termo “geração” é bastante amplo, muitas imprecisões ocorrem em torno das suas definições. Seu significado é sociológico, mas, sobretudo ideológico, isto porque demostra que comumente usamos esse termo para nos referirmos aos descendentes ou ascendentes familiares.
O termo foi usado pelo filósofo Augusto Comte para afirmar uma visão “mecânica e automática” da história, na qual o tempo histórico é confundido e mesclado com o tempo biológico. Por isso, a concepção elaborada por Comte é chamada de “positivista” e implica em uma “naturalização da história”. Após Comte, vários sociólogos e historiadores recorreram ao conceito de geração, embora cada um deles atribuísse ao conceito um determinado significado.O estilo inovador de Hemingway, que preferiu a economia de linguagem e a palavra depurada aos artifícios literários e à extensa análise psicológica, influenciou as gerações seguintes de escritores norte-americanos.O conceito de geração foi retomado por Karl Mannheim que, esvaziando o aspecto biológico, natural, referente à época de nascimento, mas reificando (Lukács) o fato de um grupo de pessoas compartilharem a mesma experiência histórica, possibilitaria aos membros do grupo a adoção de um mesmo estilo de pensamento ou de ação.Entrementes, o conceito de geração foi utilizado por diferentes autores em diferentes períodos e, por isso, seu significado felizmente não é jamais dado para referir-se a único ente.
Só vale insistir no que há de circunspecto em “O Velho e o Mar”, em inglês: “The Old Man andtheSea”, porque se trata de um romance de Ernest Hemingway, escrito em Cuba, em 1951, e publicado em 1952.  E principalmente porque foi a última grande obra de ficção de Hemingway a ser publicada ainda durante a sua vida, sendo uma das suas obras mais famosas. Narra a história de um velho pescador que luta com um gigante espadarte em alto mar por entre a corrente do Golfo. Apesar de ter sido alvo de apreciações muito severas, o que é importante por parte da crítica, é uma obra que permanece uma referência entre os livros de Hemingway, tendo reafirmado a inquietude do autor em tempo de qualificá-lo para o Prêmio Nobel de Literatura de 1954.
A história resumidamente tem como personagem principal um velho pescador chamado Santiago que experiente, encontra-se numa “maré de azar”, tendo ficado quase três meses - 84 dias - sem conseguir pescar um peixe. Santiago possui um jovem amigo, chamado Manolin, que o incentiva a pescar. Na manhã do 85º dia, na sua pequena canoa, Santiago consegue um peixe, de tamanho descomunal, lembrando-nos o “realismo mágico” de Gabriel Garcia Marques (cf. Braga, 2011) aproximadamente de 5 metros de comprimento e 700 kg. O peixe oferece muita resistência, e arrasta a canoa de Santiago cada vez mais para alto mar. Santiago sofre com o sol cegante e abre feridas nas mãos, de tanto lutar com peixe. Depois de alguns dias, Santiago consegue finalmente capturar o peixe e amarrá-lo à sua canoa. Porém, enquanto retornava a costa, sofre constantes ataques de tubarões. Quando finalmente consegue chegar à praia, o peixe já estava sem carne, só restava a sua espinha, e Santiago estava sem forças. Os outros pescadores, vendo tamanho peixe, o maior que alguém já havia pescado, respeitam e ajudam-no, especialmente o jovem Manolin, que gostava muito do velho; esse o retrato representado pela angústia (Kierkegaard) da atividade unissexual masculina do homem diante do mar.
                                  

                                   Prêmio Nobel de Literatura em 1954.
A vida e a obra de Hemingway tem intensa relação afetiva com a Espanha, país onde viveu por quatro anos. Uma breve passagem, mas marcante, para um escritor norte-americano que estabeleceu uma relação emotiva e ideológica com os espanhóis. Em 1952 publicou: “O Velho e o Mar”, com o qual ganhou o prêmio Pulitzer (1953). Foi laureado com o Nobel de Literatura de 1954. Ao longo da vida do escritor, o tema suicídio aparece em escritos, cartas e
conversas, com muita frequência. Seu pai suicidou-se em 1929 por problemas de saúde e financeiros. Sua mãe, Grace, dona de casa e professora de canto e ópera, o atormentava com a
sua personalidade dominadora. Ela enviou-lhe pelo correio a pistola com a qual o seu pai havia se matado. O escritor, atônito, não sabia se ela queria que ele repetisse o ato do pai ou que guardasse a arma como lembrança.
            O enredo do livro:“O Sol Nasce Sempre” (Fiesta) decorre na Europa após o termo da Primeira grande Guerra. Se excetuarmos o toureiro Pedro Romero, todos os seus outros personagens principais se expatriaram dos Estados Unidos da América ou da Grã-Bretanha. E todos eles, quer tivessem vindo em busca de aventura ou de algo indefinido com que preencher o vazio das suas vidas, tinham acabado por instalar-se em Paris. Esta se celebrizara, nos anos 1920, graças à boemia esfuziante dos seus cafés e da sua intelectualidade. Aí se podiam, com efeito, encontrar pintores como Picasso, Miró ou Matisse, ou mulheres como a norte-americana Gertrude Stein, que criara uma tertúlia onde diversos artistas plásticos ou escritores como James Joyce, F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway se juntavam para trocar ideias. Mas se Paris garantia assim a todos uma vida interessante, a verdade é que muitos a sentiam também como vazia. De modo que, à semelhança aliás do que acontecera a Hemingway e a alguns dos seus amigos, um certo número de personagens deste romance pretenderão escapar à sofisticação e à corrupção da grande cidade, refugiando-se no universo mais tradicional da Espanha daqueles anos. E porque muitos se reconheceram neste retrato de uma geração sem raízes, “O Sol Nasce Sempre” (Fiesta) tornou-se rapidamente um romance de culto para os jovens europeus do período de entre as duas guerras.
            Ainda muito jovem, decidiu ir à Europa pela primeira vez, quando a Grande Guerra assombrava o mundo (1918). Hemingway havia terminado o segundo grau em Oak Park e trabalhado como jornalista no Kansas City Star. Tentou alistar-se, mas “foi preterido por ter um problema na visão”. Decidido a ir à guerra, conseguiu uma vaga de motorista de ambulância na Cruz Vermelha. Na Itália, apaixonou-se pela enfermeira Agnes Von Kurowsky, sua inspiração na criação da heroína de “Adeus às Armas” (1929) - a inglesa Catherine Barkley. Atingido por uma bomba, retornou para Oak Park que, depois do que viu na Itália, tornou-se monótona demais. Volta à Europa (Paris), em 1921, recém-casado com Elizabeth Hadley Richardson, seu primeiro casamento, com quem teve um filho. Na ocasião, trabalhava para o jornal Toronto Star Weeky e, em início de carreira, se aproximou de outros principiantes: Ezra Pound (1885-1972), Scott Fitzgerald (1896-1940) e Gertrude Stein (1874-1940).Se “O Jardim do Éden” fala de uma relação “a três”, muito semelhante àquela por que Hemingway passou, então não é despropositado falar das mulheres na vida do Nobel da Literatura. Com 21 anos, conheceu Elizabeth Hadley Richardson, oito anos mais velha. Hadley, como ele lhe chamava, tinha ido de Chicago para St. Louis recuperar da morte da mãe e encontrou em festas um rapaz que os amigos tratavam por muitos nomes - Ernie, Nesto, Oinbones, Wemmedge, Hemmy, Stein, Hemingstein. É assim que narra o escritor britânico Anthony Burgess na sua curta biografia de Hemingway. Apaixonaram-se e casaram em 1921. Destino: França. Era o sítio certo para um escritor. Um filho, Bumby, nasceu pouco depois.
            O seu segundo casamento (1927) foi com a jornalista de moda Pauline Pfeiffer. Com ela teve dois filhos. Em 1928, o casal decidiu morar em Key West, na Flórida. O escritor sentiu falta da vida de jornalista e correspondente internacional. O casamento com Pauline era instável. Nessa época conhece Joe Russell, dono do SloppyJoe’s Bar e companheiro de farra. Já na década de 1930, resolveu partir com o amigo para uma pescaria. Dois dias em alto-mar que terminaram em Havana, capital cubana, para onde voltava anualmente na época da corrida do agulhão entre os meses de maio e julho. Hospedavam-se no hotel Ambos os Mundos, em plena Habana Vieja, bairro mais antigo da cidade que se tornava o lar do escritor, e os cenários que comporiam sua história e a da própria ilha pelos próximos 23 anos. Duas décadas de turbulências que teriam como desfecho a revolução socialista e o suicídio do escritor.
           
           
Em Cuba, o escritor se apaixonou por Jane Mason, casada com o diretor de operações da Pan American Airways e se tornaram amantes. Em 1936, nos Estados Unidos, novamente se apaixona desta feita pela destemida jornalista Martha Gellhorn, motivo do segundo divórcio, confirmando o que predisse seu amigo, Scott Fitzgerald, quando eles se conheceram em Paris: “Você vai precisar de uma mulher a cada livro”. Dos Estados Unidos, Hemingway prepara-se para partir para Espanha, onde estalara a Guerra Civil. Pauline é contra, tem um presságio mau. Provavelmente não o da morte do marido, mas o da morte do casamento.Assim, Hemingway partiu para a Espanha, onde Martha já estava e, em meio à guerra, os dois viveram um romance que resultou no seu terceiro casamento. Quando a república caiu e a Europa vivia o prenúncio de um conflito generalizado, Hemingway retornou para Cuba com Martha.Em 1946, o escritor casa-se pela quarta e última vez com Mary Welsh, também jornalista, mas tímida e disposta a viver ao lado de um Hemingway cada vez mais instável emocionalmente.
É ainda na Florida que ele encontra Martha Gellhorn, uma das mais extraordinárias repórteres de guerra do século XX, sem dúvida muito melhor do que Hemingway neste campo. É já em Espanha, no meio do horror, que se envolvem. Digamos que, no intervalo das reportagens de guerra, ele era o primeiro amante dela e ela o primeiro amante dele, mas que não havia exclusividade. Ela era casada. A relação, pública, durou anos e era quase sempre tumultuosa, mas ainda assim casaram em 1940. Hemingway tinha ciúmes do trabalho de Martha Gellhorn, que inclusive desembarcou na Normandia, na Segunda Guerra Mundial, antes dele. Neste ano, 1944, em Londres, ele conheceu Mary Welsh, jornalista do “Daily Express” casada com um colega do “Daily Mail”. O tempo desse encontro amoroso foi também o do desencontro final com Martha. Hemingway está presente na libertação de Paris. Instala-se no Ritz e recebe quem o vai visitar por entre champanhe e conhaque.
Uma das primeiras visitas é a da Mary Welsh. – “O quarto 31 do Ritz é consagrado às alegrias do amor pré-marital com Mary, breve, mas apaixonado, acompanhado por champanhe LansonBrut” (ainda Burgess). Casam em 1946. Ela será a quarta e última senhora Hemingway. Aos 61 anos e enfrentando problemas de hipertensão, diabetes, depressão e perda de memória, Hemingway decidiu-se pela primeira alternativa. Todas as personagens deste escritor se defrontaram com o problema da “evidência trágica” do fim. Hemingway não pôde aceitá-la. A vida inteira jogou com a morte, até que, na manhã de 2 de julho de 1961, em Ketchum, Idaho, tomou um fuzil de caça e disparou contra si mesmo. Encontra-se sepultado em KetchumCemetery, Ketchum, Condado de Blaine, Idaho nos Estados Unidos.
Bibliografia geral consultada:
BRAGA, Ubiracy de Souza, “90 anos de Gabito coincide com seus libelos”. Disponível em: http://cienciasocialceara.blogspot.com.br/2011/12/; artigo: “Morte de Ernest Hemingway completa 50 anos neste sábado”. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/;